quinta-feira, novembro 30, 2006

Divagações LXXIV

Os gajos hoje não vieram. Devem-se ter apercebido, finalmente, que o elevador não estava avariado.
AR

O Barco

O Barco estava ali a dizer-nos que podia esperar mas não, foi-se embora, e deixou-nos cá, maldito uma vez maldito cem, maldito até ao fim dos tempos, que cruze os mares do mundo vazio como uma casca, navio fantasma carregado de gente a empaturrar-se de nada, camarotes de camas eternamente desfeitas com vigias a darem para o cinza escuro de um mar sempre de inverno como o nosso descontentamento.
O nosso barco foi-se embora e não levou os nossos corações mas não faz mal que eles ainda batem ao mesmo tempo, juntos mesmo que nossos olhos se afastem e procurem um novo barco para os levar numa viagem que não termine nunca, correndo por esses caminhos de água que nos esperam para lá dos cabos e promontórios destas costas, para lá das praias deste mundo e desta vida, para lá da ilusão dos palcos e das peças que às vezes nos parecem não ser as nossas.
Mil vezes maldito seja o nosso barco que nos deixou em terra e não nos levou a passear pelos caminhos do Tempo, mas ele virá para nos buscar como uma Borboleta Amarela cujas asas de seda nos tocarão e incitarão a segui-la, senhora intemporal dos misteriosos caminhos que claramente se estendem diante de nós, e nos fará voar e seguir nos ares esses caminhos de mar que o nosso barco nos não deixou seguir agora mas não faz mal que mais liberdade nos dão as asas de seda do que o peso esmagador daquele barco que afinal não era o nosso, mortalha que seguirá eternamente os caminhos dos homens enquanto nós nos ergueremos às mansões do Tempo e lá contemplaremos os eternos jardins da Primavera.
AR

quarta-feira, novembro 29, 2006

Divagações LXXIII

Tenho uma história para contar. Uma história verídica. Gostaria de dedicar esta história aos simplórios que andam sempre a morder na Função Pública e a gritar Hossanas Histéricas ao empreendedorismo privado.
Ontem de manhã chegaram dois senhores aqui ao meu serviço vindos da companhia que faz a manutenção do elevador. Vieram arranjar o dito. Tudo estaria bem não fora o pequeno detalhe de o elevador não estar avariado. Adiante.
Ali estiveram a manhã inteira complicando o funcionamento dos serviços que se estendem por três pequenos andares servidos apenas por aquele elevador. Quando regressei do almoço, lá tinham voltado os dois senhores mais um terceiro. E ali estiveram o dia todo, olhando para uns papéis que tinham os esquemas de uns circuitos que, imaginei, lhes permitiria desvendar o impenetrável mistério do elevador que, não estando avariado, era necessário reparar. Indaguei com os colegas responsáveis pelos pedidos de assistência se aquilo tinha sido solicitado mas o espanto deles era tão grande como o meu. Os senhores pura e simplesmente ali tinham aparecido de manhã. Assim se passou o resto do dia. Pensei que o misterioso problema ficara resolvido, uma vez que por volta das 17h os senhores desapareceram tão misteriosamente com haviam aparecido e o elevador continuava a funcionar da mesma forma que no dia anterior, ou seja, bem.
Hoje de manhã, ao chegar às 9h20m ao meu gabinete eis que dei com três dedicados funcionários da companhia que faz a manutenção do elevador. Logo me informaram que o elevador estava em verificação, que em português corrente significa que não há nada para ninguém. Nothing. Rien. Kaput. Já não era problema de maior uma vez que ontem começámos a circular pelas escadas de emergência o que, de resto, só nos fez bem.
Pois eles ali estão, junto à casa das máquinas, que fica quase em frente ao meu gabinete. Não percebo nada do que se passa, mas vejo-os abrir e fechar a porta do elevador bloqueando-o entre os dois pisos e olhando depois para o poço para além de ouvir o roçar das folhas de papel, o que significa que eles lá devem continuar de volta dos seus esquemas de circuitos a tentar arranjar o elevador que não está avariado. Se calhar o problema até é mesmo esse. Se calhar é porque o elevador não está avariado que eles não o conseguem arranjar. Conjecturo eu, que de elevadores apenas domino a técnica de carregar no botão do piso para onde quero ir. Com um bocado de sorte, àmanhã serão quatro. Que mal funciona a Função Pública, não é?
AR

Divagações LXXII

O barco afundou há muito. E há muito que bateu no fundo. Isto de se andar sempre a dizer que agora é que foi, agora é que bateu no fundo, agora não sei o quê é conversa da treta, é fait divers. O barco há muito que afundou e bateu no fundo. Limita-se apenas a estremecer de quando em quando, quando leva mais um empurrão. O último é o dos deficientes.
Para gáudio de não consigo imaginar quem, o OE do próximo ano prepara-se para reduzir benefícios fiscais aos deficientes. Diz o Primeiro-Ministro que os dificientes mais favorecidos social e economicamente devem ter menos benefícios do que os outros.
Eu confesso aqui a minha ignorância sobre os pressupostos deste raciocínio. Sempre pensei que a natureza dos benefícios fiscais - principalmente estes - tinham a ver com o facto de se ser deficiente e não com o dinheiro que se tinha. Não compreendo a lógica subjacente ao facto de um cego rico ser menos merecedor do que um cego pobre. O problema, pensava eu, não é o de se ser rico mas o de se ser cego. A escuridão permanente da vida de um cego imagino - felizmente apenas me permito imaginá-la - que deve ser a mesma independentemente do dinheiro que se tenha no banco. Bem como os paralíticos, os mudos, os surdos, os retardados e todos aqueles para quem a natureza foi madrasta. A ideia que sempre imaginei inerente aos benefícios fiscais foi, até certo ponto, a de uma certa humanidade. De intenção de passar a mensagem aos que, ao contrário de nós, não podem apreciar a vida em toda a sua plenitude lhes dizer 'não podemos eliminar os vossos problemas mas aqui estamos, ao vosso lado, para vos dar a mão e dizer que podem contar connosco'.
Afinal não. Afinal é mesmo uma questão de mercearia. Uma questão de mercearia revoltante mas uma questão de mercearia ainda assim.
Não consigo imaginar quanto é que se vai poupar com as reduções dos benefícios fiscais aos deficientes. Imagino que seja muito. Mais do que os € 80 milhões já gastos em estudos para o necessário Aeroporto da Ota, por exemplo. Só pode, de resto. Têm que ser altíssimos estes valores que de tal forma fazem desaparecer o pouco de humanidade que estas coisas dos números ainda tinham.
AR

You're beautiful

My life is brilliant.

My life is brilliant.
My love is pure.
I saw an angel.
Of that I'm sure.
She smiled at me on the subway.
She was with another man.
But I won't lose no sleep on that,
'Cause I've got a plan.

You're beautiful.
You're beautiful.
You're beautiful, it's true.
I saw your face in a crowded place,
And I don't know what to do,
'Cause I'll never be with you.

Yeah, she caught my eye,
As we walked on by.
She could see from my face that I was,
Flying high,
And I don't think that I'll see her again,
But we shared a moment that will last till the end.

You're beautiful.
You're beautiful.
You're beautiful, it's true.
I saw your face in a crowded place,
And I don't know what to do,
'Cause I'll never be with you.

You're beautiful.
You're beautiful.
You're beautiful, it's true.
There must be an angel with a smile on her face,
When she thought up that I should be with you.
But it's time to face the truth,
I will never be with you.

James Blunt

quinta-feira, novembro 23, 2006

Divagações LXXI

Não sei se alguém se entretém a ver os nossos canais generalistas noite fora. Eu tenho-os visto nestas últimas noites até aí às 3 e tal, 4. Boa programação para quem gosta, como é o meu caso, de CSI, Dr. House e séries semelhantes.
Conclusão: vou começar a trabalhar das 16h às 24h. Isto de andar a dormir 3 horas e picos por noite há-de começar a deixar mossa. Ou então vou descobrir que sou outro Marcello!
AR

Correntes Cativas

Quem me cativa não cativo eu
E mais me não resta que seguir por diante
Pois que olhar para trás não garante
Ganhar quem nunca, nem um dia, foi meu.

Não posso ainda soltar as massivas
Correntes que aqui me prendem quieto
Mas posso olhar do chão para o tecto
Sonhando-as a elas afinal as cativas.

E quando um dia por fim me soltar
Podendo viver o ciclo das vidas
Não delas por mal me quero lembrar

Apenas pensá-las tão tristes, doídas.
Pobres Correntes vos vou perguntar
Quem são, afinal, aqui as cativas?

AR

quarta-feira, novembro 22, 2006

Estamos no bom caminho, ó pá!

José Sócrates disse hoje, a propósito da intenção dos militares em se manifestarem àmanhã, em Lisboa, que " ... a violação da lei não beneficia ninguém ...". O argumento é discutível. A muitos a violação da lei não só beneficia como sustenta. Vide a menina Fátima, em Felgueiras.
Mas a seguir Sócrates diz uma das coisas mais extraordinárias de que tenho memória. Quando perguntado se a proibição da manifestação não seria um acto de repressão, o primeiro-ministro disse: "... o respeito pela Lei nunca é repressão". Bem dito. Eu diria mesmo mais, nunca é repressão o respeito pela Lei.
Eu acho que - e digo-o sinceramente - Sócrates não está sozinho nesta ideia. Com ele estão, evidentemente, todos os ditadores que ainda - e são muitos - por aí andam. Fídel, por exemplo, ou Kim Jong-il. O governo da China continental, por exemplo, é muito adepto desse princípio.
E mesmo históricamente, destacados líderes mundiais subscreveriam completamente a alarvidade soltada por Sócrates. Salazar, por exemplo, impoluto cumpridor da Lei. As leis nada repressivas da Alemanha Nazi ou da Itália Fascista. Ou esse exemplo sublime de direitos, liberdades e garantias que foi a União Soviética e continua, ligeiramente mitigada, a ser hoje a Rússia. Hitler, Mussolini, Estaline, Mao, Enver Hoxha, Fidel, Salazar, Franco, Ceausescu e por aí fora.
Dirão que exagero. Com certeza. Mas alguém duvida da redução, lenta mas persistente, dos nossos direitos individuais e colectivos, fenómeno que se tem agravado nos últimos anos e, particularmente, com este governo estranhamente apelidado de Socialista? Veja-se a proposta que está em cima da mesa de impedir o recurso ao Supremo Tribunal de Justiça de casos que tenham sido julgados da mesma forma na 1ª Instância e na Relação. O recurso ao Supremo não é, evidentemente, um tira-teimas em caso de decisões opostas dos tribunais hierarquicamente inferiores. É um direito dos cidadãos de verem os seus casos julgados definitivamente sem margem para dúvidas. A celeridade da Justiça não se obtém retirando níveis de recurso aos cidadãos e às empresas: obtém-se simplificando o processo judicial, formando mais juízes e especializando os tribunais.
Isto é, de facto, a diminuição dos nossos direitos. Das nossas Liberdades. Das nossas Garantias. Que foram conquistadas com a vida e o sangue de muita gente ao longo de duzentos anos - e estou apenas a pensar na Europa Continental e no período post Revolução Francesa - para os estarmos a entregar de mão beijada a meia-dúzia de merceeiros da política.
Estamos no bom caminho, ó pá!
AR

terça-feira, novembro 21, 2006

Banco de Jardim

Provavelmente é da constipação mas tenho dias assim. De completo desalento. Estava a pensar em escrever aqui qualquer coisa sobre política mas não. Hoje não vale a pena. É preciso um certo estado de espírito para isso e eu hoje estou cansado, demasiado cansado, de bater na parede. Ninguém disse que a água não se magoa.
Quero falar aqui de um banco de Jardim. Sim, de um banco de Jardim.
Há umas semanas vi esse banco de jardim na escola da minha filha. Para ser franco nunca tinha reparado nele. Mas ele ali estava. Era um banco de jardim pequeno, feito de uma madeira fina, a convidar-nos a sentar. Nunca tinha visto ninguém sentado nesse banco de jardim. Curioso, aproximei-me e vi que tinha uma pequena placa. Dizia o nome de uma menina e tinha duas datas. Era a Mariana e nasceu no mesmo ano da minha. A Mariana morreu no ano passado. Descobri mais tarde, por puro acaso, que de cancro no duodeno. A Mariana seria este ano colega da Clara.
Sentei-me no banco da Mariana, a pensar nas duas. Se seriam amigas, o que é que descobririam juntas nesta aventura tão dura e tão maravilhosa que é a Vida. E Crescer. E Descobrir. Pensei, com ternura, nos pais da Mariana, que não conheço, mas que sofreram essa catástrofe que é perder-se um filho.
E, enquanto pensava que a Clara nunca iria conhecer a Mariana, constatei que estava errado. A Mariana estava ali, naquele banco, ao alcance de todos os meninos e meninas daquela escola. Como se a morte da Mariana a tivesse tornado de todos e não apenas de alguns.
Não sei se este pensamento é particularmente reconfortante. Para os pais da Mariana não será certamente. Mas para os outros, aquele banco de jardim será outro motivo para abraçarem os seus filhos com mais força.
AR

Divagações LXX

Estou constipado. Já não tenho febre. Já não estou em casa. A minha vida continua a ser um inferno.
AR

segunda-feira, novembro 20, 2006

Divagações LXIX

Estou constipado. Tenho febre. Fiquei em casa. A minha vida é um inferno.
AR

Esquecimento

Fizeste uma promessa e não cumpriste.
Por ela esperei todo um dia
E o tempo, instante após instante,
Se escoou sem de ti ouvir notícia.

Cada segundo em silêncio se passou
E eu desejando de ti ouvir a voz
Mas nada mais ouvi não fora o que calou
Dentro de mim este desalento atroz.

Agora que a noite à minha frente
Me mostra que se escoou o tempo dado,
Que sobre mim venha e se espalhe

O negro manto do sono inconsciente
E me leve para o reino do olvido
Com a promessa que de lá nunca mais volte.

AR

sexta-feira, novembro 17, 2006

Levanta-te e Anda

Pedro Santana Lopes deu ontem a entrevista a que eu chamaria do milagre da ressurreição: o país assistiu, se quis, ao ressuscitar de Lázaro. "Lázaro dorme, vou despertá-lo do sono" (João 11,11). E eis que um novo (velho) PSL surge do esquecimento a que se votara e fora votado há quase dois anos.
A entrevista foi assassina pelo menos para Sampaio e para Carmona Rodrigues. A este último bastaram duas caretas e duas pausas, mesmo no final, para lançar no descrédito. "A mim, a quem atribuiam sempre a instabilidade, a coligação em Lisboa durou 4 anos". O argumento é válido apesar de intelectualmente desonesto: Mª José Nogueira Pinto não tem qualquer semelhança com Pedro Feist, primeiro, e António Monteiro, depois. Aliás, teve PSL problemas com os vereadores do seu próprio partido, como Sofia Bettencourt. Mas adiante.
De Sampaio se ficou a saber que jogou pouco limpo até à véspera da dissolução da Assembleia da República. Do homem da lágrima fácil ficámos a saber que manipulou nos bastidores para afastar Ferro Rodrigues e colocar na direcção do PS José Sócrates.
E mais se soube. Soube-se que voltará em 2008. Marques Mendes, que cometeu o disparate sem nome de instituír as directas, tem os dias contados até essa data. Nessa altura, Santana passeará calmamente pelo processo eleitoral interno do PSD, com a sua habilidade indiscutível para converter multidões e terá o partido a seus pés. O azar de Marques Mendes é não ler A Quinta Coluna: em devido tempo adverti contra o perigo de as directas deixarem o partido à mercê de qualquer aventureiro - embora Santana há muito tenha passado a fase do aventureirismo - com habilidade oratória. Quem colhe ventos semeia tempestades e Marques Mendes descobrirá isso por si próprio e da forma mais dura.
Para além disso, que se cuide Sócrates. Daqui a dois anos terá Santana pela frente em S. Bento como líder da oposição - não esqueçamos que este é deputado e não cometeu o erro de abandonar o lugar. No final de um ciclo económico nada fácil, Sócrates terá que responder à acusação merecida de mentiroso e ser-lhe-á perguntado onde escondeu o programa eleitoral do PS, onde estão os 150.000 empregos a mais, a melhoria das pensões dos mais idosos, o apoio social aos mais defavorecidos, a protecção da classe média, a justiça fiscal e social. Que Sócrates não tenha dúvidas: Santana vai-lhe perguntar por isso tudo e de maneira bem menos macia do que Marques Mendes.
Entre um trapalhão e um mentiroso, apesar de tudo prefiro o trapalhão.
AR

quinta-feira, novembro 16, 2006

Tempo

Ela segurava a mão dele com ternura. Estava fria. O som da máquina de suporte à vida repetia-se sempre ao mesmo ritmo, marcando a passagem do tempo. A passagem do tempo. Do Tempo.
Sorriram um para o outro, sabendo que o momento estava a chegar, mesmo ali ao alcance da mão, tão presente que lhe poderiam tocar se quisessem mas não queriam porque preferiam dar as mãos naqueles instantes.
As rugas marcavam os seus corpos, marcas na carne de uma vida completa. Começada tarde mas completa. Os olhos dela continuavam os mesmos, os mesmos de sempre, do dia em que se haviam conhecido, do dia em que ele lhe dissera que a amava, do dia em que ela lhe dissera que o amava, do dia em que os seus filhos corriam pela casa, do dia em que os seus filhos lhes mostraram, orgulhosos, os seus próprios filhos, daquele dia, em que se despediam com um até já como tantos outros que tinham dito antes, nos ciclos do tempo em que se haviam encontrado, em tantas vidas antes e em tantas vidas que viriam.
O seu amor era a marca da eternidade e eles o seu instrumento.
O seu corpo debruçou-se sobre ele e ela inquiriu nos olhos dele se era agora. Ele sorriu e o seu sorriso disse que sim.
Uma pausa. A mão dele ficou inerte, presa na sua. Ela sorriu.
- Até já.

Boa, malta!

Adivinhava-se há algum tempo o fim da coligação em Lisboa.
Independentemente de outras considerações, a personalidade da Drª Nogueira Pinto não é compatível com o trabalho de equipe que se requer - pelo menos de vez em quando - para o tipo de funções que ela ocupava. De resto, era evidente a sua vontade de ser protagonista, vontade nada compatível com o lugar de vereador.
Pessoalmente, acho que Lisboa não perde nada com a sua saída do executivo. Pelo contrário. A marca que deixa é a da tentativa de extinção de serviços por não lhe darem ideias para ela apresentar, posteriormente, como suas e a sua sistemática falta de respeito pelos dirigentes e funcionários que trabalhavam sob a sua supervisão. Que a estrada lhe seja leve.
A posição do Executivo fica, evidentemente, fragilizada. Mas, ao contrário do que os analistas já aventaram, não me parece grave. Praticamente em falência técnica, a Câmara de Lisboa está atada de pés e mãos. Não vai poder fazer obra nos próximos anos e, por isso, não vai poder gastar o dinheiro que não tem. Pode ser que os aproveite para reduzir o buraco financeiro.
Por outro lado a luta interna do PSD, que opõe na autarquia Paula Teixeira da Cruz a Carmona Rodrigues, vai-se tornar mais intensa, agora que o segundo se encontra numa posição mais fragilizada. Adivinha-se, portanto, espectáculo para os próximos tempos.
A não ser, claro, que Carmona fizesse o que se adivinha como o melhor, a prazo, para a cidade: dadas as dificuldades que se avolumam, chamar ao executivo o PS e fazer uma coligação estável. Afinal de contas interessa também a este último ter a casa em ordem se, por acaso, ganhar as próximas eleições.
AR

quarta-feira, novembro 15, 2006

Eh, lá ...! (IX)






















AR

Divagações LXVIII

Está a chover. Deixei a roupa estendida. Azar do caraças.
AR

terça-feira, novembro 14, 2006

Divagações LXVII

É uma grande verdade, minha amiga, que "... a alegria merece tanto como a dor, ou mais, mesmo mais ...".
AR

Divagações LXVI

A aventura catastrófica do Iraque marca o início da queda do poder americano. Assistir-se-á nos próximos anos à agonia do seu papel de superpotência quase hegemónica enquanto dois novos actores se elevarão e tomarão um papel liderante na cena internacional: a China e a India.
O tempo de domínio das superpotências tem vindo a diminuir ao longo do tempo. O Egipto, primeira potência hegemónica, foi-o durante vários séculos. Depois Roma, que criou o mais vasto império até à altura conhecido, teve um papel hegemónico, como único actor do sistema, durante 400 anos, mais coisa, menos coisa.
O novo papel de superpotência foi tomado apenas cerca de 1000 anos após a queda do Império Romano do Ocidente, por Portugal e pela Espanha. O seu domínio na cena internacional durou qualquer coisa como 100/150 anos, com a recuperação do preceito romano do mare clausum. Seguiram-se a Holanda e, depois, o Reino Unido, que conseguiu a sua hegemonia nos mares mas nunca uma hegemonia total, tendo que partilhar espaços com a França e, durante um muito curto período, a Alemanha, para além dos decadentes impérios português e espanhol. A agonia do Império onde o Sol nunca se punha durou, mais ano, menos ano, 50 anos, do início do séc. XX até aos processos de independência, iniciados com a India em 1948.
A novas superpotências, União Soviética e Estados Unidos da América, tiveram reinados relativamente curtos, pelo menos comparando-os com os dos seus antecessores: 50 anos para a União Soviética, desde 1949 com a sua transformação em potência nuclear, e um pouco mais para os Estados Unidos, que entram agora em fase de decadência.
Estes períodos são, evidentemente, os mais perigosos e instáveis, pela própria natureza do jogo político e geo-estratégico com as suas readaptações. Enquanto uns vão perdendo a sua influência e se tornam, por isso, mais agressivos, outros tentam ganhar o seu espaço e são, também por isso, mais agressivos.
Mas este reajuste no palco internacional é diferente dos anteriores por um motivo muito simples: a dimensão populacional. Independentemente das suas geografias de natureza subcontinental, a China e a India têm, sobre os seus concorrentes, uma vantagem demográfica esmagadora, contando entre si muito perto de metade da população mundial. Se aliarmos a isso a crescente capacidade económica e tecnológica da China e a grande capacidade em termos de recursos humanos altamente qualificados da India, vemos que, em conjunto, EUA e UE têm pouco mais de metade da população da India e, para além disso, uma população envelhecida. Mesmo que se altere o quadro da natalidade na Europa e nos EUA, isso demorará pelo menos duas gerações a fazer-se notar. Ou seja, demorariamos qualquer coisa como 50 anos a retomar uma linha sustentada de crescimento populacional que nos permitisse voltar a competir, a sério, com as potências emergentes. Lá para a segunda metade deste século, julgo eu.
Ora o quadro não é famoso porque esta probabilidade é muito diminuta. A realidade é que a população de origem hispânica nos EUA é já maioritária enquanto na Europa aumentam brutalmente as populações de origem islâmica e africana, com taxas de natalidade altíssimas, e que aqui chegaram graças a uma política de portas abertas resultado de um inaceitável e comprometedor trauma post colonial. Que o digam os franceses. E agora os ingleses, que se aperceberam de repente que têm uma enorme população muçulmana, vinda sobretudo do Paquistão.
Fora isto, ainda há a considerar o futuro desaparecimento do mundo islâmico enquanto actor económico quando, inevitavelmente - resta saber se a tempo de salvar o planeta das profundas transformações climáticas em curso - terminar a corrida ao petróleo. Será a africanização de uma larga parte da população mundial que, ao contrário dos africanos, tem uma religião comum e uma agressividade latente.
Digamos que, para os próximos 50 anos pelo menos, o cenário não se afigura brilhante.
AR

segunda-feira, novembro 13, 2006

Divagações LXVI

Os Congressos de maioria são um dos mais deprimentes espectáculos da Democracia. O PS tem maioria absoluta, está confortavelmente instalado nessa coisa difusa que é o Poder, e o Secretário-Geral aproximou-se dos números da Rússia Soviética, ao ver a sua moção plebiscitada antes do Congresso, sem oposição, com 97% dos votos. É bonito.
E continua a ser bonito ver o Secretário-Geral a vender as suas ideias neo-liberais disfarçadas de preocupações sociais e a ser aplaudido, sem entusiasmo nem alegria, por um Congresso amorfo mas confortável.
Decalque dos do PSD em situação semelhante.
Viva a República!
AR

Poema de Amor sob a forma de Carta

"Quero-te não por quem és e sim por quem sou quando estou contigo. Nenhuma pessoa merece as tuas lágrimas, e se houver quem as mereça, ela não te fará chorar. "
Gabriel Garcia Márquez
AR

sábado, novembro 11, 2006

Divagações LXV

"- Do you think he might have killed someone in Vietnam?
- It was a war, Bobby."
AR

sexta-feira, novembro 10, 2006

Divagações LXIV

Apoiado.
AR

Divagações LXIII

Só quem ontem não saiu de casa é que poderá acreditar que apenas 12% dos funcionários públicos é que fizeram greve. Também não foram, com certeza, os 80% apregoados pelos sindicatos. Hoje a adesão aparenta ser maior. Julgo que andará, em termos globais, algures entre os 60% e os 70%. Considerando os tempos que correm, de desmobilização das pessoas, e o facto de um número apreciável dos trabalhadores na função pública, principalmente a nível local, ser contratado - com vínculo precário, portanto - julgo que os números não são nada maus.
AR

quarta-feira, novembro 08, 2006

Eh, lá ...! (VIII)





















AR

Divagações LXII

A Banca, através do presidente da respectiva associação, manifestou já a sua oposição à intenção do governo de aumentar os impostos que sobre si incidem. Acho justo. Afinal se os gestores daquele sector fogem ao fisco através de benesses encapotadas, compreendo que se revoltem por as suas instituições terem que pagar mais impostos e não poderem escapar. Nem ninguém me consegue convencer que o facto de os bancos e as empresas financeiras pagarem menos impostos do que as outras empresas não é uma coisa justa.
É uma injustiça que estão a fazer àqueles senhores.
AR

terça-feira, novembro 07, 2006

O Triunfo dos Porcos

Na Direcção Municipal de Planeamento Urbano, da Câmara Municipal de Lisboa, foi necessário fazer cortes: faltava o dinheiro. Foram dispensados técnicos - arquitectos, engenheiros e por aí fora - que se encontravam a trabalhar para o município há anos - alguns 8 e 9 anos. Encontravam-se em regime de prestação de serviços. O gabinete da vereadora do pelouro tem 40 (quarenta, por extenso, para não restarem dúvidas) assessores. Muitos vêm apenas receber o vencimento. Não os há a receber menos de €2000 por mês - e os que andam nesta ordem de valores são os juniores, putos do partido, da faculdade ou simples amigalhaços, que nunca trabalharam na vida e que se encontram na posição de mandar e decidir.
Nos concursos públicos para adjudicação de obras em alguns casos os dirigentes dão instruções sobre quem deve ver atribuído o contrato. A corrupção é generalizada.
No concurso público de acesso para juristas, que está em curso, as movimentações são mais do que muitas. Evidentemente, vão ser os putos do partido que vão ficar com os lugares contra os juristas que se encontram - alguns deles há mais de uma dezena de anos - a trabalhar na câmara em situação precária. Conheço alguns casos desses, de juristas a quem não é dado trabalho mas têm a protecção de políticos corruptos, com o deputado António Preto, e que, portanto, ficarão seguramente com os lugares na administração.
São estes mesmos que, um dia, chegarão ao topo da carreira, contra os que vão trabalhar a vida toda mas não alinham - porque não querem ou porque não podem - com a canalha que governa esta câmara e este país. É para aí que aponta a nova lógica da restrição de acesso de toda a gente ao topo da carreira. Acho que ninguém com dois palmos de testa duvida disso.
Na Assembleia Municipal, há funcionários a terem um mês completo de férias mas a receberem a totalidade de horas extraordinárias durante esse período, com a concordância de directores e chefes de divisão. Eu, que percebo pouco destas coisas, tenho para mim que a conivência com tais actos dá lugar a processo disciplinar e, eventualmente, a expulsão da Função Pública. Mas esta canalha ordinária continua rindo e cantando enquanto, a todos os níveis, a República se vai afundando no lodo da sua própria corrupção e indiferença. Os ideais de 1910 e de 1974 estão, há muito, enterrados.
Resta-nos esperar, calmamente, que o barco se afunde de vez. Não duvido que o Poder cairá na rua, mais tarde ou mais cedo. Lamento que todos os que foram responsáveis pela situação a que estamos a chegar não possam ser responsabilizados. O julgamento da História não será, seguramente, suficiente.
5ª e 6ª faço greve. Não que julgue que isso venha a fazer muita diferença, mas porque é a única forma que tenho de mandar estes canalhas todos para a puta que os pariu.
AR

Divagações LXI

Dizia eu:
- O Sporting vai perder 1-2.
Só errei quanto às balizas onde os golos entraram.
AR

segunda-feira, novembro 06, 2006

Divagações LX

Os julgamentos feitos por quem ganha são sempre complicados, independentemente de serem justos ou não. A situação é mais complicada quando não são justos.
A condenação de Saddam Hussein, ao contrário de Nuremberga ou Tóquio, ficará na história como a aplicação mais desbragada de uma anedota de justiça. O julgamento do ditador iraquiano é uma vergonha para a Democracia e para a civilização e será, apenas, mais um argumento na mãos dos extremistas.
Julgo ser evidente que Saddam Hussein não teve um julgamento justo. Nem é possível quando alguns dos seus advogados foram assassinados, testemunhas influenciadas - no mínimo - ou intimidadas - no geral, a substituição do presidente do tribunal e por aí fora.
Que, à partida, a sua condenação era inevitável parece-me razoavelmente evidente. Mas isso não por ele ser Saddam, mas por ser o responsável por crimes de genocídio, conhecidos por todos. Independentemente disso, dever-lhe-íam ter sido garantidos os direitos de que goza qualquer cidadão em qualquer parte do chamado 'Mundo Livre'. Não foram. E o facto de não terem sido é uma mancha que não poderá, nunca, ser apagada.
AR

sexta-feira, novembro 03, 2006

Divagações LIX

Eles eram a Pipi das Meias Altas, Vickie - o Vicking, Heidi, Marco, Os Cinco, o Verão Azul, Conan - o Rapaz do Futuro, Espaço 1999, o Caminho das Estrelas, Ling Chung e muitos outros, que a memória já me falha para todos. Agradecem-se outras recordações.
AR

quinta-feira, novembro 02, 2006

Eh, lá ...! (VII)













AR

quarta-feira, novembro 01, 2006

Do Amor

A minha amiga Bastet, a propósito deste post, escreveu que "... Essa cena do amor pá é mesmo uma gaita!" Não poderia estar mais em desacordo contigo.
O Amor tem essa qualidade extraordinária de não se conseguir explicar. O Amor não se pensa, não se compreende e não se racionaliza. Ou se sente ou não. Ou se vive ou não.
Eu tenho para mim que, enquanto seres humanos, o Amor é o sentimento último, onde nos realizamos verdadeiramente, onde nos tornamos maiores e nos distanciamos, decisivamente, do resto da criação.
Muitas vezes se fala no amor sofrido. Não acredito nisso, apesar das fracas imitações poéticas que por aqui vou deixando. Por muito que por vezes me custe vivê-lo, por muito que por vezes me desespere com ele, o Amor permite-me viver, todo e cada dia, os momentos mais felizes da minha existência.
Quando falamos com quem amamos, quando com essa pessoa partilhamos um telefonema, um sorriso, um olhar, um cheiro, um toque, uma cumplicidade, por vezes mesmo apenas o saber que esse alguém está ali, ainda que o ali não seja logo aqui, quando vivemos isso somos, já, os mais felizes dos seres. E mesmo quando nos separamos, à tristeza da separação sobrepõe-se a felicidade da certeza do reencontro.
Citas bem Camões quando escreves "... para mim bastava amor somente". Nunca nada me deu o que do Amor recebo.
Quando estamos sós e a noite parece desabar sobre nós, ameaçadora e definitiva, quando enfrentamos os nossos demónios nesses momentos de solidão, mesmo nesses momentos, sabemos que somos melhores. Sabemos que crescemos mais do que os que não foram capazes de amar, que não tiveram a coragem de se deixar abraçar por esse sentimento, de se entregar à doce tranquilidade do Amor. Porque para isso é preciso coragem. E, repito, nesses momentos de maior escuridão dos nossos dias sabemos que, nos levasse a Morte naquele instante, tinhamos vivido a experiência mais enriquecedora das nossas pequenas e, em muitos aspectos, inúteis vidas porque tinhamos tido essa felicidade maior que é amar.
Não consigo conceber uma vida sem Amor. Não consigo conceber essa tristeza. Porque assim como o Amor nos preenche em absoluto a sua falta é também um vazio absoluto. E não consigo imaginar o desespero de o encontrar e o perder.
Em bom rigor, não creio que o percamos nunca. Mesmo que nos separemos de quem amamos, porque a verdade é que a vida nem sempre é aquilo que desejamos e nem sempre estamos no sítio certo no melhor momento, não creio que tenhamos que o perder. E essa é outra grande qualidade do Amor. A de nos ajudar a seguir em frente, mesmo que ele fique para trás, e de seguirmos em frente mais ricos, mais serenos e mais felizes.
AR

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