quinta-feira, junho 30, 2005
uma rua que começa
Uma das desvantagens de se ter uma namorada inteligente e culta (além de bonita, sensual, carinhosa, com sentido de humor e - o que importa verdadeiramente - boa cozinheira) é que vamos à fnac e apetece-nos comprar metade da loja.
CC
CC
Houston, we have a problem
A propósito do arrastão de Carcavelos, e pegando no post abaixo escrito pela Sofia, gostava de tecer alguns comentários.
É-me absolutamente indiferente se os autores do dito foram pretos, brancos, azuis, amarelos ou se, simplesmente, tinham o corpo pintado às bolinhas. Para mim, criminoso não tem côr.
O que já não me é indiferente é a conversa da treta do Presidente da República. Porque de conversa da treta se tratou. Vejamos.
Na Cova da Moura, o Sr. Presidente podia estar a falar perante dois tipos de público: cidadãos nacionais e cidadãos estrangeiros. Ou muito provavelmente os dois. Mas o que importava dizer (e aí tenho que concordar com parte do que disse o Arquitecto) era que aquilo não só não se vai repetir como os responsáveis vão ser apanhados (ainda que o não sejam ficava a clara manifestação de intenções) e punidos.
Se os responsáveis forem cidadãos nacionais, então aplicar-se-ão as penas que a lei prevê. Mas se os responsáveis forem estrangeiros, após a aplicação da pena e o seu cumprimento dever-se-á proceder à sua expulsão de território nacional.
A minha pouca simpatia por criminosos diminui ainda mais quando são estrangeiros. Não porque tenha algo contra os estrangeiros mas porque acho que quem é hóspede tem especiais obrigações para com o anfitrião.
O mais provável é que, no entanto, grande parte dos delinquentes que levaram a cabo o arrastão de Carcavelos sejam cidadãos nacionais filhos de cidadãos estrangeiros. Muito provavelmente africanos. Ou seja, segundas gerações. Segundas gerações mal integradas (se integradas de todo) no corpo nacional. Esse é um problema que cabe ao Estado e à chamada Sociedade Civil resolver. Mas que não pode ser objecto de contemporizações. Porque para muitos que se encontram mal integrados, muitos outros encontraram o seu espaço na sociedade. A contemporização e o palavreado da treta do Presidente da República apenas legitimam os comportamentos anti-sociais de muitos delinquentes que ao esforço do trabalho preferem o ócio da criminalidade.
AR
É-me absolutamente indiferente se os autores do dito foram pretos, brancos, azuis, amarelos ou se, simplesmente, tinham o corpo pintado às bolinhas. Para mim, criminoso não tem côr.
O que já não me é indiferente é a conversa da treta do Presidente da República. Porque de conversa da treta se tratou. Vejamos.
Na Cova da Moura, o Sr. Presidente podia estar a falar perante dois tipos de público: cidadãos nacionais e cidadãos estrangeiros. Ou muito provavelmente os dois. Mas o que importava dizer (e aí tenho que concordar com parte do que disse o Arquitecto) era que aquilo não só não se vai repetir como os responsáveis vão ser apanhados (ainda que o não sejam ficava a clara manifestação de intenções) e punidos.
Se os responsáveis forem cidadãos nacionais, então aplicar-se-ão as penas que a lei prevê. Mas se os responsáveis forem estrangeiros, após a aplicação da pena e o seu cumprimento dever-se-á proceder à sua expulsão de território nacional.
A minha pouca simpatia por criminosos diminui ainda mais quando são estrangeiros. Não porque tenha algo contra os estrangeiros mas porque acho que quem é hóspede tem especiais obrigações para com o anfitrião.
O mais provável é que, no entanto, grande parte dos delinquentes que levaram a cabo o arrastão de Carcavelos sejam cidadãos nacionais filhos de cidadãos estrangeiros. Muito provavelmente africanos. Ou seja, segundas gerações. Segundas gerações mal integradas (se integradas de todo) no corpo nacional. Esse é um problema que cabe ao Estado e à chamada Sociedade Civil resolver. Mas que não pode ser objecto de contemporizações. Porque para muitos que se encontram mal integrados, muitos outros encontraram o seu espaço na sociedade. A contemporização e o palavreado da treta do Presidente da República apenas legitimam os comportamentos anti-sociais de muitos delinquentes que ao esforço do trabalho preferem o ócio da criminalidade.
AR
quarta-feira, junho 29, 2005
De que planeta vens tu?
Neste fim-de-semana o Arquitecto Saraiva a propósito da visita do Presidente da República à Cova da Moura concluía na sua crónica Política à Portuguesa:
«Na Cova da Moura, dias depois do «arrastão» não era altura para Sampaio falar de xenofobia, racismo, integração ou outras generalidades: era o momento para dizer olhos nos olhos aos imigrantes: "Meus amigos, isto não pode voltar a acontecer. E o Estado Português será implacável se actos como este vierem a repetir-se"».
Já sabíamos pela entrevista dada à revista do seu próprio jornal duas semanas antes que o Arquitecto habita um lugar muito particular - o planeta Saraiva - onde se ganha o Nobel de Literatura com uma vasta obra constituída por 2 livros, onde as mulheres são "enigmas", no qual uma capa que figura a cantora Ágata fica na história (já foi propalado o suficiente o grau de alucinação...). Neste planeta, passadas semanas do assalto na praia de Carcavelos, a "culpa" é dos imigrantes, dando azo a que se publiquem estas alarvidades no editorial do jornal semanal de maior circulação em Portugal. Gosto principalmente do pormenor amistoso de meus amigos para arrematar que ou vocês entram em linha ou serão recambiados (quem sabe, talvez mesmo para... Portugal???).
No Barnabé (que passa um mau momento agora, espero que ainda possa ser ressuscitado..., embora estas metáforas católicas causam alguma celeuma...) encontrei um link para o comunicado da ACIME (Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas) que analisa e sintetiza o que se passou neste "arrastão". Faz muito bem ler. Precisamos, todos, de ser esclarecidos. A poeira teima em assentar e nas conversas de café acabamos, muitas vezes, por ter o mesmo dircurso aqui do Arquitecto.
Neste comunicado a ACIME começa por repudiar «leituras xenófobas e racistas desenvolvidas na sequência dos acontecimentos referidos, nomeadamente na ligação explícita ou implícita entre criminalidade e imigração e minorias. Tal leitura é errada e injusta e corresponde a um preconceito não fundamentado. A criminalidade, como atestam todos os estudos realizados, tem origem em todas as comunidades, em igual proporção, independentemente da sua etnia ou nacionalidade» e solicita que os meios de comunicação social «corrijam, com o necessário destaque, as informações erradas entretanto veiculadas, repondo a verdade dos acontecimentos».
Pode ser que a informação chegue nos próximos milénios ao planeta Saraiva. E ao teu? Já chegou?
Sofia
«Na Cova da Moura, dias depois do «arrastão» não era altura para Sampaio falar de xenofobia, racismo, integração ou outras generalidades: era o momento para dizer olhos nos olhos aos imigrantes: "Meus amigos, isto não pode voltar a acontecer. E o Estado Português será implacável se actos como este vierem a repetir-se"».
Já sabíamos pela entrevista dada à revista do seu próprio jornal duas semanas antes que o Arquitecto habita um lugar muito particular - o planeta Saraiva - onde se ganha o Nobel de Literatura com uma vasta obra constituída por 2 livros, onde as mulheres são "enigmas", no qual uma capa que figura a cantora Ágata fica na história (já foi propalado o suficiente o grau de alucinação...). Neste planeta, passadas semanas do assalto na praia de Carcavelos, a "culpa" é dos imigrantes, dando azo a que se publiquem estas alarvidades no editorial do jornal semanal de maior circulação em Portugal. Gosto principalmente do pormenor amistoso de meus amigos para arrematar que ou vocês entram em linha ou serão recambiados (quem sabe, talvez mesmo para... Portugal???).
No Barnabé (que passa um mau momento agora, espero que ainda possa ser ressuscitado..., embora estas metáforas católicas causam alguma celeuma...) encontrei um link para o comunicado da ACIME (Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas) que analisa e sintetiza o que se passou neste "arrastão". Faz muito bem ler. Precisamos, todos, de ser esclarecidos. A poeira teima em assentar e nas conversas de café acabamos, muitas vezes, por ter o mesmo dircurso aqui do Arquitecto.
Neste comunicado a ACIME começa por repudiar «leituras xenófobas e racistas desenvolvidas na sequência dos acontecimentos referidos, nomeadamente na ligação explícita ou implícita entre criminalidade e imigração e minorias. Tal leitura é errada e injusta e corresponde a um preconceito não fundamentado. A criminalidade, como atestam todos os estudos realizados, tem origem em todas as comunidades, em igual proporção, independentemente da sua etnia ou nacionalidade» e solicita que os meios de comunicação social «corrijam, com o necessário destaque, as informações erradas entretanto veiculadas, repondo a verdade dos acontecimentos».
Pode ser que a informação chegue nos próximos milénios ao planeta Saraiva. E ao teu? Já chegou?
Sofia
terça-feira, junho 28, 2005
Divagações XXI
A minha língua não é a minha Pátria.
Não busco a perfeição. Fujo dela.
O Sol agonia-me e o riso dos outros
É-me um ruído insuportável.
Todos os sorrisos são esgares,
Todos os auxílios que me querem prestar
Nada mais são do que imundos lupanares
Onde me recuso, enojado, a parar.
A noite é minha companheira.
Refresco-me no esconso das ruas.
Pernoito com o pecado
E nele me liberto e vivo.
Venham os cínicos e os hipócritas,
Venham as putas, os tolhidos,
Os marrecos, os coxos, os fodidos.
O pior é o melhor.
Esteja o cimo em baixo,
As ordens sejam trocadas
E não saiba mais dos meus braços
Qual mexe, qual estremece.
Levantem-se os mortos, enterrem-se os vivos,
Que tudo se troque e venha o Caos.
Que me importa que viva ou morra
Se tudo é relativo e nada vale?
Não há mais do que átomos,
Energia que gira, transita, transforma,
E da virgem bela e moça
Resulta a velha, decrépita e tola.
São os farrapos vestidos de noite
E das galas sobram orgias insanes.
Cheira-me a cio, perversão, decadência,
Sussurra no escuro a maledicência
E velhos lascivos possuem jovens corpos.
A tertúlia acabou.
Nada resta para além dos copos vazios.
Não há poetas,
Apenas Ogres manetas
Que rabiscam em papel de embrulho.
Cultura são bustos quebrados,
Frescos pintados a sangue em tectos inacessíveis.
O bater do ferro é percussão,
Os gritos das mulheres são música,
A harmonia é um pesadelo do passado.
Estou no meu mundo.
Putas cospem no chão
E chamam-me com bocas negras e fétidas,
Prometendo-me prazeres insuspeitos.
Luzes na rua.
Azuis vazios e brancos mortos.
Amo este mundo negro e fétido,
Decadente e patético.
Nele me espojo e rebolo.
Não tenho caminhos a seguir.
AR
Não busco a perfeição. Fujo dela.
O Sol agonia-me e o riso dos outros
É-me um ruído insuportável.
Todos os sorrisos são esgares,
Todos os auxílios que me querem prestar
Nada mais são do que imundos lupanares
Onde me recuso, enojado, a parar.
A noite é minha companheira.
Refresco-me no esconso das ruas.
Pernoito com o pecado
E nele me liberto e vivo.
Venham os cínicos e os hipócritas,
Venham as putas, os tolhidos,
Os marrecos, os coxos, os fodidos.
O pior é o melhor.
Esteja o cimo em baixo,
As ordens sejam trocadas
E não saiba mais dos meus braços
Qual mexe, qual estremece.
Levantem-se os mortos, enterrem-se os vivos,
Que tudo se troque e venha o Caos.
Que me importa que viva ou morra
Se tudo é relativo e nada vale?
Não há mais do que átomos,
Energia que gira, transita, transforma,
E da virgem bela e moça
Resulta a velha, decrépita e tola.
São os farrapos vestidos de noite
E das galas sobram orgias insanes.
Cheira-me a cio, perversão, decadência,
Sussurra no escuro a maledicência
E velhos lascivos possuem jovens corpos.
A tertúlia acabou.
Nada resta para além dos copos vazios.
Não há poetas,
Apenas Ogres manetas
Que rabiscam em papel de embrulho.
Cultura são bustos quebrados,
Frescos pintados a sangue em tectos inacessíveis.
O bater do ferro é percussão,
Os gritos das mulheres são música,
A harmonia é um pesadelo do passado.
Estou no meu mundo.
Putas cospem no chão
E chamam-me com bocas negras e fétidas,
Prometendo-me prazeres insuspeitos.
Luzes na rua.
Azuis vazios e brancos mortos.
Amo este mundo negro e fétido,
Decadente e patético.
Nele me espojo e rebolo.
Não tenho caminhos a seguir.
AR
Postumas crónicas madrilenas
Fica para a posteridade este registo com os seus nomes: a Daniela, o Rubens, o Waldir, o Milton, o Eduardo e o Manuel. A brigada brasileira que me acompanhou por Madrid.
Foi meu, seguramente, o privilégio de os conhecer e com eles poder conviver.
Felizmente, voltar-nos-emos a encontrar em breve.
AR
Foi meu, seguramente, o privilégio de os conhecer e com eles poder conviver.
Felizmente, voltar-nos-emos a encontrar em breve.
AR
a rectificação do reorçamento rectivicativo
Imagino, com alguma inveja, a felicidade cívica de alguns concidadãos que têm o privilégio de viver no melhor dos mundos possíveis.
Pela primeira vez na história da democracia portuguesa (ainda que burguesa, é formalmente uma democracia), há localidades bafejadas pelo acaso socialista, republicano e laico que as transforma num quase paraíso político. Dotadas de um espírito sensível, apelativo, moderno, com os olhos no desenvolvimento e marcadas pelo conhecido rigor socialista na gestão da coisa pública, centenas ou mesmo milhares de freguesias portuguesas são sabiamente governadas e tuteladas e vigiadas por um presidente da república socialista, por um governo socialista, com uma maioria parlamentar absoluta socialista, com executivos camarários socialistas, com assembleias municipais socialistas, com juntas de freguesia socialistas.
Infelizmente (infelizmente porque parece ser impossível mudar para melhor, tão perto se está da perfeição institucional e política), nesta situação encontram-se localidades a que estou ligado por vínculos jurídicos e afectivos: Sacavém e Borba. Há bens que vêm por mal.
CC
Pela primeira vez na história da democracia portuguesa (ainda que burguesa, é formalmente uma democracia), há localidades bafejadas pelo acaso socialista, republicano e laico que as transforma num quase paraíso político. Dotadas de um espírito sensível, apelativo, moderno, com os olhos no desenvolvimento e marcadas pelo conhecido rigor socialista na gestão da coisa pública, centenas ou mesmo milhares de freguesias portuguesas são sabiamente governadas e tuteladas e vigiadas por um presidente da república socialista, por um governo socialista, com uma maioria parlamentar absoluta socialista, com executivos camarários socialistas, com assembleias municipais socialistas, com juntas de freguesia socialistas.
Infelizmente (infelizmente porque parece ser impossível mudar para melhor, tão perto se está da perfeição institucional e política), nesta situação encontram-se localidades a que estou ligado por vínculos jurídicos e afectivos: Sacavém e Borba. Há bens que vêm por mal.
CC
segunda-feira, junho 27, 2005
cuidado com o que se come
domingo, junho 26, 2005
Depois dos 30
Os meus trintas vão bem avançados. E não faltará muito estarão terminados. Vem esta conversa deste post da Hipatia, que tive o prazer de conhecer pessoalmente há poucas semanas.
Escreve a certo passo:
Gosto da ideia de estar a amadurecer. Do conforto que passar para além dos trinta me soube dar. Gosto da postura, da energia, da voz, de uma certa atitude de gente grande que ainda não perdeu as rédeas da infância. Da alegria espontânea de quem ainda sabe brincar e da contenção necessária de quem já se sabe adulto.
Partilho a ideia do amadurecer, da postura, da energia, da voz. Mas não a da atitude de gente grande nem da contenção de quem já se sabe adulto.
Aprendi, com o tempo, a não ter a atitude da gente grande e a brincar sem contenção. Agora, numa idade em que, provavelmente, menos estarão pela frente do que os que estão para trás, não se me fale em contenção nem em brincadeira controlada. Não se me fale em ser adulto nem responsável. Falem-me, sim, em viver cada instante com o prazer de saber que não o poderia ter vivido melhor.
AR
Escreve a certo passo:
Gosto da ideia de estar a amadurecer. Do conforto que passar para além dos trinta me soube dar. Gosto da postura, da energia, da voz, de uma certa atitude de gente grande que ainda não perdeu as rédeas da infância. Da alegria espontânea de quem ainda sabe brincar e da contenção necessária de quem já se sabe adulto.
Partilho a ideia do amadurecer, da postura, da energia, da voz. Mas não a da atitude de gente grande nem da contenção de quem já se sabe adulto.
Aprendi, com o tempo, a não ter a atitude da gente grande e a brincar sem contenção. Agora, numa idade em que, provavelmente, menos estarão pela frente do que os que estão para trás, não se me fale em contenção nem em brincadeira controlada. Não se me fale em ser adulto nem responsável. Falem-me, sim, em viver cada instante com o prazer de saber que não o poderia ter vivido melhor.
AR
Crónicas de Madrid VI
Em abono da verdade esta crónica está a ser escrita do Estoril. Fica como testemunho a posteriori das últimas horas na capital de nuestros hermanos.
Escrevi aqui na crónica anterior:
"Para despedida, os planos incluem näo ir à cama. Mas directo para o aeroporto."
Não poderia ter sido mais diferente do planeado a última noite em Madrid. Interessará a alguns (poucos) o que fiz para lá chegar e portanto, se me permitem, deixarei para conversas de viva voz o relato dessa história. Aqui ficará apenas o registo da parte pública. Perto das 3h da madrugada percorria a pé algumas artérias até à data desconhecidas um pouco mais afastadas do centro da cidade. Por volta das 4h ficava a saber que a zona que atravessava (a pé, e outra) era palco por vezes de confrontos entre bandos (ou gangs, se preferirem) de jovens equatorianos, colombianos, salvadorenhos e outras distintas nacionalidades da América Central e do Sul. Às 5h e 30m vinha eu de autocarro, com os primeiros passageiros da manhã, a pensar como era curioso duas cidades tão diferentes mesmo ali ao lado uma da outra: a do glamour (perdoe-se-me o francesismo) e a das pessoas comuns, dos crimes comuns, do trabalho comum. Seguramente uma experiência que não vou esquecer.
Mas a última coisa que fiz, mesmo, antes de me meter no taxi a caminho do aeroporto, foi voltar ao Thyssen para comprar umas prendas de última hora. E talvez esteja de volta no próximo 23.
AR
Escrevi aqui na crónica anterior:
"Para despedida, os planos incluem näo ir à cama. Mas directo para o aeroporto."
Não poderia ter sido mais diferente do planeado a última noite em Madrid. Interessará a alguns (poucos) o que fiz para lá chegar e portanto, se me permitem, deixarei para conversas de viva voz o relato dessa história. Aqui ficará apenas o registo da parte pública. Perto das 3h da madrugada percorria a pé algumas artérias até à data desconhecidas um pouco mais afastadas do centro da cidade. Por volta das 4h ficava a saber que a zona que atravessava (a pé, e outra) era palco por vezes de confrontos entre bandos (ou gangs, se preferirem) de jovens equatorianos, colombianos, salvadorenhos e outras distintas nacionalidades da América Central e do Sul. Às 5h e 30m vinha eu de autocarro, com os primeiros passageiros da manhã, a pensar como era curioso duas cidades tão diferentes mesmo ali ao lado uma da outra: a do glamour (perdoe-se-me o francesismo) e a das pessoas comuns, dos crimes comuns, do trabalho comum. Seguramente uma experiência que não vou esquecer.
Mas a última coisa que fiz, mesmo, antes de me meter no taxi a caminho do aeroporto, foi voltar ao Thyssen para comprar umas prendas de última hora. E talvez esteja de volta no próximo 23.
AR
sexta-feira, junho 24, 2005
um post a anunciar o fim de semana
A diferença entre Esquerda e Direita é semântica.
Para a Esquerda, a que o meu amigo CC tão elegantemente finge pertencer, "trabalhador" é substantivo. Trata-se do indivíduo pertencente à classe trabalhadora, titular de direitos por inerência.
Para a Direita, a que o meu amigo AR tão generosamente julga pertencer, "trabalhador" é adjectivo. Trata-se da qualificação dada a indivíduo que a justifique, titular de direitos por mérito.
Para mim, "trabalhador" é palavrão. Identifico-me politicamente com o Zé Carioca.
LR
PS: E para a Sofia um beijinho, claro.
Para a Esquerda, a que o meu amigo CC tão elegantemente finge pertencer, "trabalhador" é substantivo. Trata-se do indivíduo pertencente à classe trabalhadora, titular de direitos por inerência.
Para a Direita, a que o meu amigo AR tão generosamente julga pertencer, "trabalhador" é adjectivo. Trata-se da qualificação dada a indivíduo que a justifique, titular de direitos por mérito.
Para mim, "trabalhador" é palavrão. Identifico-me politicamente com o Zé Carioca.
LR
PS: E para a Sofia um beijinho, claro.
Crónicas de Madrid V
Passou-se mais ou menos assim. O edifício aparentava ser do início do século XX, num requebro Romäntico que varreu o mundo e que 'obrigava' a construír em moldes mais ou menos renascentistas (ou clássicos, ou sei lá, näo consigo distinguir muito bem): Escadarias largas, de mármore, bustos em mármore, tectos pintados, representando deuses ociosos ou em poucas vergonhas. O sítio chama-se Palácio qualquer coisa (o qualquer coisa é invençäo minha, claro) e é mais uma discoteca madrilena. Funciona assim: um saläo grande, com os ditos tectos pintados e as esculturas de mármore (e säo de mármore, que eu fui verificar!) por ali espalhadas tem pista de dança. Martelos. Cheio. Calor e cío. Sala pequena. Bar. Outro saläo grande. Outra pista de dança. Rock. Calor e cío. Outra sala pequena. Bar. Outro saläo grande. Outra pista de dança. Vagamente latino. Calor e cío. Saí às quatro, por solidariedade com um dos meus amigos brasileiros que ía embarcar às 7h da manhä. Näo consegui ir ao piso de cima.
Olhar para o Guernica, ali mesmo à minha frente, com a carga histórica que traz e a genialidade da obra é uma experiëncia mística. Confesso que näo consegui evitar duas lágrimas que me escaparam rosto a baixo e que tentei disfarçar para o Rubens, outro dos brasileiros que me tem acompanhado, näo perceber. Falhei. Percebeu. E näo me lembro do tempo que ali fiquei em contemplaçäo. Miró é desvairado mas muito divertido (digo eu) e a insanidade de Dali é daquelas coisas que se ama ou odeia. Pertenço ao primeiro grupo. Para além disso, o Reina Sofia tinha uma exposiçäo temporária dedicada a Juan Griz. O nome näo me dizia nada até ontem. Fiquei admirador. Os temas das guitarras, das garrafas de vinho, os corpos das mulheres que se adivinham na sua fase cubista, e os Arlequins.
Mais os cogumelos com ameijoas ou uns mexilhöes que sabiam a mar (deviam ser falsificados, por certo, embora me digam que se come belíssimo peixe e marisco em Madrid, mas eu desconfio dos espanhóis, esses aldraböes...) compuseram um dia a repetir. Embora näo saiba quando.
Tenho pena de näo ter conseguido ir à Igreja de S. Francisco, que me dizem belíssima, mas em compensaçäo assisti aos 'Los Gavilans', uma belíssima Zarzuela (para quem gosta) num teatro dos anos quarenta näo muito grande (aí uns 600 lugares, digo eu) mas muito agradável praticamente cheio às 19h de uma tarde de 3a feira e com a sessäo das 22h esgotada.
Para despedida, os planos incluem näo ir à cama. Mas directo para o aeroporto. Afinal, ainda me faltam algumas horas.
Ah, mas as gajas, as gajas ...
AR
Olhar para o Guernica, ali mesmo à minha frente, com a carga histórica que traz e a genialidade da obra é uma experiëncia mística. Confesso que näo consegui evitar duas lágrimas que me escaparam rosto a baixo e que tentei disfarçar para o Rubens, outro dos brasileiros que me tem acompanhado, näo perceber. Falhei. Percebeu. E näo me lembro do tempo que ali fiquei em contemplaçäo. Miró é desvairado mas muito divertido (digo eu) e a insanidade de Dali é daquelas coisas que se ama ou odeia. Pertenço ao primeiro grupo. Para além disso, o Reina Sofia tinha uma exposiçäo temporária dedicada a Juan Griz. O nome näo me dizia nada até ontem. Fiquei admirador. Os temas das guitarras, das garrafas de vinho, os corpos das mulheres que se adivinham na sua fase cubista, e os Arlequins.
Mais os cogumelos com ameijoas ou uns mexilhöes que sabiam a mar (deviam ser falsificados, por certo, embora me digam que se come belíssimo peixe e marisco em Madrid, mas eu desconfio dos espanhóis, esses aldraböes...) compuseram um dia a repetir. Embora näo saiba quando.
Tenho pena de näo ter conseguido ir à Igreja de S. Francisco, que me dizem belíssima, mas em compensaçäo assisti aos 'Los Gavilans', uma belíssima Zarzuela (para quem gosta) num teatro dos anos quarenta näo muito grande (aí uns 600 lugares, digo eu) mas muito agradável praticamente cheio às 19h de uma tarde de 3a feira e com a sessäo das 22h esgotada.
Para despedida, os planos incluem näo ir à cama. Mas directo para o aeroporto. Afinal, ainda me faltam algumas horas.
Ah, mas as gajas, as gajas ...
AR
o sistema de som LCD
É compreensível. Com três governos péssimos nos últimos anos (o Santana primeiro-ministro, foda-se, ainda não me esqueci!), com o poder de compra da classe média a baixar 15% em 4 anos, com quase meio milhão de desempregados no país, com o Sócrates a achar que, afinal, o caminho do sacrifício cego é que é bom e a continuar o belo trabalho que criticava (parecia que criticava, quando, calado, franzia o sobrolho), os jovens vêem a sua vida sem futuro. Então, como em todos os momentos históricos de crise, encolhem os ombros e viram-se para si próprios.
Nada melhor que uma pista de dança para nos virarmos uns para os outros e para nós mesmos. Eu, que detesto dançar e que tenho dificuldade em imaginar sítios piores para estar do que numa discoteca (o barulho desumano, fumo, muito fumo, as luzes esquizofrenéticas, gente suada em pé e aos encontrões, a agitar-se sem propósito em figuras ridículas - enfim, um pequeno inferno), compreendo bem a necessidade de frequentar estes espaços fora do tempo. Quando se sai, o mundo parece um lugar melhor.
Ora acontece que, numa noite a meio da semana de trabalho, vi-me levado ao Lux. Era meia-noite de quarta-feira. Passada uma fracção de segundos, já era quinta-feira, coisa que acontece semanalmente sem que, muitas vezes, nos demos conta. Aquilo estava cheio de gente, jovens à procura do primeiro emprego, certamente, porque não mostravam o mínimo indício de preocupação com as horas de despertar na manhã seguinte.
James Murphy no palco, ao microfone avançado, e começa o beat. Graças à intercessão de Santa Cecília, eu já sabia que os LCD Soundsystem eram mais que uma máquina de batidas rítmicas. Os rapazes (parece que há outro que secretaria o Murphy) fazem muito mais que ritmos para puxar o pé. Enriquecem a dance music (coisa que, por si só, não é difícil de enriquecer, tão mísera é a sua composição anatómica) com o vigor um pouco menos acéfalo do house, mas - e sobretudo - com o nosso mui querido rock. Rock.
O resultado, tanto nos registos como ao vivo, é uma música exuberante, encantatória e de uma simplicidade muito sedutora. É um daqueles casos em que nos perguntamos Porque é que eu não me lembrei disto? É que até parece fácil juntar uma batida disco com uns pós electro-qualquer-coisa e, caramba!, o bom e velho rock.
Ao vivo, até parece que apetece dançar. Mas não é verdade. Digo eu, que sou imune a essa triste insanidade. O que acontece é que a música nos dança. E isso é outra coisa bem diferente.
Por outro lado, o James Murphy está numa bela idade e, portanto, tem a sageza e o discernimento, feito de sabedoria e experiência, para ir buscar influências aos sítios apropriados. Como não tem a veleidade de ser tentar ser original à força (coisa comum na juventude ignorante da história e sem noção das realidades: estúpida, portanto), ele sabe que «não é fácil competir com a acumulação do passado. Inicialmente é-se compelido a copiar aqueles de que gostamos, punimo-nos por isso e, depois, alguns conseguem fazer música com sentido, dando um pouco de si, e a maior parte não... Não existe outra saída que não seja tentar dar um pouco de nós, competindo com as nossas influências, as nossas falhas. A originalidade nunca nasceu da recusa do passado, mas sim da consciência dele, tentando apresentar algo único, individual, reconstruindo-o» (No Y de sábado, sem link disponível).
Assim, os LCD Soundsystem prestam um tributo descarado, um bonito plágio e uma homenagem merecida aos The Fall. Eles sabem, como nós sabemos (pronto, como EU sei), que o Mark E. Smith influenciou mais pessoas do que leitores tem este blog (é um pequeno exagero, mas é um recurso estilístico do autor). E eis que, no cd ou no Lux, tocam o excelente Movement, com som, voz e ambiente a lembrar os bons tempos. Também se ouvem outras coisas, mas essas já v. exas. ouviram na telefonia. E se não prestaram atenção, é bem feita. Têm o que merecem. Fiquem lá com o Beck e os Coldplay.
Saímos e cá fora governa o Sócrates, com 21% de IVA, o Santanete intelectualóide ameaça-nos em cartazes com «projectos com princípio, meio e fim», o filho-do-rei e maçon-amigo-dos-diamantes-da-Unita quer ir "trabalhar" para Sintra, há greves dos professores, da Carris, manifestações das forças policiais, da função pública, desemprego e nomeações de novos amigos. As sondagens dão os resultados do costume. Se ninguém prestou atenção, é bem feita. Têm o que merecem. Fiquem lá com o PS, com ou sem D. Por mim,danço oiço o Give It Up.
CC
Nada melhor que uma pista de dança para nos virarmos uns para os outros e para nós mesmos. Eu, que detesto dançar e que tenho dificuldade em imaginar sítios piores para estar do que numa discoteca (o barulho desumano, fumo, muito fumo, as luzes esquizofrenéticas, gente suada em pé e aos encontrões, a agitar-se sem propósito em figuras ridículas - enfim, um pequeno inferno), compreendo bem a necessidade de frequentar estes espaços fora do tempo. Quando se sai, o mundo parece um lugar melhor.
Ora acontece que, numa noite a meio da semana de trabalho, vi-me levado ao Lux. Era meia-noite de quarta-feira. Passada uma fracção de segundos, já era quinta-feira, coisa que acontece semanalmente sem que, muitas vezes, nos demos conta. Aquilo estava cheio de gente, jovens à procura do primeiro emprego, certamente, porque não mostravam o mínimo indício de preocupação com as horas de despertar na manhã seguinte.
James Murphy no palco, ao microfone avançado, e começa o beat. Graças à intercessão de Santa Cecília, eu já sabia que os LCD Soundsystem eram mais que uma máquina de batidas rítmicas. Os rapazes (parece que há outro que secretaria o Murphy) fazem muito mais que ritmos para puxar o pé. Enriquecem a dance music (coisa que, por si só, não é difícil de enriquecer, tão mísera é a sua composição anatómica) com o vigor um pouco menos acéfalo do house, mas - e sobretudo - com o nosso mui querido rock. Rock.
O resultado, tanto nos registos como ao vivo, é uma música exuberante, encantatória e de uma simplicidade muito sedutora. É um daqueles casos em que nos perguntamos Porque é que eu não me lembrei disto? É que até parece fácil juntar uma batida disco com uns pós electro-qualquer-coisa e, caramba!, o bom e velho rock.
Ao vivo, até parece que apetece dançar. Mas não é verdade. Digo eu, que sou imune a essa triste insanidade. O que acontece é que a música nos dança. E isso é outra coisa bem diferente.
Por outro lado, o James Murphy está numa bela idade e, portanto, tem a sageza e o discernimento, feito de sabedoria e experiência, para ir buscar influências aos sítios apropriados. Como não tem a veleidade de ser tentar ser original à força (coisa comum na juventude ignorante da história e sem noção das realidades: estúpida, portanto), ele sabe que «não é fácil competir com a acumulação do passado. Inicialmente é-se compelido a copiar aqueles de que gostamos, punimo-nos por isso e, depois, alguns conseguem fazer música com sentido, dando um pouco de si, e a maior parte não... Não existe outra saída que não seja tentar dar um pouco de nós, competindo com as nossas influências, as nossas falhas. A originalidade nunca nasceu da recusa do passado, mas sim da consciência dele, tentando apresentar algo único, individual, reconstruindo-o» (No Y de sábado, sem link disponível).
Assim, os LCD Soundsystem prestam um tributo descarado, um bonito plágio e uma homenagem merecida aos The Fall. Eles sabem, como nós sabemos (pronto, como EU sei), que o Mark E. Smith influenciou mais pessoas do que leitores tem este blog (é um pequeno exagero, mas é um recurso estilístico do autor). E eis que, no cd ou no Lux, tocam o excelente Movement, com som, voz e ambiente a lembrar os bons tempos. Também se ouvem outras coisas, mas essas já v. exas. ouviram na telefonia. E se não prestaram atenção, é bem feita. Têm o que merecem. Fiquem lá com o Beck e os Coldplay.
Saímos e cá fora governa o Sócrates, com 21% de IVA, o Santanete intelectualóide ameaça-nos em cartazes com «projectos com princípio, meio e fim», o filho-do-rei e maçon-amigo-dos-diamantes-da-Unita quer ir "trabalhar" para Sintra, há greves dos professores, da Carris, manifestações das forças policiais, da função pública, desemprego e nomeações de novos amigos. As sondagens dão os resultados do costume. Se ninguém prestou atenção, é bem feita. Têm o que merecem. Fiquem lá com o PS, com ou sem D. Por mim,
CC
quinta-feira, junho 23, 2005
Pronto(s), é o melhor festival de 2005 (Portugal)
Acabava de visitar a página da Música no Coração para ver o que ia tocar no Sudoeste. Para meu desconsolo ele era Kasabian, ele era Devendra, Kusturica, bolas até o Gato Fedorento contrataram quando claramente a minha artilharia este ano está toda apontada para Paredes de Coura. Até já tive que recorrer a argumentos algo falaciosos - "ah! ouvi dizer que os White Stripes estão em tournée, aposto que os vão contratar..." - para chantagear companhia.
No entanto, ao visitar o site hoje, mais uma razão de peso. Não são WS mas os The Futureheads, a melhor banda para dançar. São também os !!!, são os The Arcade Fire, são os QOTSA, é o Nick Cave, são os Pixies (c*!). 2 dos meus álbuns favoritos deste ano (Funeral e Lullabies to Paralyze), 2 do ano passado (The Futureheads e Louden up Now), a minha banda de referência.
Estou muito contente. Desta vez acertei.
Sofia
No entanto, ao visitar o site hoje, mais uma razão de peso. Não são WS mas os The Futureheads, a melhor banda para dançar. São também os !!!, são os The Arcade Fire, são os QOTSA, é o Nick Cave, são os Pixies (c*!). 2 dos meus álbuns favoritos deste ano (Funeral e Lullabies to Paralyze), 2 do ano passado (The Futureheads e Louden up Now), a minha banda de referência.
Estou muito contente. Desta vez acertei.
Sofia
quarta-feira, junho 22, 2005
Acontecimentos felizes (uma crónica de Paris ultrapassada)
No primeiro dia a providência fez com que fossemos parar, totalmente por acaso, ao bairro judio de Marais (a meias portas com o quartier gay) e que encontrássemos um botequim onde serviam humus, falafel, umas almôndegas de carne e especiarias. Na próxima, passar pelo Chez Marianne (link do Economist, que tem a sua piada). Tinha boa pinta.
Ao segundo dia, we went international, japonês, que eram abundantes pela cidade. A mando do guia parámos numa ruela perto do Arco do Triunfo. Já não me lembro dos nomes dos bichos, mas lembro-me de um sushi que levava pêra abacate. Divino.
Ao terceiro dia a providência mostrou-nos que os bar au vin são uma boa alternativa para petiscar. Chamava-se Le 7è vin e ficava no bairro de Saint-Germain. Dois copos de Bordeaux (e confesso que desde que vi o Mondovino que sinto que a experiência foi adulterada...) na temperatura e textura exactas para acompanhar uma quiche de chèvre e queijo fresco. E se na confecção nada podia ser mais simples, a massa quebrada, ainda morna, estalava, e o queijo derretia entre camadas fofas de ovo. Foi a providência está visto.
Ao quarto dia a providência levou-nos a jantar nos arrabaldes de Paris, a La Roche Guyon para ser mais exacta. Por 20 Euros pode-se degustar (devorar) um tachinho considerável de moules a vapor (umas 50 contávamos, qual conviva apanhado no casamento que serve camarões), saumon grillé à la crème de ciboulette, surprise au chocolat...
Vejo que consigo enumerar mais ou menos os dias desta escapadela estival pelas belíssimas refeições que tive. Quanto a sítios da noite AR não tenho nada a apresentar, o party time mais longo deveu-se a reparações das linhas férreas que nos puseram fora de casa até às duas (grandes malucos). Os gajos (que os havia bonitos) espalhavam-se pelas esplanadas dos cafés, liam Houellebecq na RER, compravam CDs do Boris Vian na FNAC, passeavam calmamente de bicicleta pelas ruas da cidade. É o tipo de contemplação passiva que faz bem. Faz parte da providência também.
Sofia
Ao segundo dia, we went international, japonês, que eram abundantes pela cidade. A mando do guia parámos numa ruela perto do Arco do Triunfo. Já não me lembro dos nomes dos bichos, mas lembro-me de um sushi que levava pêra abacate. Divino.
Ao terceiro dia a providência mostrou-nos que os bar au vin são uma boa alternativa para petiscar. Chamava-se Le 7è vin e ficava no bairro de Saint-Germain. Dois copos de Bordeaux (e confesso que desde que vi o Mondovino que sinto que a experiência foi adulterada...) na temperatura e textura exactas para acompanhar uma quiche de chèvre e queijo fresco. E se na confecção nada podia ser mais simples, a massa quebrada, ainda morna, estalava, e o queijo derretia entre camadas fofas de ovo. Foi a providência está visto.
Ao quarto dia a providência levou-nos a jantar nos arrabaldes de Paris, a La Roche Guyon para ser mais exacta. Por 20 Euros pode-se degustar (devorar) um tachinho considerável de moules a vapor (umas 50 contávamos, qual conviva apanhado no casamento que serve camarões), saumon grillé à la crème de ciboulette, surprise au chocolat...
Vejo que consigo enumerar mais ou menos os dias desta escapadela estival pelas belíssimas refeições que tive. Quanto a sítios da noite AR não tenho nada a apresentar, o party time mais longo deveu-se a reparações das linhas férreas que nos puseram fora de casa até às duas (grandes malucos). Os gajos (que os havia bonitos) espalhavam-se pelas esplanadas dos cafés, liam Houellebecq na RER, compravam CDs do Boris Vian na FNAC, passeavam calmamente de bicicleta pelas ruas da cidade. É o tipo de contemplação passiva que faz bem. Faz parte da providência também.
Sofia
terça-feira, junho 21, 2005
Outra espécie de coelho nostálgico
Jean-Paul Sartre nasceu a 21 de Junho de 1905.
Sofia
Crónicas de Madrid IV
Demasiado tarde, Sofia. A feira era Domingo de manhä e, nessa altura, dormia eu o sono dos justos, depois da noitada no Pachá! Paciência. Fica para um destes fins de semana em que cá volte.
E por falar em voltar ... eu bem dizia que näo voltava a 24. Consegui mudar o vôo e só volto a 25. Grande noite de 6a feira que vai ser! Mas como näo pretendo ir à cama, nem prolonguei no Hotel. Fica a bagagem no quarto de um dos meus amigos brasileiros.
Domingo
À tarde. Era imperdoável, para quem gosta da fiesta como eu, perder. Monumental de Las Ventas. 6 toiros. Toureiros medianos, touros com bom porte mas nem sempre bravos. Algumas chiquelinas de bom recorte. O último touro fez o pleno. Estocada até ao punho à primeira, menos de 5 segundos para caír morto. Praça (estava meia) em pé, lenços brancos a pedir orelha (näo deram, pareceu-me bem, que a lide näo foi täo boa que tivesse valido) e a merda da banda lá se dignou tocar (sacanas, estiveram a tarde inteira calados ... e corrida sem paso doble näo é a mesma coisa). Ah ... e as corridas aqui säo mais baratas do que em Portugal: meio da bancada, zona de sombra (com todos os toiros lidados ali mesmo à frente) por €20.
À noite lá fomos a outra tasca. Tortilla de Bacalhau (boa), tortillha de cogumelos e gambas (boa) e uma sangria de perder o tino (muito boa). Como segue feliz a vida em Madrid!
Segunda
Nada de especial. Dia muito intenso de trabalho. Nada mais que umas tapas e mais sangria. Voltámos cedo: aí pela 1h da manhä.
AR
E por falar em voltar ... eu bem dizia que näo voltava a 24. Consegui mudar o vôo e só volto a 25. Grande noite de 6a feira que vai ser! Mas como näo pretendo ir à cama, nem prolonguei no Hotel. Fica a bagagem no quarto de um dos meus amigos brasileiros.
Domingo
À tarde. Era imperdoável, para quem gosta da fiesta como eu, perder. Monumental de Las Ventas. 6 toiros. Toureiros medianos, touros com bom porte mas nem sempre bravos. Algumas chiquelinas de bom recorte. O último touro fez o pleno. Estocada até ao punho à primeira, menos de 5 segundos para caír morto. Praça (estava meia) em pé, lenços brancos a pedir orelha (näo deram, pareceu-me bem, que a lide näo foi täo boa que tivesse valido) e a merda da banda lá se dignou tocar (sacanas, estiveram a tarde inteira calados ... e corrida sem paso doble näo é a mesma coisa). Ah ... e as corridas aqui säo mais baratas do que em Portugal: meio da bancada, zona de sombra (com todos os toiros lidados ali mesmo à frente) por €20.
À noite lá fomos a outra tasca. Tortilla de Bacalhau (boa), tortillha de cogumelos e gambas (boa) e uma sangria de perder o tino (muito boa). Como segue feliz a vida em Madrid!
Segunda
Nada de especial. Dia muito intenso de trabalho. Nada mais que umas tapas e mais sangria. Voltámos cedo: aí pela 1h da manhä.
AR
parabéns a você...
Faz hoje cinquenta anos que Dick Bruna criou a personagem Miffy, ou Nijntje no original holandês. Não me lembro qual o nome português que lhe foi dado nas edições da Verbo, mas faz parte da minha tenra infância...
LR
Venha o diabo
Hoje na sua encomenda Amazon temos a preço saldo:
Sofia
Sofia
mais serviço privado (outra vez e é a sério)
Meus caros amigos e/ou conhecidos,
é com pesar que informo V. Exas. que o meu telemóvel morreu. Como sabem (embora não tivessem ligado grande importância), ele tinha sofrido um acidente grave, nos últimos dias de Dezembro, mas tinha recuperado, aparentemente em forma, depois da operação a que foi sujeito. Sol de pouca dura, todavia. Quais amanhãs que cantam, qual esperança socrática, definhou de um momento para o outro. Afinal os impostos vão aumentar, afinal vamos continuar a destruir o Estado Social, afinal não funciona mais.
Valeu-me São Gabriel (Arcanjo). Ofereceram-me um telemóvel Motorola 3G, ou seja, da terceira geração, que, além de fazer e receber chamadas, enviar e receber mensagens, ter uma agenda com números de telefone, ainda tira fotografias (com zoom), envia e recebe mms, efectua videochamadas, "captura" videos, e faz mais habilidades que nunca irei utilizar, algumas das quais desconhecerei para sempre. Agradeço aqui publicamente a generosidade da alma ofertante.
Mantenho, assim, o meu nº de telemóvel: 96 xxx xx 46.
O problema é que toda a minha lista telefónica - com os vossos números - estava localizada no telemóvel entretanto falecido, e não foi possível reanimá-lo com vista ao transplante da sabedoria que ele acolhia, e que é tão útil à minha sanidade mental.
Assim, venho por este meio solicitar a todos vós que me enviem o vosso número, devidamente identificado, para o meu telemóvel (para o número que V. Exas. já possuem). Caso prefiram, escrevam para o meu mail: cc@sapo.pt. Digam qualquer coisa, mas não se esqueçam do vosso número de telemóvel.
Um abraço e até breve.
CC
é com pesar que informo V. Exas. que o meu telemóvel morreu. Como sabem (embora não tivessem ligado grande importância), ele tinha sofrido um acidente grave, nos últimos dias de Dezembro, mas tinha recuperado, aparentemente em forma, depois da operação a que foi sujeito. Sol de pouca dura, todavia. Quais amanhãs que cantam, qual esperança socrática, definhou de um momento para o outro. Afinal os impostos vão aumentar, afinal vamos continuar a destruir o Estado Social, afinal não funciona mais.
Valeu-me São Gabriel (Arcanjo). Ofereceram-me um telemóvel Motorola 3G, ou seja, da terceira geração, que, além de fazer e receber chamadas, enviar e receber mensagens, ter uma agenda com números de telefone, ainda tira fotografias (com zoom), envia e recebe mms, efectua videochamadas, "captura" videos, e faz mais habilidades que nunca irei utilizar, algumas das quais desconhecerei para sempre. Agradeço aqui publicamente a generosidade da alma ofertante.
Mantenho, assim, o meu nº de telemóvel: 96 xxx xx 46.
O problema é que toda a minha lista telefónica - com os vossos números - estava localizada no telemóvel entretanto falecido, e não foi possível reanimá-lo com vista ao transplante da sabedoria que ele acolhia, e que é tão útil à minha sanidade mental.
Assim, venho por este meio solicitar a todos vós que me enviem o vosso número, devidamente identificado, para o meu telemóvel (para o número que V. Exas. já possuem). Caso prefiram, escrevam para o meu mail: cc@sapo.pt. Digam qualquer coisa, mas não se esqueçam do vosso número de telemóvel.
Um abraço e até breve.
CC
ninguém me pára
O dificil é começar. Passando da literatura à música, cá vai:
Tamanho total dos arquivos no computador (apenas da música):
Não faço ideia, não costumo ter música no computador - e para falar verdade, até gosto mais de vinil do que de CD...
Último disco que comprei:
Devils & Dust - Bruce Springsteen;
Canção que estou a escutar agora:
Neste momento nenhuma, no CD do carro tem girado com frequência From This Moment On do trompetista Nicholas Payton;
Cinco canções que oiço frequentemente ou que têm algum significado especial:
There Is A Light That Never Goes Out - The Smiths
Something Changed - Pulp
Make It Easy on Yourself - Burt Bacharach, mas gosto especialmente da versão dos Divine Comedy
Qualquer uma do Sinatra antes de ficar gágá
Ser Benfiquista - Luís Piçarra
Lanço o testemunho a 4 bloggers:
Os três da Quinta Coluna mais quem o apanhar...
LR
Tamanho total dos arquivos no computador (apenas da música):
Não faço ideia, não costumo ter música no computador - e para falar verdade, até gosto mais de vinil do que de CD...
Último disco que comprei:
Devils & Dust - Bruce Springsteen;
Canção que estou a escutar agora:
Neste momento nenhuma, no CD do carro tem girado com frequência From This Moment On do trompetista Nicholas Payton;
Cinco canções que oiço frequentemente ou que têm algum significado especial:
There Is A Light That Never Goes Out - The Smiths
Something Changed - Pulp
Make It Easy on Yourself - Burt Bacharach, mas gosto especialmente da versão dos Divine Comedy
Qualquer uma do Sinatra antes de ficar gágá
Ser Benfiquista - Luís Piçarra
Lanço o testemunho a 4 bloggers:
Os três da Quinta Coluna mais quem o apanhar...
LR
tarde e a más horas
A Sofia e o AR responderam a este inquéritos literários. Por diletantismo, preguiça ou alergia às modas, eu e o CC foi o que se viu. Como também padeço da mania do contra, resolvi responder agora quando já passou à História.
Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Ai, ai, que já vi o filme há bastante tempo... Talvez o "Tom Sawyer", se a memória não me falha.
Já alguma vez ficaste apanhado por um personagem de ficção?
Em termos literários, não me lembro. Em termos cinéfilos, fiquei apanhado por todas as mulheres fatais dos film noir, em especial a Jessica Rabbit.
Qual foi o último livro que compraste?
Foram quatro: uma biografia de Luchino Visconti, as memórias de Groucho Marx, uma biografia de Mussolini e as Crónicas Marcianas de Ray Bradbury.
Qual foi o último livro que leste?
Austerliz, de W. G. Sebald, e as edições portuguesas do Sin City.
Que livro estás a ler?
V. , de Thomas Pynchon.
Quais os 5 livros que levarias para uma praia deserta?
Esta não podia faltar, pois não? Assim de rajada e para não pensar muito, O Leopardo, de G. Tommaso Di Lampedusa, O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald, Tales of Mystery and Imagination, de Edgar Allan Poe, A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson, e qualquer um de Raymond Carver.
As 3 pessoas da blogosfera que convido a tornarem públicas as suas leituras neste inquérito (sem obrigação) são:
Nesta altura do campeonato, já todos responderam...
LR
Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Ai, ai, que já vi o filme há bastante tempo... Talvez o "Tom Sawyer", se a memória não me falha.
Já alguma vez ficaste apanhado por um personagem de ficção?
Em termos literários, não me lembro. Em termos cinéfilos, fiquei apanhado por todas as mulheres fatais dos film noir, em especial a Jessica Rabbit.
Qual foi o último livro que compraste?
Foram quatro: uma biografia de Luchino Visconti, as memórias de Groucho Marx, uma biografia de Mussolini e as Crónicas Marcianas de Ray Bradbury.
Qual foi o último livro que leste?
Austerliz, de W. G. Sebald, e as edições portuguesas do Sin City.
Que livro estás a ler?
V. , de Thomas Pynchon.
Quais os 5 livros que levarias para uma praia deserta?
Esta não podia faltar, pois não? Assim de rajada e para não pensar muito, O Leopardo, de G. Tommaso Di Lampedusa, O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald, Tales of Mystery and Imagination, de Edgar Allan Poe, A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson, e qualquer um de Raymond Carver.
As 3 pessoas da blogosfera que convido a tornarem públicas as suas leituras neste inquérito (sem obrigação) são:
Nesta altura do campeonato, já todos responderam...
LR
segunda-feira, junho 20, 2005
o sal da língua
ROTINA
Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.
GREEN GOD
Trazia consigo a graça
das fontes quando anoitece.
Era o corpo como um rio
em sereno desafio
com as margens quando desce.
Andava como quem passa
sem ter tempo de parar.
Ervas nasciam dos passos
cresciam troncos dos braços
quando os erguia no ar.
Sorria como quem dança.
E desfolhava ao dançar
o corpo, que lhe tremia
num ritmo que ele sabia
que os deuses devem usar.
E seguia o seu caminho,
porque era um deus que passava.
Alheio a tudo o que via,
enleado na melodia
duma flauta que tocava.
QUASE NADA
O amor
é uma ave a tremer
nas mãos de uma criança.
Serve-se de palavras
por ignorar
que as manhãs mais limpas
não têm voz.
(Eugénio de Andrade)
Porque são certas as palavras e insubstituíveis os seus significados. Porque é urgente escutar e falar e saber ler sem medo da língua. Porque importa ainda descobrir rosas e rios e manhãs claras, para que não se extinga o lume breve das palavras e do amor. Porque se deve aprender uma gramática de exílio, nas vertentes do silêncio. Porque, para além das mortes, é urgente permanecer.
CC
não dura sempre
domingo, junho 19, 2005
Crónicas de Madrid III
5a Feira
Fomos à Kapital. Diferenças maiores: 6 andares, näo custa a entrar. Disseram-me que é a maior discoteca de Madrid. Näo fiquei espantado. Saímos às 5h porque tinhamos que estar prontos às 9h. Pois.
6a Feira
Andei quilómetros pelas ruas da cidade com o Valdir, um dos brasileiros que está no curso. Demoramos tanto nos detalhes que näo fomos a tempo do autocarro panorâmico. Näo tive pena. Bebemos cerveja caseira, comemos umas belíssimas tapas de anchovas e fomos comprar música e livros ... ao Corte Inglés. Pois. Colectânea de 3 CDs com as 40 melhores peças de Jazz por módicos €9 e a ediçäo do centenário do D. Quixote, capa rígida, ediçäo belíssima, pela brutal quantia de €7. Comprei uma ediçäo ilustrada para a minha filha por preço semelhante. Nunca a tinha comprado em Lisboa porque custava lá quase o triplo do preço. Azar da minha ex (e meu, claro): vamos ter que lhe ler a história fazendo a traduçäo em simultâneo para português.
Por causa da noitada de ontem viemos cedo para o Hotel. Qualquer coisa como 2h. As ruas ainda estavam cheias.
Sábado
Os passeios säo horríveis. Escuros. Mesmo feios. Acho que feitos de cimento, mas näo tenho a certeza. E esta cidade näo tem a luz de Lisboa. Nem de longe.
Enfim, nada é perfeito, näo é?
Dei uma voltinha pelo Prado e voltei ao Thyssen. Os quadros negros de Goya fascinaram-me. Os italianos dos Sécs. XV e XVI eram uns malandros, verdadeiros tarados sexuais e no meio de tanta coisa acabamos por nem achar nada de estraordinários os Velasquez, os Boticelli e os outros todos. Ah, e que bela colecçäo de El Greco ...
Desta vez fomos ao Pachá. Era noite Flower Power e só houve Rock. Final dos 60 e década de 70. Viemos às 6h porque o Eduardo tinha que partir para Lisboa às 7h. E as gajas, carago, as gajas ...!
AR
(Afinal, nem todos os teclados espanhóis têm o til.)
Fomos à Kapital. Diferenças maiores: 6 andares, näo custa a entrar. Disseram-me que é a maior discoteca de Madrid. Näo fiquei espantado. Saímos às 5h porque tinhamos que estar prontos às 9h. Pois.
6a Feira
Andei quilómetros pelas ruas da cidade com o Valdir, um dos brasileiros que está no curso. Demoramos tanto nos detalhes que näo fomos a tempo do autocarro panorâmico. Näo tive pena. Bebemos cerveja caseira, comemos umas belíssimas tapas de anchovas e fomos comprar música e livros ... ao Corte Inglés. Pois. Colectânea de 3 CDs com as 40 melhores peças de Jazz por módicos €9 e a ediçäo do centenário do D. Quixote, capa rígida, ediçäo belíssima, pela brutal quantia de €7. Comprei uma ediçäo ilustrada para a minha filha por preço semelhante. Nunca a tinha comprado em Lisboa porque custava lá quase o triplo do preço. Azar da minha ex (e meu, claro): vamos ter que lhe ler a história fazendo a traduçäo em simultâneo para português.
Por causa da noitada de ontem viemos cedo para o Hotel. Qualquer coisa como 2h. As ruas ainda estavam cheias.
Sábado
Os passeios säo horríveis. Escuros. Mesmo feios. Acho que feitos de cimento, mas näo tenho a certeza. E esta cidade näo tem a luz de Lisboa. Nem de longe.
Enfim, nada é perfeito, näo é?
Dei uma voltinha pelo Prado e voltei ao Thyssen. Os quadros negros de Goya fascinaram-me. Os italianos dos Sécs. XV e XVI eram uns malandros, verdadeiros tarados sexuais e no meio de tanta coisa acabamos por nem achar nada de estraordinários os Velasquez, os Boticelli e os outros todos. Ah, e que bela colecçäo de El Greco ...
Desta vez fomos ao Pachá. Era noite Flower Power e só houve Rock. Final dos 60 e década de 70. Viemos às 6h porque o Eduardo tinha que partir para Lisboa às 7h. E as gajas, carago, as gajas ...!
AR
(Afinal, nem todos os teclados espanhóis têm o til.)
sexta-feira, junho 17, 2005
estendam o tapete VERMELHO
Percebem de bola (e jogam-na) como ninguém, são do Benfica (claro), e um deles é meu amigo: que tenham muitos momentos gloriosos!
LR
LR
A ler
Esta semana o grupo G8, que reune os países mais ricos do mundo, acordou anular a dívida externa pública dos 18 países mais endividados do mundo (Benim, Bolívia, Burkina Faso, Etiópia, Gana, Guiana, Honduras, Madagáscar, Mali, Mauritânia, Moçambique, Nicarágua, Níger, Ruanda, Senegal, Tanzânia, Uganda e Zâmbia) .
Esta semana também, o blog A Causa foi Modificada transcreve um artigo que fala sobre Mamitu, uma cirurgiã africana, praticamente analfabeta, que trabalha para o Fistula Hospital. "Obstetric fistula is an injury of childbearing that has been relatively neglected, despite the devastating impact it has on the lives of girls and women. It is usually caused by several days of obstructed labour, without timely medical intervention — typically a Caesarean section to relieve the pressure. The consequences of fistula are life shattering: The baby usually dies, and the woman is left with chronic incontinence. Because of her inability to control her flow of urine or faeces, she is often abandoned or neglected by her husband and family and ostracized by her community. Without treatment, her prospects for work and family life are greatly diminished, and she is often left to rely on charity." (http://www.endfistula.org/q_a.htm)
O artigo fala em 300,000 casos/ano. Reality bites. Há realidades que nem fazemos ideia por isso é importante ler.
Mais informações - http://www.endfistula.org/
Sofia
Esta semana também, o blog A Causa foi Modificada transcreve um artigo que fala sobre Mamitu, uma cirurgiã africana, praticamente analfabeta, que trabalha para o Fistula Hospital. "Obstetric fistula is an injury of childbearing that has been relatively neglected, despite the devastating impact it has on the lives of girls and women. It is usually caused by several days of obstructed labour, without timely medical intervention — typically a Caesarean section to relieve the pressure. The consequences of fistula are life shattering: The baby usually dies, and the woman is left with chronic incontinence. Because of her inability to control her flow of urine or faeces, she is often abandoned or neglected by her husband and family and ostracized by her community. Without treatment, her prospects for work and family life are greatly diminished, and she is often left to rely on charity." (http://www.endfistula.org/q_a.htm)
O artigo fala em 300,000 casos/ano. Reality bites. Há realidades que nem fazemos ideia por isso é importante ler.
Mais informações - http://www.endfistula.org/
Sofia
quinta-feira, junho 16, 2005
Crónicas de Madrid II
Estou numa sala com cerca de 60 pessoas. Todas estão a utilizar o seu computador, ligadas à 'Net' em 'Alta Velocidade'. Como estou dois ou três segundos à espera que cada página apareça, deve ser mesmo ligação de alto débito. Pertence ao Município de Madrid, que assim disponibiliza 1h de acesso gratuito a quem quiser. O cronómetro do meu computador diz que ainda tenho 47 minutos. Contam-me que há mais centros destes espalhados pela cidade. Assim se faz, em Madrid, a divulgação das novas tecnologias.
Ontem estive no Cleópatra. Julgo (eu e os brasileiros) que a empregada é de origem egípcia. Talvez mesmo descendente da célebre Cleópatra ... pronto ... está bem, o nariz não é muito grande, mas isso, para o caso, pouco importa. Pedimos (sim, eu e os brasileiros) uma série de coisas cujo nome não consigo reproduzir. Sei que uma delas é uma espécie de pasta, fresca, feita de alho e beringelas desfeitos e misturados com azeite. Come-se com pão árabe. Foram, se me recordo bem, quatro rodadas de canecas de cerveja. Sim, isso mesmo: 2 litros a cada. Mais um borrego, servido às lascas, com um molho de qualquer coisa. E presunto entremeado com uma coisa que não sei o que é mas que é simplesmente excepcional. Como é boa a noite em Madrid. Ah! E a rua tem esplanadas destas de uma ponta à outra. Viemos para o Hotel perto da uma, que hoje havia mais trabalho. As esplanadas lá ficaram. Cheias.
Àmanhã vou voltar ao Thyssen. Tem que ser. Há coisas que quero voltar a ver. E no Sábado conto ir ao Prado.
E hoje, meus amigos, vou curtir que nem um maluco, que o fim de semana aqui dos gajos começa hoje e eu não quero perder pitada. Nem gajas! Ou Chicas! Ou lá o que é!
AR
(Afinal o teclado espanhol também tem til)
Ontem estive no Cleópatra. Julgo (eu e os brasileiros) que a empregada é de origem egípcia. Talvez mesmo descendente da célebre Cleópatra ... pronto ... está bem, o nariz não é muito grande, mas isso, para o caso, pouco importa. Pedimos (sim, eu e os brasileiros) uma série de coisas cujo nome não consigo reproduzir. Sei que uma delas é uma espécie de pasta, fresca, feita de alho e beringelas desfeitos e misturados com azeite. Come-se com pão árabe. Foram, se me recordo bem, quatro rodadas de canecas de cerveja. Sim, isso mesmo: 2 litros a cada. Mais um borrego, servido às lascas, com um molho de qualquer coisa. E presunto entremeado com uma coisa que não sei o que é mas que é simplesmente excepcional. Como é boa a noite em Madrid. Ah! E a rua tem esplanadas destas de uma ponta à outra. Viemos para o Hotel perto da uma, que hoje havia mais trabalho. As esplanadas lá ficaram. Cheias.
Àmanhã vou voltar ao Thyssen. Tem que ser. Há coisas que quero voltar a ver. E no Sábado conto ir ao Prado.
E hoje, meus amigos, vou curtir que nem um maluco, que o fim de semana aqui dos gajos começa hoje e eu não quero perder pitada. Nem gajas! Ou Chicas! Ou lá o que é!
AR
(Afinal o teclado espanhol também tem til)
E seguia o seu caminho, porque era um deus que passava.
No dia em que morreu Sophia a minha mãe confessou-me que se sentia muito triste enquanto afagava os livros da nossa infância (que nos deu a mim e à minha irmã, aos nossos primos, aos alunos).
De Eugénio de Andrade tenho uma antologia de poemas, fanado há muitos anos da casa dos meus avós, lido, por vezes decorado. No outro dia encontrei-me a repetir o gesto, a afagar um livro que toma forma de presença. A sonoridade dos poemas, as palavras - simples, coloquiais, luminosas - estão impregnadas. Recordo fragmentos, como se de música tratasse: manhãs mais limpas, os teus olhos são peixes verdes, dos teus dentes, brancos dentes, anémona perfeita abrindo nos meus dedos, enleado na melodia de uma flauta que tocava.
A um Green God deixo a homenagem possível.
As Amoras
O meu país sabe as amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.
Eugénio de Andrade ("O Outro Nome da Terra")
Sofia
De Eugénio de Andrade tenho uma antologia de poemas, fanado há muitos anos da casa dos meus avós, lido, por vezes decorado. No outro dia encontrei-me a repetir o gesto, a afagar um livro que toma forma de presença. A sonoridade dos poemas, as palavras - simples, coloquiais, luminosas - estão impregnadas. Recordo fragmentos, como se de música tratasse: manhãs mais limpas, os teus olhos são peixes verdes, dos teus dentes, brancos dentes, anémona perfeita abrindo nos meus dedos, enleado na melodia de uma flauta que tocava.
A um Green God deixo a homenagem possível.
As Amoras
O meu país sabe as amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.
Eugénio de Andrade ("O Outro Nome da Terra")
Sofia
quarta-feira, junho 15, 2005
Crónicas de Madrid
Um primeiro aviso para os meus companheiros de Blog: desculpem, mas näo volto. Ninguém me obriga a deixar Madrid e a voltar a Lisboa. Eu quero é saír do emprego e entrar na 'movida' e chegar a casa às tantas, ver (e näo só) as gajas, jantar tapas e beber cerveja, trabalhar com uma certa ordem e objectivos e voltar, à noite (melhor dizendo, fim da tarde) às esplanadas e aos bares, comer mais tapas (caramba, os cogumelos com molho de ostras säo divinais!) e deitar-me outra vez às tantas. Ah, é verdade, e as gajas.
Está bem, confesso, estou perfeitamente encantado por Madrid. E pelas gajas! Näo sei se já tinha dito.
Ontem dei uma saltada ao Thyssen. Acho que devo ter demorado demasiado tempo embasbacado com os 'El Greco', porque uma funcionária começou a circular insistentemente à minha volta. E uns Rubens fabulosos que por lá estavam. E uns Monet. E uns Picasso. E dois ... bom, podia estar aqui o tempo todo.
Mas tenho que ir. Desculpem, mas os brasileiros já estäo à minha espera: querem ir beber umas cervejas, comer umas tapas e ... pois, é isso: as gajas!
AR
(Näo me enganei. Acho que o teclado espanhol näo tem til)
Está bem, confesso, estou perfeitamente encantado por Madrid. E pelas gajas! Näo sei se já tinha dito.
Ontem dei uma saltada ao Thyssen. Acho que devo ter demorado demasiado tempo embasbacado com os 'El Greco', porque uma funcionária começou a circular insistentemente à minha volta. E uns Rubens fabulosos que por lá estavam. E uns Monet. E uns Picasso. E dois ... bom, podia estar aqui o tempo todo.
Mas tenho que ir. Desculpem, mas os brasileiros já estäo à minha espera: querem ir beber umas cervejas, comer umas tapas e ... pois, é isso: as gajas!
AR
(Näo me enganei. Acho que o teclado espanhol näo tem til)
New kid on the block
«Bom, com 29 anos de paulistanidade me dei conta de que era uma urbana inserida: vivia entre o trabalho e a casa, com sérias tentativas de encaixar a academia em algum momento e invariavelmente atrasada para todo e qualquer compromisso. No meio, ainda tinha o supermercado, a análise e acupuntura para desestressar. As noites, se não eram no Balcão, eram passadas à base de "Friends", "Dawson's Creek" e cia. (ainda não passava "Sex and the City" no Brasil). ...
E aí, não bastando ser uma urbanóide paulistana típica, resolvi que, se era para ser assim, tinha que ser a sério. Então, vim para Londres.»
Seguindo a estrutura tipificada de posts que eu faço - título em inglês/obrigatória citação/ meus bitaites ou simples frase porque estou com preguiça para escrever (não! porque uma frase condensa o génio) - vou fazer bom uso da estrutura para fazer algo nunca experimentado até hoje, algo verdadeiramente inovador: recomendar um blog de uma amiga.
Explico. Há pessoas que conheço hoje cuja a amizade começou via blog. Da sua existência sabemos o que deixam (ante)ver: palavras, links de música, gostos . Com alguma sorte chegamos a vias de facto nalgum café a seguir ao trabalho e desenvolvemos certa empatia. Outras, conhecemos via tradicional: amigos de amigos, amigos da irmã, jantaradas informais ou por ser uma quase inquilina de semi-amigo, que foi como eu conheci a Malu em Barcelona.
A Malu, além de urbana inserida, é, provavelmente, das pessoas mais divertidas que conheço. Acresce ser um dicionário de expressões que cruzam o brasileiro e o inglês ( ninguém merece que foi reduzido ao nobody!), e principalmente, uma boa observadora do quotidiano feminino. Os posts ainda são poucos, mas até agora gosto muito. Muito fofo.
Sofia
E aí, não bastando ser uma urbanóide paulistana típica, resolvi que, se era para ser assim, tinha que ser a sério. Então, vim para Londres.»
Seguindo a estrutura tipificada de posts que eu faço - título em inglês/obrigatória citação/ meus bitaites ou simples frase porque estou com preguiça para escrever (não! porque uma frase condensa o génio) - vou fazer bom uso da estrutura para fazer algo nunca experimentado até hoje, algo verdadeiramente inovador: recomendar um blog de uma amiga.
Explico. Há pessoas que conheço hoje cuja a amizade começou via blog. Da sua existência sabemos o que deixam (ante)ver: palavras, links de música, gostos . Com alguma sorte chegamos a vias de facto nalgum café a seguir ao trabalho e desenvolvemos certa empatia. Outras, conhecemos via tradicional: amigos de amigos, amigos da irmã, jantaradas informais ou por ser uma quase inquilina de semi-amigo, que foi como eu conheci a Malu em Barcelona.
A Malu, além de urbana inserida, é, provavelmente, das pessoas mais divertidas que conheço. Acresce ser um dicionário de expressões que cruzam o brasileiro e o inglês ( ninguém merece que foi reduzido ao nobody!), e principalmente, uma boa observadora do quotidiano feminino. Os posts ainda são poucos, mas até agora gosto muito. Muito fofo.
Sofia
terça-feira, junho 14, 2005
obituário sem comentário
LR
ralações sexuais
Sin City (2005), de Frank Miller e Robert Rodriguez
LR
sábado, junho 11, 2005
e por falar em Star Wars...
Star Wars Horoscope for Aquarius |
You can be cruel and torment people who disagree with you. Deep down, there is a peace-loving, friendly side to you. You have a knack for inflicting pain on people and use your intellect during battle. Star wars character you are most like: Darth Vader |
LR
quinta-feira, junho 09, 2005
away go I must
O Yoda também foi para o exílio no fim do Episode III.
LR
quarta-feira, junho 08, 2005
A mão de Deus
Auguste Rodin
«Que está a dizer, Padre Bartolomeu, onde é que se escreveu que Deus é maneta. Ninguém escreveu: não está escrito, só eu digo que Deus não tem a mão esquerda, porque é à sua direita, que se sentam os eleitos, não se fala nunca da mão esquerda de Deus» - Memorial do Convento, José Saramago.
Vou ver a direita. A esquerda trago comigo (smilie).
Sofia
terça-feira, junho 07, 2005
carta aberta ao engenheiro José Sócrates
por Santana Castilho*
Esta é a terceira carta que lhe dirijo. As duas primeiras, motivadas por um convite que formulou mas não honrou, ficaram descortesmente sem resposta. A forma escolhida para a presente é obviamente retórica e assenta num direito que o Senhor ainda não eliminou: o de manifestar publicamente indignação perante a mentira e as opções injustas e erradas da governação.
Por acção e omissão, o Senhor deu uma boa achega à ideia, que ultimamente ganhou forma na sociedade portuguesa, segundo a qual os funcionários públicos seriam os responsáveis primeiros pelo descalabro das contas do Estado e pelos malefícios da nossa economia. Sendo a administração pública a própria imagem do Estado junto do cidadão comum, é quase masoquista o seu comportamento. Desminta, se puder, o que passo a afirmar:
1. Do Statistics in Focus nº 41/2004, produzido pelo departamento oficial de estatísticas da União Europeia, retira-se que a despesa portuguesa com os salários e benefícios sociais dos funcionários públicos é inferior à mesma despesa média dos restantes países da Zona Euro.
2. Outra publicação da Comissão Europeia, L'Emploi en Europe 2003, permite comparar a percentagem dos empregados do Estado em relação à totalidade dos empregados de cada país da Europa dos 12. E que vemos? Que em média, nessa Europa, 25,6 por cento dos empregados são empregados do Estado, enquanto em Portugal essa percentagem é de apenas 18 por cento. Ou seja, a mais baixa dos 12 países, com excepção da Espanha. As ricas Dinamarca e Suécia têm quase o dobro, respectivamente 32 e 32,6 por cento. Se fosse directa a relação entre o peso da administração pública e o défice, como estaria o défice destes dois países?
3. Um dos slogans mais usados é o do peso das despesas de saúde. A insuspeita OCDE diz que na Europa dos 15 o gasto médio por habitante é de 1458 €. Em Portugal esse gasto é... 758 €. Todos os restantes países, com excepção da Grécia, gastam mais que nós. A França 2730 €, a Áustria 2139, a Irlanda 1688, a Finlândia 1539, a Dinamarca 1799, etc.
Com o anterior não pretendo dizer que a administração pública é um poço de virtudes. Não é. Presta serviços que não justificam o dinheiro que consome. Particularmente na saúde, na educação e na justiça. É um santuário de burocracia, de ineficiência e de ineficácia. Mas, infelizmente para o país, os mesmos paradigmas são transferíveis para o sector privado. Donde a questão não reside no maniqueísmo em que o Senhor e o seu ministro das Finanças caíram, lançando um perigoso anátema sobre o funcionalismo público. A questão reside em corrigir o que está mal, seja público, seja privado. A questão reside em fazer escolhas acertadas. O Senhor optou pelas piores. De entre muitas razões que o espaço não permite, deixe-me que lhe aponte duas:
1. Sobre o sistema de reformas dos funcionários públicos têm-se dito barbaridades. Como é sabido, a taxa social sobre os salários cifra-se em 34,75 por cento (11 por cento pagos pelo trabalhador, 23,75 por cento pagos pelo patrão). Os funcionários públicos pagam os seus 11 por cento. Mas o seu patrão Estado não entrega mensalmente à Caixa Geral de Aposentações, como lhe competia e exige aos demais empregadores, os seus 23,75 por cento. E é assim que as "transferências" orçamentais assumem perante a opinião pública não esclarecida o odioso de serem formas de sugar os dinheiros públicos. Por outro lado, todos os funcionários públicos que entraram ao serviço em Setembro de 1993 já verão a sua reforma calculada segundo os critérios aplicados aos restantes portugueses. Estamos a falar de quase metade dos activos. E o sistema estabilizará nessa base em pouco mais de uma década.
Mas o seu pior erro, Senhor Engenheiro, foi ter escolhido para artífice das iniquidades que subjazem à sua política o ministro Campos Cunha, que não teve pruridos políticos, morais ou éticos por acumular aos seus 7000 euros de salário os 8000 de uma reforma conseguida com seis anos de serviço. E com a agravante de a obscena decisão legal que a suporta ter origem numa proposta de um colégio de que o próprio fazia parte.
2. Quando escolheu aumentar os impostos, viu o défice e ignorou a economia. Foi ao arrepio do que se passa na Europa. A Finlândia dos seu encantos baixou-os em quatro pontos percentuais, a Suécia em 3,3 e a Alemanha em 3,2. Porque não optou por cobrar os 3,2 mil milhões de euros que as empresas privadas devem à segurança social? Porque não pôs em prática um plano para fazer andar a execução das dívidas fiscais pendentes nos tribunais tributários e que somam 20.000 milhões de euros? Porque não actuou do lado dos benefícios fiscais, que em 2004 significaram 1000 milhões de euros? Porque não modificou o quadro legal que permite aos bancos, que duplicaram lucros em época recessiva, pagar apenas 13 por cento de impostos? Porque não revogou a famigerada Reserva Fiscal de Investimento e a iníqua lei que permitiu à PT Telecom não pagar impostos pelos prejuízos que teve... no Brasil, o que, por junto, representará cerca de 6500 milhões de euros de receita fiscal perdida?
A verdade e a coragem foram atributos que Vossa Excelência invocou para se diferenciar dos seus opositores. Quando subiu os impostos, que perante milhões de portugueses garantiu que não subiria, ficámos todos esclarecidos sobre a sua verdade. Quando elegeu os desempregados, os reformados e os funcionários públicos como principais instrumentos de combate ao défice, percebemos de que teor é a sua coragem.
* Professor do ensino superior - no Público de 6/6/2005
CC
Esta é a terceira carta que lhe dirijo. As duas primeiras, motivadas por um convite que formulou mas não honrou, ficaram descortesmente sem resposta. A forma escolhida para a presente é obviamente retórica e assenta num direito que o Senhor ainda não eliminou: o de manifestar publicamente indignação perante a mentira e as opções injustas e erradas da governação.
Por acção e omissão, o Senhor deu uma boa achega à ideia, que ultimamente ganhou forma na sociedade portuguesa, segundo a qual os funcionários públicos seriam os responsáveis primeiros pelo descalabro das contas do Estado e pelos malefícios da nossa economia. Sendo a administração pública a própria imagem do Estado junto do cidadão comum, é quase masoquista o seu comportamento. Desminta, se puder, o que passo a afirmar:
1. Do Statistics in Focus nº 41/2004, produzido pelo departamento oficial de estatísticas da União Europeia, retira-se que a despesa portuguesa com os salários e benefícios sociais dos funcionários públicos é inferior à mesma despesa média dos restantes países da Zona Euro.
2. Outra publicação da Comissão Europeia, L'Emploi en Europe 2003, permite comparar a percentagem dos empregados do Estado em relação à totalidade dos empregados de cada país da Europa dos 12. E que vemos? Que em média, nessa Europa, 25,6 por cento dos empregados são empregados do Estado, enquanto em Portugal essa percentagem é de apenas 18 por cento. Ou seja, a mais baixa dos 12 países, com excepção da Espanha. As ricas Dinamarca e Suécia têm quase o dobro, respectivamente 32 e 32,6 por cento. Se fosse directa a relação entre o peso da administração pública e o défice, como estaria o défice destes dois países?
3. Um dos slogans mais usados é o do peso das despesas de saúde. A insuspeita OCDE diz que na Europa dos 15 o gasto médio por habitante é de 1458 €. Em Portugal esse gasto é... 758 €. Todos os restantes países, com excepção da Grécia, gastam mais que nós. A França 2730 €, a Áustria 2139, a Irlanda 1688, a Finlândia 1539, a Dinamarca 1799, etc.
Com o anterior não pretendo dizer que a administração pública é um poço de virtudes. Não é. Presta serviços que não justificam o dinheiro que consome. Particularmente na saúde, na educação e na justiça. É um santuário de burocracia, de ineficiência e de ineficácia. Mas, infelizmente para o país, os mesmos paradigmas são transferíveis para o sector privado. Donde a questão não reside no maniqueísmo em que o Senhor e o seu ministro das Finanças caíram, lançando um perigoso anátema sobre o funcionalismo público. A questão reside em corrigir o que está mal, seja público, seja privado. A questão reside em fazer escolhas acertadas. O Senhor optou pelas piores. De entre muitas razões que o espaço não permite, deixe-me que lhe aponte duas:
1. Sobre o sistema de reformas dos funcionários públicos têm-se dito barbaridades. Como é sabido, a taxa social sobre os salários cifra-se em 34,75 por cento (11 por cento pagos pelo trabalhador, 23,75 por cento pagos pelo patrão). Os funcionários públicos pagam os seus 11 por cento. Mas o seu patrão Estado não entrega mensalmente à Caixa Geral de Aposentações, como lhe competia e exige aos demais empregadores, os seus 23,75 por cento. E é assim que as "transferências" orçamentais assumem perante a opinião pública não esclarecida o odioso de serem formas de sugar os dinheiros públicos. Por outro lado, todos os funcionários públicos que entraram ao serviço em Setembro de 1993 já verão a sua reforma calculada segundo os critérios aplicados aos restantes portugueses. Estamos a falar de quase metade dos activos. E o sistema estabilizará nessa base em pouco mais de uma década.
Mas o seu pior erro, Senhor Engenheiro, foi ter escolhido para artífice das iniquidades que subjazem à sua política o ministro Campos Cunha, que não teve pruridos políticos, morais ou éticos por acumular aos seus 7000 euros de salário os 8000 de uma reforma conseguida com seis anos de serviço. E com a agravante de a obscena decisão legal que a suporta ter origem numa proposta de um colégio de que o próprio fazia parte.
2. Quando escolheu aumentar os impostos, viu o défice e ignorou a economia. Foi ao arrepio do que se passa na Europa. A Finlândia dos seu encantos baixou-os em quatro pontos percentuais, a Suécia em 3,3 e a Alemanha em 3,2. Porque não optou por cobrar os 3,2 mil milhões de euros que as empresas privadas devem à segurança social? Porque não pôs em prática um plano para fazer andar a execução das dívidas fiscais pendentes nos tribunais tributários e que somam 20.000 milhões de euros? Porque não actuou do lado dos benefícios fiscais, que em 2004 significaram 1000 milhões de euros? Porque não modificou o quadro legal que permite aos bancos, que duplicaram lucros em época recessiva, pagar apenas 13 por cento de impostos? Porque não revogou a famigerada Reserva Fiscal de Investimento e a iníqua lei que permitiu à PT Telecom não pagar impostos pelos prejuízos que teve... no Brasil, o que, por junto, representará cerca de 6500 milhões de euros de receita fiscal perdida?
A verdade e a coragem foram atributos que Vossa Excelência invocou para se diferenciar dos seus opositores. Quando subiu os impostos, que perante milhões de portugueses garantiu que não subiria, ficámos todos esclarecidos sobre a sua verdade. Quando elegeu os desempregados, os reformados e os funcionários públicos como principais instrumentos de combate ao défice, percebemos de que teor é a sua coragem.
* Professor do ensino superior - no Público de 6/6/2005
CC
segunda-feira, junho 06, 2005
honra te seja feita
Ninguém lhe viu um sorriso durante toda a época. Mas que foi a grande revelação, é dado adquirido (coitadito do Moutinho...). E não é preciso rir para ser genial, não é Buster Keaton?
LR
Se calhar falamos do mesmo, não?
«É preciso fechar serviços, cortar duplicações, perseguir o desperdício, promover a eficácia em cada ponto do Sector Público. Isso só sucederá com uma mudança radical de mentalidades. Os funcionários, dirigentes e ministros têm de entender que o inchar dos números só contribui para abater a imagem e a sustentabilidade do próprio funcionalismo. Pelo contrário, uma Administração pequena, competente e eficaz seria prestigiada e influente. Um dos grandes mistérios deste processo é que os sindicatos e governantes tenham aplaudido ou tolerado as sucessivas entradas de funcionários, que só degradaram e desprestigiaram a sua própria função. Aqueles poucos que trabalham e se esforçam por fazer funcionar os serviços são os grandes prejudicados pela massa de parasitas que corrompe o Estado.»
João César das Neves no DN
«Já Francisco Louçã, do Blo-co de Esquerda, defende "a auditoria a todos os serviços públicos, para fazer o levantamento dos desperdícios e melhorar o serviço público. A auditoria deve incluir ministérios (como o Governo aceitou), mas também FSA, Segurança Social e autarquias e regiões. Impacto estimado 1000 milhões de euros ao fim de dois anos, 1500 no terceiro e seguintes"»
Francisco Louça em declarações para o DN
Estas duas transcrições, dispersas na edição de hoje do DN, fizeram-me recordar um programa frente-a-frente na SIC Notícias entre estes dois professores de Economia (um deles meu). Após algum debate mais animado ambos os intervenientes vieram a desembocar na ideia do “orçamento base zero”, ou seja, recorrer a uma análise detalhada de gastos. A ideia seria começar do zero. Temos um orçamento e há que distribui-lo o que implicaria um levantamento do que cada unidade da administração pública deve gastar. Todos estes gastos têm de ser justificados seguindo uma lógica que defende que cada unidade deve viver de acordo com os recursos disponíveis eliminando serviços/programas não económicos. Parece básico mas dá muito trabalho.
Durante o debate JCN concorda com o principio, ou a via, mas achava o exercício demasiado moroso, que este tipo de levantamento levaria anos.
Engraçado mas parece-me que o que ele defende hoje na sua crónica do DN não está longe da ideia (ou implica a sua aplicação em parte). Engraçado que esta ideia seja defendida já há bastante tempo pelo BE.
Há vida para além dos impostos.
Sofia
João César das Neves no DN
«Já Francisco Louçã, do Blo-co de Esquerda, defende "a auditoria a todos os serviços públicos, para fazer o levantamento dos desperdícios e melhorar o serviço público. A auditoria deve incluir ministérios (como o Governo aceitou), mas também FSA, Segurança Social e autarquias e regiões. Impacto estimado 1000 milhões de euros ao fim de dois anos, 1500 no terceiro e seguintes"»
Francisco Louça em declarações para o DN
Estas duas transcrições, dispersas na edição de hoje do DN, fizeram-me recordar um programa frente-a-frente na SIC Notícias entre estes dois professores de Economia (um deles meu). Após algum debate mais animado ambos os intervenientes vieram a desembocar na ideia do “orçamento base zero”, ou seja, recorrer a uma análise detalhada de gastos. A ideia seria começar do zero. Temos um orçamento e há que distribui-lo o que implicaria um levantamento do que cada unidade da administração pública deve gastar. Todos estes gastos têm de ser justificados seguindo uma lógica que defende que cada unidade deve viver de acordo com os recursos disponíveis eliminando serviços/programas não económicos. Parece básico mas dá muito trabalho.
Durante o debate JCN concorda com o principio, ou a via, mas achava o exercício demasiado moroso, que este tipo de levantamento levaria anos.
Engraçado mas parece-me que o que ele defende hoje na sua crónica do DN não está longe da ideia (ou implica a sua aplicação em parte). Engraçado que esta ideia seja defendida já há bastante tempo pelo BE.
Há vida para além dos impostos.
Sofia
domingo, junho 05, 2005
stop the press
Há um novo país na comunidade mundial: chama-se Ilhas Faraó. Confesso que desconhecia por completo a sua existência, até ver hoje a SIC Notícias e os resultados dos grupos de apuramento para o Mundial. Não sei onde fica, mas pelo nome suponho que ao largo do Egipto.
LR
LR
sexta-feira, junho 03, 2005
Divagações XX
Sócrates é um mentiroso. Afinal o Governo é Neo-Liberal. Sócrates é um mentiroso. Afinal o Governo é Neo-Liberal. Sócrates é um mentiroso. Afinal o Governo é Neo-Liberal. Sócrates é um mentiroso. Afinal o Governo é Neo-Liberal.Sócrates é um mentiroso. Afinal o Governo é Neo-Liberal. Sócrates é um mentiroso. Afinal o Governo é Neo-Liberal.Sócrates é um mentiroso. Afinal o Governo é Neo-Liberal. Sócrates é um mentiroso. Afinal o Governo é Neo-Liberal. Sócrates é um mentiroso. Afinal o Governo é Neo-Liberal. Sócrates é um mentiroso. Afinal o Governo é Neo-Liberal. Sócrates é um mentiroso. Afinal o Governo é Neo-Liberal.
AR
AR
quinta-feira, junho 02, 2005
Billy must die
Comecei da pior maneira o aquecimento para o concerto de ontem à noite na Aula Magna do novíssimo e ainda não editado álbum do Ex-Smashing Pumpkins, The Future Embrace: a recordar Siamese Dream. E confesso desde já o meu enviesamento crítico, imperdoável, um enviesamento que me prende ao passado e às minhas memórias. Para mim é um ex-smashing, para mim valem os 3 primeiros álbuns. Há coisas que ficam de tal forma formatadas na nossa concepção do mundo musical que suponho que é mais por teimosia que não os deixamos avançar. Como se fosse traição.
Começámos pontualmente às dez com os Gliss, uma primeira parte sem surpresas, mais rock do mesmo, uma voz inalterada ao longo dos demasiados temas apresentados (imaginem o vocalista dos The Thrills, Conor Deasy, com um rock tipo Interpol mas sem aquele lado pop sunshine...). Único facto interessante, um autêntico jogo de cadeiras entre os 3 membros da banda, agora tocas tu a bateria e eu o baixo, agora vou eu para a guitarra. Só a voz não mudou, infelizmente.
Meia hora para montar palco, a melhor parte do espectáculo da noite anterior, um ecrán digital gigante que reflectia sobre o chão branco e sobre os músicos cores vibrantes e frescas, um jogo de turquesas, rosas. Algo a nível da tour do 100th Window dos Massive Attack ou da visita dos Kraftwerk o ano passado. Entra a estrela, com ar de estrela, posse de estrela e público já estava em fase de apoplexia avançada (engraçado que com o avançar da noite o entusiasmo foi esmorecendo, mas aquilo já não fãs, são apóstolos perante o senhor). Primeira conclusão, o Abílio foi para o electro, o que se veio a revelar uma má escolha. A acompanhá-lo estão Matt Walker na bateria Yamaha, uma criatura que dava ares de Kylie Minogue como go-go girl (Linda Strawberry) e Brian Liesegang nos sintetizadores.
http://www.billycorgan.com/tourdates.html
Demorou aí uma boa meia hora a recuperar do horrível que aquilo soava, a guitarra inalterada de Billy Corgan com arranjos de sintetizadores.
Li o site e compreendo a ânsia do artista em se separar do seu passado, dos Smashing, dos Zwan:
"The early work of the Pumpkins was influenced by the fact that we would go play in Chicago and people would just talk. We found the louder we played, the more people would listen. . .or leave. Then you move into the indie ranks and you start hearing you’re not cool enough or loud enough. You could even say Zwan was a reaction against the Pumpkins.” For Corgan, however, “This is the first time I said, `Okay, I don’t care what the trends are. I don’t care what the modern marketplace says. I’m just going to make the record I want to make.’ That’s it. Every time I came to a fork in the road, I just kept repeating, `I’m gonna do my thing.’”
Reconheço nos sintetizadores as influência mencionadas: os Joy Division (Closer), os Echo, a tentativa falhada em criar uma alter imagem como o Bowie, está lá, mas o que está também o que continua a estar é a guitarra que sempre o caracterizou. E na segunda metade percebi que aquele concerto não era mais que Billy Corgan, que pouco mudou desde os seus tempos de Smashing, a mesma cadência nas músicas, mesmos temas (no mínimo umas letras a puxar mais para um lado romântico/ lamechas na sua pior espécie, recordo frases como: I'm true, I know what I want, You are what you are, We can save the world, pare além do inenarrável cover do "To love somebody" dos Bee Gees) acompanhados pelo som minimalista e simplificado dos sintetizadores. Surpresa: sobra mais guitarra, sobra mais Billy. Retirou-se o bom que era uma banda com corpo, com guitarras (no fundo a presença chata de outras "estrelas") e fica apenas o artista. Pena que a guitarra de Corgan fique bem mal em ambiente electro.
De Smashing nada, nem tal era esperado, à excepção de um único riff do "Today" num tema em rapsódia, já em encore. Escusado será dizer que a sala foi abaixo nesse momento.
Ok, admito que cada um siga o seu caminho. Mas eu não vou atrás.
Sofia
PS: AR, era um oboé não um fagote.
PS(2): a frase que dá título ao post foi proferida pelo artista e como se pode inferir pelo texto acima concordo.
Começámos pontualmente às dez com os Gliss, uma primeira parte sem surpresas, mais rock do mesmo, uma voz inalterada ao longo dos demasiados temas apresentados (imaginem o vocalista dos The Thrills, Conor Deasy, com um rock tipo Interpol mas sem aquele lado pop sunshine...). Único facto interessante, um autêntico jogo de cadeiras entre os 3 membros da banda, agora tocas tu a bateria e eu o baixo, agora vou eu para a guitarra. Só a voz não mudou, infelizmente.
Meia hora para montar palco, a melhor parte do espectáculo da noite anterior, um ecrán digital gigante que reflectia sobre o chão branco e sobre os músicos cores vibrantes e frescas, um jogo de turquesas, rosas. Algo a nível da tour do 100th Window dos Massive Attack ou da visita dos Kraftwerk o ano passado. Entra a estrela, com ar de estrela, posse de estrela e público já estava em fase de apoplexia avançada (engraçado que com o avançar da noite o entusiasmo foi esmorecendo, mas aquilo já não fãs, são apóstolos perante o senhor). Primeira conclusão, o Abílio foi para o electro, o que se veio a revelar uma má escolha. A acompanhá-lo estão Matt Walker na bateria Yamaha, uma criatura que dava ares de Kylie Minogue como go-go girl (Linda Strawberry) e Brian Liesegang nos sintetizadores.
http://www.billycorgan.com/tourdates.html
Demorou aí uma boa meia hora a recuperar do horrível que aquilo soava, a guitarra inalterada de Billy Corgan com arranjos de sintetizadores.
Li o site e compreendo a ânsia do artista em se separar do seu passado, dos Smashing, dos Zwan:
"The early work of the Pumpkins was influenced by the fact that we would go play in Chicago and people would just talk. We found the louder we played, the more people would listen. . .or leave. Then you move into the indie ranks and you start hearing you’re not cool enough or loud enough. You could even say Zwan was a reaction against the Pumpkins.” For Corgan, however, “This is the first time I said, `Okay, I don’t care what the trends are. I don’t care what the modern marketplace says. I’m just going to make the record I want to make.’ That’s it. Every time I came to a fork in the road, I just kept repeating, `I’m gonna do my thing.’”
Reconheço nos sintetizadores as influência mencionadas: os Joy Division (Closer), os Echo, a tentativa falhada em criar uma alter imagem como o Bowie, está lá, mas o que está também o que continua a estar é a guitarra que sempre o caracterizou. E na segunda metade percebi que aquele concerto não era mais que Billy Corgan, que pouco mudou desde os seus tempos de Smashing, a mesma cadência nas músicas, mesmos temas (no mínimo umas letras a puxar mais para um lado romântico/ lamechas na sua pior espécie, recordo frases como: I'm true, I know what I want, You are what you are, We can save the world, pare além do inenarrável cover do "To love somebody" dos Bee Gees) acompanhados pelo som minimalista e simplificado dos sintetizadores. Surpresa: sobra mais guitarra, sobra mais Billy. Retirou-se o bom que era uma banda com corpo, com guitarras (no fundo a presença chata de outras "estrelas") e fica apenas o artista. Pena que a guitarra de Corgan fique bem mal em ambiente electro.
De Smashing nada, nem tal era esperado, à excepção de um único riff do "Today" num tema em rapsódia, já em encore. Escusado será dizer que a sala foi abaixo nesse momento.
Ok, admito que cada um siga o seu caminho. Mas eu não vou atrás.
Sofia
PS: AR, era um oboé não um fagote.
PS(2): a frase que dá título ao post foi proferida pelo artista e como se pode inferir pelo texto acima concordo.
o figo pródigo
A vedeta resolveu regressar à selecção de todos vós. O país comove-se com a boa vontade do herói emigrante que retorna a casa, cheio de sentimentos confusos. Parece que, depois de cansar da selecção e querer dar lugar aos mais novos, se cansou agora do descanso do banco de suplentes do Real Madrid. É mau para a sua imagem. O homem que não gosta sequer de ser substituído (lembram-se da sua saída no Portugal-Inglaterra, durante o Euro?) não pode ficar no banco.
Entretanto, o Real Madrid cansou-se dele e o pesetero precisa de se vender para arranjar novo contrato com outro clube. Na verdade, vender-se (a sua força de trabalho, a sua imagem) é o que Luís Figo faz melhor na vida. Aquele que, em tempos, foi o melhor flanqueador de jogo do mundo nunca se cansou do auto-marketing: para a Coca-Cola, a Pepsi-Cola, a Delta Cafés, a Galp Energia, o Banco Português de Negócios, os relógios Tag Heuer, a Nike, os hipermercados Continente e até para as batatas fritas Lays. Figo precisa de se mostrar. Nem que, para isso, se veja obrigado a jogar à bola.
CC
Entretanto, o Real Madrid cansou-se dele e o pesetero precisa de se vender para arranjar novo contrato com outro clube. Na verdade, vender-se (a sua força de trabalho, a sua imagem) é o que Luís Figo faz melhor na vida. Aquele que, em tempos, foi o melhor flanqueador de jogo do mundo nunca se cansou do auto-marketing: para a Coca-Cola, a Pepsi-Cola, a Delta Cafés, a Galp Energia, o Banco Português de Negócios, os relógios Tag Heuer, a Nike, os hipermercados Continente e até para as batatas fritas Lays. Figo precisa de se mostrar. Nem que, para isso, se veja obrigado a jogar à bola.
CC
Divagações XIX
Sócrates é um mentiroso. Sócrates é um mentiroso. Sócrates é um mentiroso. Sócrates é um mentiroso. Sócrates é um mentiroso. Sócrates é um mentiroso. Sócrates é um mentiroso. Sócrates é um mentiroso. Sócrates é um mentiroso. Sócrates é um mentiroso. Sócrates é um mentiroso. Sócrates é um mentiroso. Sócrates é um mentiroso. Sócrates é um mentiroso. Sócrates é um mentiroso. Sócrates é um mentiroso. Sócrates é um mentiroso. Sócrates é um mentiroso. Sócrates é um mentiroso. Sócrates é um mentiroso. Sócrates é um mentiroso.
AR
AR
quarta-feira, junho 01, 2005
a luz
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Isto tem andado um pouco morto. É verdade. E existe uma razão para isso. É que os membros da 5ª Coluna têm estado em locais onde, infelizmente, a tecnologia não tem ainda acesso. Pois é, custa a acreditar mas ainda existem locais desses no nosso planeta. Passo a descrever por onde cada um tem andado.
O CC procura a iluminação. Um dia destes telefonou-me a dizer que uma luz lhe tinha saído ao caminho e cortado o passo e uma sarça apareceu a arder e essas coisas todas que acontecem quando nos surgem luzes que falam e mandou-o procurar a iluminação. Neste momento encontra-se em Lhasa, no Tibete, onde tenta (ao que me constou ainda sem sucesso) aprender a levitar. Nos tempos livres vai comendo uma mistela qualquer feita de cevada, chá e gordura de iaque e um dia destes parece que viu o Yeti. Mas não tem bem a certeza porque tinha acabado de saír do isolamento onde tinha estado durante duas semanas, na mais completa escuridão, numa gruta qualquer lá perdia no meio de umas penedias. Aguardamos o seu regresso.
O LR enviou-me uma mensagem suspeita a dizer que tinha descoberto que havia pessoas que, afinal, tinham um bom fundo. Julgo que partiu numa expedição para o meio do Atlântico, na tentativa de descer à fossa abissal e descobrir se, de facto, lá existia gente.
A Sofia julgo que se perdeu no último concerto onde esteve. Ao que me constou era o 4º concerto daquela noite e o 27º daquela semana (e ainda só ía na 5ª feira) e constou-me que escorregou para dentro do fagote de um músico zarolho que só sabia tocar xilofone. Estou a tentar localizar o fagote.
E eu ... tenho estado por aqui à espera deles, a ver se aparecem.
AR
O CC procura a iluminação. Um dia destes telefonou-me a dizer que uma luz lhe tinha saído ao caminho e cortado o passo e uma sarça apareceu a arder e essas coisas todas que acontecem quando nos surgem luzes que falam e mandou-o procurar a iluminação. Neste momento encontra-se em Lhasa, no Tibete, onde tenta (ao que me constou ainda sem sucesso) aprender a levitar. Nos tempos livres vai comendo uma mistela qualquer feita de cevada, chá e gordura de iaque e um dia destes parece que viu o Yeti. Mas não tem bem a certeza porque tinha acabado de saír do isolamento onde tinha estado durante duas semanas, na mais completa escuridão, numa gruta qualquer lá perdia no meio de umas penedias. Aguardamos o seu regresso.
O LR enviou-me uma mensagem suspeita a dizer que tinha descoberto que havia pessoas que, afinal, tinham um bom fundo. Julgo que partiu numa expedição para o meio do Atlântico, na tentativa de descer à fossa abissal e descobrir se, de facto, lá existia gente.
A Sofia julgo que se perdeu no último concerto onde esteve. Ao que me constou era o 4º concerto daquela noite e o 27º daquela semana (e ainda só ía na 5ª feira) e constou-me que escorregou para dentro do fagote de um músico zarolho que só sabia tocar xilofone. Estou a tentar localizar o fagote.
E eu ... tenho estado por aqui à espera deles, a ver se aparecem.
AR