quinta-feira, setembro 29, 2005
vão buscar!
CC
A Babicha
Eu ando muito preocupado com o curso das eleições em Lisboa. Os últimos números que li algures davam o Calinas à frente, resultado de uma recuperação recente que se deveu, imagine-se, ao aparecimento público da Babicha.
A Babicha, que, como todos sabem, é a mulher do Calinas, tem participado nas últimas acções de campanha do PS e isso tem ajudado a subir o número de eleitores dispostos a votar na lista rosa.
Agora, meus amigos, vamos lá a colocar um travão nisto, a dar um mínimo (muito mínimo, é certo) de dignidade a esta coisa. Apoiar o Calinas por causa da Babicha? Da Babicha??? DA BABICHA????? Ó meus amigos ... francamente. Vamos lá a ver as coisas com uma certa racionalidade.
Que não gostem do Carmona e achem o Calinas mais giro, ainda vá. Que o buraquinho entre os dentes da frente vos suscite pensamentos vagamente libidinosos, eu ainda aceito. Agora a Babicha? Para além de tudo é feia, carago! Feia. E se a vissem ao vivo até a iam achar mal esgalhada. As pernas são demasiado grandes, pá!
Votem no Calinas por qualquer outra razão, meus amigos, mas não pela Babicha!
ARP.S. - Ainda por cima, o nome dela pode ser confundido com Barbicha, e aí vocês íam ficar com fama de rabetas. E não querem isso, pois não?
Também não vejo qual é o problema
Segue a transcrição de um mail que recebi hoje. Tal como dizia o(a) Crítica, uns posts abaixo, não estou a ver onde está o problema. Eu e muita gente, acrescente-se.
"APESAR de ter apenas 50 anos de idade e de gozar de plena saúde, o socialista Vasco Franco, número dois do PS na Câmara de Lisboa duranteas presidências de Jorge Sampaio e de João Soares, está já reformado. A pensão mensal que lhe foi atribuída ascende a 3.035 euros, um valor bastante acima do seu vencimento como vereador. A generosidade estatal decorre da categoria com que foi aposentado - técnico superior de 1ª classe, segundo o «Diário da República» - apesar de as suas habilitações literárias se ficarem pelo antigo Curso Geral do Comércio, equivalente ao actual 9º ano de escolaridade. A contagem do tempo de serviço de Vasco Franco é outro privilégio raro, num país que pondera elevar a idade de reforma para os 68 anos, para evitar a ruptura da Segurança Social. O dirigente socialista entrou para os quadros do Ministério da Administração Interna em 1972 e dos 30 anos passados só ali cumpriu sete de dedicação exclusiva; três foram para o serviço militar e os restantes 20 na Vereação da Câmara de Lisboa, doze dos quais a tempo inteiro. Vasco Franco diz que é tudo legal e que a lei o autoriza a contar a dobrar 10 dos 12 anos como vereador a tempo inteiro. Já depois de ter entregue o pedido de reforma, Vasco Franco foi convidado para administrador da Sanest, com um ordenado líquido de 4.000 euros mensais. Trata-se de uma sociedade de capitais públicos, comparticipada pelas Câmaras da Amadora, Cascais, Oeiras e Sintra e pela empresa Águas de Portugal, que gere o sistema de saneamento da Costa do Estoril. O convite partiu do reeleito presidente da Câmara da Amadora, Joaquim Raposo, cuja mulher é secretária de Vasco Franco na Câmara de Lisboa. O contrato, iniciado em Abril, vigora por um período de 18 meses. A acumulação de vencimentos foi autorizada pelo Governo mas, nos termos do acordo, o salário de administrador é reduzido em 50% - para 2.000 euros - a partir de Julho, mês em que se inicia a reforma, disse ao EXPRESSO Vasco Franco. Não se ficam, no entanto, por aqui os contributos da fazenda pública para o bolo salarial do dirigente socialista reformado. A somar aos mais de 5.000 euros da reforma e do lugar de administrador, VascoFranco recebe ainda mais 900 euros de outra reforma, por ter sido ferido em combate em Moçambique já depois do 25 de Abril, e cerca de 250 euros em senhas de presença pela actuação como vereador sem pelouro. Contas feitas, o novo reformado triplicou o salário que auferia no activo, ganhando agora mais de 6000 euros limpos. Além de carro, motorista, secretária, assessores e telemóvel."
AR
quarta-feira, setembro 28, 2005
A campanha alegre
Isso é quanto?
Hoje na rádio, na imprensa escrita, no telejornal :“94 tribunais são deficientes e têm baixa produtividade “, dados que vêm expressos no último relatório anual feito pelo Conselho Superior de Magistratura. Não sei se é do meu espírito picuinhas, se do merceeiro com lápis na orelha que habita em mim, mas isto é quanto? Muito? Pouco? Metade? 1/3 ? ¼? Qual é o universo em análise? Dizem as notícias, que aliás são céleres em apontar os tribunais considerados tecla 3 (ou deficientes - ai ai os tribunais maus são estes estes e estes), que se trata de varas criminais, cíveis e juízos mas nunca chegam a dizer qual é o total de tribunais.
Uma consulta rápida no INE diz-me que havia 365 tribunais judiciais + administrativos + fiscais (suponho que não contam o Tribunal Constitucional, ou de Contas, mas quem sabe…) em Portugal em 2001. Quer isto dizer que temos 27% dos tribunais em análise com uma má classificação, e não 98. Dir-me-ão, ter um já é muito mau. O que representa 98 mais uma vez? Muito? Pouco? E como era o ano passado?
Sofia
Uma consulta rápida no INE diz-me que havia 365 tribunais judiciais + administrativos + fiscais (suponho que não contam o Tribunal Constitucional, ou de Contas, mas quem sabe…) em Portugal em 2001. Quer isto dizer que temos 27% dos tribunais em análise com uma má classificação, e não 98. Dir-me-ão, ter um já é muito mau. O que representa 98 mais uma vez? Muito? Pouco? E como era o ano passado?
Sofia
pequenas curiosidades do mundo do futebol, parte 2
Deviam criar a Liga dos Campeões Morais.
LR
LR
terça-feira, setembro 27, 2005
Um grande concerto foi o que os Smog nos presentearam ontem à noite. O evento foi no Clube Lua, uma nova sala na capital, que peca pela má configuração do espaço (quem já assistiu a concertos no Paradise Garage sabe dos inconvenientes deste tipo de discotecas: acústica fraca, má visão para o palco, degraus incómodos, caloraço algo insuportável, …).
11 álbuns depois e Smog, basicamente Bill Callahan, ainda está na prateleira da música-difícil-de-definir, algo que se convencionou chamar lo-fi, base acústica entre o country e o folk, que não se inibe em experimentar. O resultado são canções despidas, áridas, até repetitivas, onde ressalta a voz (e aqui temos uma grande voz). A convenção diz-nos ainda que há que tomar atenção às letras - de um pessimismo irónico muito próprio –, é através delas que vamos sabendo algo mais sobre a sua família (a irmã, a mãe, o pai como acontece em "Bathysphere"), as paisagens que supomos serem de Austin onde se descrevem rios e cavalos, as contrariedades que advêm das relações ("Our Anniversary"), a angústia de ser algo entre o deprimido e o que diz fuck y'all em southern accent. Deram-me ontem a ler algumas das letras: desde o Julius Caesar que nem o próprio Jesus Cristo escapava a este turbilhão de self disdain.
O concerto foi praticamente dedicado ao último trabalho - "A River Ain't Too Much To Love" - tocado na íntegra, em que um dos momentos altos da noite (tal como no álbum) foi o "Rock bottom riser". A acompanhá-lo um percussionista estilo viking, que por vezes tornava as coisas mais violentas e despertava-nos daquela modorra, e a namorada, a talentosa Joanna Newsom, cujas divagações do piano escapavam a ritmos apertadamente repetidos. Do protagonista pouco transpareceu para além da aparente apatia em palco, um alheamento pelos gritos (The well! berravam, acabou por aparecer já em encore e uns furos abaixo do original), indiferente um público que o adorava. "Thank you", murmurou já de saída no segundo encore.
Well, thank you Mr. Callahan.
Sofia
11 álbuns depois e Smog, basicamente Bill Callahan, ainda está na prateleira da música-difícil-de-definir, algo que se convencionou chamar lo-fi, base acústica entre o country e o folk, que não se inibe em experimentar. O resultado são canções despidas, áridas, até repetitivas, onde ressalta a voz (e aqui temos uma grande voz). A convenção diz-nos ainda que há que tomar atenção às letras - de um pessimismo irónico muito próprio –, é através delas que vamos sabendo algo mais sobre a sua família (a irmã, a mãe, o pai como acontece em "Bathysphere"), as paisagens que supomos serem de Austin onde se descrevem rios e cavalos, as contrariedades que advêm das relações ("Our Anniversary"), a angústia de ser algo entre o deprimido e o que diz fuck y'all em southern accent. Deram-me ontem a ler algumas das letras: desde o Julius Caesar que nem o próprio Jesus Cristo escapava a este turbilhão de self disdain.
O concerto foi praticamente dedicado ao último trabalho - "A River Ain't Too Much To Love" - tocado na íntegra, em que um dos momentos altos da noite (tal como no álbum) foi o "Rock bottom riser". A acompanhá-lo um percussionista estilo viking, que por vezes tornava as coisas mais violentas e despertava-nos daquela modorra, e a namorada, a talentosa Joanna Newsom, cujas divagações do piano escapavam a ritmos apertadamente repetidos. Do protagonista pouco transpareceu para além da aparente apatia em palco, um alheamento pelos gritos (The well! berravam, acabou por aparecer já em encore e uns furos abaixo do original), indiferente um público que o adorava. "Thank you", murmurou já de saída no segundo encore.
Well, thank you Mr. Callahan.
Sofia
sábado, setembro 24, 2005
comparado com isto, o caso Felgueiras é uma brincadeira de crianças
A Quinta Coluna lê o Público e faz serviço público, porque este artigo (de ontem, dia 23/9/2005) não está on-line:
12 milhões pagos pelo Estado em 2001
ESCRITÓRIO DE LAMEGO, COSTA E VITORINO CONSEGUI INDEMNIZAÇÃO PARA UM CLIENTE QUE TINHA SIDO RECUSADA POR CAVACO SILVA
José António Cerejo
Logo após ter saído do Governo, onde tinha tido responsabilidades na negociação do caso, José Lamego passou a representar a parte contrária ao Estado e o seu cliente obteve a indemnização que lhe havia sido recusada.
O Governo de António Guterres pagou, em 2001, uma indemnização de quase 12 milhões de euros à multinacional Eurominas, depois de a empresa ter passado a ser representada, nas negociações destinadas a pôr fim ao litígio que a opunha o Estado, pelo dirigente socialista José Lamego e outros advogados do escritório criado por ele próprio, por António Vitorino e pelo actual ministro da Justiça, Alberto Costa, após a saída dos três do Executivo em finais de 1997.
A indemnização em causa tinha sido expressamente recusada por Cavaco Silva em 1995 e era reivindicada pela Eurominas devido ao facto de o Governo do PSD ter decretado a devolução ao Estado, sem qualquer compensação, dos 86 hectares do estuário do Sado que tinham sido cedidos à empresa em 1973 para aí instalar uma fábrica entretanto encerrada.
Mesmo António Guterres sustentou depois em tribunal, durante anos, que a reivindicação da Eurominas não tinha qualquer fundamento legal. Todavia, logo a seguir à sua tomada de posse como ministro da Defesa e da Presidência no primeiro Executivo Guterres, ainda em 1995, António Vitorino desencadeou um longo processo de negociações, a pedido da Eurominas, que envolveu também, em nome do Governo, o então secretário de Estado da Cooperação José Lamego, e acabou por conduzir ao acordo indemnizatório de 2001.
O valor estabelecido nesse acordo, dois milhões e 384 mil contos (quase 12 milhões de euros), mais do que duplicou o montante de um milhão e 143 mil contos proposto por todos os técnicos representantes do Estado num grupo de trabalho nomeado para determinar a indemnização a pagar depois de Vitalino Canas, à época secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, ter formalmente aceite, em 1998, o princípio de que a Eurominas tinha direito a ser indemnizada.
O processo negocial iniciado por António Vitorino passou para as mãos de Vitalino Canas no final de 1997, após a demissão do ministro da Defesa e da Presidência, e foi depois herdado pelo secretário de Estado da Administração Portuária, Narciso Miranda, e pelo seu sucessor na pasta, José Junqueiro, que haveria de celebrar o acordo final com empresa em meados de 2001.
Representada inicialmente nos contactos com o Governo pelo seu advogado e administrador delegado Bernardo Alegria, a Eurominas passou a ser representada pelo advogado José Lamego, amigo de longa data daquele administrador, quando o secretário de Estado da Cooperação deixou o Governo, juntamente com António Vitorino e Alberto Costa.
Ao longo de quase dois anos, entre 1998 e finais de 1999, José Lamego, que foi eleito deputado nas eleições de Outubro desse ano, passou a enfrentar à mesa das negociações, em nome da Eurominas, os quatro representantes do Estado que com ele discutiram o valor da indemnização a pagar à empresa. O acordo não foi obtido nessa altura, mas acabou por sê-lo um ano e meio depois, em Maio de 2001, numa base idêntica à negociada com José Lamego, pelo seu irmão António Lamego, igualmente sócio do escritório de advogados de Alberto Costa, José Lamego, Rui Afonso e Associados [António Vitorino tinha saído meses antes para a Comissão Europeia].
Lamego diz que lhe escapou "impedimento legal"
Confrontado com o facto de ter enfrentado o Estado em nome da Eurominas menos de um ano após ter cessado as suas funções governamentais, o que é proibido por lei - independentemente do facto de ter previamente acompanhado o processo enquanto membro do Governo -, o actual deputado socialista José Lamego começou por negar a existência de qualquer ilegalidade nessa situação. "Quando participei nessas negociações, eu não era deputado. Nunca iria cometer uma falha grosseira a esse nível", garantiu ao PÚBLICO, em Abril deste ano, o também professor de Direito José Lamego, excluindo assim a hipótese de a sua intervenção violar algum preceito legal. Mas, posto perante o artigo 9º da Lei 6/93 - segundo o qual "os titulares de cargos políticos e de altos cargos públicos estão impedidos de servir de árbitro ou de perito, a título gracioso ou remunerado, em qualquer processo em que seja parte o Estado e demais pessoas colectivas", mantendo-se esse impedimento "até ao termo do prazo de um ano após a respectiva cessação de funções" -, o deputado corrigiu a sua posição: "Sinceramente não me apercebi na altura da existência desse impedimento. Admito que me tenha escapado esse preceito, que aliás é um bocado esdrúxulo".
"Agi em total boa-fé"
José Lamego secundariza o seu papel, enquanto secretário de Estado, na fase inicial das negociações com a Eurominas - "Recebi uma vez o dr. Bernardo Alegria apenas na óptica dos bons ofícios. Aliás, sou amigo dele há muitos anos e considero que não houve qualquer conflito de interesses, porque eles nunca chegaram a formalizar, junto da Secretaria de Estado da Cooperação, o projecto de investimento que queriam fazer em Angola, se fossem indemnizados" -, mas considera que "o Estado fez um excelente acordo" com a empresa. Quanto à Eurominas, o deputado acha que a empresa também ficou bem. "Ir para os tribunais demorava sete ou oito anos. Eu recomendei que fizessem o acordo pelos três milhões de contos e eles aceitaram por um pouco menos".
Sustentando que "o decreto de reversão [de Cavaco Silva] é um absurdo, porque configura uma forma de confisco", o deputado frisou que não esteve nas negociações até ao fim. Questionado sobre o nome de quem ficou a representar a Eurominas, respondeu: "Foi o dr. Gonçalo Capitão". "Mas o seu irmão, o dr. António Lamego, também ficou...", lembrou o PÚBLICO. "É possível", admitiu.
A propósito do facto de tanto ele como António Lamego serem sócios da sociedade de advogados a que também pertencia o ministro que tinha sido o motor das negociações com os seus clientes, José Lamego assegurou: "O dr. António Vitorino não estava sequer a par de que o processo estava a ser tratado por nós". A lei das sociedades de advogado estabelece, contudo, que "devem os sócios prestar mutuamente informações sobre a actividade profissional de advogado, sem que tal envolva violação do segredo profissional".
Em todo o caso, a representação da Eurominas através do escritório de advogados que tinha como sócios dois ex-membros do Governo ligados às negociações que a sociedade mantinha com o Estado não levanta qualquer problema a José Lamego. "Acho que não há razão nenhuma para me sentir incomodado. Agi em total boa-fé. Vi agora que não podia intervir como árbitro, mas as arbitragens são as coisas mais inócuas que há", afirmou.
Seis anos de negociações à margem dos tribunais
A justificação para as negociações foi sempre a de que os tribunais levavam muito tempo a decidir. Mas para conseguir o acordo sobre a indemnização, o Estado e a Eurominas pediram repetidamente aos tribunais que nada decidissem.
Aproveitando a circunstância de António Vitorino - acabado de eleger deputado pelo distrito onde a empresa estava sediada - ter sido nomeado ministro da Presidência do primeiro Governo de António Guterres, a Eurominas não perdeu tempo. No próprio dia da posse do Executivo, em Outubro de 1995, entregou no seu gabinete um extenso memorando e um pedido de audiência urgente.
A justificação para endereçar àquele ministro um dossier relativo a um assunto totalmente alheio à sua "competência material" foi dada pela própria empresa no documento entregue: "Tendo em consideração o conhecimento que V. Ex.ª tem desta situação e a necessidade de articular os vários ministérios relacionados com este assunto, pensamos também ser oportuno fornecer-lhe esta informação".
A ideia apresentada e desenvolvida nas semanas seguintes junto do secretário de Estado da Cooperação José Lamego e das secretarias de Estado da Administração Portuária e da Energia passava por uma solução extrajudical dos conflitos entre a Eurominas e o Estado e incluía um projecto de cooperação com Angola financiado pela indemnização que viesse a receber do Estado.
A DUPLA POSIÇÃO DO ESTADO
Ao longos dos dois anos seguintes, as reuniões entre as partes envolvidas multiplicaram-se, sempre sob a direcção da equipa de António Vitorino - em particular através do seu chefe de gabinete, Jorge Dias. E o entendimento foi-se desenhando em torno da aceitação, pelo Governo, do princípio oposto ao estabelecido pelo Executivo anterior: o Estado teria de indemnizar a empresa para ficar com os terrenos destinados à APSS. Para trás ficava, entretanto, a ideia do investimento em Angola, que tinha recebido o pronto apoio de José Lamego.
Paralelamente corriam nos tribunais diversos processos que a Eurominas ia sucessivamente perdendo a favor do Estado. E no processo principal, em que a empresa pedia ao Supremo Tribunal Administrativo a anulação do decreto de reversão, António Guterres, em nome do mesmo Estado, rejeitava frontalmente todas alegações da outra parte, seguindo inteiramente a linha de argumentação do Governo de Cavaco Silva. "O que se verifica é que [com o decreto de reversão] foi cumprido - embora porventura tarde - o comando contido no artº 5º do DL 48784 que manda (e não apenas permite) que seja operada a reversão", escreveu o então primeiro-ministro socialista em Dezembro de 1995.
Esta opinião continuará, aliás, a ser a do Estado nas sucessivas alegações e contra-alegações que vão sendo subscritas pelo Ministério Público e pelos juristas da Presidência do Conselho de Ministros (PCM), neste e noutros processos sobre o mesmo assunto. É o caso das alegações entregues por Rui Barreira ao STA no pleito sobre a anulação do decreto de Cavaco, onde aquele consultor jurídico do Governo insiste na defesa da legalidade da reversão sem pagamento de indemnização.
A CLARIFICAÇÃO DE VITALINO CANAS
A data destas alegações é 17 de Abril de 1998. Nove dias antes, porém, Vitalino Canas, secretário de Estado da PCM, e mais três dos seus colegas secretários de Estado, já tinham posto as suas assinaturas num protocolo celebrado com a Eurominas, onde o Estado assumiu a posição contrária, comprometendo-se a indemnizar a empresa.
Vitorino demitira-se do Governo no fim do ano anterior, mas nessa altura já Jorge Dias tinha tudo negociado com a outra parte. A tal ponto que, mais de dois meses depois de ter deixado as suas funções juntamente com o ministro, o gabinete de Vitalino Canas ainda lhe remeteu, por fax, para o seu novo emprego e não se sabe porquê, uma cópia do projecto de protocolo que viria a ser assinado em 8 de Abril.
O documento estabelecia um prazo de dez dias para a constituição de um grupo de trabalho formado por representantes do Estado e da Eurominas, que tinha como missão o estabelecimento de um acordo "sobre os montantes a pagar, a título de indemnização, pelos terrenos e pelas benfeitorias, de modo a pôr termo aos litígios existentes entre a Eurominas e o Estado". E dias depois, numa altura em que alguns dos processos já se encontravam prontos para julgamento - e quando os sucessivos pareceres dos juristas do Governo apenas admitiam a realização de negociações no caso de o acto de reversão vir a ser anulado por decisão judicial -, a PCM e a empresa começam a pedir aos tribunais para os suspenderem, uma vez que as partes estavam em vias de encontrar uma solução negociada.
JOSÉ LAMEGO PASSA PARA A EUROMINAS
A primeira reunião do Grupo de Trabalho efectuou-se na Presidência do Conselho de Ministros, em Junho de 1998, e em representação da Eurominas sentaram-se dois advogados. Um deles era José Lamego, que tinha saído do Governo com Vitorino e com Alberto Costa, então ministro da Administração Interna. Os três estavam por essa altura a lançar a sociedade de advogados que criaram formalmente em Janeiro do ano seguinte e no seio da qual José Lamego e o seu irmão António, também advogado, viriam depois a apoiar a Eurominas em todo o processo negocial que se seguiu até Maio de 2001. No último dia desse mês, com o secretário de Estado da Administração Portuária José Junqueiro a assinar pelo Estado, foi finalmente celebrado o acordo que fixou em 2.384.861 contos (quase 12 milhões de euros), o valor da indemnização que depois foi paga à empresa.
Mas para chegar a este montante, o caminho não foi fácil. Os quatro representantes do Estado no Grupo de Trabalho - um da PCM, outro da Direcção-Geral do Património, mais um da Direcção-Geral da Indústria e outro da APSS - não se entenderam com o advogado José Lamego e com o colega sobre o valor a pagar. Para tentar o acordo, o presidente do Grupo de Trabalho, um juiz jubilado que presidiu ao Supremo Tribunal Administrativo e é tio de Luís Patrão, à época (tal como agora) chefe de gabinete do primeiro-ministro, avançou com uma proposta intermédia.
O montante proposto por Luciano Patrão era de 3 milhões e 58 mil contos, incluindo 609 mil contos para os equipamentos fabris que permaneceriam nas instalações. Os quatro representantes do Estado, incluindo Paulo Tavares, chefe de gabinete de Vitalino Canas, ficaram-se, todavia, por 1 milhão e 143 mil contos e rejeitaram unanimemente a avaliação do presidente do Grupo de Trabalho.
NARCISO MIRANDA ENTRA EM CAMPO
Perante este impasse, Vitalino Canas dissolveu o Grupo de Trabalho no final de 1999 e o dossier passou para as mãos de Narciso Miranda, secretário de Estado da Administração Portuária. Por decisão pessoal deste, as conversas foram retomadas pouco depois, através de António Lamego, que reiterou a disponibilidade dos clientes para aceitarem "a solução conciliatória proposta pelo juiz-conselheiro Luciano Patrão".
E foi isso mesmo que veio a acontecer formalmente em 2001: o protocolo assinado por José Junqueiro fixou uma indemnização de 2 milhões e 384 mil contos, que foi paga em três prestações. O valor acordado, note-se, corresponde praticamente aos 3 milhões e 58 mil contos propostos pelo juiz. Isto porque os equipamentos por ele avaliados em 609 mil contos acabaram por ser levados pela empresa, não sendo contabilizados na indemnização.
J.A.C.
CC
12 milhões pagos pelo Estado em 2001
ESCRITÓRIO DE LAMEGO, COSTA E VITORINO CONSEGUI INDEMNIZAÇÃO PARA UM CLIENTE QUE TINHA SIDO RECUSADA POR CAVACO SILVA
José António Cerejo
Logo após ter saído do Governo, onde tinha tido responsabilidades na negociação do caso, José Lamego passou a representar a parte contrária ao Estado e o seu cliente obteve a indemnização que lhe havia sido recusada.
O Governo de António Guterres pagou, em 2001, uma indemnização de quase 12 milhões de euros à multinacional Eurominas, depois de a empresa ter passado a ser representada, nas negociações destinadas a pôr fim ao litígio que a opunha o Estado, pelo dirigente socialista José Lamego e outros advogados do escritório criado por ele próprio, por António Vitorino e pelo actual ministro da Justiça, Alberto Costa, após a saída dos três do Executivo em finais de 1997.
A indemnização em causa tinha sido expressamente recusada por Cavaco Silva em 1995 e era reivindicada pela Eurominas devido ao facto de o Governo do PSD ter decretado a devolução ao Estado, sem qualquer compensação, dos 86 hectares do estuário do Sado que tinham sido cedidos à empresa em 1973 para aí instalar uma fábrica entretanto encerrada.
Mesmo António Guterres sustentou depois em tribunal, durante anos, que a reivindicação da Eurominas não tinha qualquer fundamento legal. Todavia, logo a seguir à sua tomada de posse como ministro da Defesa e da Presidência no primeiro Executivo Guterres, ainda em 1995, António Vitorino desencadeou um longo processo de negociações, a pedido da Eurominas, que envolveu também, em nome do Governo, o então secretário de Estado da Cooperação José Lamego, e acabou por conduzir ao acordo indemnizatório de 2001.
O valor estabelecido nesse acordo, dois milhões e 384 mil contos (quase 12 milhões de euros), mais do que duplicou o montante de um milhão e 143 mil contos proposto por todos os técnicos representantes do Estado num grupo de trabalho nomeado para determinar a indemnização a pagar depois de Vitalino Canas, à época secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, ter formalmente aceite, em 1998, o princípio de que a Eurominas tinha direito a ser indemnizada.
O processo negocial iniciado por António Vitorino passou para as mãos de Vitalino Canas no final de 1997, após a demissão do ministro da Defesa e da Presidência, e foi depois herdado pelo secretário de Estado da Administração Portuária, Narciso Miranda, e pelo seu sucessor na pasta, José Junqueiro, que haveria de celebrar o acordo final com empresa em meados de 2001.
Representada inicialmente nos contactos com o Governo pelo seu advogado e administrador delegado Bernardo Alegria, a Eurominas passou a ser representada pelo advogado José Lamego, amigo de longa data daquele administrador, quando o secretário de Estado da Cooperação deixou o Governo, juntamente com António Vitorino e Alberto Costa.
Ao longo de quase dois anos, entre 1998 e finais de 1999, José Lamego, que foi eleito deputado nas eleições de Outubro desse ano, passou a enfrentar à mesa das negociações, em nome da Eurominas, os quatro representantes do Estado que com ele discutiram o valor da indemnização a pagar à empresa. O acordo não foi obtido nessa altura, mas acabou por sê-lo um ano e meio depois, em Maio de 2001, numa base idêntica à negociada com José Lamego, pelo seu irmão António Lamego, igualmente sócio do escritório de advogados de Alberto Costa, José Lamego, Rui Afonso e Associados [António Vitorino tinha saído meses antes para a Comissão Europeia].
Lamego diz que lhe escapou "impedimento legal"
Confrontado com o facto de ter enfrentado o Estado em nome da Eurominas menos de um ano após ter cessado as suas funções governamentais, o que é proibido por lei - independentemente do facto de ter previamente acompanhado o processo enquanto membro do Governo -, o actual deputado socialista José Lamego começou por negar a existência de qualquer ilegalidade nessa situação. "Quando participei nessas negociações, eu não era deputado. Nunca iria cometer uma falha grosseira a esse nível", garantiu ao PÚBLICO, em Abril deste ano, o também professor de Direito José Lamego, excluindo assim a hipótese de a sua intervenção violar algum preceito legal. Mas, posto perante o artigo 9º da Lei 6/93 - segundo o qual "os titulares de cargos políticos e de altos cargos públicos estão impedidos de servir de árbitro ou de perito, a título gracioso ou remunerado, em qualquer processo em que seja parte o Estado e demais pessoas colectivas", mantendo-se esse impedimento "até ao termo do prazo de um ano após a respectiva cessação de funções" -, o deputado corrigiu a sua posição: "Sinceramente não me apercebi na altura da existência desse impedimento. Admito que me tenha escapado esse preceito, que aliás é um bocado esdrúxulo".
"Agi em total boa-fé"
José Lamego secundariza o seu papel, enquanto secretário de Estado, na fase inicial das negociações com a Eurominas - "Recebi uma vez o dr. Bernardo Alegria apenas na óptica dos bons ofícios. Aliás, sou amigo dele há muitos anos e considero que não houve qualquer conflito de interesses, porque eles nunca chegaram a formalizar, junto da Secretaria de Estado da Cooperação, o projecto de investimento que queriam fazer em Angola, se fossem indemnizados" -, mas considera que "o Estado fez um excelente acordo" com a empresa. Quanto à Eurominas, o deputado acha que a empresa também ficou bem. "Ir para os tribunais demorava sete ou oito anos. Eu recomendei que fizessem o acordo pelos três milhões de contos e eles aceitaram por um pouco menos".
Sustentando que "o decreto de reversão [de Cavaco Silva] é um absurdo, porque configura uma forma de confisco", o deputado frisou que não esteve nas negociações até ao fim. Questionado sobre o nome de quem ficou a representar a Eurominas, respondeu: "Foi o dr. Gonçalo Capitão". "Mas o seu irmão, o dr. António Lamego, também ficou...", lembrou o PÚBLICO. "É possível", admitiu.
A propósito do facto de tanto ele como António Lamego serem sócios da sociedade de advogados a que também pertencia o ministro que tinha sido o motor das negociações com os seus clientes, José Lamego assegurou: "O dr. António Vitorino não estava sequer a par de que o processo estava a ser tratado por nós". A lei das sociedades de advogado estabelece, contudo, que "devem os sócios prestar mutuamente informações sobre a actividade profissional de advogado, sem que tal envolva violação do segredo profissional".
Em todo o caso, a representação da Eurominas através do escritório de advogados que tinha como sócios dois ex-membros do Governo ligados às negociações que a sociedade mantinha com o Estado não levanta qualquer problema a José Lamego. "Acho que não há razão nenhuma para me sentir incomodado. Agi em total boa-fé. Vi agora que não podia intervir como árbitro, mas as arbitragens são as coisas mais inócuas que há", afirmou.
Seis anos de negociações à margem dos tribunais
A justificação para as negociações foi sempre a de que os tribunais levavam muito tempo a decidir. Mas para conseguir o acordo sobre a indemnização, o Estado e a Eurominas pediram repetidamente aos tribunais que nada decidissem.
Aproveitando a circunstância de António Vitorino - acabado de eleger deputado pelo distrito onde a empresa estava sediada - ter sido nomeado ministro da Presidência do primeiro Governo de António Guterres, a Eurominas não perdeu tempo. No próprio dia da posse do Executivo, em Outubro de 1995, entregou no seu gabinete um extenso memorando e um pedido de audiência urgente.
A justificação para endereçar àquele ministro um dossier relativo a um assunto totalmente alheio à sua "competência material" foi dada pela própria empresa no documento entregue: "Tendo em consideração o conhecimento que V. Ex.ª tem desta situação e a necessidade de articular os vários ministérios relacionados com este assunto, pensamos também ser oportuno fornecer-lhe esta informação".
A ideia apresentada e desenvolvida nas semanas seguintes junto do secretário de Estado da Cooperação José Lamego e das secretarias de Estado da Administração Portuária e da Energia passava por uma solução extrajudical dos conflitos entre a Eurominas e o Estado e incluía um projecto de cooperação com Angola financiado pela indemnização que viesse a receber do Estado.
A DUPLA POSIÇÃO DO ESTADO
Ao longos dos dois anos seguintes, as reuniões entre as partes envolvidas multiplicaram-se, sempre sob a direcção da equipa de António Vitorino - em particular através do seu chefe de gabinete, Jorge Dias. E o entendimento foi-se desenhando em torno da aceitação, pelo Governo, do princípio oposto ao estabelecido pelo Executivo anterior: o Estado teria de indemnizar a empresa para ficar com os terrenos destinados à APSS. Para trás ficava, entretanto, a ideia do investimento em Angola, que tinha recebido o pronto apoio de José Lamego.
Paralelamente corriam nos tribunais diversos processos que a Eurominas ia sucessivamente perdendo a favor do Estado. E no processo principal, em que a empresa pedia ao Supremo Tribunal Administrativo a anulação do decreto de reversão, António Guterres, em nome do mesmo Estado, rejeitava frontalmente todas alegações da outra parte, seguindo inteiramente a linha de argumentação do Governo de Cavaco Silva. "O que se verifica é que [com o decreto de reversão] foi cumprido - embora porventura tarde - o comando contido no artº 5º do DL 48784 que manda (e não apenas permite) que seja operada a reversão", escreveu o então primeiro-ministro socialista em Dezembro de 1995.
Esta opinião continuará, aliás, a ser a do Estado nas sucessivas alegações e contra-alegações que vão sendo subscritas pelo Ministério Público e pelos juristas da Presidência do Conselho de Ministros (PCM), neste e noutros processos sobre o mesmo assunto. É o caso das alegações entregues por Rui Barreira ao STA no pleito sobre a anulação do decreto de Cavaco, onde aquele consultor jurídico do Governo insiste na defesa da legalidade da reversão sem pagamento de indemnização.
A CLARIFICAÇÃO DE VITALINO CANAS
A data destas alegações é 17 de Abril de 1998. Nove dias antes, porém, Vitalino Canas, secretário de Estado da PCM, e mais três dos seus colegas secretários de Estado, já tinham posto as suas assinaturas num protocolo celebrado com a Eurominas, onde o Estado assumiu a posição contrária, comprometendo-se a indemnizar a empresa.
Vitorino demitira-se do Governo no fim do ano anterior, mas nessa altura já Jorge Dias tinha tudo negociado com a outra parte. A tal ponto que, mais de dois meses depois de ter deixado as suas funções juntamente com o ministro, o gabinete de Vitalino Canas ainda lhe remeteu, por fax, para o seu novo emprego e não se sabe porquê, uma cópia do projecto de protocolo que viria a ser assinado em 8 de Abril.
O documento estabelecia um prazo de dez dias para a constituição de um grupo de trabalho formado por representantes do Estado e da Eurominas, que tinha como missão o estabelecimento de um acordo "sobre os montantes a pagar, a título de indemnização, pelos terrenos e pelas benfeitorias, de modo a pôr termo aos litígios existentes entre a Eurominas e o Estado". E dias depois, numa altura em que alguns dos processos já se encontravam prontos para julgamento - e quando os sucessivos pareceres dos juristas do Governo apenas admitiam a realização de negociações no caso de o acto de reversão vir a ser anulado por decisão judicial -, a PCM e a empresa começam a pedir aos tribunais para os suspenderem, uma vez que as partes estavam em vias de encontrar uma solução negociada.
JOSÉ LAMEGO PASSA PARA A EUROMINAS
A primeira reunião do Grupo de Trabalho efectuou-se na Presidência do Conselho de Ministros, em Junho de 1998, e em representação da Eurominas sentaram-se dois advogados. Um deles era José Lamego, que tinha saído do Governo com Vitorino e com Alberto Costa, então ministro da Administração Interna. Os três estavam por essa altura a lançar a sociedade de advogados que criaram formalmente em Janeiro do ano seguinte e no seio da qual José Lamego e o seu irmão António, também advogado, viriam depois a apoiar a Eurominas em todo o processo negocial que se seguiu até Maio de 2001. No último dia desse mês, com o secretário de Estado da Administração Portuária José Junqueiro a assinar pelo Estado, foi finalmente celebrado o acordo que fixou em 2.384.861 contos (quase 12 milhões de euros), o valor da indemnização que depois foi paga à empresa.
Mas para chegar a este montante, o caminho não foi fácil. Os quatro representantes do Estado no Grupo de Trabalho - um da PCM, outro da Direcção-Geral do Património, mais um da Direcção-Geral da Indústria e outro da APSS - não se entenderam com o advogado José Lamego e com o colega sobre o valor a pagar. Para tentar o acordo, o presidente do Grupo de Trabalho, um juiz jubilado que presidiu ao Supremo Tribunal Administrativo e é tio de Luís Patrão, à época (tal como agora) chefe de gabinete do primeiro-ministro, avançou com uma proposta intermédia.
O montante proposto por Luciano Patrão era de 3 milhões e 58 mil contos, incluindo 609 mil contos para os equipamentos fabris que permaneceriam nas instalações. Os quatro representantes do Estado, incluindo Paulo Tavares, chefe de gabinete de Vitalino Canas, ficaram-se, todavia, por 1 milhão e 143 mil contos e rejeitaram unanimemente a avaliação do presidente do Grupo de Trabalho.
NARCISO MIRANDA ENTRA EM CAMPO
Perante este impasse, Vitalino Canas dissolveu o Grupo de Trabalho no final de 1999 e o dossier passou para as mãos de Narciso Miranda, secretário de Estado da Administração Portuária. Por decisão pessoal deste, as conversas foram retomadas pouco depois, através de António Lamego, que reiterou a disponibilidade dos clientes para aceitarem "a solução conciliatória proposta pelo juiz-conselheiro Luciano Patrão".
E foi isso mesmo que veio a acontecer formalmente em 2001: o protocolo assinado por José Junqueiro fixou uma indemnização de 2 milhões e 384 mil contos, que foi paga em três prestações. O valor acordado, note-se, corresponde praticamente aos 3 milhões e 58 mil contos propostos pelo juiz. Isto porque os equipamentos por ele avaliados em 609 mil contos acabaram por ser levados pela empresa, não sendo contabilizados na indemnização.
J.A.C.
CC
sexta-feira, setembro 23, 2005
it's the politics, stupid!
Uns posts mais abaixo, escrevi: «(...) quanto à negação de direitos políticos a ex-presidiários, estava convencido que se restringia a alguns estados do Sul dos EUA que recorrem a essa prática para silenciar a população mais escurita.»
Num comentário anónimo, alguém disse «(...) Isto foi o Louça que escreveu? É que está tão definitivo, tão "nós desmascaramos as políticas fascitas"....»
FACTO #1: 48 Estados dos EUA têm actualmente restrições ao voto, uns para quem esteja em cumprimento de pena, outros para quem já tenha saído da cadeia mas esteja em liberdade condicional, outros ainda para sempre. Não inventei.
FACTO #2: Há quem concorde (ver aqui). Existem Portas, Louçãs e anónimos em todo o lado.
FACTO # 3: Há quem discorde, caso de dois jornais manifestamente radicais e quiçá comunistas como o New York Times e o Washington Post.
FACTO # 4: Se ainda não percebeu, amigo(a) anónimo(a), volte a #1.
LR
Divagações XXIII
Louçã é o nosso Torquemada. Louçã é o nosso Torquemada. Louçã é o nosso Torquemada. Louçã é o nosso Torquemada. Louçã é o nosso Torquemada. Louçã é o nosso Torquemada. Louçã é o nosso Torquemada. Louçã é o nosso Torquemada. Louçã é o nosso Torquemada. Louçã é o nosso Torquemada. Louçã é o nosso Torquemada. Louçã é o nosso Torquemada. Louçã é o nosso Torquemada. Louçã é o nosso Torquemada. Louçã é o nosso Torquemada. Louçã é o nosso Torquemada. Louçã é o nosso Torquemada. Louçã é o nosso Torquemada. Louçã é o nosso Torquemada. Louçã é o nosso Torquemada. Louçã é o nosso Torquemada. Louçã é o nosso Torquemada. Louçã é o nosso Torquemada. Ena, Ena. Nhanhanha!!!! E o meu partido é melhor do que o teu. Toma, toma!
AR
AR
o que faz correr Louçã?
O inquisidor-mor anda à solta. Em Amarante diz que "Avelino foi condenado em inúmeros processos, e que anda a ser investigado pela Judiciária". E a respeito dos skins e dos maricas, diz que a manifestação (parece que 20 energúmenos se passearam pelo Parque Eduardo VII) "foi organizada por um cadastrado".
Quando estudei Direito Penal e Processo Penal, havia uns velhinhos (quiçá perigosos fascistas, para Louçã) que me ensinaram uma coisa chamada presunção de inocência - a qual beneficia até os Avelinos deste mundo, até trânsito em julgado. E quanto à negação de direitos políticos a ex-presidiários, estava convencido que se restringia a alguns estados do Sul dos EUA que recorrem a essa prática para silenciar a população mais escurita.
Pois parece que o nosso Torquemada é de outra opinião. Bem prega Frei Tomás...
LR
Quando estudei Direito Penal e Processo Penal, havia uns velhinhos (quiçá perigosos fascistas, para Louçã) que me ensinaram uma coisa chamada presunção de inocência - a qual beneficia até os Avelinos deste mundo, até trânsito em julgado. E quanto à negação de direitos políticos a ex-presidiários, estava convencido que se restringia a alguns estados do Sul dos EUA que recorrem a essa prática para silenciar a população mais escurita.
Pois parece que o nosso Torquemada é de outra opinião. Bem prega Frei Tomás...
LR
viva o velho
quinta-feira, setembro 22, 2005
Panem et Circensis (corr.)
O espectáculo do retorno de Fátima Felgueiras, sendo, evidentemente degradante, já não choca. Tenho aqui falado por diversas vezes do lamaçal em que Portugal mergulhou. Mais merda menos merda já não faz grande diferença.
O que ainda me faz arquear as sobrancelhas é o direito a cobertura mediática e a impunidade de que essa merda disfruta.
Estas eleições autárquicas, no todo do continente, ficarão indelevelmente marcadas pelas candidaturas de Fátima Felgueiras e Avelino Ferreira Torres. Uma, fugida à justiça, volta triunfante, nos braços da populaça alarve e com a complacência da Justiça. O outro, condenado por crimes cometidos no exercício das suas funções públicas, de todos conhecido como corrupto, candidata-se perante a impotência do sistema democrático e com o apoio da mesma maralha embrutecida e ignara, e quiçá conseguirá a vitória no acto eleitoral que se avizinha.
Manuel Alegre, que poucos parecem escutar, fala, com razão, no aprisionamento da Democracia, aprisionamento esse, digo eu, às mãos da cáfila de bandidos que se apoderou, nos últimos 30 anos, lenta mas seguramente, do poder. A República parece avançar, aos arranques, para o seu total descrédito, com o lento, mas seguro, desagregar das instituições.
E se não me parece que possa acontecer uma qualquer nova Revolução de Maio, cada vez estou mais certo de que, dentro de poucos anos, este país se tornará ingovernável.
AR
O que ainda me faz arquear as sobrancelhas é o direito a cobertura mediática e a impunidade de que essa merda disfruta.
Estas eleições autárquicas, no todo do continente, ficarão indelevelmente marcadas pelas candidaturas de Fátima Felgueiras e Avelino Ferreira Torres. Uma, fugida à justiça, volta triunfante, nos braços da populaça alarve e com a complacência da Justiça. O outro, condenado por crimes cometidos no exercício das suas funções públicas, de todos conhecido como corrupto, candidata-se perante a impotência do sistema democrático e com o apoio da mesma maralha embrutecida e ignara, e quiçá conseguirá a vitória no acto eleitoral que se avizinha.
Manuel Alegre, que poucos parecem escutar, fala, com razão, no aprisionamento da Democracia, aprisionamento esse, digo eu, às mãos da cáfila de bandidos que se apoderou, nos últimos 30 anos, lenta mas seguramente, do poder. A República parece avançar, aos arranques, para o seu total descrédito, com o lento, mas seguro, desagregar das instituições.
E se não me parece que possa acontecer uma qualquer nova Revolução de Maio, cada vez estou mais certo de que, dentro de poucos anos, este país se tornará ingovernável.
AR
e não se pode decretar o dia sem FF?
A isto é que eu chamo poluição. E já agora o mote "Não chores por mim ...", não haverá direitos de autor a accionar? Madonna? Evita? Somebody?
Ninguém merece.
Sofia
dia sem carros (era só o que faltava)
CC
quarta-feira, setembro 21, 2005
Em verdade, em verdade vos digo: o Buckley que realmente importa
Sofia
sobre o destino trágico dos Edukadores
«Se a acção desses jovens se processasse no terreno das ideias teria muito mais efeito. O mal é que nem todos têm ideias; muitos destes rebeldes serão os industriais e os burgueses de amanhã. Exactamente como muitos rebeldes que surgiram no início do século se tornaram depois fascistas. Olhe, às vezes pergunto a mim mesmo se as suas explosões nas praças públicas e nas universidades não serão uma moda passageira, um meio de desabafarem, um preço pelos ressentimentos momentâneos, em vez de uma meditada recusa de um mundo ao qual grande parte pertence.»
Pietro Nenni (líder histórico do Partido Socialista Italiano) discorrendo sobre revolta estudantil de Itália dos anos 70 em entrevista a Oriana Fallaci.
Do melhor que fiquei do filme foi o belíssimo Hallelujah de Jeff Buckley (aliás, uma muleta sentimental, abusada para dar a intensidade que a imagem não conseguia transmitir) e a companhia de C. (usando essa nomenklatura à la Amor Feliz). Como sempre, well the pleasure - the privilege is mine.
Sofia
Pietro Nenni (líder histórico do Partido Socialista Italiano) discorrendo sobre revolta estudantil de Itália dos anos 70 em entrevista a Oriana Fallaci.
Do melhor que fiquei do filme foi o belíssimo Hallelujah de Jeff Buckley (aliás, uma muleta sentimental, abusada para dar a intensidade que a imagem não conseguia transmitir) e a companhia de C. (usando essa nomenklatura à la Amor Feliz). Como sempre, well the pleasure - the privilege is mine.
Sofia
terça-feira, setembro 20, 2005
html para AR
sexta-feira, setembro 16, 2005
Os Edukadores
Tinha combinado ir ao cinema com L. Não tinha nenhuma preferência por isso entreguei-lhe a dura e ingrata tarefa de escolher o filme. Ao telefone disse-me: 'Gostava de ver Os Edukadores. Já viste?' Não, não tinha visto. 'Está no King'. Soou o primeiro sinal de alarme mas não traí a minha dúvida. 'Por mim tudo bem.' Combinámos a hora. Decidimos ir jantar antes.
Afinal não jantámos na tradicional acepção da palavra. Petiscámos. E ali teria ficado, na conversa, por horas a fio. 'É melhor irmos andando'. Fomos.
Julgo que só tinha ido ao King uma vez. Tinha uma péssima recordação da sala, por me ter parecido desconfortável. No caminho, fiz algumas perguntas sobre o filme e tive como resposta 'É alemão'. Arrepiei-me. Meu Deus, um filme europeu! Estou condenado.
Algumas horas depois, saí da sala de cinema com um largo sorriso. Há muito tempo que não saía de uma sala de cinema com uma tão grande sensação de felicidade. Gostei muito, muito do filme. Por muitos motivos que, se me apetecer, contarei um dia.
Conversei mais um pouco com L. E, chegado a casa, tinha a certeza de que, sem embargo do filme, me tinha agradado infinitamente mais a sua companhia.
AR
Afinal não jantámos na tradicional acepção da palavra. Petiscámos. E ali teria ficado, na conversa, por horas a fio. 'É melhor irmos andando'. Fomos.
Julgo que só tinha ido ao King uma vez. Tinha uma péssima recordação da sala, por me ter parecido desconfortável. No caminho, fiz algumas perguntas sobre o filme e tive como resposta 'É alemão'. Arrepiei-me. Meu Deus, um filme europeu! Estou condenado.
Algumas horas depois, saí da sala de cinema com um largo sorriso. Há muito tempo que não saía de uma sala de cinema com uma tão grande sensação de felicidade. Gostei muito, muito do filme. Por muitos motivos que, se me apetecer, contarei um dia.
Conversei mais um pouco com L. E, chegado a casa, tinha a certeza de que, sem embargo do filme, me tinha agradado infinitamente mais a sua companhia.
AR
O Ordinário
Carrilho, o Calinas, até ontem divertia-me. Enfim, era uma diversão um pouco bacoca, reconheço, mas passava. Até então, como escrevi noutro sítio, Carrilho era um parlapatão mentiroso. Concedo que não é um título simpático mas pensei que podia haver pior. E pode. Desde ontem, Carrilho passou a ser, no meu dicionário, um canalha ordinário.
Mas Carrilho, o Calinas, não ganhou o novo título de ânimo leve. Não foi pela sua completa e total falta de preparação para o cargo, como ficou evidente. Nem pelo seu completo desconhecimento de como funciona uma autarquia. Nem das necessidades da cidade. Nem das ideias tresloucadas, impossíveis e demagógicas que apresenta. Nada disso.
Carrilho, o Calinas, ganhou merecidamente o epíteto de canalha ordinário pelas acusações canalhas e infundadas que fez a Carmona Rodrigues e pelo seu comportamento ordinário no final do debate.
Que era uma borboleta histérica, já se sabia. Agora que teria o desplante de acusar de corrupção e falta de idoneidade um homem como Carmona Rodrigues ultrapassa aquilo que eu considerava, até ontem, como imaginável e possível. E que, terminado o debate, se recusaria a cumprimentar o seu adversário, nunca, mas absolutamente nunca, me passaria pela cabeça.
Carrilho, o Calinas, ultrapassou ontem Santana. Nunca, nos meus devaneios mais treslocados, pensei que isso fosse possível.
AR
Mas Carrilho, o Calinas, não ganhou o novo título de ânimo leve. Não foi pela sua completa e total falta de preparação para o cargo, como ficou evidente. Nem pelo seu completo desconhecimento de como funciona uma autarquia. Nem das necessidades da cidade. Nem das ideias tresloucadas, impossíveis e demagógicas que apresenta. Nada disso.
Carrilho, o Calinas, ganhou merecidamente o epíteto de canalha ordinário pelas acusações canalhas e infundadas que fez a Carmona Rodrigues e pelo seu comportamento ordinário no final do debate.
Que era uma borboleta histérica, já se sabia. Agora que teria o desplante de acusar de corrupção e falta de idoneidade um homem como Carmona Rodrigues ultrapassa aquilo que eu considerava, até ontem, como imaginável e possível. E que, terminado o debate, se recusaria a cumprimentar o seu adversário, nunca, mas absolutamente nunca, me passaria pela cabeça.
Carrilho, o Calinas, ultrapassou ontem Santana. Nunca, nos meus devaneios mais treslocados, pensei que isso fosse possível.
AR
quinta-feira, setembro 15, 2005
O Calinas
O Calinas, vulgo Carrilho, tem sido fértil em brilhantes ideias (e consequentes propostas) para Lisboa.
Depois das câmaras espalhadas pela cidade para monitorizar as zonas perigosas ― note-se que não disse que ía pedir ao Ministério da Administração Interna mais polícia, pelo que suponho que as ditas câmaras tenham como função proteger os cidadãos e dar caça aos delinquentes ― e dos táxis gratuitos para os idosos ― de onde se supõe que o dito senhor não está ciente do programa Lisboa Porta a Porta, que transporta gratuitamente os idosos residentes nas zonas históricas, normalmente de mais difícil acesso ― vem agora, em entrevista à TSF, defender a brilhante ideia de retirar automóveis de dentro de Lisboa.
A ideia, em si, não é nova. O que é novo é o modo de o fazer proposto pelo Calinas. Imagine-se que a referida sumidade propõe (sic) “cortar os acessos da CRIL e da CREL”. Ou seja, as duas variantes, que têm exactamente como função dividir o tráfego que entra na capital ― para além, evidentemente, de permitir que quem vem das auto-estradas e o seu destino não é Lisboa não passe por dentro da cidade ― deixariam de cumprir a função para a qual foram construídas. E ficariam, obviamente, vazias. Como contrapartida, iria melhorar os transportes públicos dentro da cidade. Aparentemente, não sabe que a Carris e o Metropolitano não pertencem ao município pelo que, de facto, não poderá mudar nada se estas empresas não estiverem interessadas no que ele tiver (se tiver alguma coisa) a propor para o efeito.
Aguardo, com insuportável expectativa, as próximas propostas do Calinas, e não consigo deixar de pensar na frase do outro: ditosa a pátria que tais filhos gera.
AR
Depois das câmaras espalhadas pela cidade para monitorizar as zonas perigosas ― note-se que não disse que ía pedir ao Ministério da Administração Interna mais polícia, pelo que suponho que as ditas câmaras tenham como função proteger os cidadãos e dar caça aos delinquentes ― e dos táxis gratuitos para os idosos ― de onde se supõe que o dito senhor não está ciente do programa Lisboa Porta a Porta, que transporta gratuitamente os idosos residentes nas zonas históricas, normalmente de mais difícil acesso ― vem agora, em entrevista à TSF, defender a brilhante ideia de retirar automóveis de dentro de Lisboa.
A ideia, em si, não é nova. O que é novo é o modo de o fazer proposto pelo Calinas. Imagine-se que a referida sumidade propõe (sic) “cortar os acessos da CRIL e da CREL”. Ou seja, as duas variantes, que têm exactamente como função dividir o tráfego que entra na capital ― para além, evidentemente, de permitir que quem vem das auto-estradas e o seu destino não é Lisboa não passe por dentro da cidade ― deixariam de cumprir a função para a qual foram construídas. E ficariam, obviamente, vazias. Como contrapartida, iria melhorar os transportes públicos dentro da cidade. Aparentemente, não sabe que a Carris e o Metropolitano não pertencem ao município pelo que, de facto, não poderá mudar nada se estas empresas não estiverem interessadas no que ele tiver (se tiver alguma coisa) a propor para o efeito.
Aguardo, com insuportável expectativa, as próximas propostas do Calinas, e não consigo deixar de pensar na frase do outro: ditosa a pátria que tais filhos gera.
AR
quarta-feira, setembro 14, 2005
quase todos
terça-feira, setembro 13, 2005
Ah! Estás aí!
Hailé Selassié foi imperador da Etiópia entre 1930 e 1974. Entre outras, foi o responsável pela abolição da escravatura naquele país, o primeiro a passar uma constituição, enfrentou a invasão italiana, era também considerado uma espécie de divindade por parte dos rastaferians, que viam neste homem um respeitável representante de Zion.
Fui encontrar Selassié num livro que adquiri há meses - "Entrevista com a história" de Oriana Fallaci. A acompanhá-lo estão muitas personalidades políticas que dominavam a "cena" mundial no início da década de 70. Curioso exercício ler estas entrevistas, marcadas por uma memória ainda muita fresca do fascismo e pelo final da IIGM. Curioso porque deu para constatar que não mudámos muito, embora o discurso político à época fosse bem mais engagé, mais claro, mais determinado.
No entanto é sobre o Selassié que queria escrever. Não resisto a deixar uma descrição que a jornalista faz das punições aplicadas pelo imperador. É que apesar de ter modernizado bastante o seu país, tinha ainda vincados os outros hábitos de déspota iluminado (aliás durante a entrevista usa sempre um plural majestático: "Nós concordamos"), chega a ter requintes de humor macabro. Mémorias de um tempo não muito distante do nosso.
Sofia
Fui encontrar Selassié num livro que adquiri há meses - "Entrevista com a história" de Oriana Fallaci. A acompanhá-lo estão muitas personalidades políticas que dominavam a "cena" mundial no início da década de 70. Curioso exercício ler estas entrevistas, marcadas por uma memória ainda muita fresca do fascismo e pelo final da IIGM. Curioso porque deu para constatar que não mudámos muito, embora o discurso político à época fosse bem mais engagé, mais claro, mais determinado.
No entanto é sobre o Selassié que queria escrever. Não resisto a deixar uma descrição que a jornalista faz das punições aplicadas pelo imperador. É que apesar de ter modernizado bastante o seu país, tinha ainda vincados os outros hábitos de déspota iluminado (aliás durante a entrevista usa sempre um plural majestático: "Nós concordamos"), chega a ter requintes de humor macabro. Mémorias de um tempo não muito distante do nosso.
«As punições do imperador excluem os membros da família real. Estes não
podem ser condenados à morte ou a penas corporais. Mas para os outros as penas
vão do trabalho forçado até à forca. Desaparecido o uso da corte da mão e do pé,
ainda legal há poucos anos, ficou o uso de emparedar vivos os traidores na
sua própria casa.
...
Um outro sistema que lhe é querido é a humilhação pública. Se um cortesão comete um erro ou se mostra indigno da sua confiança, Sua Majestade castiga-o deste modo: todas as manhãs obriga-o a apresentar-se diante dele, de joelhos, e finge que não o vê, durante meses, às vezes anos. O perdão vem no dia em que o imperador pára diante dele e diz: " Estamos surpreendidos de te ver aqui, filho. Que podemos fazer
por ti?»
do jornalismo de sarjeta, e da pena de morte
O Expresso de sábado passado "noticiou" em primeira página um crime ocorrido em Caxias, com desenvolvimento a meio do caderno principal. A "notícia" descrevia em amplo pormenor o modo bárbaro e atroz como foi torturada e morta uma criança de seis anos, incluindo (não na primeira página, mas no desenvolvimento) a foto da criança.
O que o Expresso fez nada tem a ver com jornalismo. É doentio, é repugnante, é imoral, e nega à criança em causa o mais elementar dos direitos: ter na morte a dignidade e o repouso que lhe foram roubados em vida.
A mim, o Expresso estragou-me o fim-de-semana e (até ver) a semana. Sei que corro o risco de ler este tipo de lixo se comprar O Crime, estava (erradamente) convicto que o evitava comprando o Expresso. Não volto a enganar-me, porque após vinte anos de leitura assídua não volto a comprar este pasquim.
Quanto à morte da criança, gostava muito de ter a fé dos meus amigos católicos, que acreditam que o sofrimento será recompensado em lugar próprio. Infelizmente não a tenho, e o que sinto neste momento é sede de justiça. Talvez o ódio me cegue neste momento, e me faça repensar tudo o que sempre defendi quanto à pena de morte (designadamente por formação jurídica). Ou talvez me faça ver mais claramente que em nome da nossa própria sobrevivência, como exigência para que possamos andar de cabeça erguida na rua, temos de extirpar do nosso seio quem não merece viver entre os seus semelhantes.
Gostava muito de não ter lido esta "notícia". Gostava muito mais que ela nunca tivesse acontecido.
LR
O que o Expresso fez nada tem a ver com jornalismo. É doentio, é repugnante, é imoral, e nega à criança em causa o mais elementar dos direitos: ter na morte a dignidade e o repouso que lhe foram roubados em vida.
A mim, o Expresso estragou-me o fim-de-semana e (até ver) a semana. Sei que corro o risco de ler este tipo de lixo se comprar O Crime, estava (erradamente) convicto que o evitava comprando o Expresso. Não volto a enganar-me, porque após vinte anos de leitura assídua não volto a comprar este pasquim.
Quanto à morte da criança, gostava muito de ter a fé dos meus amigos católicos, que acreditam que o sofrimento será recompensado em lugar próprio. Infelizmente não a tenho, e o que sinto neste momento é sede de justiça. Talvez o ódio me cegue neste momento, e me faça repensar tudo o que sempre defendi quanto à pena de morte (designadamente por formação jurídica). Ou talvez me faça ver mais claramente que em nome da nossa própria sobrevivência, como exigência para que possamos andar de cabeça erguida na rua, temos de extirpar do nosso seio quem não merece viver entre os seus semelhantes.
Gostava muito de não ter lido esta "notícia". Gostava muito mais que ela nunca tivesse acontecido.
LR
domingo, setembro 11, 2005
In Memoriam
Das mais de 2.000 vítimas dos atentados de 2001.
AR
AR
sexta-feira, setembro 09, 2005
Divagações XXII
Ainda um dia hei-de perceber porque é que a 6ª vem entre a 5ª e o Sábado ...
AR
AR
quarta-feira, setembro 07, 2005
Viva o Rubens!
É isso e o Manuel das Finanças! Esse ladrão da juventude.
Na realidade, e contra a mim escrevo, estamos a abusar nas gralhas. O (polémico) post sobre a Festa do Avante teve aí meio dia com "copulas corruptas" (expressão que utilizei para descrever esses terríficos regimes totalitários) até me aperceber que eram cúpulas.
Eu ri bastante.
Sofia
e porque não?
Em vez de perder tempo com eleições autárquicas, Lisboa devia ser governada por um Directório composto por duas varinas, três taxistas, um empregado da Portugália e aquele senhor que costuma estar no Saldanha a dizer adeus aos carros.
LR
LR
dão-se alvíssaras
Algures nos anos 80, dentro do Manual de Finanças Públicas ou por baixo de algum Blitz, deixei a minha juventude. Se alguém a encontrar, apite.
LR
LR
chamar os bois pelos nomes
Quer-me parecer a mim que o Rubens de Carvalho, de que tanto falam, será o Ruben de Carvalho...
LR
LR
Super ut Roma , namque crucificadus iterum
O meu amigo CC levantou, abaixo, uma série de questões que me parecem do maior interesse. Vejamos.
Primeiro, assume que a realidade que eu vejo na televisão é "límpida". Devo discordar. A imagem não é límpida porque eu, não tendo cabo nem antena comum no prédio, tenho necessidade de recorrer a uma antena interior. A imagem é tudo menos límpida. E, em abono da verdade, eu vejo relativamente pouca televisão. Tão pouca que aquilo que fui sabendo da Festa do Avante foi pela Rádio.
Em segundo lugar, interpretou literalmente a minha afirmação de não conhecer Rúbens de Carvalho. Eu, que costumo ler alguns jornais (embora neste período de Verão, confesso, me tenha dedicado mais a não ler coisa nenhuma e a tentar não pensar no que se passa à minha volta) conheço a figura acima citada. Tan-Tan. Ouves a fanfarra? Devo ter ganho €50! Até apostaria que, como a grande maioria dos dirigentes comunistas, esteve preso, na clandestinidade, depois se calhar deu um saltinho à pátria do socialismo, e voltou, e tal ... enfim ... essas coisas que os dirigentes do PC da idade dele e mais velhos têm no Curriculum. Mas tirando isso, não sei muita coisa dele. Também não procurei saber. Mas fiquei a saber que se estiver interessado em obter mais informações sobre Rubens de Carvalho vou poder recorrer à preciosa ajuda do meu amigo CC.
Em terceiro lugar, fiquei a saber, por interpretação a contrario, que é necessário ter assistido a um concerto dos Xutos (ou, no mínimo, ter escutado um CD deles) para perceber a vida, o universo e tudo o mais.
Em quarto lugar fiquei a saber que o meu amigo CC acha que a Festa do Avante não visa promover a mensagem do PCP. Como diria o Ega, esta é de estalo. Ó meu amigo, então eles vão para ali, organizam aquilo tudo, e a sua intenção é apenas dar a conhecer uns belos petiscos, a doçaria regional, promover a música e por aí fora? Aquela coisa dos discursos na abertura e no encerramento devem ser, com certeza, momentos de lazer infanto-juvenil, em que os camaradas de serviço contam a História da Carochinha. E a da Branca de Neve. Do Pinóquio. Da Bela Adormecida. Da Gata Borralheira. Do Dragon Ball Z (esta presumo que seja contada pela Juventude Comunista...).
Em quinto lugar, a Sofia, neste mesmo sítio, acha que o PCP já não defende a sociedade totalitária que dominou metade do mundo durante 50 anos. Eu tinha ficado com a ideia de que o PCP se mantinha fiel à linha marxista-leninista que, entre outras coisas, defende a chamada Ditadura do Proletariado. E que foi um dos poucos que lamentou o fim da URSS. E que nunca chegou a condenar o Estalinismo. Provavelmente, estarei enganado. Se calhar o PCP converteu-se à Democracia liberal e burguesa e eu não dei por isso por estar sentado no sofá a ver televisão.
Em sexto lugar, a comparação entre Pinochet e Direita, nos termos em que aqui foi colocada a questão, não faz sentido. É evidente que o facto de o Pedro ser de direita não o coloca como simpatizante do Pinochet. Provavelmente, mesmo que o Pinochet organizasse uma festa qualquer, mesmo com muita música, petiscos e doçaria, o Pedro não iria lá. E mesmo que ele fosse, eu não iria com certeza. Porque isto é uma questão de princípio.
Em sétimo e último lugar, mas não menos importante por isso, o José Manuel Vieira é, como muito bem percebeu à primeira o Pedro, o Manuel João Vieira. Ó CC, o gajo dos Ena Pá! É que eu não me apeteceu ir confirmar o nome, mas lembrava-me que era Vieira, que era Manuel e que tinha outro nome começado por J ...
AR
Nota - O título foi obtido através de uma tradução online. Peço desculpa se não estiver correcto.
Primeiro, assume que a realidade que eu vejo na televisão é "límpida". Devo discordar. A imagem não é límpida porque eu, não tendo cabo nem antena comum no prédio, tenho necessidade de recorrer a uma antena interior. A imagem é tudo menos límpida. E, em abono da verdade, eu vejo relativamente pouca televisão. Tão pouca que aquilo que fui sabendo da Festa do Avante foi pela Rádio.
Em segundo lugar, interpretou literalmente a minha afirmação de não conhecer Rúbens de Carvalho. Eu, que costumo ler alguns jornais (embora neste período de Verão, confesso, me tenha dedicado mais a não ler coisa nenhuma e a tentar não pensar no que se passa à minha volta) conheço a figura acima citada. Tan-Tan. Ouves a fanfarra? Devo ter ganho €50! Até apostaria que, como a grande maioria dos dirigentes comunistas, esteve preso, na clandestinidade, depois se calhar deu um saltinho à pátria do socialismo, e voltou, e tal ... enfim ... essas coisas que os dirigentes do PC da idade dele e mais velhos têm no Curriculum. Mas tirando isso, não sei muita coisa dele. Também não procurei saber. Mas fiquei a saber que se estiver interessado em obter mais informações sobre Rubens de Carvalho vou poder recorrer à preciosa ajuda do meu amigo CC.
Em terceiro lugar, fiquei a saber, por interpretação a contrario, que é necessário ter assistido a um concerto dos Xutos (ou, no mínimo, ter escutado um CD deles) para perceber a vida, o universo e tudo o mais.
Em quarto lugar fiquei a saber que o meu amigo CC acha que a Festa do Avante não visa promover a mensagem do PCP. Como diria o Ega, esta é de estalo. Ó meu amigo, então eles vão para ali, organizam aquilo tudo, e a sua intenção é apenas dar a conhecer uns belos petiscos, a doçaria regional, promover a música e por aí fora? Aquela coisa dos discursos na abertura e no encerramento devem ser, com certeza, momentos de lazer infanto-juvenil, em que os camaradas de serviço contam a História da Carochinha. E a da Branca de Neve. Do Pinóquio. Da Bela Adormecida. Da Gata Borralheira. Do Dragon Ball Z (esta presumo que seja contada pela Juventude Comunista...).
Em quinto lugar, a Sofia, neste mesmo sítio, acha que o PCP já não defende a sociedade totalitária que dominou metade do mundo durante 50 anos. Eu tinha ficado com a ideia de que o PCP se mantinha fiel à linha marxista-leninista que, entre outras coisas, defende a chamada Ditadura do Proletariado. E que foi um dos poucos que lamentou o fim da URSS. E que nunca chegou a condenar o Estalinismo. Provavelmente, estarei enganado. Se calhar o PCP converteu-se à Democracia liberal e burguesa e eu não dei por isso por estar sentado no sofá a ver televisão.
Em sexto lugar, a comparação entre Pinochet e Direita, nos termos em que aqui foi colocada a questão, não faz sentido. É evidente que o facto de o Pedro ser de direita não o coloca como simpatizante do Pinochet. Provavelmente, mesmo que o Pinochet organizasse uma festa qualquer, mesmo com muita música, petiscos e doçaria, o Pedro não iria lá. E mesmo que ele fosse, eu não iria com certeza. Porque isto é uma questão de princípio.
Em sétimo e último lugar, mas não menos importante por isso, o José Manuel Vieira é, como muito bem percebeu à primeira o Pedro, o Manuel João Vieira. Ó CC, o gajo dos Ena Pá! É que eu não me apeteceu ir confirmar o nome, mas lembrava-me que era Vieira, que era Manuel e que tinha outro nome começado por J ...
AR
Nota - O título foi obtido através de uma tradução online. Peço desculpa se não estiver correcto.
quo vadis?
O meu amigo AR, que vê do sofá a límpida realidade que a tv lhe escolhe, manifesta a sua ignorância doméstica aqui n'AQC. Não sabe quem é o Rubens de Carvalho (não lê jornais, portanto), nunca foi à Festa do Avante mas acha que o objectivo da Festa é «espalhar a mensagem política do partido e promover o seu programa» aos incautos, nunca viu um concerto dos Xutos, nem sequer ouviu um disco qualquer da banda, nem tantas outras coisas que atrapalham o bom entendimento do mundo. Ainda assim, sabe bem a «cartilha» dos outros que, supostamente, não mudou nada nestes 30 anos. Sim, que ao meu amigo AR, nada lhe escapa, sentado que está diante do televisor.
Uma coisa, no entanto, me escapa, caro AR. Quem raio é o José Manuel Vieira de que falas?
CC
Uma coisa, no entanto, me escapa, caro AR. Quem raio é o José Manuel Vieira de que falas?
CC
terça-feira, setembro 06, 2005
Acredito que a festa tenha sido bonita, pá
A minha amiga Sofia, inquieta com o meu hipotético stress pela sua participação na Festa do Avante, tratou de assegurar Urbi et Orbi que a festa tinha sido muito boa, sem ninguém querer obrigar ninguém a nada, e tal ... essas coisas assim.
Vamos por partes.
Eu fico muito satisfeito por ela ter ido e gostado. E por ela ter visto dois velhinhos aos saltos no concerto dos Xutos (isto do progresso da medicina é uma coisa muito boa e bonita, não é?). Confesso que não esperaria nada ver dois velhinhos (ou uma velhinha e um velhinho, como parece ter sido o caso) num concerto dos Xutos, mas a tradição já não é o que era, pois não?
E também fico satisfeito por saber que ninguém a obrigou a assinar petição nenhuma, nem lhe tentou impingir o marxismo-leninismo da linha oficial do partido. E fico ainda mais satisfeito por saber que os nossos comunistas (como, de resto, julgo que os outros todos) não comem criancinhas ao pequeno-almoço (e espero que em nenhuma outra altura do dia - ou da noite).
Minha amiga, saber tudo isso enche-me de tremendo júbilo, que julgo apenas equiparável aos dos bem-aventurados quando contemplam a face do Senhor.
Mas isso não altera em nada uma realidade: a Festa do Avante é uma organização do Partido Comunista Português, que tem como objectivo espalhar a mensagem política do partido e promover o seu programa. Saltem os velhinhos o que saltarem, coma-se o bolo de caco que se comer, recusem-se as petições que se recusarem.
Aliás, a Festa do Avante foi sempre para mim o equivalente nacional daquelas viagens que o saudoso Partido Comunista da União Soviética, Pecus para os amigos, organizava à pátria do Socialismo, para mostrar como felizes eram as pessoas na terra dos Amanhãs que Cantam.
A cartilha, minha cara, é a mesma.
AR
Vamos por partes.
Eu fico muito satisfeito por ela ter ido e gostado. E por ela ter visto dois velhinhos aos saltos no concerto dos Xutos (isto do progresso da medicina é uma coisa muito boa e bonita, não é?). Confesso que não esperaria nada ver dois velhinhos (ou uma velhinha e um velhinho, como parece ter sido o caso) num concerto dos Xutos, mas a tradição já não é o que era, pois não?
E também fico satisfeito por saber que ninguém a obrigou a assinar petição nenhuma, nem lhe tentou impingir o marxismo-leninismo da linha oficial do partido. E fico ainda mais satisfeito por saber que os nossos comunistas (como, de resto, julgo que os outros todos) não comem criancinhas ao pequeno-almoço (e espero que em nenhuma outra altura do dia - ou da noite).
Minha amiga, saber tudo isso enche-me de tremendo júbilo, que julgo apenas equiparável aos dos bem-aventurados quando contemplam a face do Senhor.
Mas isso não altera em nada uma realidade: a Festa do Avante é uma organização do Partido Comunista Português, que tem como objectivo espalhar a mensagem política do partido e promover o seu programa. Saltem os velhinhos o que saltarem, coma-se o bolo de caco que se comer, recusem-se as petições que se recusarem.
Aliás, a Festa do Avante foi sempre para mim o equivalente nacional daquelas viagens que o saudoso Partido Comunista da União Soviética, Pecus para os amigos, organizava à pátria do Socialismo, para mostrar como felizes eram as pessoas na terra dos Amanhãs que Cantam.
A cartilha, minha cara, é a mesma.
AR
Vou ali e dizem-me: sim senhor ...
Tenho para mim que as próximas eleições autárquicas deveriam ser particularmente pacíficas em Lisboa. Entre todos os candidatos, mesmo para quem não conheça os meandros da realidade municipal, torna-se evidente que apenas Carmona Rodrigues tem o perfil para ocupar o cargo.
Carrilho, na boa linha de Santana, é um parlapatão vaidoso, cujo universo gira em torno do seu umbigo, e cospe vociferantes promessas impossíveis de realizar. É o protótipo do político mentiroso e sem escrupulos, que se confunde com a sua própria basófia, para quem o fim (ele) justifica os meios que tiver de utilizar. As suas promessas de acabar com as obras em Lisboa, de encher a cidade com câmeras de vigilância, de fazer nascer parques e jardins infantis em todos os bairros da cidade são disso exemplo. Das duas uma. Ou ele conhece a realidade municipal e sabe que não pode cumprir absolutamente nada do que promete - e estamos perante mentiras - ou ele promete sem conhecer a realidade municipal e então mente quando afirma que conhece essa realidade. Para mim, Carrilho foi arquivado irrevogavelmente no arquivo dos canastrões mentirosos.
Sá Fernandes é outro. Andou anos a torpedear as obras propostas pelo município. Hoje percebe-se porque o fez. Numa jogada de bacoco marketing de imagem, procurou tornar-se conhecido para retirar daí dividendos. Afinal, queria ser Califa do lugar do Califa. Não será, seguramente, Presidente da Câmara. Mas se fosse, ainda gostaria de saber o que é que ele pretenderia fazer com as obras que se esforçou por bloquear. Taparia o cavalheiro, novamente, o tunel do Marquês?
Rubens de Carvalho é para mim um ilustre desconhecido. Espero que não seja, no entanto, da mesma laia do actual Presidente da Assembleia Municipal, Modesto Navarro, seu correlegionário político, que se recusou a andar com um Volvo a gasóleo porque não andava, segundo ele, em carros a diesel, e que só voltou a andar em veículo oficial quando lhe puseram à disposição um carro topo de gama a gasolina. Para comuna, está apresentado! Por mim, teria andado a pé o mandato inteiro.
Finalmente, há aquela senhora do PP que pisca muito e, um destes dias na televisão, num debate com Carmona Rodrigues, não conseguiu concretizar os exemplos que pretendia dar, porque pura e simplesmente não conhecia as coisas mais elementares sobre a cidade e a organização municipal.
Se todos eles, como espero, perderem, juntar-se-ão a Santana na partida deste mundo político. Não deixarão, estou certo, saudades.
AR
Carrilho, na boa linha de Santana, é um parlapatão vaidoso, cujo universo gira em torno do seu umbigo, e cospe vociferantes promessas impossíveis de realizar. É o protótipo do político mentiroso e sem escrupulos, que se confunde com a sua própria basófia, para quem o fim (ele) justifica os meios que tiver de utilizar. As suas promessas de acabar com as obras em Lisboa, de encher a cidade com câmeras de vigilância, de fazer nascer parques e jardins infantis em todos os bairros da cidade são disso exemplo. Das duas uma. Ou ele conhece a realidade municipal e sabe que não pode cumprir absolutamente nada do que promete - e estamos perante mentiras - ou ele promete sem conhecer a realidade municipal e então mente quando afirma que conhece essa realidade. Para mim, Carrilho foi arquivado irrevogavelmente no arquivo dos canastrões mentirosos.
Sá Fernandes é outro. Andou anos a torpedear as obras propostas pelo município. Hoje percebe-se porque o fez. Numa jogada de bacoco marketing de imagem, procurou tornar-se conhecido para retirar daí dividendos. Afinal, queria ser Califa do lugar do Califa. Não será, seguramente, Presidente da Câmara. Mas se fosse, ainda gostaria de saber o que é que ele pretenderia fazer com as obras que se esforçou por bloquear. Taparia o cavalheiro, novamente, o tunel do Marquês?
Rubens de Carvalho é para mim um ilustre desconhecido. Espero que não seja, no entanto, da mesma laia do actual Presidente da Assembleia Municipal, Modesto Navarro, seu correlegionário político, que se recusou a andar com um Volvo a gasóleo porque não andava, segundo ele, em carros a diesel, e que só voltou a andar em veículo oficial quando lhe puseram à disposição um carro topo de gama a gasolina. Para comuna, está apresentado! Por mim, teria andado a pé o mandato inteiro.
Finalmente, há aquela senhora do PP que pisca muito e, um destes dias na televisão, num debate com Carmona Rodrigues, não conseguiu concretizar os exemplos que pretendia dar, porque pura e simplesmente não conhecia as coisas mais elementares sobre a cidade e a organização municipal.
Se todos eles, como espero, perderem, juntar-se-ão a Santana na partida deste mundo político. Não deixarão, estou certo, saudades.
AR
Foi uma festa bonita, pá
“Pai, sabes que a Sofia foi ontem à festa do Avante?”. Com um pontapé debaixo da mesa tentei travar a grande boca da minha irmã antevendo a (pequena) crise familiar que aí vinha. A minha mãe soltou um guincho, enquanto a voz lhe quebrantava no que parecia ser o mais profundo desgosto: “Então agora és comunista? Espero que ninguém te tenha visto”. Oh filha antes lésbica, antes raça minoritária, antes todos os clichés que te resguardassem de comportamentos menos desviantes que ir à festa dos comunas…
Após sermão de meia hora por parte do meu pai acerca dos malefícios totalizadores da ditadura de proletariado que se transforma em ditadura do partido, das cúpulas corruptas, e porque nós fomos à Jugoslávia tinha o Tito morrido há pouco tempo e aquela gente vivia mal, e os cafés, os cafés eram horríveis porque eram do Estado e as pessoas que trabalhavam neles não tinham incentivos para os servir bem. Imagina um país constituído apenas por funcionários públicos!
Relaxem caros pais, relaxa caro AR, a festa do Avante, mal ou bem, ainda é uma festa. É certo que pululam barraquinhas pró aborto, barraquinhas de recolha de assinaturas contra o aumento da idade da reforma, barraquinhas de saudade ao camarada Cunhal, ao camarada Vasco, barraquinhas várias anti-guerra mas ninguém me obrigou a assinar nada, nem doutrinou, nem me coagiu a deixar de ter um espírito muito crítico contra a aplicação (errónea acho) do marxismo no passado e hoje em dia (e não se descarte a teoria com tanta facilidade, experimente-se o Why Read Marx Today ). Ainda se pode ir à Festa do Avante por que ela é também uma festa. A nível do partido, da sua acção, concordo com algumas coisas, discordo de muitas, não quero tornar-me numa militante, nem vejo que o prazer e curiosidade que tive ao participar neste evento me torne numa. Curiosamente não havia por lá nenhuma múmia mas sim muitas famílias, e uma grande misturada de gente. Aliás até havia muita criançada: alegres, a rebolar pela relva, bebés rechonchudos, miúdos com relógios com a cara do Che estampada( e há que apreciar a fina ironia que imagem do líder mais revolucionário esteja hoje mercantilizada até à náusea). Irrita-me por isso essa reprovação implícita que comunas-são–os-que-comem-crianças-ao-pequeno-almoço impregnado em tantos bitaites que tenho de aturar (claramente a começar no seio da minha família).
Guardo um imagem deste sábado que para mim explana bem esse espírito de festa aberta a todas as classes e espero que aberta a diferentes mentalidades (para além da saudade dos bons petiscos nas várias delegações - o bolo de caco na Madeira, crema catalana na Catalunha, os pimentos padrão na Galiza). Durante o concerto dos Xutos ficámos entre um casal com dois filhos pequenos postos às cavalitas e um casal de idosos. O primeiro era nitidamente urbano, parecia ser da classe média alta, 30 e poucos, a mulher levava uma malita com um daqueles estampados muito conhecidos da feira de Cascais. Do lado esquerdo, o casal de idosos, ao que tudo indica do campo, ela vestida de preto, ele de boina alentejana. A certa altura sobrepunham-se as 2 figuras: do cabelo branco da senhora mais velha com o loiro da pequena ao colo, ambas agitando os braços e o corpo ao som da Vida Malvada dos Xutos, e achei que não destoava nada.
Sofia
Após sermão de meia hora por parte do meu pai acerca dos malefícios totalizadores da ditadura de proletariado que se transforma em ditadura do partido, das cúpulas corruptas, e porque nós fomos à Jugoslávia tinha o Tito morrido há pouco tempo e aquela gente vivia mal, e os cafés, os cafés eram horríveis porque eram do Estado e as pessoas que trabalhavam neles não tinham incentivos para os servir bem. Imagina um país constituído apenas por funcionários públicos!
Relaxem caros pais, relaxa caro AR, a festa do Avante, mal ou bem, ainda é uma festa. É certo que pululam barraquinhas pró aborto, barraquinhas de recolha de assinaturas contra o aumento da idade da reforma, barraquinhas de saudade ao camarada Cunhal, ao camarada Vasco, barraquinhas várias anti-guerra mas ninguém me obrigou a assinar nada, nem doutrinou, nem me coagiu a deixar de ter um espírito muito crítico contra a aplicação (errónea acho) do marxismo no passado e hoje em dia (e não se descarte a teoria com tanta facilidade, experimente-se o Why Read Marx Today ). Ainda se pode ir à Festa do Avante por que ela é também uma festa. A nível do partido, da sua acção, concordo com algumas coisas, discordo de muitas, não quero tornar-me numa militante, nem vejo que o prazer e curiosidade que tive ao participar neste evento me torne numa. Curiosamente não havia por lá nenhuma múmia mas sim muitas famílias, e uma grande misturada de gente. Aliás até havia muita criançada: alegres, a rebolar pela relva, bebés rechonchudos, miúdos com relógios com a cara do Che estampada( e há que apreciar a fina ironia que imagem do líder mais revolucionário esteja hoje mercantilizada até à náusea). Irrita-me por isso essa reprovação implícita que comunas-são–os-que-comem-crianças-ao-pequeno-almoço impregnado em tantos bitaites que tenho de aturar (claramente a começar no seio da minha família).
Guardo um imagem deste sábado que para mim explana bem esse espírito de festa aberta a todas as classes e espero que aberta a diferentes mentalidades (para além da saudade dos bons petiscos nas várias delegações - o bolo de caco na Madeira, crema catalana na Catalunha, os pimentos padrão na Galiza). Durante o concerto dos Xutos ficámos entre um casal com dois filhos pequenos postos às cavalitas e um casal de idosos. O primeiro era nitidamente urbano, parecia ser da classe média alta, 30 e poucos, a mulher levava uma malita com um daqueles estampados muito conhecidos da feira de Cascais. Do lado esquerdo, o casal de idosos, ao que tudo indica do campo, ela vestida de preto, ele de boina alentejana. A certa altura sobrepunham-se as 2 figuras: do cabelo branco da senhora mais velha com o loiro da pequena ao colo, ambas agitando os braços e o corpo ao som da Vida Malvada dos Xutos, e achei que não destoava nada.
Sofia
segunda-feira, setembro 05, 2005
Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma
Como a natureza a blogolândia tem capacidade de regeneração, ou não fosse época de rentrée. Assim para compensar os recentes bloguicídios, uma patologia deveras preocupante, duas boas novidades: o regresso de Francisco José Viegas com a Origem das Espécies e o Sound+Vision da dupla Nuno Galopim e João Lopes. Boas razões para continuar ligado à rede.
Sofia
Sofia
Condenados
" Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, - reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (...)
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta ate à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida intima, descambam na vida publica em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na politica portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...)
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do país, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre, - como da roda duma lotaria. A justiça ao arbítrio da Politica, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;(...)Dois partidos, sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, - de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...)"
Guerra Junqueiro, in "Pátria", escrito em 1896
AR
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta ate à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida intima, descambam na vida publica em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na politica portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...)
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do país, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre, - como da roda duma lotaria. A justiça ao arbítrio da Politica, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;(...)Dois partidos, sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, - de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...)"
Guerra Junqueiro, in "Pátria", escrito em 1896
AR
Eles vivem
A Festa do Avante é um momento alto nas exibições suponho que organizadas pelo Museu de História Natural. A quantidade de criaturas em vias de extinção, de (agora) pequenos saurios que há muito se julgavam extintos, de ressequidas múmias vindas directamente do Museu Britânico ou do Museu do Cairo, enfim, de espécimes verdadeiramente raros (embora não necessariamente bons) fazem as minhas delícias na chamada Rentrée. Bem melhor do que os discursos do Sócrates, a candidatura do Louçã - verdadeiramente ao nível da hipotética eventual candidatura de José Manuel Vieira - ou as parlapatices de Carrilho. Que belo país o nosso. De facto, em nada inferior ao deles ...
AR
AR
não perdes pela demora
Louçã é um ectoplasma e um pitecantropo.
LR
LR
regresso às aulas
A Direita ainda não tem pré-candidato às presidenciais (o partido do menino-guerreiro e de Alberto João Jardim espera pela decisão estratosférica de Cavaco e o de Avelino Ferreira Torres não tem ninguém que encaixe no "perfil"), o país ainda não tem governo (mas tem uma comissão instaladora), vêm aí mais autarcas e o "poder local" vai continuar a destruir a paisagem por todo o território, o Benfica ainda não marcou golos no campeonato, o homem do piano afinal não sabe tocar piano, e no meio dos blogs suicidas encontra-se o meu mui estimado Alerta Amarelo.
Mas nem tudo são Rosas. O Louçã candidata-se, a Festa do Avante estava cheia, o excelente Erro de Paralaxe está aqui linkado ao lado, e a retoma, como diria o saudoso Luís Delgado, está aí: só não vê quem não quer. E a Terra da Alegria voltou.
CC
Mas nem tudo são Rosas. O Louçã candidata-se, a Festa do Avante estava cheia, o excelente Erro de Paralaxe está aqui linkado ao lado, e a retoma, como diria o saudoso Luís Delgado, está aí: só não vê quem não quer. E a Terra da Alegria voltou.
CC
domingo, setembro 04, 2005
na falta de argumentos, passo aos impropérios
Cavaco é um flibusteiro de água doce, um inca de carnaval, uma espécie de bachi-bouzouk.
LR
PS: Obrigado, Capitão Haddock
LR
PS: Obrigado, Capitão Haddock
sexta-feira, setembro 02, 2005
Porque hoje é 6ª feira ...
... e me encontro inundado pelo amor universal, quero desejar um bom fim-de-semana ao Sr. Sócrates, para que as suas ideias continuem a iluminar os nossos passos, ao Sr. Sampaio, para que continue a exercer o seu magistério de influência, ao Sr. Soares, para que nos agracie muitos e muitos anos com o seu jeitinho bonacheirão, ao Sr. Mendes, para que arranje sapatos com saltos mais altos, ao Sr. Loureiro, para que nenhum mal lhe aconteça e o futuro lhe sorria, brilhante, ao Sr. Torres, para que depois do Marco leve o seu saber e bondade a outras terras, e a tantos e tantos outros, portugueses e portuguesas, que todos os dias se esforçam afincada e arduamente para que a nossa vida seja como uma escada rolante do Metro do Rato: longa e fácil de subir.
A todos, sem excepção, um grande bem-haja e um Salvé Raínha do tamanho da sua bondade e dedicação. Amén.
AR
A todos, sem excepção, um grande bem-haja e um Salvé Raínha do tamanho da sua bondade e dedicação. Amén.
AR
quinta-feira, setembro 01, 2005
De repente
o Too Much Coffee Man (o super herói speedado com cabeça de chávena)
tranformou-se num exemplo de vida saudável. O café afinal faz melhor que, por exemplo, as insuspeitas maças, framboesas ou tomates (pelo menos contribui com mais antioxidantes). Bem me parecia. Só faltam mais alguns estudos para o queijo da Serra (ou de Azeitão, não sou esquisita), enchidos, doces conventuais, entrecosto, e a vida saudável virá ao encontro da vida sonhada.
(link via Grande Loja do Queijo Limiano).
Sofia
tranformou-se num exemplo de vida saudável. O café afinal faz melhor que, por exemplo, as insuspeitas maças, framboesas ou tomates (pelo menos contribui com mais antioxidantes). Bem me parecia. Só faltam mais alguns estudos para o queijo da Serra (ou de Azeitão, não sou esquisita), enchidos, doces conventuais, entrecosto, e a vida saudável virá ao encontro da vida sonhada.
(link via Grande Loja do Queijo Limiano).
Sofia