quarta-feira, março 31, 2004

sim, sim, e o Kubrick andava de olhos bem fechados


CC

andávamos todos enganados

Este é que é o rei.
LR

a Nicole Kidman tem um cérebro de passarinho e é má actriz


LR

sim, sim, é mais gira a canastrona lá de baixo


CC

a Nicole Kidman é uma sopeira australiana


LR

insight

Ivan, talvez o teu problema seja mesmo esse.
CC

terça-feira, março 30, 2004

a Nicole Kidman é um pau de virar tripas


LR

A Irlanda e o Futuro

Já está. A Irlanda deu o passo que faltava e proibiu o consumo de tabaco em todos os locais públicos.
Esta decisão é, sem dúvida, polémica. Não faltarão com certeza os mal-intencionados a argumentar que tal medida é, não só estúpida, como hipócrita, porque se a preocupação é a saúde dos indivíduos então dever-se-ia proibir, pura e simplesmente, a venda de tabaco e acabar com a sua receita fiscal, mas dever-se-ia ir ainda mais longe e proibir a circulação de todos os veículos movidos a hidrocarbonetos e outros combustíveis poluentes, que não apenas vão destruindo o ambiente como, para além disso, são responsáveis pelo aumento dramático de doenças respiratórias, muito mais onerosas para os cofres dos Estados e para a saúde pública do que o tabaco. E, já agora, proibia-se também o consumo de alimentos das cadeias tipo McDonald’s, Kentucky ou Pizza Hut, pela sua péssima qualidade e pelo facto de serem responsáveis, em larga medida, pelo aumento de doenças cardio-vasculares. Além disso, porque nestas coisas não se deve ficar a meio, proibia-se também o consumo de bebidas alcoólicas, que não apenas provocam dependência, talvez pior do que a do tabaco, como ainda são responsáveis pela morte de milhares e milhares de pessoas. Aliás, directa e indirectamente, o álcool mata muito mais gente do que o tabaco.
Esses mesmos mal-intencionados poderiam concluir que esta medida é uma palhaçada sem tamanho, importação de um puritanismo barrasco ‘made in USA’, típico de uma sociedade governada por mentecaptos e atrasados mentais que estão sempre a ver, e parafraseando os escritos bíblicos, o argueiro no olho do seu irmão mas que nunca vêem a trave no seu próprio olho.
Ainda bem que eu não pertenço a esse grupo de mal-intencionados.
AR

sábado, março 27, 2004

está quase!

Faltam 100 dias para acabar o Euro 2004.
CC

sexta-feira, março 26, 2004

bliss


Muse em Lisboa. Dia 9 de Junho.
CC

GALPgate?

Não tão aborrecido como a eliminatória do Benfica (porque sofremos tantos golos, Senhor?), mas um pouco mais grave, são os dados revelados pela Grande Loja do Queijo Limiano neste post de ontem, sobre as ligações (suspeitas, no mínimo) entre a Galp e consórcios industriais onde pontificam empresas subsidiárias de outras empresas de outros ramos, como a nossa conhecida Al-Qaeda. Para não falar dos tributos pagos pela Petrogal ao amigo do nosso primeiro-ministro, o democrata José Eduardo dos Santos.
Leia-se. Investigue-se.
CC

quinta-feira, março 25, 2004

convencido do catolicismo*

O IC 19 não é só uma via libertadora das agruras do quotidiano. A sua lenta, mas inexorável, travessia permite-me um encontro diário comigo mesmo (como agora se diz). Aí - e apenas aí - estou irredutivelmente só e retomo o meu lugar na harmonia do mundo.
Aproveito as manhãs e os fins de tarde destes dias de Quaresma para leituras propícias, durante os percursos de ida e volta na 2ª Circular e no IC 19. Agora, durante o monótono trava-pára-arranca nunca inferior a duas horas diárias, leio o belíssimo livro de João Bénard da Costa, «Nós, os vencidos do catolicismo» (editora Tenacitas, Coimbra, 2003), e reencontro a inquietação do catolicismo, nestes tempos em que digerimos a nossa nova condição minoritária.
No trânsito, ao volante do meu carro, leio os textos de Bénard da Costa e descubro-me herdeiro desses vencidos dos catolicismo que, nos anos 50, 60 e 70, viveram na Igreja as alegrias, as esperanças, as tristezas e angústias dos homens do nosso tempo. Hoje é outra a turbulência dos porquês, mas continua a ser sopro do Espírito que importa acolher e não escolho a sublimar. Onde quer que sopre. Mesmo no meio do IC 19.
CC
*expressão utilizada com a devida vénia.

quarta-feira, março 24, 2004

hoje deu-me para a nostalgia


LR

o tempo não pára



Tens razão CC, o tempo passa. No dia 24 de Março de 1984 (ainda não nos conhecíamos), estávamos provavelmente a carpir uma paixão adolescente pela Laura Branigan ou pela Nena...
LR

eh! eh! eh!

Os perigos dos links directos para imagens alojadas em sites alheios.
CC

24 de Março

Hojé é dia 24 de Março de 2004. O único dia 24 de Março de 2004 que vamos viver em toda a nossa vida. Não há mais. Acabou-se. Puf!
CC

terça-feira, março 23, 2004

a sabedoria dos arrumadores II

Outro dia estacionei o carro no único lugar vago da redondeza, prontamente indicado pelo arrumador de serviço, que me ajudou a manobrar a viatura de modo a enfiá-la no apertado espaço deixado entre dois outros veículos. Sem a sua ajuda teria certamente demorado mais 3 ou 4 segundos a estacionar.
Apesar da rua estar devidamente marcada com lugares de estacionamento pago, achei que o esforço simpático do arrumador merecia uma retribuição (sempre é uma maneira de consignar directamente os meus impostos para os mais desprotegidos - recorde-se que o Governo não sabe que há pobres ou pessoas com fome em Portugal, pois, se soubesse, «as pessoas não passariam fome, porque seriam localizadas e seriam alimentadas», como diz o nosso ministro da Segurança Social e do Trabalho).
Procurava nas moedas uma justa repartição entre o devido à EMEL, para que não me bloqueasse o carro, e o tributo ao jovem, quando este se aproximou e me entregou um ticket com validade por mais duas horas e meia, que pedira a outro cidadão automobilizado que se tinha ido embora mais cedo do que previra. Acabei por insistir com o arrumador para que aceitasse a totalidade das moedas: as que já lhe eram destinadas e as que iria colocar na máquina. Assim, ficámos ambos a ganhar, sem ninguém ter perdido (mesmo a EMEL, que já tinha sido paga pelo ticket que eu utilizei).
Quer parecer-me que estamos perante a nova geração de arrumadores, verdadeiros gestores cheios de iniciativa, criatividade e sensibilidade social. Oxalá todos os empresários fosse assim.
CC

segunda-feira, março 22, 2004

Countdown

Menos um.
AR

domingo, março 21, 2004

fables of the reconstruction of the fables of the reconstruction of the - etc.


Este é o mais mal-amado dos discos dos R.E.M., inclusivamente pelos próprios - que recordam a época da sua gravação, em Londres, como aquela em que estiveram mais próximo de se separarem. E no entanto... entre a primeira fase indie e obscura, e o estrelato da fase Warner, é aqui que se esconde o lirismo rural da banda, um country rock, ou pop, ou o que quiserem, lindíssimo e intimista. A (re)visitar sempre.
LR

song to the siren

Gosto de sirenes. De fábricas e comboios. Evocam multidões apressadas, gente que trabalha, produção em massa. São os últimos ecos da Revolução Industrial, e de uma época em que tudo parecia caminhar no sentido do "progresso" e da "modernidade". Tenho saudades das utopias.
LR

a ler

Por entre a gritaria alarve e surda, dois textos sérios e lúcidos, para fugir do pronto-a-pensar:
- o artigo da Procuradora Maria José Morgado no Público de sexta-feira, intitulado «A Faca Ou o Bisturi: a Justiça Frente ao Terrorismo»;
- um post de timshel ontem, dia 20 de Março, a propósito das unânimes reacções às declarações de Mário Soares sobre o diálogo com os terroristas.
CC

sábado, março 20, 2004

canção com dedicatórias - HOJE HÁ MANIFESTAÇÃO PLANETÁRIA

«Quer eu queira
Quer não queira
No meio desta liberdade
Filhos da puta
Sem razão

E sem sentido
No meio da rua
Nua crua e bruta
Eu luto sempre do outro lado da luta
»
Xutos & Pontapés, Esta Cidade, 1987.

MANIFESTAÇÃO CONTRA A GUERRA. HOJE, ÀS 15:00 HORAS. EM LISBOA (LARGO DE CAMÕES) E NO PORTO (PRAÇA DA BATALHA).
CC

basta ya!

A ETA é uma organização terrorista. A ETA não passa de um bando de assassinos.
(Está satisfeito, dr. Pacheco Pereira?)
BASTA YA!
MANIFESTAÇÃO CONTRA A GUERRA. HOJE, ÀS 15:00 HORAS. EM LISBOA (LARGO DE CAMÕES) E NO PORTO (PRAÇA DA BATALHA).
CC

sexta-feira, março 19, 2004

ele há melhores maneiras de passar a tarde de sábado


Amanhã, pelas 15.30 horas, passa na Cinemateca esta fabulosa obra realizada em 1949 por King Vidor. É um must sempre que se fala da Arquitectura no Cinema, e um grande filme por mérito próprio. Diletantismo sempre, militantismo nunca...
LR

é já amanhã

CONTRA A GUERRA E OS TERRORISMOS: MANIFESTAÇÃO DIA 20 DE MARÇO, ÀS 15:00 HORAS. LARGO CAMÕES (LISBOA). PRAÇA DA BATALHA (PORTO)

CC

quinta-feira, março 18, 2004

Venceraos pero no convenceraos!*

Leio o que o nosso guia escreve sobre o choque de civilizações, a propósito de uma frase assustadora do comunicado dos terroristas que reivindicaram os atentados de Madrid, há uma semana: «vocês amam a vida e nós amamos a morte». Também o Nuno Guerreiro lhe faz referência, sobre a notícia da intercepção pelas tropas israelitas da preparação de mais um atentado suicida a ser perpretado por uma criança, perto de Nablus.
Mas, meu caro José, o amor à morte, o ódio à vida, o ódio ao amor e o amor ao ódio, não é monopólio dos "outros": é uma constante nos fundamentalismos, em todos os fascismos. Não é uma questão religiosa, é política. Lembremo-nos da inequívoca frase do general franquista Millán Astray, durante a guerra civil espanhola, e que se tornou a sua divisa, depois de proclamada na Universidade da católica Salamanca, em 12 de Outubro de 1936: «Viva la muerte!».
Como lembra o Tiago, o pecado abraça a humanidade. Cada um de nós. Quantos de nós, bons cidadãos, democratas, católicos, poderemos assegurar que, nas mesmas circunstâncias (o tempo, o lugar, a educação, etc.), não seríamos apoiantes de Hitler na Alemanha dos anos 30? Ou admiradores de Bin-Laden no Afeganistão ou no Paquistão de 2004? Eu não.
CC
*Resposta dada ao grito do general Millán Astray, «Abajo la Inteligencia! Viva la muerte», pelo reitor da Universidade de Salamanca, Miguel de Unamuno: «Este é o templo da inteligência. E eu sou o sacerdote mais alto. Sois vós que profanais este sagrado recinto. Ganhareis, porque possuís mais do que a força bruta necessária. Mas não convencereis - Venceraos pero no convenceraos! - porque para convencer é necessário persuadir. E para isso vos falta a razão e o direito em vossa luta».

AR e CC debatendo as eleições espanholas




LR

quarta-feira, março 17, 2004

mais que medo, hombre?

Em 15 de Fevereiro de 2003 milhões de espanhóis sairam à rua para se manifestar contra a guerra ao Iraque. Antes e durante a guerra 91% dos espanhóis era conta a guerra. Um ano depois, com novo governo, os espanhóis exigem o regresso das suas tropas do Iraque.
Os espanhóis votaram contra as mentiras, contra a infidelidade do PP. Nós, pelo contrário, continuamos a meter a cabeça na areia e a não exigir ao nosso Aznar de papelão que nos mostre as provas das armas de destruição massiva que nos garantiu ter visto. Nós, sim, temos medo. De nos mexer.
CC

Breve reflexão sobre as eleições em Espanha II

No dia 11 de Março a dúvida era se o PP ganhava com maioria absoluta ou não. A 14 de Março os espanhóis exigem a saída do Iraque. Os espanhóis votaram com medo. Bin Laden ganhou este round.
AR

espalhem a notícia

Por sms, por e-mail, por telefone, em posts, por tradição oral, por mensagens gravadas, por carta, enfim, pelos meios necessários. Os fins justificam.

CC

ó mãe, onde está a cola UHU?



Eu ainda sou do tempo em que os cromos da bola só existiam nas cadernetas.
LR

ele só tem uma palavra


O que diz num dia, nunca desmentirá no outro.
LR

terça-feira, março 16, 2004

que medo, hombre?

Medo, AR? Os espanhóis votaram com medo? Os espanhóis têm medo é das mentiras. Das mentiras oleosas do caso Prestige, das mentiras da destruição maciça, das mentiras terroristo-eleitorais, em suma, de todas as mentiras arrogantes de Aznar.
Os espanhóis estão habituados ao medo e ao terror. Vêm para a rua aos milhões, fazendo uma guerra civil por ideais (os valores de que falas), morrendo e vendo morrer os «seus filhos, pais, irmãos, amigos»), gritando contra uma guerra de encomenda (90% de espanhóis contra a guerra ao Iraque, lembras-te?), mostrando o peito aberto contra o terrorismo caseiro da ETA, expondo as feridas contra o terrorismo global. Mas têm dignidade e protestam quando são enganados: nas ruas, nas praças, nas urnas de voto. Não digas que os espanhóis votaram com medo, AR. Os espanhóis votaram contra a mentira, que pretendia tomá-los por imbecis. Não os trates assim tu, também.
CC

Breve reflexão sobre as eleições em Espanha

Eu compreendo o medo. E compreendo também que é necessário ter coragem para o dominar.
O resultado das eleições em Espanha mostrou a vitória do medo sobre a vontade e o dever de lhe fazer frente.
Quem me conhece sabe que sou contrário à guerra do Iraque. Fui-o desde o primeiro momento. Mas ser-se contra a guerra do Iraque não é ser-se contra a guerra que se tem feito, e se deve continuar a fazer, sem vacilar, contra o terrorismo. Contra os canalhas, sejam eles quais forem, que matam, indiscriminadamente ou não, porque têm, como os próprios admitem, o culto da morte. Mal ou bem, a guerra contra o terrorismo passa agora pelo Iraque.
Os atentados de Madrid exigem, sobretudo, firmeza. Exigem a demonstração de que não se tem medo. E utilizo bem o tempo verbal. O facto de os espanhois terem votado com medo não os liberta desse dever. Eles continuam, como todos nós, vinculados a essa obrigação: a de defender o seu país, os seus valores, os seus filhos, pais, irmãos, amigos.
O acto impensável de dar a vitória ao PSOE e os propósitos já enunciados por este partido de fugir do Iraque, ainda que possa ser (dificilmente) desculpável, não os exime do dever e do direito de exigir ao seu governo que se mantenha firme. Pela cidadania. Pela Espanha.
AR

um trinta e um ou a demanda de um lugar para um repasto conciliar

Quer eu queira quer não queira, esta cidade há-de ser uma fronteira e a verdade é que eu não sou grande conhecedor da restauração lisboeta - em especial para almoços. Perguntem-me alguma coisa sobre cinema, música, livros, o sentido da vida, a constituição ideal da equipa do Benfica contra o Inter, e ainda sou capaz de disfarçar a ignorância. Se o almoço fosse em Borba poderia aconselhar dois ou três sítios seguros. Em Lisboa não. Sou um permanente turista em Lisboa. De cada vez que estou cá durante uns tempos, tudo mudou desde a minha última estadia. Ainda para mais tenho um nulo sentido de orientação e uma memória fraquíssima. E, como sou um conservador desenraizado, vou sempre aos mesmos sítios.
Obrigado, LR.
CC

segunda-feira, março 15, 2004

livrai-nos do mal

As leituras políticas dos resultados das eleições espanholas parecem-me um tudo nada apressadas. Existe um sentimento humano, senão mesmo animal, chamado "medo" - que é inerente ao instinto de sobrevivência.
Na sequência do 11 de Março, as pessoas tiveram medo. Das três, uma: ou foi a ETA, e o Governo falhou; ou foi a Al-Qaeda, e o Governo deve ser penalizado pela aventura iraquiana; ou foram outros, ou uma combinação daqueles, e o Governo tem culpa porque era governo.
Os resultados eleitorais são no essencial a expressão, compreensível e legítima, do medo dos votantes. E têm pelo menos a virtude de eliminar, por ora, a criatura aznariana - só faltam Blair e Barroso. Mais do que isto não há, só talvez na imaginação da Dr.a Ana Gomes.
LR

España vira al centro

Desta vez quem mentiu mais perdeu.
CC

domingo, março 14, 2004

parábola da figueira

«Jesus disse então a seguinte parábola:
"Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi procurar os frutos que nela houvesse, mas não os encontrou.
Disse então ao vinhateiro: "Há três anos que venho procurar frutos nesta figueira e não os encontro. Deves cortá-la. Porque há-de estar ela a ocupar inutilmente a terra?"
Mas o vinhateiro respondeu-lhe: "Senhor, deixa-a ficar ainda este ano, que eu, entretanto, vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo. Talvez venha a dar frutos. Se não der, mandá-la-ás cortar no próximo ano"».
3º Domingo da Quaresma; Evangelho: Lucas, 13, 6-9

Vem mais uma vez a Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), organismo da Igreja Católica em Portugal, interpelar as demasiadas vezes entorpecidas consciências nacionais e, em particular, as cristãs, designadamente as dos católicos.
Recordo que, até há pouco tempo, presidiu à CNJP o actual ministro das Companhias de Seguros, Bagão Félix, a quem são dirigidos recados muito directos no documento emitido pela CNJP, intitulado «Um outro olhar sobre as desigualdades e a exclusão social. Um outro compromisso com um mundo mais justo e solidário».
Ficam aqui alguns excertos deste oportuno e corajoso texto da CNJP:

«3. É inaceitável que o progresso económico que o nosso país alcançou nos últimos 30 anos e as ajudas comunitárias entretanto recebidas não se tenham traduzido numa redução substancial da pobreza, designadamente nas suas expressões mais severas, de falta de alimento e de habitação condigna, de dificuldades no acesso à educação e à saúde, de insuficiência de recursos bastantes para garantir uma vida digna, segundo os padrões correntes na nossa sociedade. Cerca de 1/5 dos nossos concidadãos conhecem a pobreza com maior ou menor severidade, e uma parte deles nunca teve situação diferente, porque a pobreza se tornou hereditária e esteve sempre presente nas suas vidas.
(...)
6. (...) Mais grave ainda é o facto de que os níveis de salário mínimo e pensão mínima sejam fixados em valores que, reconhecidamente, ficam, no caso do primeiro, muito próximo do limiar de pobreza e, no caso da segunda, abaixo desse limiar. Ou seja, são estabelecidos com a certeza antecipada de que as pessoas que os têm como única fonte de rendimento não poderão assegurar uma subsistência digna. Idêntico raciocínio se poderá fazer quanto ao rendimento mínimo.
(...)
7. (...) O argumento da falta de recursos do Estado não deve ser aceite acriticamente, antes deverá levar a que se questione as prioridades que estão subjacentes nos critérios dos decisores políticos. Merecem particular reparo os investimentos públicos que têm sido feitos em obras faraónicas e projectos de utilidade social duvidosa, beneficiando apenas determinados sectores da população.
8. O processo de privatização em curso, nomeadamente no que toca a bens públicos básicos, designadamente a água, os correios ou os transportes urbanos, para não falar da saúde e da educação, poderão configurar cenários de maior desigualdade e cavar o fosso entre ricos e pobres, acabando por mercantilizar direitos humanos e sociais básicos.
(...)
11. (...) Não é, pois, aceitável que, nestas áreas fundamentais (educação e em saúde), não estejam asseguradas condições de igualdade de oportunidades de acesso e de sucesso, correndo riscos de desigualdades e exclusões agravadas no futuro.
(...)
14. (...) reconhecemos que existe na população portuguesa uma fraca sensibilização à pobreza e à desigualdade, não as considerando como males sociais, isto é, produzidos pela própria sociedade e prejudiciais para a mesma.
(...)
15. A segunda razão que nos move a incentivar esta reflexão é o facto de constatarmos que em certos meios políticos e na comunicação social, frequentemente se veiculam ideias preconceituosas relativamente aos modelos económicos vigentes, designadamente no que se refere à sua inevitabilidade, e suporte teórico, daí retirando legitimação para certas políticas e práticas de gestão. Por exemplo, é frequente o argumento da necessidade de controlo orçamental (o que, em si mesmo, ninguém contesta) para justificar medidas de restrição da despesa pública, o que já não pode ser aceite sem ponderação dos seus efeitos sobre a extensão e a qualidade dos serviços públicos prestados (educação, saúde, investigação, habitação social, acção social, etc.) ou as reduções drásticas de remunerações e regalias dos funcionários públicos sem negociação com os interessados e sem contrapartidas.
(...)
16. A terceira razão que nos move nesta reflexão é o reconhecimento de que os cristãos pouco confrontam as suas atitudes e comportamentos na sociedade (trabalho, negócios, ensino e investigação, participação cívica e política) com as exigências que decorrem da sua fé em Jesus Cristo.
(...)
18. (...) Ser "luz", "sal" ou "fermento" hoje é defender o princípio fundamental do destino universal dos bens da terra e consequentemente procurar com todo o empenho que aqueles se destinem prioritariamente à subsistência e melhoria de condições de vida para todos e não em benefício exclusivo de alguns.
Ser "luz", "sal" ou "fermento" hoje é reconhecer que a propriedade privada ou a livre concorrência não são valores absolutos, mas antes instrumentos ao serviço da produção e da eficiência da economia».
CC

sexta-feira, março 12, 2004

Divagações VIII

Escreveu Eça:
"Ora tudo isto nos faz pensar - que quanto mais um homem prova a sua incapacidade, tanto mais apto se torna para governar o seu paiz!
E portanto, logicamente, o chefe do Estado tem de proceder da maneira seguinte na apreciação dos homens:
O menino Eleuterio fica reprovado no seu exame de francez. O poder moderador deita-lhe logo um ôlho terno.
O menino Eleuterio, continuando a sua bella carreira politica, fica reprovado no seu exame de historia. O poder moderador, alvoroçado, acena-lhe com um lenço branco.
O caloiro Eleuterio, dando outro passo largo, fica reprovado no 1º anno da faculdade de direito. O poder moderador exulta, e quer a todo o transe ter com elle umas falas sérias.
O bacharel Eleuterio, avançando sempre, fica reprovado no concurso de delegado. O poder moderador não póde conter o jubilo, e fal-o ministro da justiça.
E a opinião applaude!
De modo que, se um homem se pudesse apresentar ao chefe do Estado com os seguintes documentos:
Espírito de tal modo bronco que nunca pôde apprender a sommar;
Reprovações seccessivas em todas as materias de todos os cursos;
O chefe do Estado tomal-o-ia pela mão e bradaria, suffocado em jubilo:
- Tu Marcellus eris! Tu serás para todo sempre Presidente do Conselho!"
in Queiroz, Eça de. Uma Campanha Alegre. Pag. 90 e ss. Ed. Lello & Irmãos, 1927.
AR

perspectiva

A minha flexibilidade moral impede-me de pensar que tem igual gravidade fazer explodir transportes públicos cheios de civis ou assassinar (sim, escrevo assassinar) um tirano corrupto.
Não consigo ver o mundo com a distância necessária, a partir das alturas, de onde se perde a dimensão das grandezas ou misérias humanas e se reduz tudo a uma mancha indistinta, bidimensional. Vivo no chão. Não consigo deixar de ter presente a noção de escala.
CC

diferente em quê?

Na dimensão? No número de mortos? Na motivação? A tua flexibilidade moral não cessa de me espantar, CC. Fazendo um paralelo, por simpatia pessoal, afinidade religiosa, e influência John Fordiana, acarinho o ideário político dos republicanos irlandeses - o que porém não justifica, em caso algum, a morte de uma única das suas vítimas. Nem uma só.
LR

quinta-feira, março 11, 2004

sim

Não comparo o incomparável. Não trates tu, LR, como igual o que é diferente.
CC

a memória é curta

Depois de hoje, e do teu post, manténs o que disseste antes?
LR

tão longe, tão perto


CC

e se num dia de inverno estiveres deprimido

Se és "de direita", recomendo este:



Se és "de esquerda", recomendo este:



(Eu gosto muito dos dois.)
LR

quarta-feira, março 10, 2004

parabéns

Nós, os benfiquistas, com a superioridade moral que nos assiste, somos magnânimos: o F.C.Porto é a melhor equipa portuguesa da actualidade. Parabéns por nos envergonharem mais uma vez.
CC

terça-feira, março 09, 2004

não trabalhem tanto que ainda se cansam

«Os oito juízes dos quatro julgados de paz até agora existentes julgaram, em média, dois processos por mês em dois anos. Os 132 mediadores intervieram, no máximo, em nove casos. Um êxito, segundo a ministra da Justiça.»
Diário de Notícias – Licínio Lima
LR

também não é hoje

Nunca aqui escrevemos nada sobre o ex-humorista Herman José.
CC

segunda-feira, março 08, 2004

o cotovelo invisível do mercado

Ontem, juntamente com a Luna FM (dedicada à música clássica e ao jazz) acabou a Voxx. A rádio Voxx era uma companhia diária na minha via sacra entre a casa e o calvário do trabalho, durante os 64 km e duas horas de libertação quotidiana, como já referi por diversas vezes.
Agora, com a morte prematura destas frequências, ficam mais tristes as minhas travessias matinal e vespertina da 2ª Circular e do IC 19. Fica também mais pobre o espectro radiofónico nacional (pelo menos, de Lisboa e do Porto) e a diversidade de escolha dos ouvintes.
A Voxx passava musiquinha da boa, alternativa ou independente ou lá como se queira chamar, pouco divulgada, destinada a uma grande variedade de minorias de ouvintes. Não era uma rádio da moda, porque não tinha playlists copiadas das grandes rádios nacionais, em que se ouve continuamente o mesmo e reduzido grupinho de canções dos tops. Era um projecto assumidamente minoritário, mas de elevada qualidade.
O fim da Voxx deve-se à estratégia empresarial, capitalista, de mercado (seja lá o que for) do dirigente do PP que a adquiriu, Luís Nobre Guedes. Não entendo que os empresários devam suportar o custo de manter actividades de interesse social ou cultural se a isso não os obrigar a lei (embora entenda que a lei deva ser mais interveniente nesse sentido, mas isso são contas de outro rosário). Esse papel cabe ao Estado, às autarquias, ao poder político. Que, no caso concreto, tem sempre outras prioridades: os estádios de futebol, o casino, os cartazes gigantescos de auto-promoção pessoal, etc. Como se sabe o dinheiro não dá para tudo.
Ficam, portanto, na mão dos interesses privados a criação ou o fim dos projectos alternativos ao monolitismo do pensamento e dos gostos cada vez mais iguais. O curioso é que, sob a capa da maior oferta de bens, se assiste cada vez com maior frequência ao fim de projectos que estão nas margens da unificação cultural. Mais bens oferecidos, mas cada vez mais iguais entre si. É o mercado a funcionar.
Ontem, o último programa da emissão regular da rádio Voxx a ir para o ar foi o Mensageiro da Moita. Eles sempre tiveram razão, quando nos avisavam, no seu estilo self-depreciation, que a "boxx" era «um processo evolutivo, na sua curva descendente». Agora, a «melhor rádio cá do prédio» é já uma saudade.
CC
PS: o Bloguítica avança com outra razão para o fim da rádio Voxx. Veja-se o seu post [525], intitulado «PAULO PORTAS E O TRAVESTI LOLA», de 4 de Março.

domingo, março 07, 2004

está quase

Faltam 97 dias para começar esse grande desígnio nacional que é o Euro 2004.
A boa notícia é que faltam 120 dias para acabar.
CC

o céu mudou de lugar

Os discípulos de Nanni Moretti converteram mais dois pagãos e mudaram de alojamento. Agora estão aqui.
«Nova vaga», dizem eles (em francês, que eles são cultos). O template está mais bonito mas mantêm o nome do blog. Pensei que iriam passar a chamar-se o quarto dos filhos. Ou caro diário. Ou ecce bombo. Ou palombella rossa (ah! não, este já existe).
CC

sábado, março 06, 2004

eu vi a luz em um país perdido


Lost Horizon (1937), de Frank Capra
LR

tu foste a melhor coisa que nunca me aconteceu


Portrait of Jennie (1946), de William Dieterle
LR

sexta-feira, março 05, 2004

call-children

Ao que parece, qualquer criança pode acompanhar a entrada em campo dos jogadores na fase final do UEFA EURO 2004™ - uma iniciativa patrocinada pela McDonald’s, a quem o Nuno Gomes ainda deve o pagamento de um hambúrguer. Segundo o novo critério de selecção, também os putos com deficiência mental ou física o podem fazer. Apenas se exige que «as crianças deverão física e mentalmente ser capazes de participar no programa», o que é totalmente diferente do que para aí se falava.
Ao que consta, também as crianças fruto de gravidezes indesejadas podem participar no evento.
CC

ca ganda seca!

Então é assim o man do Ministério agora quer por o people todo a fazer exames de putugês e matemática no 6º ano então é assim tás a ver? um gajo anda o ano todo a bulir e depois tem um azareco e fode o ano todo pu casa dum exame é assim e outo gajo que não sabe bolha da matéria tem bué da sorte e safa-se é assim eu acho mal.
CC

quinta-feira, março 04, 2004

how low can you go?

Ontem sofremos, e celebrámos. Não estava porém em causa uma final da Liga dos Campeões (onde em 1988 e 1990 ainda marcámos presença), mas sim a passagem aos oitavos de final da Taça UEFA, contra uma das piores equipas que já vi jogar em competições internacionais de clubes. É isto o Benfica europeu?
LR

quarta-feira, março 03, 2004

hossana nas alturas


José Moreira, o salvador.
CC

terça-feira, março 02, 2004

women on top

Ainda em exibição nas salas nacionais, três filmes medianos (mas desiguais na mediocridade) vivem essencialmente à custa da presença luminosa das actrizes que lhe emprestam o corpo, assim sobrevivendo às evidentes fragilidades dos seus argumentos. «Cold Mountain», «Uma Casa na Bruma» e «Rapariga com Brinco de Pérola» vampirizam os rostos das três mais belas actrizes do cinema contemporâneo. Para nosso deleite.

Nicole Kidman, em «Cold Mountain»:




Jennifer Connelly, em «Uma Casa na Bruma»:




Scarlett Johansson, em «Rapariga com Brinco de Pérola»:




A paixão pelo cinema também passa por aqui.
CC

segunda-feira, março 01, 2004

fantas

Regresso do Fantasporto (um dos mais fracos dos últimos anos) e dou por mim a ver, pela primeira vez na totalidade e em directo, a noite dos óscares. Não é que o vencedor da categoria melhor filme é um terço de um filme mediano (ao que parece o pior terço, que eu só vi a primeira parte da "trilogia" - e foi suficiente) e, também ele, fantástico?
Também no Fantas, na secção Oficial de Cinema Fantástico, ganhou um filme aborrecidíssimo, «A Tale of Two Sisters», do sul-coreano Kim Jee-Woon, que arrecadou igualmente o prémio para a Melhor Realização. Valeu o vencedor da Semana dos Realizadores, «The Green Butchers», do dinamarquês Anders Thomas Jensen; o primeiro filme português de zombies, «I'll See You in My Dreams», de­ Miguel Angel Vivas, que foi premiado como a Melhor Curta-Metragem; e «The Last Horror Movie», de Julian Richards, que ganhou o prémio do Júri da Crítica.
Isto dos filmes que vi, claro. Não vi todos. Como o «Senhor dos Anéis - O Regresso do Rei». Hei-de vê-lo um dia. Ou não.
CC

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