quarta-feira, janeiro 31, 2007

In Memoriam

O meu sogro morreu. Hoje. Não acordou. Provavelmente a morte que todos gostariamos de ter.
O meu sogro era um homem bom. Combateu em África e matou gente. Embora pouco falasse nisso deduzo que não matou pouca. Não gostava do Mário Soares e achava que este país está entregue à pandilha. Dava a camisa do corpo se necessário fosse, a quem quer que fosse. Era um contador de histórias como não há muitos.
O meu sogro vai fazer a falta que as pessoas boas fazem quando partem.
Certo do que digo, daqui lhe envio um abraço de boa viagem e um até qualquer dia. Para quando nos voltarmos a encontrar.
AR

Divagações LXXXI

Ontem à noite. Na RTP1. Vasco Pulido Valente. Haja alguém lúcido neste canto aqui esquecido.
AR

terça-feira, janeiro 30, 2007

Com destinatário certo III

Soneto da fidelidade

"De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa (me) dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."

Vinicius de Moraes

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Divagações LXXX

Por aqui vou passando. Este, então, é de se lhe tirar o chapéu.
AR

sábado, janeiro 27, 2007

Borboleta

Faz hoje dois anos que a minha amiga Bastet escreveu este texto. Por ser de uma beleza e força extraordinárias, e por esse aniversário, aqui o transcrevo, com o grafismo de poema, como merece.

"Já era borboleta quando voou.

Asas de malva,
véus de mulher, silhueta de fada,
varinha, condão,
asas de dança, dança parada.

Fora outra qualquer,
apenas mulher,
vestido vulgar,
mãos de tarefa, colo de filhos,
caminho igual, escada de prédio, carro pequeno,
carro pequeno, escada de prédio, caminho igual.

E nos caminhos iguais acontecem diferenças,
e nos prédios banais moram princesas,
do carro pequeno alaram corséis,
das escadas cinzentas rasgos de luz, anéis de sol.

E quando a viram já não a viram que as asas de anjo já lhe cresciam,
rosto de riso, dança parada, silhueta de fada,
outra mulher.

E quando a viram já não a viram,
vestida de véus,
braços de pomba, vôo de garça, plumas de graça,
a mesma mulher.

E nos dias diferentes há caminhos iguais,
princesas banais vestem mulheres,
corséis alados são carros pequenos e nos degraus cinzentos,
com asas de malva,
vai uma fada com véu de mulher."

Bastet


sexta-feira, janeiro 26, 2007

Divagações LXXIX

Manuel Maria Carrilho deve-se andar a roer pelo timing que escolheu para abandonar a Câmara Municipal de Lisboa. Então não é que estiveram à espera que o homem se fosse embora para armarem esta confusão????
AR

Porque sim ...

Eu vou votar pela despenalização da prática de Aborto no próximo referendo.
Diversos argumentos têm sido trazidos à liça neste assunto, alguns menos importantes - do meu ponto de vista - do que outros. Vejamos.
Nas últimas semanas a discussão passou para o campo dos custos. Os custos de pagar abortos, o quanto nos custa de impostos e por aí fora. Evidentemente, o argumento está deslocado. Explico. O aborto já é uma prática legal. Dentro de um determinado quadro, uma mulher pode-se dirigir a um hospital e pedir para interromper a sua gravidez. Portanto, os custos já existem. Repentinamente, só agora se fala neles.
Discutiu-se também, e mais uma vez, a questão da vida humana. Se existe na fecundação da célula, se quando há um 'x' número de células, se é na semana tal ou na outra e por aí fora. É o mesmo, evidentemente, que estar a discutir o sexo dos anjos. Nunca vamos saber quando é que existe, de facto, um ser humano. Duas células não me parece que seja argumento, bem como não é estipular um prazo temporal para dizer: 'agora não é humano, agora já é'. De qualquer das formas, não é isso, também, que está aqui em discussão.
Outra questão levantada é a do crescimento das crianças e do providenciar de condições dignas para o seu crescimento e desenvolvimento. Isso é um problema, essencialmente, de política social e não creio que o Aborto resolva a questão. O facto é que este referendo também não se debruça sobre esse tema.
É que, para o caso de não se ter reparado, este referendum é sobre a despenalização, ou não, da mulher que pratica um aborto fora do quadro legal existente e antes de um determinado prazo temporal. É só isso. Ou, por outras palavras, aquilo que está em debate neste referendum é se uma mulher deve ir parar à cadeia por ter feito um aborto num vão de escada depois de o tentar fazer num hospital e o médico ter alegado objecção de consciência para não o fazer mas lhe ter dito que se ela quiser ir à clínica tal ou tal ele, então, já faz, mediante o pagamento de uma pequena quantia que ela não pode pagar. É só isto.
Porque, não sejamos cínicos, eu vejo do lado do não, por regra, meninas da linha ou da Av. de Roma ou tias e velhas gaiteiras, que têm os meios económicos para ir abortar em Espanha ou em Inglaterra. E do lado do sim vejo gente bem mais modesta. E também não compreendo como é que um médico pode alegar objecção de consciência num hospital público mas depois fazer abortos numa clínica privada. Para mim, essas coisas são um mistério absoluto, a que o legislador deveria prestar a devida atenção.
O que acho escandaloso é que uma mulher que trabalha pelo ordenado mínimo e não tem instrução - porque muitos dos que defendem o não ainda hoje são os primeiros a levantar a voz sempre que se fala de educação sexual nas escolas, por exemplo - estão sujeitas a apanhar três anos de prisão porque não lhes foi feito o aborto num hospital público, em condições dignas de higiene e segurança.
AR

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Com destinatário certo II

Vocês sabem lá,
A saudade de alguém que está perto
É mais, é pior
Do que a sede que dá no deserto
É chama que a vida ateia sem dó
Na alma da gente,
Ao sentir que vive só

Vocês sabem lá,
Que tormento é viver sem esperança
É ter coração,
Coração que nem dorme nem cansa
Não há maior dor nem viver mais cruel
Que sentir o amargo do fel
Em vez de mel
Vocês sabem lá.

Nóbrega e Sousa

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Divagações LXXVIII

Quando o debate sobre o Aborto chega à discussão sobre custos estamos entendidos. E eu que pensava que estávamos aqui para discutir a vida, a dignidade e essas coisas ...

AR


quarta-feira, janeiro 17, 2007

Com destinatário certo

Há quatro coisas que não voltam para trás: a pedra atirada, a palavra dita, a ocasião perdida e o tempo passado.

AR


terça-feira, janeiro 16, 2007

Cheiro

Gosto mais de ti ao fim do dia porque estares cansada deixa-te mais vulnerável.
O teu corpo fala comigo, toca-me,
Procura refúgio junto de mim.

Gosto mais de ti ao fim do dia porque deixaste caír as tuas defesas.
Porque a tua voz está mais meiga, mais doce,
Mesmo quando vens aborrecida ou triste ou simplesmente gasta.

Gosto mais de ti ao fim do dia porque os teus olhos não conseguem mentir.
E estão verde de um mar tão profundo que
Desejo mergulhar neles e neles me perder.

Gosto mais de ti ao fim do dia por causa do teu cheiro
Já não escondido no perfume da manhã.
Cheiro de Mulher.
Cheiro de Amor.
Cheiro de Ti.

Gosto mais de ti ao fim do dia.

AR

Eu bem vos disse!

Tenho cada vez mais a convicção, que me envergonha, de que vou deixar à minha filha um mundo pior do que aquele que os meus pais me entregaram a mim.
Hoje li algures a notícia, que apenas incomoda porque passada a escrito e não porque tenha sido uma surpresa lê-la, de que o Modelo Social Europeu está condenado e, lentamente, também este espaço de prosperidade e segurança que é a Europa cederá à chamada Globalização. Estão condenados os empregos para a vida, a segurança social, a saúde para todos (ou quase), a educação sem discriminação e por aí fora. No fundo, aquilo que tem distinguido a Europa de outros espaços económicos e sociais como os Estados Unidos. Ao contrário do que podem pensar os idiotas que andam aí a gritar que todos temos que pagar isto e aquilo e quem não trabalha não ganha e essas cavalidades da ordem, saímos todos a perder.
Há algum tempo atrás escrevi que estamos numa encruzilhada civilizacional e cabia-nos decidir que rumo tomar. Mas, ao contrário de outras, nesta só há duas escolhas: ou avançamos ou recuamos. E recuar é atirar fora duzentos anos de progresso e evolução social a troco de trinta moedas. Aparentemente estamos a escolher a bolsa das trinta moedas sem perceber que quando elas forem gastas não nos espera outra mas sim as grilhetas da revolução industrial.
O fim da educação com um mínimo de qualidade não nos prejudica, apenas, enquanto civilização. A Educação tal como a pretendem no futuro, levará à criação de cidadãos menores, pouco mais do que analfabetos funcionais. Quando a escola abdica da prerrogativa de ensinar a pensar - e não ensinar o que se deve pensar, que é muito diferente - está a prestar um mau serviço à comunidade. Quando a Saúde se rege pelo princípio do custo por cabeça e não da qualidade de vida por cabeça, estamos evidentemente a seguir na direcção de deixar morrer os que estão longe e/ou são demasiado pobres para se deslocarem aos maiores centros urbanos para comprar a sua parcela de saúde. Em Portugal, é essa a política que está a ser seguida, lógica de merceeiros numa realidade em que a mercearia deveria estar fora de cogitação. Quando se aponta para o fim da segurança no trabalho e se criam as bases para o tratamento de quem trabalha como se de números ou activos em stock se tratasse estamos a lançar as bases para uma socidade do 'mastiga e deita fora' em que a pastilha elástica é substituída pelas pessoas.
As gerações dos 20s e 30s anos - principalmente estas - apoiam de forma mais ou menos entusiástica estas medidas, apelidando-as de 'progresso'. Não sabem um coisa essencial: o progresso não existe quando se ganham mais uns tostões, existe quando toda a comunidade avança e beneficia.
Essas mesmas gerações que, por um culto da juventude, se alcandoraram aos centros de decisão político e económico do mundo - basta ver a quantidade de jovens executivos à frente de grandes empresas e dos centros de decisão políticos - não têm a noção de duas coisas, porque ainda não atingiram a maturidade suficiente para o compreender: não tomaram consciência de que, como toda a criação, um dia vão morrer e, em segundo lugar, não perceberam ainda que um dia, tal como muitos de nós, vão envelhecer. E a falta desta noção - porque quando somos mais novos achamos que podemos tudo e que isso nunca vai mudar - faz toda a diferença.
A sociedade que estamos a construír é uma sociedade que está a esquecer o valor dos mais velhos. As pessoas perdem os seus empregos pela sua idade e não pela sua capacidade e experiência. O culto da juventude leva a que se pense que só os jovens têm capacidade para trabalhar. É evidentemente falso. Os mais jovens têm a grande capacidade de ser explorados, o que é muito diferente. O seu emprenho e entusiasmo é canalisado para uma quantidade absurda de horas de trabalho pagas - quando pagas - a um valor baixo. Fazem-no por dedicação, dizem, por empenho. Não é verdade. Fazem-no porque são inexperientes. Quando há dedicação a algo sem compensação merecida há, apenas e só, exploração de um sentimento louvável por um interesse menor. Chegará o dia em que estes jovens de hoje já não serão jovens. Serão, em devido tempo, substituídos por outros jovens, que os colocarão de lado exactamente quando eles tiverem acumulado experiência para começarem a ser verdadeiramente úteis.
Em segundo lugar, esquecem-se que vão morrer. E por isso, esquecem que todo o homem sente a necessidade de deixar um legado. Seja obra feita, seja pelos filhos, pela educação que se lhes dá, pelos valores que se lhes transmite, ou por algo que deixe aos outros. Qualquer coisa. É assim que a aventura da humanidade tem sido conduzida. Hoje, não vejo que se esteja na expectativa de deixar um legado. E quando envelhecerem e começarem a pensar no assunto terão sido postos de lado porque já não são jovens. Azar do caraças.
Estamos a construír um mundo pior do que aquele que recebemos. E perante esta realidade só me parece que tenhamos duas alternativas: ou entregamos os pontos e alinhamos no jogo ou não. Pela parte que me toca, não faço tenção de entregar os pontos. Mas faço tenção de, quando chegar o dia, apontar o dedo a estes badamecos e atirar-lhes à cara a frase mais irritante que se pode dizer nestas alturas: 'Eu bem vos disse!'
AR

Divagações LXXVII

A minha filha confessou, um dia destes, que o Pedro era o grande amor da sua vida.
Considerando que têm os dois seis anos só posso invejá-los pelos muitos anos de amor e entrega que têm pela frente.
E se não for - provavelmente, dada a pouca idade de ambos, não será - que seja outro. Mas que possa viver um grande amor sem limites nem medos nem renúncias nem lamentos, e que com isso possa ser plenamente Mulher, é o voto que aqui lhe deixo.
AR

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Não me digam ...



Manuel Maria Carrilho, o próprio, deu a conhecer ao país em geral e aos lisboetas em particular que, apesar dos seus esforços titânicos, não vai poder continuar a exercer o mandato de vereador da Câmara Municipal de Lisboa por impossibilidade em o conciliar com o de deputado à Assembleia da Repúlica.

Até aqui nada a dizer não se desse o caso de, há cerca de dois meses, o PS ter retirado a confiança política ao nº 2 da lista do PS em Lisboa, Nuno Gaioso, porque este deu uma entrevista a considerar ineficaz a actuação de Carrilho porque nunca estava presente nas sessões de Câmara e não havia estratégia no grupo Parlamentar do PS. Na altura, os socialistas consideraram despropositadas as declarações de Gaioso. Exigiria a decência e o decoro que a concelhia de Lisboa do PS se retratasse e reconhecesse que Gaioso tinha razão e que Carrilho não passa de um pavãozeco.

AR


quinta-feira, janeiro 04, 2007

Happy New Year!!!

Cá estamos de volta, depois da ausência natalícia e ano novícia, para desejar a todos os nossos leitores e amigos um óptimo 2007. Enfim, aos que são funcionários públicos, lamentamos que seja um 2007 sem aumentos, como de resto serão o 2008, o 2009 e o 2010, pelas últimas notícias que se desenham sobre o plano do Governo para respeitar o Pacto de Estabilidade e Crescimento. Pois, para vocês, pá, nada de mais pilim, mas não faz mal, haja saúde, para não gastarem dinheiro que depois não possam recuperar no IRS. Para os outros todos, um grande 2007, cheio de amêndoas e coelhos da Páscoa. Para a malta de Felgueiras um saco novo, grande, lindo, cheio de contributos. Para os de Gondomar, muitos electrodomésticos é o que vos desejo, cá do fundo do coração. Para a malta de Oeiras um grande abraço e uns apartamentozitos, ou umas contecas na Suíça. E para os outros, todos, um grande ano e um óptimo carnaval.
AR

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