quinta-feira, janeiro 29, 2004

lá estou eu a defender estes gajos outra vez

O Vaticano acusou hoje a indústria farmacêutica de praticar genocídio em África, por se recusar a baixar o preço dos medicamentos contra a sida: «É genocida a acção do cartel de empresas farmacêuticas que rejeitam tornar acessíveis os medicamentos em África, quando declararam lucros de 517 milhares de milhões de dólares em 2002», declarou Angelo D’Agostino, na apresentação da mensagem do Papa João Paulo II, consagrada este ano às vítimas da sida.
Parece uma atitude louvável, mesmo para quem costuma acusar a Igreja (às vezes não sem razão) de concubinato com os poderes instituídos, com o statuo quo, de ser retrógrada e pouco interventiva, etc., etc.
Mas, quando se trata da Igreja, até as pessoas mais inteligentes, de espírito aberto e crítico, são tomadas por um qualquer sortilégio que as impede de manter a razão e lucidez. Desta vez foi o Mestre d'Aviz que, embora saudando o acto de coragem do Vaticano, foi incapaz de ficar por aí. Invoca de seguida os telhados do Vaticano e a sua «política muito pouco aceitável», que «é contra a distribuição de preservativos por razões morais, e tem uma atitude muito tolerante com regimes ditatoriais que se desviam os fundos que recebem de países e organizações internacionais». É verdade. Assim, sem mais. A Francisco José Viegas não importa saber (mesmo se para refutar) as razões da Igreja contra o preservativo como meio de combate à propagação da sida (já aqui abordámos o assunto). Nem se preocupa em concretizar a sua acusação da tolerância do Vaticano (em que consiste essa "tolerância", por exemplo) com os regimes ditatoriais (quais?) que desviam fundos internacionais.
Quando se trata de bater na Igreja, qualquer razão serve*. Mesmo as boas.
CC
*actualização: O FJV pergunta-me se esta frase se refere a ele. Não, de todo. Seria excessivo e injusto. As minhas desculpas por o dar a entender. Referia-me a bloguistas (para falar só dos que gosto) como os canhotos ou os barnabitas, por exemplo.
*actualização II: Era uma parábola, aliás. Como explicam os Monty Python no Life of Brian, quando Jesus fala nos fazedores de queijo refere-se aos fabricantes de lacticínios em geral. LR
*actualização III: Eu não tenho nada para dizer, mas não quis deixar de estar também aqui presente. AR

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