segunda-feira, março 08, 2004
o cotovelo invisível do mercado
Ontem, juntamente com a Luna FM (dedicada à música clássica e ao jazz) acabou a Voxx. A rádio Voxx era uma companhia diária na minha via sacra entre a casa e o calvário do trabalho, durante os 64 km e duas horas de libertação quotidiana, como já referi por diversas vezes.
Agora, com a morte prematura destas frequências, ficam mais tristes as minhas travessias matinal e vespertina da 2ª Circular e do IC 19. Fica também mais pobre o espectro radiofónico nacional (pelo menos, de Lisboa e do Porto) e a diversidade de escolha dos ouvintes.
A Voxx passava musiquinha da boa, alternativa ou independente ou lá como se queira chamar, pouco divulgada, destinada a uma grande variedade de minorias de ouvintes. Não era uma rádio da moda, porque não tinha playlists copiadas das grandes rádios nacionais, em que se ouve continuamente o mesmo e reduzido grupinho de canções dos tops. Era um projecto assumidamente minoritário, mas de elevada qualidade.
O fim da Voxx deve-se à estratégia empresarial, capitalista, de mercado (seja lá o que for) do dirigente do PP que a adquiriu, Luís Nobre Guedes. Não entendo que os empresários devam suportar o custo de manter actividades de interesse social ou cultural se a isso não os obrigar a lei (embora entenda que a lei deva ser mais interveniente nesse sentido, mas isso são contas de outro rosário). Esse papel cabe ao Estado, às autarquias, ao poder político. Que, no caso concreto, tem sempre outras prioridades: os estádios de futebol, o casino, os cartazes gigantescos de auto-promoção pessoal, etc. Como se sabe o dinheiro não dá para tudo.
Ficam, portanto, na mão dos interesses privados a criação ou o fim dos projectos alternativos ao monolitismo do pensamento e dos gostos cada vez mais iguais. O curioso é que, sob a capa da maior oferta de bens, se assiste cada vez com maior frequência ao fim de projectos que estão nas margens da unificação cultural. Mais bens oferecidos, mas cada vez mais iguais entre si. É o mercado a funcionar.
Ontem, o último programa da emissão regular da rádio Voxx a ir para o ar foi o Mensageiro da Moita. Eles sempre tiveram razão, quando nos avisavam, no seu estilo self-depreciation, que a "boxx" era «um processo evolutivo, na sua curva descendente». Agora, a «melhor rádio cá do prédio» é já uma saudade.
CC
PS: o Bloguítica avança com outra razão para o fim da rádio Voxx. Veja-se o seu post [525], intitulado «PAULO PORTAS E O TRAVESTI LOLA», de 4 de Março.
Agora, com a morte prematura destas frequências, ficam mais tristes as minhas travessias matinal e vespertina da 2ª Circular e do IC 19. Fica também mais pobre o espectro radiofónico nacional (pelo menos, de Lisboa e do Porto) e a diversidade de escolha dos ouvintes.
A Voxx passava musiquinha da boa, alternativa ou independente ou lá como se queira chamar, pouco divulgada, destinada a uma grande variedade de minorias de ouvintes. Não era uma rádio da moda, porque não tinha playlists copiadas das grandes rádios nacionais, em que se ouve continuamente o mesmo e reduzido grupinho de canções dos tops. Era um projecto assumidamente minoritário, mas de elevada qualidade.
O fim da Voxx deve-se à estratégia empresarial, capitalista, de mercado (seja lá o que for) do dirigente do PP que a adquiriu, Luís Nobre Guedes. Não entendo que os empresários devam suportar o custo de manter actividades de interesse social ou cultural se a isso não os obrigar a lei (embora entenda que a lei deva ser mais interveniente nesse sentido, mas isso são contas de outro rosário). Esse papel cabe ao Estado, às autarquias, ao poder político. Que, no caso concreto, tem sempre outras prioridades: os estádios de futebol, o casino, os cartazes gigantescos de auto-promoção pessoal, etc. Como se sabe o dinheiro não dá para tudo.
Ficam, portanto, na mão dos interesses privados a criação ou o fim dos projectos alternativos ao monolitismo do pensamento e dos gostos cada vez mais iguais. O curioso é que, sob a capa da maior oferta de bens, se assiste cada vez com maior frequência ao fim de projectos que estão nas margens da unificação cultural. Mais bens oferecidos, mas cada vez mais iguais entre si. É o mercado a funcionar.
Ontem, o último programa da emissão regular da rádio Voxx a ir para o ar foi o Mensageiro da Moita. Eles sempre tiveram razão, quando nos avisavam, no seu estilo self-depreciation, que a "boxx" era «um processo evolutivo, na sua curva descendente». Agora, a «melhor rádio cá do prédio» é já uma saudade.
CC
PS: o Bloguítica avança com outra razão para o fim da rádio Voxx. Veja-se o seu post [525], intitulado «PAULO PORTAS E O TRAVESTI LOLA», de 4 de Março.