domingo, fevereiro 29, 2004
há limites para tudo
Eu tenho aturado muita coisa. Desde logo, que a generalidade dos blogues nos linkem como sendo "de esquerda", apesar de nos nossos primórdios termos dito num post que as nossas sensibilidades, políticas e outras, eram tudo menos homogéneas (com a ressalva, desde logo ficou claro, do Benfica).
Mas agora deparo com isto: parabéns ao Glorioso... e ao Bloco de Esquerda!?!? Em posts sucessivos!?!? Ó valha-me Deus. Venha a nós o Simão e livrai-nos do Fernando Rosas, é o que apetece dizer.
LR
Mas agora deparo com isto: parabéns ao Glorioso... e ao Bloco de Esquerda!?!? Em posts sucessivos!?!? Ó valha-me Deus. Venha a nós o Simão e livrai-nos do Fernando Rosas, é o que apetece dizer.
LR
sábado, fevereiro 28, 2004
século II
«Após o habitual treino matinal de domingo de alunos e ex-alunos da casa pia e belenenses, na zona de belém e animado almoço no café Gonçalves, que ficava do outro lado da rua de Belém, resolveu-se realizar a tão esperada reunião para discutir o assunto que há muito fervilhava em todas as cabeças: a criação do novo clube.
O sítio escolhido foi a sala das traseiras da Farmácia Franco,situada nessa mesma rua, e no mesmo prédio onde moram os irmãos "Catataus", local onde trabalham dois dos 24 elementos que participaram na reunião: Manuel Goularde e Daniel Brito. É justo agradecer a Inácio José Franco (segundo conde do restelo) e a Pedro Augusto Franco pela generosidade em nos deixar usar aquele espaço como primeira sede do clube.
A reunião foi extremamente proveitosa e o orgulho era visível na cara de todos, finalmente o sonho começava a ganhar forma e rosto, embora com enormes dificuldades como por exemplo a falta de um campo onde pudéssemos jogar.
Depois da discussão, onde todas as opiniões foram ouvidas e ponderadas, entre todos os presentes elegeu-se a comissão que iria dirigir o clube: José Rosa Rodrigues, o mais velho dos catataus, como presidente, Daniel Brito como secretário e Manuel Goularde como tesoureiro.
Para o fim da reunião ficou marcada a escolha do nome e das cores do clube. A ideia comum era a presença da palavra Sport, mas teria de haver algo que vincasse a nossa origem, então o nome vencedor foi: SPORT LISBOA. Como cores o que se queriam eram cores vivas que ficassem na retina: e há alguma melhor que o VERMELHO?
Faltava pois escolher um símbolo, que representasse a coragem e a audácia deste grupo, a elegância com que practicavam o desporto, a bravura e a realeza dum clube que há-de dominar por onde passe. Nada mais natural que a águia para honrar tão nobre tarefa.
Um dia histórico dos muitos que hão-de vir para este clube recem formado, mas já com tanta força imposta pela motivação dos seus fundadores!
Que este seja o primeiro dia do resto de uma vida gloriosa que eleve mais alto o nome de portugal e dos portugueses sempre unidos num só lema: E PLURIBUS UNUM.
Cosme Damião, LISBOA, 28 de Fevereiro de 1904»
CC
O sítio escolhido foi a sala das traseiras da Farmácia Franco,situada nessa mesma rua, e no mesmo prédio onde moram os irmãos "Catataus", local onde trabalham dois dos 24 elementos que participaram na reunião: Manuel Goularde e Daniel Brito. É justo agradecer a Inácio José Franco (segundo conde do restelo) e a Pedro Augusto Franco pela generosidade em nos deixar usar aquele espaço como primeira sede do clube.
A reunião foi extremamente proveitosa e o orgulho era visível na cara de todos, finalmente o sonho começava a ganhar forma e rosto, embora com enormes dificuldades como por exemplo a falta de um campo onde pudéssemos jogar.
Depois da discussão, onde todas as opiniões foram ouvidas e ponderadas, entre todos os presentes elegeu-se a comissão que iria dirigir o clube: José Rosa Rodrigues, o mais velho dos catataus, como presidente, Daniel Brito como secretário e Manuel Goularde como tesoureiro.
Para o fim da reunião ficou marcada a escolha do nome e das cores do clube. A ideia comum era a presença da palavra Sport, mas teria de haver algo que vincasse a nossa origem, então o nome vencedor foi: SPORT LISBOA. Como cores o que se queriam eram cores vivas que ficassem na retina: e há alguma melhor que o VERMELHO?
Faltava pois escolher um símbolo, que representasse a coragem e a audácia deste grupo, a elegância com que practicavam o desporto, a bravura e a realeza dum clube que há-de dominar por onde passe. Nada mais natural que a águia para honrar tão nobre tarefa.
Um dia histórico dos muitos que hão-de vir para este clube recem formado, mas já com tanta força imposta pela motivação dos seus fundadores!
Que este seja o primeiro dia do resto de uma vida gloriosa que eleve mais alto o nome de portugal e dos portugueses sempre unidos num só lema: E PLURIBUS UNUM.
Cosme Damião, LISBOA, 28 de Fevereiro de 1904»
CC
parabéns, pás!
CC
quinta-feira, fevereiro 26, 2004
early morning thought 2
O deles está mais na berra, mas o nosso anhuca apareceu primeiro.
LR
early morning thought
quarta-feira, fevereiro 25, 2004
do you love me?
Foi Brecht e foi Brel, cabaré e missa profana. Nick Cave (fabuloso) ao vivo, CCB, 24/2/2004.
LR
segunda-feira, fevereiro 23, 2004
luz perpétua
in memoriam
LR
LR
quinta-feira, fevereiro 19, 2004
Divagações VII
O Tribunal de Pamplona decidiu que duas crianças gémeas deveriam ficar à guarda de sua mãe, lésbica e que vive com outra mulher. Em Portugal, logo um iluminado se mostrou revoltado, entendendo ser preferível as crianças serem entregues a uma instituição do que viverem com a sua mãe natural, o que seria um 'infelicidade'.
Eu também acho que isso é uma infelicidade muito grande e, por isso, gostaria de deixar aqui um conjunto de propostas:
1) Detenção e Tratamento Psicológico, se necessário recorrendo a castigos corporais e sevícias da mais diversa índole, de todos os que sofrem de homossexualidade que, como se sabe, é uma doença. E grave;
2) Entrega a instituições de solidariedade social (e se não forem dessas então a outras quaisquer, não importa) de todas as crianças actualmente retidas pelos doentes homossexuais. Recomenda-se que sejam seleccionadas instituições que tenham como colaboradores pessoas com o mesmo perfil do conhecido Carlos Sivino, vulgo Bibi;
3) Criação do cargo de Regedor da República, Guardião da Moral e dos Bons Costumes, vitalício e plenipotenciário, a ser ocupado imediatamente pelo senhor Luís;
4) Invasão da Espanha, tendo como objectivo a cidade de Pamplona, de forma a destruír a acima citada sentença, com apedrejamento do juíz responsável, em público e levado a cabo pelos puros.
AR
Eu também acho que isso é uma infelicidade muito grande e, por isso, gostaria de deixar aqui um conjunto de propostas:
1) Detenção e Tratamento Psicológico, se necessário recorrendo a castigos corporais e sevícias da mais diversa índole, de todos os que sofrem de homossexualidade que, como se sabe, é uma doença. E grave;
2) Entrega a instituições de solidariedade social (e se não forem dessas então a outras quaisquer, não importa) de todas as crianças actualmente retidas pelos doentes homossexuais. Recomenda-se que sejam seleccionadas instituições que tenham como colaboradores pessoas com o mesmo perfil do conhecido Carlos Sivino, vulgo Bibi;
3) Criação do cargo de Regedor da República, Guardião da Moral e dos Bons Costumes, vitalício e plenipotenciário, a ser ocupado imediatamente pelo senhor Luís;
4) Invasão da Espanha, tendo como objectivo a cidade de Pamplona, de forma a destruír a acima citada sentença, com apedrejamento do juíz responsável, em público e levado a cabo pelos puros.
AR
vou ali e já volto
Volto dia 1 de Março.
CC
o link dos links
quarta-feira, fevereiro 18, 2004
O Circo
Ao contrário do meu amigo CC, não vejo de forma tão negativa a eventual candidatura de PSL à presidência da República e, quiçá, a sua vitória. Creio que estas coisas devem ser colocadas em perspectiva.
Comecemos, em primeiro lugar, pela própria República. Como é do conhecimento geral e está à vista de todos, a nossa República, até por causa da Madeira, é das bananas. A eventual eleição de PSL alcandroá-lo-á, apenas, ao topo da bananeira. Não me parece grave.
Em segundo lugar, como já foi dito abaixo e por outros, cada país tem os políticos que merece. O país do Big Brother 237 (ou já irá no 921?), do Pinto da Costa e do Valentim Loureiro, do Paulo Portas, do Preço Certo (ou lá como se chama ... ), da Casa Pia, da Fátima Felgueiras (e podia ficar aqui a exemplificar ad nauseam) merece, seguramente, ter PSL como presidente. É, como certamente estarão de acordo, a cereja em cima do bolo.
Em terceiro lugar, PSL tem a vantagem de andar sempre 'na mó de cima', rodeado por uma corte de mulheres irremediavelmente feias, burras e mal-esgalhadas, o que permitirá à Pátria, se esse for o caso, assistir, emocionada, a uma verdadeira novela da vida real, afastando-nos da tristeza deprimente que, por regra, a realidade traz. Haverá coisa melhor do que assistir, semana após semana e na linha do que melhor as novelas venezuelanas têm para nos oferecer, ao evoluír dos amores do Presidente? Saber se na próxima semana será aquela loira arrasadoramente feia ou a morena assustadoramente irreal a partilhar o leito do Presidente, numa espécie de remake das cortes iluministas do século XVIII? Afinal, o Palácio de Belém até já é cor-de-rosa ...
Em quarto lugar, de cada vez que penso que o barco já bateu no fundo descubro que afinal se pode ir ainda um bocadinho mais abaixo. Esta surpresa permanente, a mim pelo menos, agrada-me.
Finalmente, há sempre o prazer de assistir, in loco, ao fim de uma época. Parece-me ser o caso. Há um encanto especial na decadência das instituições e da sociedade, bem como na ascensão dos medíocres. PSL é apenas um sinal dos tempos. E devo confessar que me dá um gozo especial ver o circo a arder.
AR
Comecemos, em primeiro lugar, pela própria República. Como é do conhecimento geral e está à vista de todos, a nossa República, até por causa da Madeira, é das bananas. A eventual eleição de PSL alcandroá-lo-á, apenas, ao topo da bananeira. Não me parece grave.
Em segundo lugar, como já foi dito abaixo e por outros, cada país tem os políticos que merece. O país do Big Brother 237 (ou já irá no 921?), do Pinto da Costa e do Valentim Loureiro, do Paulo Portas, do Preço Certo (ou lá como se chama ... ), da Casa Pia, da Fátima Felgueiras (e podia ficar aqui a exemplificar ad nauseam) merece, seguramente, ter PSL como presidente. É, como certamente estarão de acordo, a cereja em cima do bolo.
Em terceiro lugar, PSL tem a vantagem de andar sempre 'na mó de cima', rodeado por uma corte de mulheres irremediavelmente feias, burras e mal-esgalhadas, o que permitirá à Pátria, se esse for o caso, assistir, emocionada, a uma verdadeira novela da vida real, afastando-nos da tristeza deprimente que, por regra, a realidade traz. Haverá coisa melhor do que assistir, semana após semana e na linha do que melhor as novelas venezuelanas têm para nos oferecer, ao evoluír dos amores do Presidente? Saber se na próxima semana será aquela loira arrasadoramente feia ou a morena assustadoramente irreal a partilhar o leito do Presidente, numa espécie de remake das cortes iluministas do século XVIII? Afinal, o Palácio de Belém até já é cor-de-rosa ...
Em quarto lugar, de cada vez que penso que o barco já bateu no fundo descubro que afinal se pode ir ainda um bocadinho mais abaixo. Esta surpresa permanente, a mim pelo menos, agrada-me.
Finalmente, há sempre o prazer de assistir, in loco, ao fim de uma época. Parece-me ser o caso. Há um encanto especial na decadência das instituições e da sociedade, bem como na ascensão dos medíocres. PSL é apenas um sinal dos tempos. E devo confessar que me dá um gozo especial ver o circo a arder.
AR
terça-feira, fevereiro 17, 2004
Um chocolate chamado memória
Os chocolates Regina são uma parte integrante da minha infância. Haviam as tabletes, os chapéus de chuva, as tabletes pequenas com recheio de vários sabores e pratas coloridas, as moedas, os cigarros ... As pratas eram usadas bastas vezes como marcadores de livros que ainda hoje vou encontrando quando os folheio em viagens mais ou menos pessoais àquele período.
Os chocolates Regina lembram-me os Verões em Coimbra, as jogatinas de futebol, os gelados de fruta (nada mais do que sumo congelado), as tardes despreocupadas sentados em cima de um muro à sombra das árvores em frente da escola primária dos Olivais, uma daquelas escolas antigas, com arcos na entrada e as janelas com enfeites de tijoleira, enquanto o eléctrico (já não há) passava pachorrentamente à nossa frente e esmagava as 'caricas' que colocávamos na linha, as idas ao Jardim da Sereia, porque não tinhamos nada para fazer e era tão bom perder tempo!
Os chocolates Regina lembram-me as idas, religiosamente respeitadas, aos Domingos à tarde, à Baixa, com a minha Tia e a minha Avó, lanchar a um dos cafés do Largo da Portagem ou da Ferreira Borges, onde bebia o sacramental copo de leite morno e comia um Caramujo ou uma Pata de Veado, enquanto alguém (havia sempre alguém com um rádio) ía dando notícias do jogo da Académica.
Não sei há quantos anos não comia chocolates Regina. Um dia destes vi-os num hipermercado e nem queria acreditar. Trouxe duas tabletes (e vou buscar mais) e comi-as num instante. O sabor continua a ser aquele de que me recordo. E devo confessar que me escapou uma lágrima de saudade.
AR
Os chocolates Regina lembram-me os Verões em Coimbra, as jogatinas de futebol, os gelados de fruta (nada mais do que sumo congelado), as tardes despreocupadas sentados em cima de um muro à sombra das árvores em frente da escola primária dos Olivais, uma daquelas escolas antigas, com arcos na entrada e as janelas com enfeites de tijoleira, enquanto o eléctrico (já não há) passava pachorrentamente à nossa frente e esmagava as 'caricas' que colocávamos na linha, as idas ao Jardim da Sereia, porque não tinhamos nada para fazer e era tão bom perder tempo!
Os chocolates Regina lembram-me as idas, religiosamente respeitadas, aos Domingos à tarde, à Baixa, com a minha Tia e a minha Avó, lanchar a um dos cafés do Largo da Portagem ou da Ferreira Borges, onde bebia o sacramental copo de leite morno e comia um Caramujo ou uma Pata de Veado, enquanto alguém (havia sempre alguém com um rádio) ía dando notícias do jogo da Académica.
Não sei há quantos anos não comia chocolates Regina. Um dia destes vi-os num hipermercado e nem queria acreditar. Trouxe duas tabletes (e vou buscar mais) e comi-as num instante. O sabor continua a ser aquele de que me recordo. E devo confessar que me escapou uma lágrima de saudade.
AR
bactéria multi-resistente
A ideia absurda de Pedro Santana Lopes ocupar o lugar de Presidente da República e de, assim, representar os portugueses e a nação, começa a ganhar consistência. O sintoma maior deste facto é que já não se fala dele a rir, por entre outras anedotas, e de se começar a encará-lo como uma hipótese real, entre outras.
A blogosfera é dos poucos espaços onde ainda se mantém a lucidez. Na televisão há gente sóbria, como os colunistas peixe graúdo Miguel Sousa Tavares e Pacheco Pereira, que também escrevem na imprensa, e que estão escandalizados com a perspectiva da tomada simbólica do poder pela vacuidade invertebrada que é Santana Lopes. Mas, em geral, os jornais temem e já antecipam, como dizem os barnabitas, a «vergonha internacional de ter Pedro Santana Lopes como Presidente da República», ou – pior – encaram essa solução como normal.
E talvez seja normal. Num país onde impera o falajar inconsequente sobre a coerência de atitudes, onde a boçalidade alarve vale mais que a inteligência, onde a aparência pesa mais que o conteúdo, Santana Lopes parece ser o candidato ideal. Tem pose de aventureiro intrépido, não se conhece nenhuma ideia sua sobre algum assunto importante, não tem carácter nem palavra: já "abandonou" a política umas quatro ou cinco vezes (uma delas indo fazer queixinhas de um programa de televisão ao Presidente da República), continuamos à espera das suas revelações sobre a corrupção no mundo do futebol (lembram-se dos misteriosos encontros em Canal Caveira, que "denunciou" e prometeu dar a conhecer quando abandonasse a presidência do Sporting?), traveste-se de comentador sério e cerebral (debitando clichés e lugares-comuns com ar grave) e faz-se passar por um homem de paixões, para tentar disfarçar a vacuidade intelectual. É um balão de ar, um palhaço vaidoso, uma capa de revista, uma sumidade oca.
Mas o mais triste, como diz o João, é pensar que temos os políticos que merecemos.
CC
A blogosfera é dos poucos espaços onde ainda se mantém a lucidez. Na televisão há gente sóbria, como os colunistas peixe graúdo Miguel Sousa Tavares e Pacheco Pereira, que também escrevem na imprensa, e que estão escandalizados com a perspectiva da tomada simbólica do poder pela vacuidade invertebrada que é Santana Lopes. Mas, em geral, os jornais temem e já antecipam, como dizem os barnabitas, a «vergonha internacional de ter Pedro Santana Lopes como Presidente da República», ou – pior – encaram essa solução como normal.
E talvez seja normal. Num país onde impera o falajar inconsequente sobre a coerência de atitudes, onde a boçalidade alarve vale mais que a inteligência, onde a aparência pesa mais que o conteúdo, Santana Lopes parece ser o candidato ideal. Tem pose de aventureiro intrépido, não se conhece nenhuma ideia sua sobre algum assunto importante, não tem carácter nem palavra: já "abandonou" a política umas quatro ou cinco vezes (uma delas indo fazer queixinhas de um programa de televisão ao Presidente da República), continuamos à espera das suas revelações sobre a corrupção no mundo do futebol (lembram-se dos misteriosos encontros em Canal Caveira, que "denunciou" e prometeu dar a conhecer quando abandonasse a presidência do Sporting?), traveste-se de comentador sério e cerebral (debitando clichés e lugares-comuns com ar grave) e faz-se passar por um homem de paixões, para tentar disfarçar a vacuidade intelectual. É um balão de ar, um palhaço vaidoso, uma capa de revista, uma sumidade oca.
Mas o mais triste, como diz o João, é pensar que temos os políticos que merecemos.
CC
segunda-feira, fevereiro 16, 2004
as amoras
O meu país sabe às amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.
Eugénio de Andrade
CC
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.
Eugénio de Andrade
CC
Azul ...
Há alturas em que acho que este país, se não é o melhor do mundo, pelo menos é o mais divertido.
Ontem, em Felgueiras, realizou-se manifestação de apoio à ex-autarca. Os felgueirenses, pelos vistos nada incomodados com as trafulhices da senhora, saíram à rua para a apoiar, achando perfeitamente natural que a referida senhora tivesse fugido para o Brasil para não ficar em prisão preventiva. Afinal, alguns disseram, perante as câmeras de televisão, que se fosse com eles tinham feito o mesmo. Daqui estamos conversados.
Mas o melhor, meus amigos, o melhor foi aquela criança de seus oito ou nove anos (sim, eu sei, vá-se lá saber porque é que o retardado do jornalista entrevistou a propósito uma criança com esta idade ...) que dizia, convictamente, mais ou menos isto: "Ela não é culpada, porque encontraram um saco azul que tinha sido perdido e disseram que tinha sido ela que o tinha roubado, mas não foi porque ela só o encontrou."
E como se sabe, as crianças não mentem ...
AR
Ontem, em Felgueiras, realizou-se manifestação de apoio à ex-autarca. Os felgueirenses, pelos vistos nada incomodados com as trafulhices da senhora, saíram à rua para a apoiar, achando perfeitamente natural que a referida senhora tivesse fugido para o Brasil para não ficar em prisão preventiva. Afinal, alguns disseram, perante as câmeras de televisão, que se fosse com eles tinham feito o mesmo. Daqui estamos conversados.
Mas o melhor, meus amigos, o melhor foi aquela criança de seus oito ou nove anos (sim, eu sei, vá-se lá saber porque é que o retardado do jornalista entrevistou a propósito uma criança com esta idade ...) que dizia, convictamente, mais ou menos isto: "Ela não é culpada, porque encontraram um saco azul que tinha sido perdido e disseram que tinha sido ela que o tinha roubado, mas não foi porque ela só o encontrou."
E como se sabe, as crianças não mentem ...
AR
domingo, fevereiro 15, 2004
o que "eles" sabem que nós sabemos que "eles" sabem que nós sabemos
Os Barnabés, os Lombas, os Mexias e outros andam a discutir ADMs, ou AMDs, ou lá ou que é. A Quinta Coluna traz-lhe, isso sim, a verdade: tudo sobre a caveira de Geronimo, a morte de Kennedy e masturbação dentro de caixões.
LR
sábado, fevereiro 14, 2004
do you love me?
Criança sudanesa morrendo de inanição com um urubu por companhia.
Kevin Carter, Prémio Pulitzer de Fotografia de 1993 (roubado daqui).
CC
sexta-feira, fevereiro 13, 2004
Todo e cada dia
Quero ser o ar que tu respiras
Quero ser o cheiro que te envolve
Quero ser a pele com que transpiras
E todo e cada dia que te move.
Quero ser a roupa que te veste
Quero ser o olhar com que tu olhas
Quero ser a boca com que beijas
E todo e cada dia que viveste.
Quero ser, quero ser, quero ser
Mais nada. Sempre, só e apenas isso.
E se um dia, quando e onde entardecer
Que de minha vida possa então dizer
Que valeu por tudo. E o teu sorriso
Que me beije e se despeça a abraçar.
AR
Quero ser o cheiro que te envolve
Quero ser a pele com que transpiras
E todo e cada dia que te move.
Quero ser a roupa que te veste
Quero ser o olhar com que tu olhas
Quero ser a boca com que beijas
E todo e cada dia que viveste.
Quero ser, quero ser, quero ser
Mais nada. Sempre, só e apenas isso.
E se um dia, quando e onde entardecer
Que de minha vida possa então dizer
Que valeu por tudo. E o teu sorriso
Que me beije e se despeça a abraçar.
AR
quinta-feira, fevereiro 12, 2004
No wish
A propósito do Conclave do Compromisso, ocorreu-me uma história que corria na Faculdade de Direito.
Há uns bons anos, o então ainda Dr. Soares Martinez apresentou a sua tese de doutoramento. A propósito dessa tese terá comentado o Prof. Marcello Caetano: "O que é bom não é novo, o que é novo não é bom".
AR
Há uns bons anos, o então ainda Dr. Soares Martinez apresentou a sua tese de doutoramento. A propósito dessa tese terá comentado o Prof. Marcello Caetano: "O que é bom não é novo, o que é novo não é bom".
AR
Eu Sei que Vou Te Amar
"Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu vou te amar
Em cada despedida
Eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua
Eu vou chorar
Mas cada volta tua há-de apagar
O que essa ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida."
Vinícius de Morais
AR
Por toda a minha vida
Eu vou te amar
Em cada despedida
Eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua
Eu vou chorar
Mas cada volta tua há-de apagar
O que essa ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida."
Vinícius de Morais
AR
a propriedade é um roubo
quarta-feira, fevereiro 11, 2004
the smiths - 20 anos
Em Fevereiro de 1984 é editado o primeiro LP dos The Smiths, intitulado The Smiths. Começava o percurso da banda de músicas perfeitas, criadores das canções que salvaram a nossa vida (não é assim, LR?)
Qualquer elogio aos The Smiths e à importância que tiveram e têm nos melhores momentos da vida de cada um de nós (de quem, como eu, os incorporou na própria vida) será sempre incompleto e débil. Muitos bloguistas sabem do que estou a falar.
À semelhança do blog sobre Kleist e do Klepsýdra, elenco aqui, por ordem cronológica, as minhas 12 músicas preferidas dos The Smiths - as melhores músicas dos anos '80, as melhores músicas do século XX:
REEL AROUND THE FOUNTAIN
Fifteen minutes with you
Oh, I wouldn't say no
Oh, people see no worth in you
Oh, but I do
STILL ILL
Does the body rule the mind
Or does the mind rule the body ?
I dunno...
(...)
And if you must, go to work - tomorrow
Well, if I were you I really wouldn't bother
For there are brighter sides to life
And I should know, because I've seen them
But not often...
THIS CHARMING MAN
A jumped-up pantry boy
Who never knew his place
He said "return the rings"
He knows so much about these things
HOW SOON IS NOW?
I am the son and heir
Of nothing in particular
(...)
There's a club, if you'd like to go
You could meet somebody who really loves you
So you go, and you stand on your own
And you leave on your own
And you go home, and you cry
And you want to die.
HEAVEN KNOWS I'M MISERABLE NOW
I was happy in the haze of a drunken hour
But heaven knows I'm miserable now
I was looking for a job, and then I found a job
And heaven knows I'm miserable now
WHAT SHE SAID
What she said :
"How come someone hasn't noticed
That I'm dead
And decided to bury me?
God knows, I'm ready!"
WELL I WONDER
Well I wonder
Do you hear me when you sleep ?
I hoarsely cry
(...)
Gasping - dying - but somehow still alive
This is the final stand of all I am
Please keep me in mind
THE QUEEN IS DEAD
Life is very long, when you're lonely
Life is very long, when you're lonely
I KNOW IS OVER
I know it's over
And it never really began
But in my heart it was so real
And you even spoke to me, and said:
"If you're so funny
Then why are you on your own tonight ?
And if you're so clever
Then why are you on your own tonight ?
If you're so very entertaining
Then why are you on your own tonight ?
If you're so very good-looking
Why do you sleep alone tonight ?
I know...
'Cause tonight is just like any other night
That's why you're on your own tonight
With your triumphs and your charms
While they're in each other's arms..."
(...)
Love is Natural and Real
But not for you, my love
Not tonight, my love
THE BOY WITH THE THORN IN HIS SIDE
The boy with the thorn in his side
Behind the hatred there lies
A murderous desire for love
How can they look into my eyes
And still they don't believe me?
(...)
And when you want to Live
How do you start?
Where do you go?
Who do you need to know?
THERE IS A LIGHT THAT NEVER GOES OUT
And if a double-decker bus
Crashes into us
To die by your side
Is such a heavenly way to die
And if a ten-ton truck
Kills the both of us
To die by your side
Well, the pleasure and the privilege is mine
LAST NIGHT I DREAMT THAT SOMEBODY LOVED ME
Last night I dreamt
That somebody loved me
No hope, no harm
Just another false alarm
CC
Wish list
Nos últimos dias tenho ouvido falar de uma coisa chamada 'Compromisso Portugal'. No princípio, devo confessar, não liguei importância nenhuma. Como fui ouvindo mais insistentemente, comecei a prestar atenção e descobri que era ontem. Aparentemente, centenas de pessoas estiveram a 'pensar' Portugal.
Devo dizer que isto me deixa maravilhado! Finalmente, após tantos anos, alguém se decidiu a 'pensar' Portugal. isso é bom. Primeiro, porque há gente por cá que pensa e, segundo, porque se pode pensar um país, assim como quem pensa no que se vai almoçar ou na roupa que se vai vestir. Nem sei como é que este país conseguiu chegar até aqui sem ser pensado ...
É claro que espíritos maldosos e mesquinhos, tacanhos mesmo, podem sempre objectar que Portugal também foi pensado no 'Portugal: que futuro?' ou nos Estados Gerais, não tendo daí advindo grandes coisas, para além de uns minutos de promoção fácil de uns quantos indivíduos e projectos políticos. Parece-me, na realidade, que não pensaram grande coisa, mas enfim ...
No entanto, como sou uma pessoa de esperança, acho que agora é que vai ser. Agora é que isto vai ser pensado a sério. E devo dizer que tenho grandes expectativas em relação a este 'compromisso'. Aqui segue uma 'wish list' daquilo que espero que saia (as soluções, claro!) de tão magno conclave.
Assim, espero que se avance para o fim da exploração miserável que se faz dos imigrantes e das mulheres, desde a construção civil onde os empreiteiros não pagam aos africanos nem aos do leste da Europa, até às fabriquetas onde se paga às mulheres ordenados abaixo do ordenado mínimo com horários superiores aos estabelecidos por lei; espero que se avance para a implementação de um sistema educativo que ensine, prepare e responsabilize e não se preocupe apenas e só com a média comunitária de reprovações e abandono escolar facilitando e, por isso, hipotecando as vidas dos nossos jovens e o futuro do país; espero que se avance no combate à fraude e evasão fiscais, começando o exemplo 'por cima' demitindo-se o ministro Justino, que se enganou e afinal não corrigiu as suas declarações fiscais, pagando menos imposto do que o devido, e seguindo por aí abaixo na fiscalização e combate efectivo aos que ainda devem alguns milhares de milhões de euro aos cofres do Estado, prejudicando-nos a todos; espero que se combata de forma eficaz a exploração do trabalho infantil e o abuso continuado e sistemático de crianças, como é o caso vergonhoso da Madeira, em que a prostituição infantil é 'chamariz' de turismo pedófilo; espero que se defina e implemente uma política de defesa à nossa dimensão e tendo em conta a nossa realidade geoestratégica e os nossos interesses; espero que se racionalize a Administração Pública mas não se confunda racionalização com aniquilamento, extinguindo serviços públicos para os substituír por empresas privadas, sem qualquer ganho para a comunidade; espero que se perceba que os problemas de produtividade do país se prendem com a pouca formação dos trabalhadores e com a qualidade medíocre dos gestores (dados comunitários) e que a solução não é diminuír os direitos dos trabalhadores; espero, finalmente, que se explique aos portugueses que cuspir no chão é, para além de pouco higiénico, sinal de falta de civismo e educação.
Se o 'Compromisso' conseguir isto, meus amigos, temos homens!
AR
Devo dizer que isto me deixa maravilhado! Finalmente, após tantos anos, alguém se decidiu a 'pensar' Portugal. isso é bom. Primeiro, porque há gente por cá que pensa e, segundo, porque se pode pensar um país, assim como quem pensa no que se vai almoçar ou na roupa que se vai vestir. Nem sei como é que este país conseguiu chegar até aqui sem ser pensado ...
É claro que espíritos maldosos e mesquinhos, tacanhos mesmo, podem sempre objectar que Portugal também foi pensado no 'Portugal: que futuro?' ou nos Estados Gerais, não tendo daí advindo grandes coisas, para além de uns minutos de promoção fácil de uns quantos indivíduos e projectos políticos. Parece-me, na realidade, que não pensaram grande coisa, mas enfim ...
No entanto, como sou uma pessoa de esperança, acho que agora é que vai ser. Agora é que isto vai ser pensado a sério. E devo dizer que tenho grandes expectativas em relação a este 'compromisso'. Aqui segue uma 'wish list' daquilo que espero que saia (as soluções, claro!) de tão magno conclave.
Assim, espero que se avance para o fim da exploração miserável que se faz dos imigrantes e das mulheres, desde a construção civil onde os empreiteiros não pagam aos africanos nem aos do leste da Europa, até às fabriquetas onde se paga às mulheres ordenados abaixo do ordenado mínimo com horários superiores aos estabelecidos por lei; espero que se avance para a implementação de um sistema educativo que ensine, prepare e responsabilize e não se preocupe apenas e só com a média comunitária de reprovações e abandono escolar facilitando e, por isso, hipotecando as vidas dos nossos jovens e o futuro do país; espero que se avance no combate à fraude e evasão fiscais, começando o exemplo 'por cima' demitindo-se o ministro Justino, que se enganou e afinal não corrigiu as suas declarações fiscais, pagando menos imposto do que o devido, e seguindo por aí abaixo na fiscalização e combate efectivo aos que ainda devem alguns milhares de milhões de euro aos cofres do Estado, prejudicando-nos a todos; espero que se combata de forma eficaz a exploração do trabalho infantil e o abuso continuado e sistemático de crianças, como é o caso vergonhoso da Madeira, em que a prostituição infantil é 'chamariz' de turismo pedófilo; espero que se defina e implemente uma política de defesa à nossa dimensão e tendo em conta a nossa realidade geoestratégica e os nossos interesses; espero que se racionalize a Administração Pública mas não se confunda racionalização com aniquilamento, extinguindo serviços públicos para os substituír por empresas privadas, sem qualquer ganho para a comunidade; espero que se perceba que os problemas de produtividade do país se prendem com a pouca formação dos trabalhadores e com a qualidade medíocre dos gestores (dados comunitários) e que a solução não é diminuír os direitos dos trabalhadores; espero, finalmente, que se explique aos portugueses que cuspir no chão é, para além de pouco higiénico, sinal de falta de civismo e educação.
Se o 'Compromisso' conseguir isto, meus amigos, temos homens!
AR
boa notícia
terça-feira, fevereiro 10, 2004
o amor tem prazo de validade?
In a Lonely Place (1950), de Nicholas Ray
LR
a minha rádio
CC
segunda-feira, fevereiro 09, 2004
Divagações VI
Eu, que não gosto de ficar fora de discussões, principalmente das que são absolutamente inúteis, e, por conseguinte, mais interessantes, não poderia deixar de estar aqui presente.
Ao contrário da versão mais ou menos mística do meu amigo CC ou da hiper-realista do meu amigo LR, acho que o lavatório serve, essencialmente, para lavar.
Eu sei que esta afirmação é polémica. Mas não receio, como bem sabem, uma boa polémica.
Se virmos bem, a utilização do lavatório como superfície contundente usada pelo marido contra a mulher quando chega a casa irritado por mais um empate do Sporting (Nacional da Madeira, 3-3) é como que (e apenas) uma segunda natureza desse adereço.
Já a sua existência como elemento de união amorosa é uma, digamos, décima-sétima natureza do mesmo (esta dos olhares amorosos por causa de um lavatório não lembrava ao Diabo, ó CC!).
É que aquilo que verdadeiramente interessa dizer aqui, bem alto e sem receio, é que o lavatório serve para nos lavarmos. E pronto!
AR
Ao contrário da versão mais ou menos mística do meu amigo CC ou da hiper-realista do meu amigo LR, acho que o lavatório serve, essencialmente, para lavar.
Eu sei que esta afirmação é polémica. Mas não receio, como bem sabem, uma boa polémica.
Se virmos bem, a utilização do lavatório como superfície contundente usada pelo marido contra a mulher quando chega a casa irritado por mais um empate do Sporting (Nacional da Madeira, 3-3) é como que (e apenas) uma segunda natureza desse adereço.
Já a sua existência como elemento de união amorosa é uma, digamos, décima-sétima natureza do mesmo (esta dos olhares amorosos por causa de um lavatório não lembrava ao Diabo, ó CC!).
É que aquilo que verdadeiramente interessa dizer aqui, bem alto e sem receio, é que o lavatório serve para nos lavarmos. E pronto!
AR
happiness
Não sejas injusto, CC. Por desumano e impessoal que pareça, um lavatório torna-se ao longo dos anos um altar de recordações: os primeiros embates apaixonados, com a menina sentada no mesmo; os encantadores vómitos das crianças, e - porque não? - dos próprios paizinhos em noites de vodka; os embates mais ou menos violentos das cabeças no rebordo, em discussões domésticas.
É assim a vida maravilhosa das loiças sanitárias.
LR
É assim a vida maravilhosa das loiças sanitárias.
LR
far from heaven
Numa loja de sanitários, móveis de casa de banho, cozinhas, azulejos, mosaicos, tijoleiras, torneiras, saboneteiras e afins, um casal escolhe um lavatório. Depois de um passeio lento pelo mostruário do estabelecimento e de folheado demoradamente os catálogos das diversas empresas, decidem-se por um modelo que tem mais a ver com eles. Hesitam depois entre o branco e uma tonalidade pastel e a opção com coluna de suporte ou encastrado directamente na parede. Estão nisto mais de uma hora. Finalmente decidem-se. O lavatório será branco e terá uma torneira toda modernaça. Ficam visivelmente satisfeitos consigo próprios. Abraçam-se e trocam olhares apaixonados.
Este momento romântico vai durar até muito depois da instalação do lavatório na feliz casa de banho familiar. Irá perdurar até a novidade da presença daquele artefacto dar lugar à habituação e à sua perda de influência como laço fundamental na união da vida amorosa do casal.
Repare-se que estamos a falar de um lavatório. Um objecto pequeno e menos digno que, por exemplo, um frigorífico. Mas é com estes adereços que se fabrica a maravilhosa existência do amor contemporâneo.
CC
Este momento romântico vai durar até muito depois da instalação do lavatório na feliz casa de banho familiar. Irá perdurar até a novidade da presença daquele artefacto dar lugar à habituação e à sua perda de influência como laço fundamental na união da vida amorosa do casal.
Repare-se que estamos a falar de um lavatório. Um objecto pequeno e menos digno que, por exemplo, um frigorífico. Mas é com estes adereços que se fabrica a maravilhosa existência do amor contemporâneo.
CC
domingo, fevereiro 08, 2004
saint Michel
Os bispos espanhóis andam a ler o Houellebecq: «A revolução sexual separou a sexualidade do casamento, da procriação e do amor (e os) seus frutos amargos são a violência doméstica, os abusos sexuais e os filhos sem casa», lê-se num documento da Conferência Episcopal espanhola.
Provavelmente também lêem A Quinta Coluna.
CC
Provavelmente também lêem A Quinta Coluna.
CC
sexta-feira, fevereiro 06, 2004
os mogwais
Jantámos com os artistas num restaurante chamado «Bar», encontrámos os melhores cromos da blogolândia e fomos todos em via sacra até às portas do Paraíso, onde ouvimos um concerto de música nova para gente nova.
Era assim que, há vinte anos, eu imaginava a música deste século (sim, eu era muito esperto quando era novo. Mas já passou). Sei que os rapazes são herdeiros dos Sonic Youth, lembram os Sigur Rós e parece que têm acordes semelhantes aos do Erik Satie. Mas só os conheci ontem e gostei mesmo muuuuito. Obrigado, Sofia.
CC
Era assim que, há vinte anos, eu imaginava a música deste século (sim, eu era muito esperto quando era novo. Mas já passou). Sei que os rapazes são herdeiros dos Sonic Youth, lembram os Sigur Rós e parece que têm acordes semelhantes aos do Erik Satie. Mas só os conheci ontem e gostei mesmo muuuuito. Obrigado, Sofia.
CC
quinta-feira, fevereiro 05, 2004
politicamente idiotas
Queixa-se o meu amigo AR do alegado racismo sugerido no Dumbo. Aliás, se reparares na sequência capital em que o herói homónimo aprende a voar, os corvos são pouco mais que versões cómicas de alguns estereótipos do negro hollywoodiano (um deles chama-se mesmo "Jim Crow", e quem conheça calão americano sabe do que estou a falar).
Mas... e depois? Estávamos nos anos 40. Bem mais grave, em 2004, é a tentativa da Disney em apagar o passado, de que é exemplo a alteração (digital?) do cartoon The Three Little Pigs , uma das clássicas Silly Symphonies incluídas na - excelente - compilação DVD acima reproduzida. No original, o Lobo Mau tenta certa vez (entre muitas outras) entrar na casa dos Três Porquinhos disfarçado de vendedor judeu, com a barbicha da praxe. Na "nova" versão, os desenhos são alterados de forma a atenuar esses traços.
Como dizia o poeta: «Give me back the Berlin Wall / Give me Stalin and St. Paul»...
LR
Divagações V
Kaúlza morreu. E a sua morte apenas me suscita breve comentário.
Reconheço-lhe a virtude da coerência. Regeu a sua vida por aquilo em que acreditava. Eu, por acaso, acho que acreditava mal. E por causa daquilo em que acreditava foi o responsável directo e último pela página provavelmente mais negra e vergonhosa da nossa história.
Se vivessemos num país a sério e num mundo a sério, Kaúlza teria sido julgado por crimes de guerra e contra a humanidade. Lamento que isso nunca tivesse acontecido.
AR
Reconheço-lhe a virtude da coerência. Regeu a sua vida por aquilo em que acreditava. Eu, por acaso, acho que acreditava mal. E por causa daquilo em que acreditava foi o responsável directo e último pela página provavelmente mais negra e vergonhosa da nossa história.
Se vivessemos num país a sério e num mundo a sério, Kaúlza teria sido julgado por crimes de guerra e contra a humanidade. Lamento que isso nunca tivesse acontecido.
AR
O porquê das coisas
Os meus amigos recriminam-me às vezes pelo pouco empenho com que, de há uns anos a esta parte, me dedico à causa benfiquista. Por outras palavras, criticam, umas vezes de forma mais velada do que outras, o facto de me borrifar cada vez mais para o futebol.
Acho que devo, portanto, um singelo esclarecimento, uma vez que isso não corresponde à realidade.
Gosto bastante de futebol. Acho-o um extraordinário desporto, de uma beleza difícil de igualar. Quando bem jogado, evidentemente. Bate aqui o primeiro ponto deste esclarecimento. Em Portugal não se joga bom futebol. Aliás, acho mesmo que nós estamos apostados em jogar pior a cada ano que passa. Pancada em campo há muita, mas de futebol, que é bom, não se vislumbra nem a sombra.
Como um mal nunca vem só, a juntar ao péssimo futebol temos uma bela quantidade de maus treinadores. O treinador português é uma espécie de merceeiro do futebol, contabilizando os pontos que perde e os que ganha, definindo à partida que com aquele perde e com o outro ganha, sem se preocupar com o mais importante: pôr a sua equipa a jogar futebol. Só falta mesmo andar de lápis atrás da orelha. A tática que implementa é, regra geral, a seguinte: se o adversário é mais fraco dá-se-lhe porrada para acabar com ele e atiram-se-lhe bolas para a área para ver se se arranja um penalty; se o adversário é assim, assim dá-se-lhe porrada para que não possa construír uma única jogada que atenda por esse nome e atiram-se-lhe bolas para a área para ver se se arranja um penalty. Se o adversário é melhor então dá-se-lhe porrada para tentar aguentar o 0-0 e nem há a preocupação em se lhe atirar bolas para cima da área.
Como não há duas sem três, os dirigentes do futebol português são a mais retinta cáfila de bandidos, poltrões, bandalhos e vigaristas que alguma vez se conseguiu juntar. E perpetuam-se (alguns há décadas) no comando dos diversos clubes, chegando a passar o testemunho de pais para filhos.
Juntemos a isto árbitros fraquitos e um público que gosta é dos clubes e não do desporto, e que estravaza nos estádios as amarguras e as frustações das suas vidas bastas vezes miseráveis, e temos a imagem do país em que vivemos e o motivo pelo qual, apesar de continuar a gostar muito de futebol, cada vez ligo menos, como dizia o meu amigo LR uns posts abaixo, a esta tropa fandanga.
AR
Acho que devo, portanto, um singelo esclarecimento, uma vez que isso não corresponde à realidade.
Gosto bastante de futebol. Acho-o um extraordinário desporto, de uma beleza difícil de igualar. Quando bem jogado, evidentemente. Bate aqui o primeiro ponto deste esclarecimento. Em Portugal não se joga bom futebol. Aliás, acho mesmo que nós estamos apostados em jogar pior a cada ano que passa. Pancada em campo há muita, mas de futebol, que é bom, não se vislumbra nem a sombra.
Como um mal nunca vem só, a juntar ao péssimo futebol temos uma bela quantidade de maus treinadores. O treinador português é uma espécie de merceeiro do futebol, contabilizando os pontos que perde e os que ganha, definindo à partida que com aquele perde e com o outro ganha, sem se preocupar com o mais importante: pôr a sua equipa a jogar futebol. Só falta mesmo andar de lápis atrás da orelha. A tática que implementa é, regra geral, a seguinte: se o adversário é mais fraco dá-se-lhe porrada para acabar com ele e atiram-se-lhe bolas para a área para ver se se arranja um penalty; se o adversário é assim, assim dá-se-lhe porrada para que não possa construír uma única jogada que atenda por esse nome e atiram-se-lhe bolas para a área para ver se se arranja um penalty. Se o adversário é melhor então dá-se-lhe porrada para tentar aguentar o 0-0 e nem há a preocupação em se lhe atirar bolas para cima da área.
Como não há duas sem três, os dirigentes do futebol português são a mais retinta cáfila de bandidos, poltrões, bandalhos e vigaristas que alguma vez se conseguiu juntar. E perpetuam-se (alguns há décadas) no comando dos diversos clubes, chegando a passar o testemunho de pais para filhos.
Juntemos a isto árbitros fraquitos e um público que gosta é dos clubes e não do desporto, e que estravaza nos estádios as amarguras e as frustações das suas vidas bastas vezes miseráveis, e temos a imagem do país em que vivemos e o motivo pelo qual, apesar de continuar a gostar muito de futebol, cada vez ligo menos, como dizia o meu amigo LR uns posts abaixo, a esta tropa fandanga.
AR
desmoronamento
quarta-feira, fevereiro 04, 2004
autobionovela
Discuto comigo mesmo com urbanidade. Como as personagens de telenovelas, alterno acusações, argumentos e pontos de vista com método. Cada eu só fala quando o outro se cala. Uma vez que também sou o juiz dos meus litígios, tudo acaba em bem. Persiste um certo ressentimento, mas sou tolerante comigo próprio. Não tenho outro remédio.
CC
CC
terça-feira, fevereiro 03, 2004
Divagações IV
Por causa da minha filha de pouco mais de 3 anos, tenho revisto alguns dos desenhos animados da Disney que marcaram a minha (quiçá nossa) infância. O último foi o Dumbo. Que coisa curiosa ... quando o circo chega a uma nova cidade, os operário saem dos vagões do comboio e começam a martelar nas estacas e a montar a estrutura. Nenhum tem rosto, nem mãos detalhadas nem nada que os personalize. Mas são todos negros ... e os empregados do circo que usam farda são quase todos brancos ... Tempos que teimam em não passar.
AR
post aberto ao protestante de serviço
Caro Tiago,
como bem sabe, na Igreja em que habito cabe uma grande variedade de modos de experimentar a Fé, de viver no mundo com o coração em Cristo. Chamamos a isso diversidade na unidade. Tão grande e confusa é essa multiplicidade de olhares que, por vezes, dou por mim algo impiedoso (comigo e com os outros) e dogmático no meu catolicismo, como me foi alertado por um companheiro.
Nesta grande mesa cabem o padre Mário Oliveira ao lado do Jardim Gonçalves, as beatas que adormecem na eucaristia encostadas aos católicos não praticantes (que nunca compreendi muito bem o que seja), os Jesuítas ao lado da Opus Dei, os católicos pró-aborto (sim, também há...) a par dos católicos anti-aborto, os muitos missionários e a Cúria Romana, os teólogos da Libertação entre os monges contemplativos e os párocos das grandes cidades. Também aqui na blogolândia encontramos manifestações desta diversidade.
Como vê, caro Tiago, neste colorido eu não teria dificuldade em sentar-me muito mais perto de si do que de alguns dos (outros) meus irmãos. Mas, à semelhança da sua opção, e ao contrário do José, tenho pouca esperança e não faço muito esforço por um ecumenismo que me parece um pouco artificial. Cada um sabe de si (e Deus de todos, como diz o povo).
Assim, caro Tiago, rogo-lhe que não se faça de vítima à minha custa. Não lhe assenta bem o papel nem creio que necessite ou tenha estofo para tal: no comentário ao post do Barnabé eu não me «atirei» a si por ser protestante. Foi por ser da direita mais imobilista e que – ao que me parece – aceita resignada as injustiças do mundo. Estava a falar de política – assunto que, segundo o seu próprio entendimento, é alheio à Fé e à religião.
Quanto ao «patriota romano»: sim, pertenço à Roma Universal. E então?
Um abraço fraternal.
CC
como bem sabe, na Igreja em que habito cabe uma grande variedade de modos de experimentar a Fé, de viver no mundo com o coração em Cristo. Chamamos a isso diversidade na unidade. Tão grande e confusa é essa multiplicidade de olhares que, por vezes, dou por mim algo impiedoso (comigo e com os outros) e dogmático no meu catolicismo, como me foi alertado por um companheiro.
Nesta grande mesa cabem o padre Mário Oliveira ao lado do Jardim Gonçalves, as beatas que adormecem na eucaristia encostadas aos católicos não praticantes (que nunca compreendi muito bem o que seja), os Jesuítas ao lado da Opus Dei, os católicos pró-aborto (sim, também há...) a par dos católicos anti-aborto, os muitos missionários e a Cúria Romana, os teólogos da Libertação entre os monges contemplativos e os párocos das grandes cidades. Também aqui na blogolândia encontramos manifestações desta diversidade.
Como vê, caro Tiago, neste colorido eu não teria dificuldade em sentar-me muito mais perto de si do que de alguns dos (outros) meus irmãos. Mas, à semelhança da sua opção, e ao contrário do José, tenho pouca esperança e não faço muito esforço por um ecumenismo que me parece um pouco artificial. Cada um sabe de si (e Deus de todos, como diz o povo).
Assim, caro Tiago, rogo-lhe que não se faça de vítima à minha custa. Não lhe assenta bem o papel nem creio que necessite ou tenha estofo para tal: no comentário ao post do Barnabé eu não me «atirei» a si por ser protestante. Foi por ser da direita mais imobilista e que – ao que me parece – aceita resignada as injustiças do mundo. Estava a falar de política – assunto que, segundo o seu próprio entendimento, é alheio à Fé e à religião.
Quanto ao «patriota romano»: sim, pertenço à Roma Universal. E então?
Um abraço fraternal.
CC
the state i am in
De manhã, muito cedo, com a neblina a envolver toda a matéria e a torná-la etérea, difusa, um manto branco omnipresente, entro no carro, coloco no leitor o "Tigermilk" dos Belle and Sebastian, o trânsito avança sem interrupções na 2ª Circular, no IC 19, rodo a 90 km/hora, vejo a dança suave das luzinhas vermelhas e alegres dos automóveis que seguem no meu sentido, enquadradas pelos faróis brancos das viaturas que estão estacionadas no sentido contrário. Demoro menos de metade do tempo do que costumo para fazer o mesmo percurso, a neblina desaparece, descobre o céu azul, promete uma manhã radiosa e criadora.
Tudo parece fluir sem contrariedades, sem hesitações. Desconheço o destino ou o propósito da caminhada, mas não estamos parados. Parece que não.
CC
Tudo parece fluir sem contrariedades, sem hesitações. Desconheço o destino ou o propósito da caminhada, mas não estamos parados. Parece que não.
CC
segunda-feira, fevereiro 02, 2004
romantismo
Grigori Perelman é um cientista russo, investigador no Instituto Steklov de Matemática da Academia de Ciências da Rússia, de São Petersburgo, que se encontra há alguns anos em solitária reclusão, tentando solucionar a conjectura de Poincaré, um dos mais complicados problemas da matemática.
Desde meados de Janeiro que visito diariamente este sítio para me deslumbrar com as imagens sempre novas da única aventura humana da nossa era.
Há muito tempo que não descobria tanta paixão na ciência.
CC
Desde meados de Janeiro que visito diariamente este sítio para me deslumbrar com as imagens sempre novas da única aventura humana da nossa era.
Há muito tempo que não descobria tanta paixão na ciência.
CC