terça-feira, setembro 30, 2003
regressos
banda sonora
Hoje tive uma epifania. Estava no meio do trânsito lento do IC19 e começou a chover. Primeiro suavemente, depois com mais intensidade. Fechei as janelas e coloquei o «Waiting For The Moon», dos Tindersticks. Ouvi o belíssimo «My Oblivion» duas ou três vezes e desejei que estivesses a meu lado.
CC
CC
é uma choldra portuguesa, concerteza
O Pedro, meu familiar por afinidade e feroz adversário de Magic the Gathering, chegou à blogosfera. Feliz (felicíssimo) na escolha do título, quiçá demasiado preocupado com a choldra em si. Olha que isto não interessa a ninguém, e já passou o prazo de validade...
LR
LR
segunda-feira, setembro 29, 2003
Abismo
A sala está encerrada numa penumbra pesada, quase negra. A televisão debita imagens que me parecem um caleidoscópio de cores, caras, objectos. O azul predomina enquanto um miúdo de camisola amarela passa rapidamente numa bicicleta maior do que ele. Um homem de barba cospe-me palavras que não entendo, numa canção cuja harmonia me escapa.
Encho novamente o copo e bebo o seu conteúdo de um trago. Um calor violento inunda-me o peito, queima-me até às entranhas que não sabia ter. Tusso, frenético, enquanto tento encher novo copo. Bebo o segundo mais pausadamente. O ardor é agora mais consciente. Sinto-o descer pela garganta e atingir, explodindo, o estômago quase vazio. Os meus olhos turvam-se. As cores misturam-se de forma aleatória. Não compreendo já o azul nem o amarelo. Tudo é uma paleta de cores que parece rodopiar velozmente.
O cintilar da televisão sobressai agora mais na sala escura. O negro parece mais negro e o ar está mais pesado. Pequenas gotas de suor perlam-me a testa, o pescoço, as costas. De um arranco agarro na garrafa ainda uma vez. O líquido viscoso e amarelo chama-me, sereia maldita que me atrai para o abismo. 'Não quero resistir, não quero'. Sinto o corpo rodopiar num frenesim demente. Ouço vozes aqui e ali. Chamam-me umas, riem-se outras, outras ainda falam linguas que não compreendo, atiram-me com palavras que não fazem sentido.
Cores. Tantas cores. Milhares de cores que se misturam para logo se separarem. O abismo é ali. Toda a tensão desapareceu. Apenas a sensação interminável da queda sem fim, sem dor, sem ansiedade.
Abro os olhos. A televisão continua a atirar-me com imagens coloridas que não compreendo. O copo está vazio. Afinal não há sereias.
AR
Encho novamente o copo e bebo o seu conteúdo de um trago. Um calor violento inunda-me o peito, queima-me até às entranhas que não sabia ter. Tusso, frenético, enquanto tento encher novo copo. Bebo o segundo mais pausadamente. O ardor é agora mais consciente. Sinto-o descer pela garganta e atingir, explodindo, o estômago quase vazio. Os meus olhos turvam-se. As cores misturam-se de forma aleatória. Não compreendo já o azul nem o amarelo. Tudo é uma paleta de cores que parece rodopiar velozmente.
O cintilar da televisão sobressai agora mais na sala escura. O negro parece mais negro e o ar está mais pesado. Pequenas gotas de suor perlam-me a testa, o pescoço, as costas. De um arranco agarro na garrafa ainda uma vez. O líquido viscoso e amarelo chama-me, sereia maldita que me atrai para o abismo. 'Não quero resistir, não quero'. Sinto o corpo rodopiar num frenesim demente. Ouço vozes aqui e ali. Chamam-me umas, riem-se outras, outras ainda falam linguas que não compreendo, atiram-me com palavras que não fazem sentido.
Cores. Tantas cores. Milhares de cores que se misturam para logo se separarem. O abismo é ali. Toda a tensão desapareceu. Apenas a sensação interminável da queda sem fim, sem dor, sem ansiedade.
Abro os olhos. A televisão continua a atirar-me com imagens coloridas que não compreendo. O copo está vazio. Afinal não há sereias.
AR
mais Igreja
Concordo contigo, Tolentino: também eu não quero uma Igreja fechada ou indiferente ao mundo. Também me preocupa o divórcio da Igreja com a cultura contemporânea e o desprezo dos modos de vida da sociedade para com a Igreja.
E, sendo a Igreja que amamos universal, nela cabe toda a riqueza da diversidade que nos faz humanos.
Mas, como noutras questões e noutras latitudes, confrange-me assistir à tirania das opiniões. De repente, toda a gente tem uma opinião sobre qualquer assunto, por mais complexo ou afastado da sua realidade que seja. Com uma leviandade pueril, poucos se coíbem de emitir opiniões sobre o buraco de ozono, a reforma do processo executivo, a política agrícola comum, a pedofilia, a arte contemporânea ou a expansão do universo.
Não teremos todos o direito à opinião? Claro que sim. Mas também temos o correlativo dever de usar a razão e fundamentar as opiniões que alegremente vamos distribuindo.
Não me esqueço de uma entrevista televisiva, creio que na TVI, em que uma jornalista inquiria um professor universitário da área das ciências (de física ou química) sobre as radiações de urânio empobrecido nos Balcãs. Depois da explicação científica dada pelo professor, ela comentou: «Pois, mas isso é a sua opinião».
E é esta democracia das opiniões (em que todas se tornam nebulosamente iguais e se anulam entre si) que eu rejeito.
CC
E, sendo a Igreja que amamos universal, nela cabe toda a riqueza da diversidade que nos faz humanos.
Mas, como noutras questões e noutras latitudes, confrange-me assistir à tirania das opiniões. De repente, toda a gente tem uma opinião sobre qualquer assunto, por mais complexo ou afastado da sua realidade que seja. Com uma leviandade pueril, poucos se coíbem de emitir opiniões sobre o buraco de ozono, a reforma do processo executivo, a política agrícola comum, a pedofilia, a arte contemporânea ou a expansão do universo.
Não teremos todos o direito à opinião? Claro que sim. Mas também temos o correlativo dever de usar a razão e fundamentar as opiniões que alegremente vamos distribuindo.
Não me esqueço de uma entrevista televisiva, creio que na TVI, em que uma jornalista inquiria um professor universitário da área das ciências (de física ou química) sobre as radiações de urânio empobrecido nos Balcãs. Depois da explicação científica dada pelo professor, ela comentou: «Pois, mas isso é a sua opinião».
E é esta democracia das opiniões (em que todas se tornam nebulosamente iguais e se anulam entre si) que eu rejeito.
CC
niilista optimista
Este gajo tem piada. Vejam só os estatutos do niilista optimista: «Emitirá opiniões com convicção, mas defenderá o oposto com veemência (...) Será sempre tolerante, mas por vezes não».
Boas vindas.
CC
Boas vindas.
CC
domingo, setembro 28, 2003
estes já não enganam ninguém
Subscrevo o que diz a grande loja do queijo limiano: «que sentir senão nojo quando se vê Gianfranco Fini, o Líder da Aliança Nacional Italiana, ser Convidado de Honra do Congresso de Encerramento de Partido Popular ? ... Os Partidos, tal como as pessoas, definem-se pelos amigos que tem...».
CC
CC
finou-se
Igreja
O meu amigo AR incumbiu-me de comentar as pré-anunciadas medidas do Vaticano para alteração das regras de celebração da eucaristia.
Ainda não o tinha feito por três razões:
1) Do que amo, realço as virtudes e minorizo os defeitos (pelo menos em público);
2) O texto comentado nos media é apenas um rascunho, que dificilmente verá a luz do dia nos termos em que foi enunciado. E, caso venha a ser aprovado, declaro desde já que sou impotentemente contra.
3) Como já referi, sou como o David Byrne («when I have nothing to say, my lips are sealed») e concordo com o CVM («Há coisas de que não falo porque não sei. Há coisas de que não falo porque não devo. Há coisas de que não falo porque não quero. Há coisas de que não falo porque não gosto. O silêncio é uma escola de virtudes»).
Além do mais, já uma voz mais alta disse o que eu penso: «que têm os não-católicos com a Igreja Católica? Rigorosamente nada» e «(...) A comunidade daqueles que partilham da fé não tem de ser alvo de debate público (...) É certo que o Vaticano paga o preço pelo namoro tardio com uma progressiva secularização. Mas se batem palmas ou não, se o prior usa roupa interior rosa-choque sob os paramentos, se o "amén" é mais acentuado na primeira ou segunda sílaba é assunto daqueles que lá estão. Exclusivamente». Nem mais.
No entanto, senti-me obrigado a comentar o post de Tiago Barbosa Ribeiro no blog de esquerda.
Continuo sem perceber por que razão quem faz questão de sublinhar o seu ateismo militante se preocupa tanto com as questões internas da Igreja (a menos, claro, que tenham gosto em dançar e bater palmas quando vão à missa...). O TBR responde que «os ateus, agnósticos e não-católicos deixarão de se preocupar com a Igreja no dia em que esta regrida no seu controlo social». E dá exemplos, com os quais até posso facilmente concordar.
O concubinato Estado/Igreja repugna-me tanto como a qualquer republicano laico, quer do ponto de vista do Estado (a mim, enquanto cidadão), quer do ponto de vista da Igreja (enquanto católico) - mas não creio que a solução seja estabeler novos concubinatos com quantas confissões religiosas existam (nem a isso se chama "igualdade").
A pergunta, porém, mantém-se: que interessa a terceiros a vida interna (administrativa, pastoral, etc.) da Igreja? Ou, afinal, quem quer uma Igreja de Estado - com a qual tenha de se preocupar e na qual deseja intervir?
CC
Ainda não o tinha feito por três razões:
1) Do que amo, realço as virtudes e minorizo os defeitos (pelo menos em público);
2) O texto comentado nos media é apenas um rascunho, que dificilmente verá a luz do dia nos termos em que foi enunciado. E, caso venha a ser aprovado, declaro desde já que sou impotentemente contra.
3) Como já referi, sou como o David Byrne («when I have nothing to say, my lips are sealed») e concordo com o CVM («Há coisas de que não falo porque não sei. Há coisas de que não falo porque não devo. Há coisas de que não falo porque não quero. Há coisas de que não falo porque não gosto. O silêncio é uma escola de virtudes»).
Além do mais, já uma voz mais alta disse o que eu penso: «que têm os não-católicos com a Igreja Católica? Rigorosamente nada» e «(...) A comunidade daqueles que partilham da fé não tem de ser alvo de debate público (...) É certo que o Vaticano paga o preço pelo namoro tardio com uma progressiva secularização. Mas se batem palmas ou não, se o prior usa roupa interior rosa-choque sob os paramentos, se o "amén" é mais acentuado na primeira ou segunda sílaba é assunto daqueles que lá estão. Exclusivamente». Nem mais.
No entanto, senti-me obrigado a comentar o post de Tiago Barbosa Ribeiro no blog de esquerda.
Continuo sem perceber por que razão quem faz questão de sublinhar o seu ateismo militante se preocupa tanto com as questões internas da Igreja (a menos, claro, que tenham gosto em dançar e bater palmas quando vão à missa...). O TBR responde que «os ateus, agnósticos e não-católicos deixarão de se preocupar com a Igreja no dia em que esta regrida no seu controlo social». E dá exemplos, com os quais até posso facilmente concordar.
O concubinato Estado/Igreja repugna-me tanto como a qualquer republicano laico, quer do ponto de vista do Estado (a mim, enquanto cidadão), quer do ponto de vista da Igreja (enquanto católico) - mas não creio que a solução seja estabeler novos concubinatos com quantas confissões religiosas existam (nem a isso se chama "igualdade").
A pergunta, porém, mantém-se: que interessa a terceiros a vida interna (administrativa, pastoral, etc.) da Igreja? Ou, afinal, quem quer uma Igreja de Estado - com a qual tenha de se preocupar e na qual deseja intervir?
CC
sábado, setembro 27, 2003
there is a light that never goes out
Ainda não tinha aqui falado dos Smiths - há absolutos que só o silêncio trata com justiça.
Mas eis que o príncipe dos meus amigos, José Tolentino Mendonça, "linkou" A Quinta Coluna sob o nome mágico de «saudades dos The Smiths».
É a maior honra pública que já me foi feita.
CC
Mas eis que o príncipe dos meus amigos, José Tolentino Mendonça, "linkou" A Quinta Coluna sob o nome mágico de «saudades dos The Smiths».
É a maior honra pública que já me foi feita.
CC
a moral superior dos benfiquistas
O princípio do Outono vem carregado de promessas e elogios: os filósofos da bola, literatas angustiados e sofredores pelo Glorioso, são dos maiores criadores de aforismos da blogosfera lusa (acautele-se, Agustina).
À Quinta Coluna chamam «um caso de coração preso, espírito livre». Haverá melhor louvor que este?
CC
À Quinta Coluna chamam «um caso de coração preso, espírito livre». Haverá melhor louvor que este?
CC
sexta-feira, setembro 26, 2003
Volúpia
Perco-me no verde dos teus olhos,
Nesse mar imenso que me abraça
E me diz, sussurrando, entre escolhos
De espuma, que me quer, me deseja.
Cego na luz do teu sorriso,
Na ternura transbordante de teus lábios
Que me chegam como amantes sábios
E me contam, em sussurros, um segredo.
O teu corpo envolve-me
Em meus sonhos mais ousados
E, morno de aroma, seduz-me.
Entre teus braços, desejos
Que não confesso, assaltam-me.
E vejo-te, enlaçada, entre os meus.
AR
Nesse mar imenso que me abraça
E me diz, sussurrando, entre escolhos
De espuma, que me quer, me deseja.
Cego na luz do teu sorriso,
Na ternura transbordante de teus lábios
Que me chegam como amantes sábios
E me contam, em sussurros, um segredo.
O teu corpo envolve-me
Em meus sonhos mais ousados
E, morno de aroma, seduz-me.
Entre teus braços, desejos
Que não confesso, assaltam-me.
E vejo-te, enlaçada, entre os meus.
AR
intrusos
«Pensar é precisamente abraçar aquela impureza que o mundo repudia», diz o meu amigo José Tolentino Mendonça num novo blog colectivo, que cativa e oferece poesia em cada post.
A blogosfera está completa.
CC
A blogosfera está completa.
CC
the fall
quinta-feira, setembro 25, 2003
selvajaria em Borba: GNR move-se
Na sequência dos nossos posts de 13 de Agosto e de 7 de Setembro, a questão da destruição dos ninhos de andorinhas pela Câmara Municipal de Borba ganhou dimensão pública.
Sabemos agora, através do Notícias Alentejo (que tem a cortesia de nos citar), que a GNR já apurou a autoria (aliás, confessa) da prática da contra-ordenação. Pode ainda ler-se nesse jornal que «foi levantado o auto e enviado ao ICN, a quem cabe a instrução do processo».
A Quinta Coluna sempre ao serviço da Lei e da Ordem.
CC
Sabemos agora, através do Notícias Alentejo (que tem a cortesia de nos citar), que a GNR já apurou a autoria (aliás, confessa) da prática da contra-ordenação. Pode ainda ler-se nesse jornal que «foi levantado o auto e enviado ao ICN, a quem cabe a instrução do processo».
A Quinta Coluna sempre ao serviço da Lei e da Ordem.
CC
mais vale tarde
Por uma coincidência feliz, descubro hoje um blog inteligente, católico e de esquerda (não há que ter medo das palavras).
Junto-me a ele nos parabéns ao Edgar Silva, a quem A Quinta Coluna roubou o lema.
CC
Junto-me a ele nos parabéns ao Edgar Silva, a quem A Quinta Coluna roubou o lema.
CC
quarta-feira, setembro 24, 2003
Chuva
Ele olhou para o Mar. O Mar, sussurrante, trouxe-lhe à memória cenas de um passado que não sabia se longínquo se próximo. O cantar das ondas fê-lo viajar, como o teria feito o cantar das sereias e os olhos dela dançaram à frente dos seus. Eram tão verdes quanto o mar e confundiam-se com ele. Os seus lábios pareciam estar ali mesmo e tentou alcançá-los, tocar-lhes com os seus. Mas não estava lá nada. Só o vento já frio de um fim de tarde de Outono. Sentiu o cheiro dela, vindo não sabia de onde, e lembrou-se das tardes de conversa. De como conversavam e discutiam animadamente e como tudo terminava sempre com o mesmo sorriso. O cheiro dela era tão forte agora que sentiu a urgência de olhar em volta. Estava sozinho na praia vazia. O Mar continuava a cantar só para ele.
Deixou-se cair de costas na areia. As nuvens cerradas, cinzentas, anunciavam chuva. Viajou no tempo, para o dia em que a conhecera, em que tinham saído juntos pela primeira vez, depois para o dia em que a amara pela primeira vez, numa praia como aquela e em que ela lhe sorrira, depois para o dia em que fizeram planos para o futuro, para a sua vida, e ainda para o dia em que ela partira e ele descobrira que afinal lhe queria ter dito aquilo tudo, a queria ter amado naquela praia, queria ter sentido o cheiro dela junto com o seu, queria ter feito planos, mas nada fizera. Apenas a olhava. E sentiu as suas lágrimas misturarem-se, lentamente, com a chuva quando as nuvens juntaram a sua tristeza à dele.
AR
Deixou-se cair de costas na areia. As nuvens cerradas, cinzentas, anunciavam chuva. Viajou no tempo, para o dia em que a conhecera, em que tinham saído juntos pela primeira vez, depois para o dia em que a amara pela primeira vez, numa praia como aquela e em que ela lhe sorrira, depois para o dia em que fizeram planos para o futuro, para a sua vida, e ainda para o dia em que ela partira e ele descobrira que afinal lhe queria ter dito aquilo tudo, a queria ter amado naquela praia, queria ter sentido o cheiro dela junto com o seu, queria ter feito planos, mas nada fizera. Apenas a olhava. E sentiu as suas lágrimas misturarem-se, lentamente, com a chuva quando as nuvens juntaram a sua tristeza à dele.
AR
Depois de a História ter acabado
Uma característica das correntes ideológicas dominantes dos séculos XIX e XX era o seu rigor formal. Espartilhadas por princípios razoavelmente rígidos (embora com variantes, mas também essas rígidas dentro dos seus próprios pressupostos) o seu estudo e análise era relativamente simples (não porque fossem conceitos simples – que normalmente não eram – mas porque existia essa tal formalidade que facilitava o estudo).
As ‘velhas’ ideologias caíram, vítimas inevitáveis do progresso e da evolução do pensamento. As ‘novas’ ideologias, que as estão a substituir, apresentam uma maior fluidez formal e conceptual.
Algumas dessas novas ideologias são ‘versões simplificadas’ das grandes correntes dos dois séculos anteriores. As novas versões do liberalismo económico – parentes pobres e tecnocráticos do liberalismo construído no século XIX e no início do século XX – não prevêem muito mais do que o direito fazer negócios com todos em todo o lado – vulgo globalização – apoiadas em vagos conceitos democráticos, qualquer coisa como o direito dos povos a governarem-se a eles próprios, mas concluindo sempre que esses governos têm que ser concordantes com as suas próprias ideias sob pena de não serem ‘verdadeiramente’ democráticos.
As versões simplificadas do socialismo, presentes em muitos dos movimentos contrários ao fenómeno da globalização, acabam por ser mais movimentos a contrario do que afirmativos. Não que não tenham propostas, note-se, mas porque a sua génese acabou por ser uma espécie de reacção ‘epidermica’ às propostas neo-liberais da globalização.
Para além destas, temos uma miríade de propostas extremistas de direita, numa franja creio que negligenciável das sociedades ocidentais, que têm algum impacto pelo mediatismo das suas acções e não pela sua verdadeira representatividade social e têm normalmente mais pressupostos racistas e menos pressupostos políticos.
Finalmente, a questão dos fundamentalismos. Quanto a mim, a área de análise política mais interessante da actualidade e que marcará as primeiras décadas deste novo século.
Os fundamentalismos, nomeadamente religiosos, apresentam-se como campo fértil de propostas sociais e políticas, com um enquadramento ‘ideológico’ sui generis, porque deficilmente susceptível de debate: os princípios religiosos. Ora a religião é dificilmente racionalizavel – como de resto tudo aquilo que depende da fé – o que torna toda esta questão mais interessante. As correntes ideológicas do século XXI, mais do que campos de batalha intelectual, serão terreno fértil à justificação de conflitos reais entre comunidades, estaduais ou não, que terão sempre razão porque as suas propostas sociais e políticas serão sempre as melhores na medida em que terão uma fundamentação ‘superior’.
Avizinham-se tempos interessantes ...
AR
As ‘velhas’ ideologias caíram, vítimas inevitáveis do progresso e da evolução do pensamento. As ‘novas’ ideologias, que as estão a substituir, apresentam uma maior fluidez formal e conceptual.
Algumas dessas novas ideologias são ‘versões simplificadas’ das grandes correntes dos dois séculos anteriores. As novas versões do liberalismo económico – parentes pobres e tecnocráticos do liberalismo construído no século XIX e no início do século XX – não prevêem muito mais do que o direito fazer negócios com todos em todo o lado – vulgo globalização – apoiadas em vagos conceitos democráticos, qualquer coisa como o direito dos povos a governarem-se a eles próprios, mas concluindo sempre que esses governos têm que ser concordantes com as suas próprias ideias sob pena de não serem ‘verdadeiramente’ democráticos.
As versões simplificadas do socialismo, presentes em muitos dos movimentos contrários ao fenómeno da globalização, acabam por ser mais movimentos a contrario do que afirmativos. Não que não tenham propostas, note-se, mas porque a sua génese acabou por ser uma espécie de reacção ‘epidermica’ às propostas neo-liberais da globalização.
Para além destas, temos uma miríade de propostas extremistas de direita, numa franja creio que negligenciável das sociedades ocidentais, que têm algum impacto pelo mediatismo das suas acções e não pela sua verdadeira representatividade social e têm normalmente mais pressupostos racistas e menos pressupostos políticos.
Finalmente, a questão dos fundamentalismos. Quanto a mim, a área de análise política mais interessante da actualidade e que marcará as primeiras décadas deste novo século.
Os fundamentalismos, nomeadamente religiosos, apresentam-se como campo fértil de propostas sociais e políticas, com um enquadramento ‘ideológico’ sui generis, porque deficilmente susceptível de debate: os princípios religiosos. Ora a religião é dificilmente racionalizavel – como de resto tudo aquilo que depende da fé – o que torna toda esta questão mais interessante. As correntes ideológicas do século XXI, mais do que campos de batalha intelectual, serão terreno fértil à justificação de conflitos reais entre comunidades, estaduais ou não, que terão sempre razão porque as suas propostas sociais e políticas serão sempre as melhores na medida em que terão uma fundamentação ‘superior’.
Avizinham-se tempos interessantes ...
AR
espaço escandalosamente publicitário
Os meus amigos que vendem discos de colecção pediram-me para publicar o seguinte:
«Girls and Boys,
Ó Fialho! presents
(agora imaginem musiquinha de elevador)
A "5ª Mega Feira do Disco – INTERNACIONAL", evento com uma regularidade anual, realizar-se-á nos dias 3, 4 e 5 de Outubro de 2003, no Piso –2 da Gare do Oriente (na continuidade do piso inferior do Centro Comercial Vasco da Gama). Dias 3 e 4 das 11h às 23h; dia 5 das 11h às 20h.
Quanto a nós lá estaremos mais ou menos no sítio do costume, carregados de discos ainda melhores do que o habitual (como se isso fosse possível...), bem dispostos, lavadinhos, atenciosos, graciosos até!
Pois é, devido à escassez de feiras na região da grande Lisboa ultimamente (cancelamento de Cascais incluído) vai mesmo ser um festim maníaco-discófilo de proporções épicas a não perder!
Vai ser disco raro ou descartável, duro ou maleável, versão longa ou em promo, do artista e do cromo, em vinil ou em cd, do anúncio da tv, da idade dos porquê. Vai ser Indie e Metal, vivó eurofestival, viva a miss Portugal, viva os "dobradores" do décimo oitavo canal, vivós "massivos" do telejornal.
E não se esqueçam que contamos com a vossa contribuição/donativo para nos ajudar a pagar os bilhetes do euro 2004
Até breve, Paulo (em representação, obviamente não autorizada, do resto da rapaziada).»
Vão lá, comprem um disquinho aos meninos. Ajudem-nos a libertar-se das drogas e do sexo em grupo.
LR
«Girls and Boys,
Ó Fialho! presents
(agora imaginem musiquinha de elevador)
A "5ª Mega Feira do Disco – INTERNACIONAL", evento com uma regularidade anual, realizar-se-á nos dias 3, 4 e 5 de Outubro de 2003, no Piso –2 da Gare do Oriente (na continuidade do piso inferior do Centro Comercial Vasco da Gama). Dias 3 e 4 das 11h às 23h; dia 5 das 11h às 20h.
Quanto a nós lá estaremos mais ou menos no sítio do costume, carregados de discos ainda melhores do que o habitual (como se isso fosse possível...), bem dispostos, lavadinhos, atenciosos, graciosos até!
Pois é, devido à escassez de feiras na região da grande Lisboa ultimamente (cancelamento de Cascais incluído) vai mesmo ser um festim maníaco-discófilo de proporções épicas a não perder!
Vai ser disco raro ou descartável, duro ou maleável, versão longa ou em promo, do artista e do cromo, em vinil ou em cd, do anúncio da tv, da idade dos porquê. Vai ser Indie e Metal, vivó eurofestival, viva a miss Portugal, viva os "dobradores" do décimo oitavo canal, vivós "massivos" do telejornal.
E não se esqueçam que contamos com a vossa contribuição/donativo para nos ajudar a pagar os bilhetes do euro 2004
Até breve, Paulo (em representação, obviamente não autorizada, do resto da rapaziada).»
Vão lá, comprem um disquinho aos meninos. Ajudem-nos a libertar-se das drogas e do sexo em grupo.
LR
terça-feira, setembro 23, 2003
esclarecimento
O título deste blogue é "A Quinta Coluna" e não "A Quinta Comuna". Obrigado.
LR
LR
lambe-botas
Por um debate sobre a integração
A recente cimeira de Berlim veio relançar (como se não se estivesse em plena discussão do assunto) a questão da construção europeia, do equilíbrio de poderes dentro da União, da Constituição e por aí fora.
Não gostaria de deixar passar esta oportunidade sem lançar, também, algumas achas para a fogueira.
Não partilho, de todo, das posições eurocépticas. O mundo mudou. Mudou muito. E mudou tanto, que a velha questão da soberania já não se coloca. Continuar a falar em independência nacional, no mundo em que vivemos hoje, é o mesmo que gritar que as caravelas não devem partir do Tejo. Já não somos independentes há muito. Provavelmente desde 1580. Não partilhando da opinião daqueles que dizem hoje que 1640 terá sido um erro, não consigo compreender os que vociferam contra a União e a perda da independência e da soberania nacionais. Portugal é um país economicamente atrasado, socialmente atrasado, no que diz respeito à educação é atrasado e militarmente é ainda mais atrasado. Importa o que come, o que bebe, os carros que nos permitem andar de um lado para o outro, o combustível que queimamos, a energia que consumimos, e por aí fora. Alguém me diga, por favor, como é que somos independentes...
As ideias do país voltado para o mar e da nação atlântica não são mais do que mitos. Não temos capacidade económica para competirmos internacionalmente com os países mais desenvolvidos, nem temos capacidade militar para projectar poder e levar a cabo uma efectiva política externa. Alguém me diga, por favor e mais uma vez, como é que somos independentes...
Daqui resulta que, ironicamente, a nossa única alternativa de sobrevivência é a nossa integração sem hesitações no espaço comunitário. Porque, curiosamente, a União representa a única forma de as comunidades mais pequenas, como a portuguesa, poderem influenciar as maiores, como a Alemanha ou a França.
Pertencemos hoje a um espaço económico que se tornará, muito em breve, o terceiro maior do mundo, logo atrás da China e da Índia, em número mas seguramente o maior em capacidade económica. Detemos uma moeda que é credível e forte em termos internacionais (alguém ainda se lembra dessa coisa a que se chamava ‘escudo’?). Uma parte do caminho está, portanto, percorrido.
O que nos falta percorrer (sem dúvida caminho difícil) é a via política. Não será fácil. Mas é, a meu ver, a única solução para podermos enfrentar o futuro. A Constituição Europeia, passo importante na criação de uma verdadeira comunidade política, deve ser vista não como uma ameaça às soberanias (há quanto tempo terão desaparecido?) mas sim como uma oportunidade para avançarmos para a criação de órgãos comunitários verdadeiramente representativos, não já dos interesses dos Estados, mas sim dos interesses dos cidadãos. Dos cidadãos europeus, que somos todos, de Lisboa a Varsóvia (ou Moscovo?). Esse é o caminho.
A identidade dos povos não desaparece com a sua integração. Espanha é um bom exemplo disso. Insistir na tecla da soberania e do passado glorioso é insistir em não encarar a realidade e não perceber que o futuro está à frente, não atrás.
AR
Não gostaria de deixar passar esta oportunidade sem lançar, também, algumas achas para a fogueira.
Não partilho, de todo, das posições eurocépticas. O mundo mudou. Mudou muito. E mudou tanto, que a velha questão da soberania já não se coloca. Continuar a falar em independência nacional, no mundo em que vivemos hoje, é o mesmo que gritar que as caravelas não devem partir do Tejo. Já não somos independentes há muito. Provavelmente desde 1580. Não partilhando da opinião daqueles que dizem hoje que 1640 terá sido um erro, não consigo compreender os que vociferam contra a União e a perda da independência e da soberania nacionais. Portugal é um país economicamente atrasado, socialmente atrasado, no que diz respeito à educação é atrasado e militarmente é ainda mais atrasado. Importa o que come, o que bebe, os carros que nos permitem andar de um lado para o outro, o combustível que queimamos, a energia que consumimos, e por aí fora. Alguém me diga, por favor, como é que somos independentes...
As ideias do país voltado para o mar e da nação atlântica não são mais do que mitos. Não temos capacidade económica para competirmos internacionalmente com os países mais desenvolvidos, nem temos capacidade militar para projectar poder e levar a cabo uma efectiva política externa. Alguém me diga, por favor e mais uma vez, como é que somos independentes...
Daqui resulta que, ironicamente, a nossa única alternativa de sobrevivência é a nossa integração sem hesitações no espaço comunitário. Porque, curiosamente, a União representa a única forma de as comunidades mais pequenas, como a portuguesa, poderem influenciar as maiores, como a Alemanha ou a França.
Pertencemos hoje a um espaço económico que se tornará, muito em breve, o terceiro maior do mundo, logo atrás da China e da Índia, em número mas seguramente o maior em capacidade económica. Detemos uma moeda que é credível e forte em termos internacionais (alguém ainda se lembra dessa coisa a que se chamava ‘escudo’?). Uma parte do caminho está, portanto, percorrido.
O que nos falta percorrer (sem dúvida caminho difícil) é a via política. Não será fácil. Mas é, a meu ver, a única solução para podermos enfrentar o futuro. A Constituição Europeia, passo importante na criação de uma verdadeira comunidade política, deve ser vista não como uma ameaça às soberanias (há quanto tempo terão desaparecido?) mas sim como uma oportunidade para avançarmos para a criação de órgãos comunitários verdadeiramente representativos, não já dos interesses dos Estados, mas sim dos interesses dos cidadãos. Dos cidadãos europeus, que somos todos, de Lisboa a Varsóvia (ou Moscovo?). Esse é o caminho.
A identidade dos povos não desaparece com a sua integração. Espanha é um bom exemplo disso. Insistir na tecla da soberania e do passado glorioso é insistir em não encarar a realidade e não perceber que o futuro está à frente, não atrás.
AR
à atenção do futuro presidente
e se algum desconhecido te oferecer flores...
Comprei, às cegas e apenas por sugestão da Sofia, que não conheço nem nunca me foi apresentada, o último disco dos Tindersticks, «Waiting for the Moon».
Eu, que sempre achei que faltava algo ao som dos Tindersticks, nunca me dispus a ouvi-los com a merecida atenção. Ouço-os agora - e vou recuperar o tempo perdido. «Waiting for the Moon» é um excelente disco e, como ensina a Sofia, «My Oblivion» é de uma beleza única. Eterna.
Obrigado, Sofia.
CC
Eu, que sempre achei que faltava algo ao som dos Tindersticks, nunca me dispus a ouvi-los com a merecida atenção. Ouço-os agora - e vou recuperar o tempo perdido. «Waiting for the Moon» é um excelente disco e, como ensina a Sofia, «My Oblivion» é de uma beleza única. Eterna.
Obrigado, Sofia.
CC
avis
Ainda não referi o breve encontro na Feira Franca da capital da blogosfera com o Poolman, enquanto eu estava a conversar com o meu amigo Sepúlveda. Tudo ao som do competente João Pedro Pais.
Parece que andava por lá o Maranhão, mas não o vimos. Nem os bloguistas da Avis Linda. E o Viegas está de férias.
É urgente um encontro bloguista em Avis.
CC
Parece que andava por lá o Maranhão, mas não o vimos. Nem os bloguistas da Avis Linda. E o Viegas está de férias.
É urgente um encontro bloguista em Avis.
CC
segunda-feira, setembro 22, 2003
hara-kiri
sexta-feira, setembro 19, 2003
bloguices
O meu amigo CC regozija-se com «mais um blog inteligente e de esquerda». Eu, que sou mais prosaico, regozijo-me antes com as vitórias do Benfica e da Ferrari, com os lombos de lagosta do El Gordo, com a pintura de Joaquim Rodrigo, ou com o "Amarcord" de Fellini (já foram ao King?).
Em todo o caso, ser de "esquerda" ou de "direita" na blogosfera parece resumir-se a discutir o 11 de Setembro, as inanidades de Louçã ou Paulo Portas, e outras "questões" do mesmo calibre.
Quando Brederode Santos ou Vasco Pulido Valente chegarem aos blogues, valerá a pena pensar no assunto. Até lá, tenho pouco paciência para os meninos do PP e do Bloco (e este em concreto vai logo citar Fernando Rosas... livra!).
LR
Em todo o caso, ser de "esquerda" ou de "direita" na blogosfera parece resumir-se a discutir o 11 de Setembro, as inanidades de Louçã ou Paulo Portas, e outras "questões" do mesmo calibre.
Quando Brederode Santos ou Vasco Pulido Valente chegarem aos blogues, valerá a pena pensar no assunto. Até lá, tenho pouco paciência para os meninos do PP e do Bloco (e este em concreto vai logo citar Fernando Rosas... livra!).
LR
slow emotion replay
The more I see
the less I know
about all the things I thought were wrong or right
& carved in stone.
So, don't ask me about
War, Religion, or God
Love, Sex, or Death
because....
Everybody knows what's going wrong with the world
but I don't even know what's going on in myself.
You've gotta work out your own salvation
with no explanation to this Earth we fall.
On hands & knees we crawl
and we look up to the stars
and we reach out & pray
to a deaf, dumb & blind God who never explains.
Everybody knows what's going wrong with the world
but I don't even know what's going on in myself.
Lord, I've been here for so long.
I can feel it coming down on me.
I'm just a slow emotion replay of somebody I used to be.
The The, Dusk (1993)
CC
the less I know
about all the things I thought were wrong or right
& carved in stone.
So, don't ask me about
War, Religion, or God
Love, Sex, or Death
because....
Everybody knows what's going wrong with the world
but I don't even know what's going on in myself.
You've gotta work out your own salvation
with no explanation to this Earth we fall.
On hands & knees we crawl
and we look up to the stars
and we reach out & pray
to a deaf, dumb & blind God who never explains.
Everybody knows what's going wrong with the world
but I don't even know what's going on in myself.
Lord, I've been here for so long.
I can feel it coming down on me.
I'm just a slow emotion replay of somebody I used to be.
The The, Dusk (1993)
CC
O erro de Fukuyama
Fukuyama escreveu, em tempos, um livro que intitulou de «O Fim da História e o Último Homem». Obra polémica, como se quer, atirava-nos à cara que a ideologia morrera com o fim da União Soviética e que o capitalismo vencera, mais a sociedade burguesa assente na democracia mais ou menos liberal, pelo que o confronto ideológico chegara ao fim.
Já lá vão, mais coisa menos coisa, dez anos e creio que podemos, agora que mais afastados, conversar um pouco sobre o assunto.
Creio que Fukuyama cometeu um erro de previsão e análise. Vamos por partes.
As grandes correntes ideológicas que atravessaram a Europa e o Mundo nos séculos XIX e XX estão mortas. Todas. A democracia liberal está morta. O socialismo está morto. Ponto final. Reconheço que tirando o caso evidente do socialismo, em que sobrevivem Cuba, Coreia do Norte e essa coisa estranhíssima que é a República Popular da China, não há praticamente mais nada. Já a questão da democracia liberal requer algumas explicações adicionais. A Europa, a América do Norte, o Sudeste Asiático e a Oceânia, são democracias de tipo liberal, com pendor parlamentar ou não. Mas são hoje já apenas um simulacro, um invólucro já vazio de conteúdo. As mudanças que ocorreram nas nossa sociedades, a internet, os media, o desenvolvimento de um espírito apolítico, a oligarquização do poder. Não sei se é mau ou bom, não é isso que está aqui em causa.
Mas, ao mesmo tempo, novas linhas orientadoras da sociedade estão a nascer. Os fundamentalismos são, necessariamente, correntes ideológicas. Com fundamentação muitas vezes religiosa (nem todos os fundamentalismos são religiosos, atente-se), propõem uma nova visão da sociedade. E uma nova visão da sociedade é necessariamente uma visão política, no sentido mais lato do termo. Também a prática economicista e tecnocrática da sociedade ocidental de hoje é uma visão política. O políticamente correcto, tão em voga, é ele próprio uma nova forma de ideologia (pronto, está bem, não é nada, estou só a brincar...).
Em suma, enquanto houver actividade humana enquadrada numa qualquer forma de organização social, teremos que falar em ideologia. Porque esta não se restringe à conformação em grandes sistemas de pensamento.
Aquilo que Fukuyama parece não ter compreendido é que o fim das grandes ideologias não era o fim da história mas, pelo contrário, a libertação de espaço para o aparecimento de novas, porventura mais diversas, correntes ideológicas.
AR
Já lá vão, mais coisa menos coisa, dez anos e creio que podemos, agora que mais afastados, conversar um pouco sobre o assunto.
Creio que Fukuyama cometeu um erro de previsão e análise. Vamos por partes.
As grandes correntes ideológicas que atravessaram a Europa e o Mundo nos séculos XIX e XX estão mortas. Todas. A democracia liberal está morta. O socialismo está morto. Ponto final. Reconheço que tirando o caso evidente do socialismo, em que sobrevivem Cuba, Coreia do Norte e essa coisa estranhíssima que é a República Popular da China, não há praticamente mais nada. Já a questão da democracia liberal requer algumas explicações adicionais. A Europa, a América do Norte, o Sudeste Asiático e a Oceânia, são democracias de tipo liberal, com pendor parlamentar ou não. Mas são hoje já apenas um simulacro, um invólucro já vazio de conteúdo. As mudanças que ocorreram nas nossa sociedades, a internet, os media, o desenvolvimento de um espírito apolítico, a oligarquização do poder. Não sei se é mau ou bom, não é isso que está aqui em causa.
Mas, ao mesmo tempo, novas linhas orientadoras da sociedade estão a nascer. Os fundamentalismos são, necessariamente, correntes ideológicas. Com fundamentação muitas vezes religiosa (nem todos os fundamentalismos são religiosos, atente-se), propõem uma nova visão da sociedade. E uma nova visão da sociedade é necessariamente uma visão política, no sentido mais lato do termo. Também a prática economicista e tecnocrática da sociedade ocidental de hoje é uma visão política. O políticamente correcto, tão em voga, é ele próprio uma nova forma de ideologia (pronto, está bem, não é nada, estou só a brincar...).
Em suma, enquanto houver actividade humana enquadrada numa qualquer forma de organização social, teremos que falar em ideologia. Porque esta não se restringe à conformação em grandes sistemas de pensamento.
Aquilo que Fukuyama parece não ter compreendido é que o fim das grandes ideologias não era o fim da história mas, pelo contrário, a libertação de espaço para o aparecimento de novas, porventura mais diversas, correntes ideológicas.
AR
barnabé
as FARC, o Arafat, o Dalai Lama e a ONU
Recebemos este mail de GS, um amigo radicado no Brasil:
«Estou estupefacto.
Fiquei sabendo da reunião em Manaus entre as FARC e representantes da ONU com a benção do Lula. Mas será que está tudo doido? As FARC vão negociar com a ONU o quê? Será que depois vão juntar-se a Al-Qaeda e a ONU em Malta?
Será que o terrorismo compensa?
Porque é que os problemas da Palestina e das FARC são mais importantes que os do Tibete e dos Curdos?
Porque é que assassinos que rebentam com autocarros e os exércitos da Cocaína S.A. têm mais credibilidade que a luta silenciosa e legítima dos bonzos tibetanos ou dos pobres curdos? No Tibete também há um exército de ocupação. No Tibete também existem “colonatos”. E atentados aos direitos humanos. O que não existe no Tibete são “conversações de paz”, “enviados das NU”, “mediadores independentes” e “imagens de choque” nos telejornais ocidentais.
Porque é que o Arafat tem mais apoios que o Dalai Lama? Porque é que os curdos só servem de carne para canhão iraquiano?
Será que o terrorismo compensa?»
Não sei, GS. Foi o "terrorismo" da Fretilin que "compensou" em Timor?
CC
«Estou estupefacto.
Fiquei sabendo da reunião em Manaus entre as FARC e representantes da ONU com a benção do Lula. Mas será que está tudo doido? As FARC vão negociar com a ONU o quê? Será que depois vão juntar-se a Al-Qaeda e a ONU em Malta?
Será que o terrorismo compensa?
Porque é que os problemas da Palestina e das FARC são mais importantes que os do Tibete e dos Curdos?
Porque é que assassinos que rebentam com autocarros e os exércitos da Cocaína S.A. têm mais credibilidade que a luta silenciosa e legítima dos bonzos tibetanos ou dos pobres curdos? No Tibete também há um exército de ocupação. No Tibete também existem “colonatos”. E atentados aos direitos humanos. O que não existe no Tibete são “conversações de paz”, “enviados das NU”, “mediadores independentes” e “imagens de choque” nos telejornais ocidentais.
Porque é que o Arafat tem mais apoios que o Dalai Lama? Porque é que os curdos só servem de carne para canhão iraquiano?
Será que o terrorismo compensa?»
Não sei, GS. Foi o "terrorismo" da Fretilin que "compensou" em Timor?
CC
quinta-feira, setembro 18, 2003
moral assassinada
Rui Branco, um dos bloguistas do blog dos jovens boys socialistas à procura de jobs, escreve que «falta dizer o óbvio» sobre o assassínio de Anna Lindh: que ela «era uma mulher bonita». Tal como Sérgio Vieira de Mello era um homem bonito.
E daí tira as suas conclusões: «A beleza assassinada tem qualquer coisa de triste, de imoral» (sic).
Pois é. Já o assassinato dos feios e dos pobres é alegre, moralmente aceitável e sem interesse algum.
CC
E daí tira as suas conclusões: «A beleza assassinada tem qualquer coisa de triste, de imoral» (sic).
Pois é. Já o assassinato dos feios e dos pobres é alegre, moralmente aceitável e sem interesse algum.
CC
Última vez ...
O Senhor Engenheiro sem diploma João Hugo Faria responde de forma urbana às críticas que lhe têm sido feitas (pelos vistos não fomos os únicos) à sua maneira de escrever. Parabéns.
Não pretendia voltar a esse assunto, até porque acho que tornei bem claro o que acho das ideias do Senhor Engenheiro sem diploma João Hugo Faria e da sua capacidade literária mas confrontei-me com a ameaça, a páginas tantas, da publicação de um livro. Cito: “Resolvi criar este blog com o objectivo de por um lado transmitir a todos quantos pudessem se interessar, a minha vasta experiência na àrea de Operações de Sistemas, e por outro lado, criar uma especie de diario que servirá oportunamente para a edição de um livro da minha autoria, sobre a matéria em questão.” Isso não. Já bastam os pontapés no português que o Senhor Engenheiro sem diploma João Hugo Faria, no seu blog, insiste em dar. Mas livro? Livro?
Compreendo a sua ânsia em educar o povo, e cito: “Sou uma pessoa muito ocupada e estou aqui a dar um contributo para a Educação deste país. Não tenho tempo para estar a verificar se o que escrevo tem erros”. Embora já tenha mais dificuldade em compreender como pretende contribuir para a educação do país se não sabe escrever. Sim, meu Caro Senhor Engenheiro sem diploma João Hugo Faria, é que os erros que o senhor dá não são daqueles que possa corrigir com uma simples revisão do texto porque, como compreenderá pelos exemplos que já dei e aos quais podia acrescentar mais, são erros de quem não sabe, pura e simplesmente, escrever. Ponto final. Lamento, mas não há volta a dar. Ou volta para a escola primária (e por favor, uma que não seja na América do Sul, para não desaparecerem os registos da sua frequência e do seu, acredito piamente, inegável sucesso) para aprender português ou então, peço-lhe encarecidamente, faça um favor a este país e não publique nada.
Com os melhores cumprimentos.
AR
Não pretendia voltar a esse assunto, até porque acho que tornei bem claro o que acho das ideias do Senhor Engenheiro sem diploma João Hugo Faria e da sua capacidade literária mas confrontei-me com a ameaça, a páginas tantas, da publicação de um livro. Cito: “Resolvi criar este blog com o objectivo de por um lado transmitir a todos quantos pudessem se interessar, a minha vasta experiência na àrea de Operações de Sistemas, e por outro lado, criar uma especie de diario que servirá oportunamente para a edição de um livro da minha autoria, sobre a matéria em questão.” Isso não. Já bastam os pontapés no português que o Senhor Engenheiro sem diploma João Hugo Faria, no seu blog, insiste em dar. Mas livro? Livro?
Compreendo a sua ânsia em educar o povo, e cito: “Sou uma pessoa muito ocupada e estou aqui a dar um contributo para a Educação deste país. Não tenho tempo para estar a verificar se o que escrevo tem erros”. Embora já tenha mais dificuldade em compreender como pretende contribuir para a educação do país se não sabe escrever. Sim, meu Caro Senhor Engenheiro sem diploma João Hugo Faria, é que os erros que o senhor dá não são daqueles que possa corrigir com uma simples revisão do texto porque, como compreenderá pelos exemplos que já dei e aos quais podia acrescentar mais, são erros de quem não sabe, pura e simplesmente, escrever. Ponto final. Lamento, mas não há volta a dar. Ou volta para a escola primária (e por favor, uma que não seja na América do Sul, para não desaparecerem os registos da sua frequência e do seu, acredito piamente, inegável sucesso) para aprender português ou então, peço-lhe encarecidamente, faça um favor a este país e não publique nada.
Com os melhores cumprimentos.
AR
sugestão cinéfila
A vereadora do pelouro da cultura da Câmara Municipal de Lisboa pediu aos organizadores do Festival de Cinema Gay e Lésbico para mudarem o nome da próxima edição do certame para «Festival da Diversidade», sob pena de corte total dos apoios camarários que, ao que parece, já este ano se ficaram apenas pela cedência do Fórum Lisboa para algumas projecções.
Mas, entretanto, a Assembleia Municipal de Lisboa, aprovou uma moção do Bloco de Esquerda, com os votos contra do PPD/PSD, do CDS/PP e do PPM, é claro, e que visa o restabelecimento do patrocínio do Festival para níveis idênticos aos de anos anteriores - presume-se que sem a necessidade da mudança do nome do Festival para outro ainda mais imbecil do que já tem.
Toma-se a liberdade de sugerir um nome que seria mais abrangente e "diversificado" e que, certamente, contaria também com o apoio da maioria do Executivo camarário e, quiçá, do próprio Governo da República: «Festival Catherine Deneuve».
CC
Mas, entretanto, a Assembleia Municipal de Lisboa, aprovou uma moção do Bloco de Esquerda, com os votos contra do PPD/PSD, do CDS/PP e do PPM, é claro, e que visa o restabelecimento do patrocínio do Festival para níveis idênticos aos de anos anteriores - presume-se que sem a necessidade da mudança do nome do Festival para outro ainda mais imbecil do que já tem.
Toma-se a liberdade de sugerir um nome que seria mais abrangente e "diversificado" e que, certamente, contaria também com o apoio da maioria do Executivo camarário e, quiçá, do próprio Governo da República: «Festival Catherine Deneuve».
CC
quarta-feira, setembro 17, 2003
Post aberto a João Hugo Faria
Exmo. Senhor,
Gostaria de lhe dizer que tenho lido com atenção as 'lições' que tem tido a amabilidade de apresentar no seu 'blog'. Devo confessar que o espanto se apodera de mim de cada vez que leio nova intervenção de V.Exª, o que me levou a publicar este 'post aberto'.
Antes de mais, gostaria de fazer alguns comentários à sua forma de escrever.
Para alguém que pretende ser pedagogo, devo dizer-lhe que escreve bastante mal. A sua escrita é seca, por vezes mal pontuada e carece, em regra, de interesse estético tornando-se, mesmo, maçuda. Naturalmente, ninguém tem que ser um exímio comunicador, mas quem tem pretensões, como V.Exª, a sê-lo, então creio que deveria rever a sua técnica. Mas mais grave do que isto, meu caro senhor, são os erros de português que povoam os seus textos. Dois exemplos para não me tornar muito maçador: “Dou mais importancia aqueles que querem aprender alguma coisa, e leiem este blog para se cultivarem” e “Não me lembro agora o nome do melhor programa para fazer backups, mas voltarei e mencionarei-o nesta coluna.” Na primeira frase, gostava de lhe dizer que importância se escreve, como vê, com um acento circunflexo (vulgo ^ ) e ‘lêem’ não se escreve ‘leiem’. Na segunda frase temos a pérola ‘mencionarei-o’ que, como já pode imaginar, está mal escrito, antes sendo ‘mencioná-lo-ei’. A lista estende-se ‘ad nauseam’ pelo seu blog.
Passando da questão do português miserável que V.Exª escreve, gostaria agora de comentar outro assunto. O conteúdo das suas lições.
Evidentemente, ao mestre (no sentido escolástico do termo) cumpre definir o que diz, ainda que possa ser a mais retinta asneira. Por isso, cabe a V.Exª escrever o que bem entender. Mas, para além das lições sobre organização que ministra, tira conclusões que não sei se deverei classificar de absurdas, infundadas ou, simplesmente, idiotas. Como por exemplo, e passo a citar: “Pontos a reter:
- Individuos de raça negra não servem para informática;
- Teste os candidatos "Aspirante a Operador" em diversas fases;
- Utilize os procedimentos nos testes;
- Documente muito bem para não se esquecer de todas as falhas;
- Respeito pela hierarquia é essencial.”
Para além de indivíduos se escrever com acento agudo (vulgo ´ ) no terceiro i, acho extraordinária a sua afirmação de que os indivíduos de raça negra não servem para a informática. Trabalhei durante 12 anos no seu ‘ramo de negócio’ e posso-lhe dizer que não partilho nada da sua opinião. Mas ainda que a sua experiência tivesse sido pior do que a minha, as suas conclusões são genéticas, ou seja, deve considerar que existe algures no mapa genético do ser humano alguma informação que torna uma raça mais apta para fazer alguma coisa do que outra. Diz algures que não é racista mas, e passo a citar: “Lá, como na filial onde trabalho não existe a necessidade de fazer cimento nem acartar com baldes de tijolos, logo não há necessidade de contratar pretos”. Bravo, Sr. João Hugo Faria!
A sua atitude, de resto, vai para além dos ‘meros’ comentários racistas. Estendem-se ao campo da exploração humana, e cito: “Depois de efectuada a primeira triagem, peça um tempo de experiencia aos candidatos a emprego. O minimo é 15 dias durante os quais o candidato a operador tem que mostrar o que vale. E para mim mostrar o que vale é trabalhar pelo menos 12 horas por dia durante esses 15 dias, de forma voluntária.” Assumo, pelo que li escrito por si, que não pagará as horas extraordinárias. Para si não existe, portanto, o respeito pelo indivíduo. Aliás, duvido mesmo que considere trabalhar com pessoas porque, como refere a páginas tantas, e cito: “Quando um recurso falha, é chamado ao meu gabinete e é penalizado ou por mim ou pela manager da equipa de Operações. É muito importante que o recurso perceba que errou e analisemos o que fazer com esse recurso, que pode levar até ao despedimento se for necessário.” Aliás, sendo apenas recursos, imagino que não lhes pague, sequer, ordenado.
Para terminar, algumas notas soltas. O senhor é o exemplo acabado daquilo que um líder não deve ser. Pior. A sua filosofia representa o que de pior a sociedade capitalista tem para oferecer. Pior ainda. Quando li o seu blog senti uma vontade quase avassaladora de me tornar comunista. O senhor não deve saber o que é a motivação, bom relacionamento humano, e criatividade. Lamento, mas V.Exª está condenado ao fracasso, porque não percebeu que o importante, numa organização, são as pessoas e não os ‘recursos’.
AR
Gostaria de lhe dizer que tenho lido com atenção as 'lições' que tem tido a amabilidade de apresentar no seu 'blog'. Devo confessar que o espanto se apodera de mim de cada vez que leio nova intervenção de V.Exª, o que me levou a publicar este 'post aberto'.
Antes de mais, gostaria de fazer alguns comentários à sua forma de escrever.
Para alguém que pretende ser pedagogo, devo dizer-lhe que escreve bastante mal. A sua escrita é seca, por vezes mal pontuada e carece, em regra, de interesse estético tornando-se, mesmo, maçuda. Naturalmente, ninguém tem que ser um exímio comunicador, mas quem tem pretensões, como V.Exª, a sê-lo, então creio que deveria rever a sua técnica. Mas mais grave do que isto, meu caro senhor, são os erros de português que povoam os seus textos. Dois exemplos para não me tornar muito maçador: “Dou mais importancia aqueles que querem aprender alguma coisa, e leiem este blog para se cultivarem” e “Não me lembro agora o nome do melhor programa para fazer backups, mas voltarei e mencionarei-o nesta coluna.” Na primeira frase, gostava de lhe dizer que importância se escreve, como vê, com um acento circunflexo (vulgo ^ ) e ‘lêem’ não se escreve ‘leiem’. Na segunda frase temos a pérola ‘mencionarei-o’ que, como já pode imaginar, está mal escrito, antes sendo ‘mencioná-lo-ei’. A lista estende-se ‘ad nauseam’ pelo seu blog.
Passando da questão do português miserável que V.Exª escreve, gostaria agora de comentar outro assunto. O conteúdo das suas lições.
Evidentemente, ao mestre (no sentido escolástico do termo) cumpre definir o que diz, ainda que possa ser a mais retinta asneira. Por isso, cabe a V.Exª escrever o que bem entender. Mas, para além das lições sobre organização que ministra, tira conclusões que não sei se deverei classificar de absurdas, infundadas ou, simplesmente, idiotas. Como por exemplo, e passo a citar: “Pontos a reter:
- Individuos de raça negra não servem para informática;
- Teste os candidatos "Aspirante a Operador" em diversas fases;
- Utilize os procedimentos nos testes;
- Documente muito bem para não se esquecer de todas as falhas;
- Respeito pela hierarquia é essencial.”
Para além de indivíduos se escrever com acento agudo (vulgo ´ ) no terceiro i, acho extraordinária a sua afirmação de que os indivíduos de raça negra não servem para a informática. Trabalhei durante 12 anos no seu ‘ramo de negócio’ e posso-lhe dizer que não partilho nada da sua opinião. Mas ainda que a sua experiência tivesse sido pior do que a minha, as suas conclusões são genéticas, ou seja, deve considerar que existe algures no mapa genético do ser humano alguma informação que torna uma raça mais apta para fazer alguma coisa do que outra. Diz algures que não é racista mas, e passo a citar: “Lá, como na filial onde trabalho não existe a necessidade de fazer cimento nem acartar com baldes de tijolos, logo não há necessidade de contratar pretos”. Bravo, Sr. João Hugo Faria!
A sua atitude, de resto, vai para além dos ‘meros’ comentários racistas. Estendem-se ao campo da exploração humana, e cito: “Depois de efectuada a primeira triagem, peça um tempo de experiencia aos candidatos a emprego. O minimo é 15 dias durante os quais o candidato a operador tem que mostrar o que vale. E para mim mostrar o que vale é trabalhar pelo menos 12 horas por dia durante esses 15 dias, de forma voluntária.” Assumo, pelo que li escrito por si, que não pagará as horas extraordinárias. Para si não existe, portanto, o respeito pelo indivíduo. Aliás, duvido mesmo que considere trabalhar com pessoas porque, como refere a páginas tantas, e cito: “Quando um recurso falha, é chamado ao meu gabinete e é penalizado ou por mim ou pela manager da equipa de Operações. É muito importante que o recurso perceba que errou e analisemos o que fazer com esse recurso, que pode levar até ao despedimento se for necessário.” Aliás, sendo apenas recursos, imagino que não lhes pague, sequer, ordenado.
Para terminar, algumas notas soltas. O senhor é o exemplo acabado daquilo que um líder não deve ser. Pior. A sua filosofia representa o que de pior a sociedade capitalista tem para oferecer. Pior ainda. Quando li o seu blog senti uma vontade quase avassaladora de me tornar comunista. O senhor não deve saber o que é a motivação, bom relacionamento humano, e criatividade. Lamento, mas V.Exª está condenado ao fracasso, porque não percebeu que o importante, numa organização, são as pessoas e não os ‘recursos’.
AR
quem és tu?
Vi, há dias, o novo filme de Larry Clark, Ken Park - Quem És Tu?, e renovo a pergunta que não abandona o meu espírito: quem somos nós?
Crítica do mestre João Lopes aqui.
CC
Crítica do mestre João Lopes aqui.
CC
é só rir
Não resisto a reproduzir esta pérola que li no Diário de Bordo, com a devida vénia: «Na fachada do Teatro Tivoli em Lisboa, por cima do cartaz da peça patrocinada pela TVI "As Taradas" (com Vítor Espadinha, Artur Garcia, Carla Andrino, Paula Castelar, Sónia Brazão e outras grandes figuras do teatro português) colaram um autocolante com os dizeres "SETEMBRO COMTINUA." É tão bom quando passamos a ter uma prova concreta de que um espectáculo é feito por analfabetos e não temos de nos limitar à nossa opinião.»
LR
LR
continua a ser mais fácil a um camelo...
A Conferência Episcopal Portuguesa emitiu uma nova Carta Pastoral, intitulada Responsabilidade solidária pelo bem comum.
Começando por reafirmar a «missão da Igreja (em) contribuir para a edificação de uma sociedade mais justa e fraterna, mais responsável e solidária», o texto elenca uma série de "pecados sociais" da sociedade portuguesa, que «têm a sua origem primeira no coração da pessoa, quando exclusivamente fechada no seu egoísmo, sem qualquer abertura aos outros seres humanos (e) podem concretizar-se em sectores vitais da sociedade, como a família, a escola e os meios de comunicação social, quando se demitem do seu papel de participar na construção do bem comum, respeitando a dignidade do ser humano» A saber:
a) os egoísmos individualistas, pessoais e grupais;
b) o consumismo, fruto de um modelo de desenvolvimento, fomentado pelos próprios mecanismos da economia, que gera clivagens entre ricos e pobres e gera insensibilidade a valores espirituais;
c) a corrupção;
d) a desarmonia do sistema fiscal, que sobrecarrega um grupo (social);
e) a irresponsabilidade na estrada;
f) a exagerada comercialização do fenómeno desportivo;
g) a exclusão social, gerada pela pobreza, pelo desemprego, pela falta de habitação, pela desigualdade no acesso à saúde e à educação.
Num segundo capítulo, sublinha a importância dos «princípios da doutrina social da Igreja, em particular a dignidade da pessoa humana, o bem comum, a solidariedade e a subsidiariedade», para, de seguida, reflectir sobre a aplicação destes princípios a algumas áreas do bem comum, nomeadamente a educação para a democracia, o mundo do trabalho (que deve ser «digno, justo e reconhecido»), a ética do mercado e dos media, da defesa do ambiente, a sinistralidade rodoviária, a responsabilidade comum pelo pagamento e pelo uso do dinheiro dos impostos, a saúde e a educação:
- «A preocupação pelo bem comum, assente na igualdade, na justiça e na solidariedade, é dever de todos os cidadãos. É a primeira responsabilidade das autoridades públicas. Ninguém pode ficar excluído do bem-estar comum e da participação na vida da comunidade. Todos têm o dever de colaborar e promover o bem-estar da comunidade. Todos têm o direito a dele beneficiar.
O enriquecimento dalguns que provoque exclusão de uma parte da sociedade, é moralmente inaceitável e injusto».
Uma nota para a recuperação da «“opção pelos pobres”, enquanto promoção do bem de todos, sem exclusões nem desigualdades, (que) é a opção pela justiça do bem comum, (e) é o primeiro dever dos cidadãos para que ninguém fique à margem do bem comum, lutando para que todos tenham os meios suficientes para participar na vida da comunidade»;
- um recado ao Governo?: «a economia e o capital devem estar ao serviço da pessoa humana; a competitividade tem de respeitar a dignidade humana; o mercado livre deve ter limites no sentido de respeitar as aspirações e as necessidades humanas essenciais; a dignidade do trabalho permite ao ser humano tornar-se mais humano; as condições de trabalho devem ter em conta os direitos e o bem-estar da família; todos os parceiros do mundo laboral, trabalhadores e empresários, são responsáveis pela produtividade; a empresa é uma comunidade de pessoas»;
- outro?: «A legislação laboral deve garantir o associativismo como fonte de realização da pessoa e a empresa como autêntica comunidade de pessoas com funções distintas mas complementares, todos capazes de participar activamente da vida da empresa»;
- um recado ao patronato?: «Queremos afirmar muito claramente que não é aceitável que haja salários injustos e inadequados, que não sejam respeitadas as condições desejáveis de higiene e segurança nos locais de trabalho, que se imponham horários de trabalho que não respeitam as necessidades de descanso, designadamente ao domingo, formação e cultura e satisfação de compromissos familiares dos trabalhadores, que se abuse da precariedade do vínculo laboral e se explore o trabalho indocumentado e irregular, que se fuja aos impostos e às contribuições para a segurança social»;
- outro?: «Não se pode conceber um mercado livre sem limites. Tal é incompatível com os princípios orientadores da lei natural, da justiça social, dos direitos humanos e do bem comum, sempre afirmados pela doutrina social da Igreja».
- mais recados ao Governo?: «No momento actual repleto de grandes dificuldades, em matéria de equilíbrio das contas públicas e disciplina orçamental, reconhece-se que o esforço da redução das despesas é benéfico quando se trata de despesas supérfluas, mas é perturbador quando põe em causa o funcionamento harmónico e equilibrado das instituições e a prestação de serviços essenciais com qualidade a toda a população e em especial aos mais carenciados.
Quanto ao aumento da receita, a tarefa tem sido dificultada, sobretudo pelas dissimulações e fraudes fiscais por parte dos cidadãos e grupos económicos, fruto dos seus egoísmos individualistas e contrárias à solidariedade social indispensável ao bem comum».
Capitalistas, tremei: ides arder no fogo do inferno!
Por fim, são também enumerados os sinais de participação solidária, que «convidam a alimentar a esperança como dinamismo gerador de uma nova atitude de empenhamento na comunidade»:
a) uma nova atitude perante os problemas, que se exprime no discernimento crítico dos problemas sociais, na denúncia de todas as formas de exclusão e de egoísmo e na participação solidária e responsável nas soluções;
b) a tomada de consciência da sociedade como comunidade cultural;
c) a promoção de todas as formas de educação para a vida, para o ambiente, para os valores, para a cidadania, para a democracia, para a solidariedade e para o bem comum;
d) o incremento de tantas formas de voluntariado, com poder efectivo de intervenção social;
e) a responsabilidade participativa de todos no mundo da saúde, da habitação, da escola, da comunicação social, do emprego, da economia, da política e da justiça;
f) a busca da nova identidade portuguesa, dinâmica e em construção, aberta a outros valores e culturas, capaz de construir pontes culturais com outros povos;
g) a construção de uma Europa baseada nos valores culturais e espirituais.
Num momento em que é tão pobre a reflexão política sobre a sociedade actual, tão deprimente o estado da nação e tão redutor e monolítico o discurso dos responsáveis públicos do nosso país, é uma lufada de ar fresco este documento da Igreja. Não trazendo propriamente novidades doutrinais ou pastorais, é oportuno o relembrar dos princípios da dignidade da pessoa humana, da busca do bem comum como horizonte da vida social e da solidariedade e subsidiariedade como virtudes cristãs aos decisores políticos. E é um alento de esperança o incentivo a uma maior participação de todos na construção de uma sociedade que se quer mais justa, fraterna e solidária.
As saudades que eu tinha da minha Igreja!
CC
Começando por reafirmar a «missão da Igreja (em) contribuir para a edificação de uma sociedade mais justa e fraterna, mais responsável e solidária», o texto elenca uma série de "pecados sociais" da sociedade portuguesa, que «têm a sua origem primeira no coração da pessoa, quando exclusivamente fechada no seu egoísmo, sem qualquer abertura aos outros seres humanos (e) podem concretizar-se em sectores vitais da sociedade, como a família, a escola e os meios de comunicação social, quando se demitem do seu papel de participar na construção do bem comum, respeitando a dignidade do ser humano» A saber:
a) os egoísmos individualistas, pessoais e grupais;
b) o consumismo, fruto de um modelo de desenvolvimento, fomentado pelos próprios mecanismos da economia, que gera clivagens entre ricos e pobres e gera insensibilidade a valores espirituais;
c) a corrupção;
d) a desarmonia do sistema fiscal, que sobrecarrega um grupo (social);
e) a irresponsabilidade na estrada;
f) a exagerada comercialização do fenómeno desportivo;
g) a exclusão social, gerada pela pobreza, pelo desemprego, pela falta de habitação, pela desigualdade no acesso à saúde e à educação.
Num segundo capítulo, sublinha a importância dos «princípios da doutrina social da Igreja, em particular a dignidade da pessoa humana, o bem comum, a solidariedade e a subsidiariedade», para, de seguida, reflectir sobre a aplicação destes princípios a algumas áreas do bem comum, nomeadamente a educação para a democracia, o mundo do trabalho (que deve ser «digno, justo e reconhecido»), a ética do mercado e dos media, da defesa do ambiente, a sinistralidade rodoviária, a responsabilidade comum pelo pagamento e pelo uso do dinheiro dos impostos, a saúde e a educação:
- «A preocupação pelo bem comum, assente na igualdade, na justiça e na solidariedade, é dever de todos os cidadãos. É a primeira responsabilidade das autoridades públicas. Ninguém pode ficar excluído do bem-estar comum e da participação na vida da comunidade. Todos têm o dever de colaborar e promover o bem-estar da comunidade. Todos têm o direito a dele beneficiar.
O enriquecimento dalguns que provoque exclusão de uma parte da sociedade, é moralmente inaceitável e injusto».
Uma nota para a recuperação da «“opção pelos pobres”, enquanto promoção do bem de todos, sem exclusões nem desigualdades, (que) é a opção pela justiça do bem comum, (e) é o primeiro dever dos cidadãos para que ninguém fique à margem do bem comum, lutando para que todos tenham os meios suficientes para participar na vida da comunidade»;
- um recado ao Governo?: «a economia e o capital devem estar ao serviço da pessoa humana; a competitividade tem de respeitar a dignidade humana; o mercado livre deve ter limites no sentido de respeitar as aspirações e as necessidades humanas essenciais; a dignidade do trabalho permite ao ser humano tornar-se mais humano; as condições de trabalho devem ter em conta os direitos e o bem-estar da família; todos os parceiros do mundo laboral, trabalhadores e empresários, são responsáveis pela produtividade; a empresa é uma comunidade de pessoas»;
- outro?: «A legislação laboral deve garantir o associativismo como fonte de realização da pessoa e a empresa como autêntica comunidade de pessoas com funções distintas mas complementares, todos capazes de participar activamente da vida da empresa»;
- um recado ao patronato?: «Queremos afirmar muito claramente que não é aceitável que haja salários injustos e inadequados, que não sejam respeitadas as condições desejáveis de higiene e segurança nos locais de trabalho, que se imponham horários de trabalho que não respeitam as necessidades de descanso, designadamente ao domingo, formação e cultura e satisfação de compromissos familiares dos trabalhadores, que se abuse da precariedade do vínculo laboral e se explore o trabalho indocumentado e irregular, que se fuja aos impostos e às contribuições para a segurança social»;
- outro?: «Não se pode conceber um mercado livre sem limites. Tal é incompatível com os princípios orientadores da lei natural, da justiça social, dos direitos humanos e do bem comum, sempre afirmados pela doutrina social da Igreja».
- mais recados ao Governo?: «No momento actual repleto de grandes dificuldades, em matéria de equilíbrio das contas públicas e disciplina orçamental, reconhece-se que o esforço da redução das despesas é benéfico quando se trata de despesas supérfluas, mas é perturbador quando põe em causa o funcionamento harmónico e equilibrado das instituições e a prestação de serviços essenciais com qualidade a toda a população e em especial aos mais carenciados.
Quanto ao aumento da receita, a tarefa tem sido dificultada, sobretudo pelas dissimulações e fraudes fiscais por parte dos cidadãos e grupos económicos, fruto dos seus egoísmos individualistas e contrárias à solidariedade social indispensável ao bem comum».
Capitalistas, tremei: ides arder no fogo do inferno!
Por fim, são também enumerados os sinais de participação solidária, que «convidam a alimentar a esperança como dinamismo gerador de uma nova atitude de empenhamento na comunidade»:
a) uma nova atitude perante os problemas, que se exprime no discernimento crítico dos problemas sociais, na denúncia de todas as formas de exclusão e de egoísmo e na participação solidária e responsável nas soluções;
b) a tomada de consciência da sociedade como comunidade cultural;
c) a promoção de todas as formas de educação para a vida, para o ambiente, para os valores, para a cidadania, para a democracia, para a solidariedade e para o bem comum;
d) o incremento de tantas formas de voluntariado, com poder efectivo de intervenção social;
e) a responsabilidade participativa de todos no mundo da saúde, da habitação, da escola, da comunicação social, do emprego, da economia, da política e da justiça;
f) a busca da nova identidade portuguesa, dinâmica e em construção, aberta a outros valores e culturas, capaz de construir pontes culturais com outros povos;
g) a construção de uma Europa baseada nos valores culturais e espirituais.
Num momento em que é tão pobre a reflexão política sobre a sociedade actual, tão deprimente o estado da nação e tão redutor e monolítico o discurso dos responsáveis públicos do nosso país, é uma lufada de ar fresco este documento da Igreja. Não trazendo propriamente novidades doutrinais ou pastorais, é oportuno o relembrar dos princípios da dignidade da pessoa humana, da busca do bem comum como horizonte da vida social e da solidariedade e subsidiariedade como virtudes cristãs aos decisores políticos. E é um alento de esperança o incentivo a uma maior participação de todos na construção de uma sociedade que se quer mais justa, fraterna e solidária.
As saudades que eu tinha da minha Igreja!
CC
terça-feira, setembro 16, 2003
Portugal
Também recebemos mails simpáticos e inteligentes. Como este, de HR:
«Concordo com algumas questões de que fala, mas acho que é mau falarmos mal de Portugal como se melhor fosse pertencermos a Espanha. Eu prezo muito a minha nacionalidade e se os espanhóis tem um nível de vida cerca de 20% superior (dizem as estatísticas) vamos ajoelharmo-nos tão repentinamente? Que personalidade é a nossa? Se calhar falta-nos orgulho no que somos e isso constrói-se no dia-a-dia dignificando-nos a nós mesmos. Fica aqui a minha opinião, se calhar um pouco lateral à de Olivença mas o artigo me instou a escrever-lhe.
Atentamente
HR»
Obrigado, HR.
Respondemos-lhe:
«Concordo consigo em absoluto, HR.
Prezo muito a dignidade e o sacrifício das gerações que nos precederam e que sempre lutaram pela nossa independência política face ao peso de Castela, que subjugou as restantes nações que constituem o Estado Espanhol, e de que nós nos conseguimos libertar.
O meu post pretendia apenas ser um irónico comentário aos objectivos do «Grupo dos Amigos de Olivença», que entendo serem anacrónicos e despropositados, mas nunca quis pôr em causa a independência do nosso país, que tenho por um dado adquirido e fundamental das nossas identidade e consciência colectivas».
CC
«Concordo com algumas questões de que fala, mas acho que é mau falarmos mal de Portugal como se melhor fosse pertencermos a Espanha. Eu prezo muito a minha nacionalidade e se os espanhóis tem um nível de vida cerca de 20% superior (dizem as estatísticas) vamos ajoelharmo-nos tão repentinamente? Que personalidade é a nossa? Se calhar falta-nos orgulho no que somos e isso constrói-se no dia-a-dia dignificando-nos a nós mesmos. Fica aqui a minha opinião, se calhar um pouco lateral à de Olivença mas o artigo me instou a escrever-lhe.
Atentamente
HR»
Obrigado, HR.
Respondemos-lhe:
«Concordo consigo em absoluto, HR.
Prezo muito a dignidade e o sacrifício das gerações que nos precederam e que sempre lutaram pela nossa independência política face ao peso de Castela, que subjugou as restantes nações que constituem o Estado Espanhol, e de que nós nos conseguimos libertar.
O meu post pretendia apenas ser um irónico comentário aos objectivos do «Grupo dos Amigos de Olivença», que entendo serem anacrónicos e despropositados, mas nunca quis pôr em causa a independência do nosso país, que tenho por um dado adquirido e fundamental das nossas identidade e consciência colectivas».
CC
Cinzento
Persigo uma sombra!
Persigo-a cambaleante e trôpego.
Corro atrás dela insane e sôfrego.
Fugidia, esconde-se na penumbra.
Não me chega a luz.
A sombra à minha volta tudo reduz
Ao cinzento indistinto
Que menos vejo do que sinto.
Não grito! A voz já não sai.
Presa, sufocada, incapaz
De se expandir na espessura do ar.
Não sei se meu corpo cai,
Se persegue ainda esse sonho fugaz
Que me ilude, foge, quer brincar.
AR
Persigo-a cambaleante e trôpego.
Corro atrás dela insane e sôfrego.
Fugidia, esconde-se na penumbra.
Não me chega a luz.
A sombra à minha volta tudo reduz
Ao cinzento indistinto
Que menos vejo do que sinto.
Não grito! A voz já não sai.
Presa, sufocada, incapaz
De se expandir na espessura do ar.
Não sei se meu corpo cai,
Se persegue ainda esse sonho fugaz
Que me ilude, foge, quer brincar.
AR
segunda-feira, setembro 15, 2003
de que falamos quando falamos de amor
Leio «O Fim da Aventura», de Graham Greene, nesta edição, com prefácio e tradução de Jorge de Sena.
«O Fim da Aventura» é uma das obras maiores da literatura do século XX. É um romance de amor perfeito, comovente e impecavelmente bem escrito. Devia ser de leitura obrigatória nas escolas. E nas nossas vidas.
«- Não há que ter tanto medo. O amor não acaba. Só porque deixámos de nos ver...
(...)
- Querido, querido. As pessoas amam Deus, não amam, a vida inteira, sem O verem nunca?
- Não é um amor como o nosso.
- Às vezes julgo que não há outro amor.
(...)
Enquanto amava Maurice, amei Henry; e agora, que sou o que chamam uma boa alma, não amo ninguém.
(...)
- Também é capaz de explicar o amor?
- Pois sou. Nalguns, o desejo de possuir, como a avareza. Noutros, o desejo de entregar-se, perder o sentido da responsabilidade, o gosto de ser cortejado. Às vezes, apenas uma vontade de poder falar, aliviar o espírito com alguém que não se aborrecerá. O desejo de encontrar outra vez um pai ou uma mãe. E, é claro, subjacente a tudo, o impulso biológico.
É bem verdade, pensei eu, mas não haverá algo por cima de tudo isso? Tudo isso fui descobrindo em mim, em Maurice também, e, todavia, por muito que avançasse, não cheguei ao fim.»
Aproveitem a oportunidade. Gastem os 5 euros mais bem gastos da vossa vida.
CC
«O Fim da Aventura» é uma das obras maiores da literatura do século XX. É um romance de amor perfeito, comovente e impecavelmente bem escrito. Devia ser de leitura obrigatória nas escolas. E nas nossas vidas.
«- Não há que ter tanto medo. O amor não acaba. Só porque deixámos de nos ver...
(...)
- Querido, querido. As pessoas amam Deus, não amam, a vida inteira, sem O verem nunca?
- Não é um amor como o nosso.
- Às vezes julgo que não há outro amor.
(...)
Enquanto amava Maurice, amei Henry; e agora, que sou o que chamam uma boa alma, não amo ninguém.
(...)
- Também é capaz de explicar o amor?
- Pois sou. Nalguns, o desejo de possuir, como a avareza. Noutros, o desejo de entregar-se, perder o sentido da responsabilidade, o gosto de ser cortejado. Às vezes, apenas uma vontade de poder falar, aliviar o espírito com alguém que não se aborrecerá. O desejo de encontrar outra vez um pai ou uma mãe. E, é claro, subjacente a tudo, o impulso biológico.
É bem verdade, pensei eu, mas não haverá algo por cima de tudo isso? Tudo isso fui descobrindo em mim, em Maurice também, e, todavia, por muito que avançasse, não cheguei ao fim.»
Aproveitem a oportunidade. Gastem os 5 euros mais bem gastos da vossa vida.
CC
mais amigos destes
Finalmente recebemos um hate mail. É de MR, que parece ser um amigo dos amigos de Olivença e inimigos da população de Olivença .
Aqui se reproduz o seu conteúdo, de elevada educação e inexcedível tolerância:
«Escrevo só para lhe dizer que a sua página ou o seu blog é simplesmente um monte de esterco.
Em especial no que se refere à Integridade Territorial do seu suposto País que tanto parece prezar, está bem à vista o nível de indignidade moral a que certos indivíduos chegam.
A sua 5.ª coluna é uma retrete onde você próprio chafurda.
Saudações anti-energúmenos.
MR»
Obrigado por aqui chafurdar connosco, MR.
Volte sempre.
CC
Aqui se reproduz o seu conteúdo, de elevada educação e inexcedível tolerância:
«Escrevo só para lhe dizer que a sua página ou o seu blog é simplesmente um monte de esterco.
Em especial no que se refere à Integridade Territorial do seu suposto País que tanto parece prezar, está bem à vista o nível de indignidade moral a que certos indivíduos chegam.
A sua 5.ª coluna é uma retrete onde você próprio chafurda.
Saudações anti-energúmenos.
MR»
Obrigado por aqui chafurdar connosco, MR.
Volte sempre.
CC
Brinquedos pedófilos?
Ele há frases lindas...
domingo, setembro 14, 2003
com amigos destes...
A caixa de correio d’A Quinta Coluna é periodicamente abastecida com mails do auto-denominado Grupo dos Amigos de Olivença. Não sei por que razão resolveram brindar-nos com notícias e comunicados sobre Olivença (será por termos ligações ao Alentejo?), mas não deixo de ficar surpreendido com o teor dos mesmos.
Parece que «a CIA reconhece o diferendo entre Portugal e Espanha» sobre Olivença (mas qual diferendo?) e que a presença desta agremiação na Festa do Avante foi «bem acolhida». Sim, e então?
O que terá feito a tranquila população extremenha para merecer tamanho ódio destes amigos da onça? Qual será a razão para que este grupo de desocupados (que não devem ter muito mais que fazer para se entreterem com estas miudezas e que provavelmente vivem confortavelmente longe do território em causa) queira tanto mal àquela pobre gente? Terão consciência da crueldade do propósito da sua luta?
Então querem que a população de Olivença seja portuguesa? Alentejana? Integrante do Estado Português? Governada pelo Durão Barroso? E que troquem o Rey pelo Jorge Sampaio? E que passem a ter um campeonato de futebol de terceira categoria? E uma economia totalmente avassalada a Castela? Num país sem pescas, agricultura ou indústria? Isso é coisa que se deseje a algum europeu?
Bem diz o F. J. Viegas que, em comparação com os vizinhos deste lado da fronteira, eles são felizardos: «têm melhor assistência médica do que nós, o sistema de ensino é melhor, estão mais próximos de Cáceres (que tem uma plaza mayor bonita, melhores cervejarias e restaurantes do que se supõe, livrarias, uma universidade muito aceitável, campus universitário decente e um grau de desenvolvimento que nunca pôs em causa a pacatez da cidade) e de Madrid, e dispuseram-se a consertar a ponte luso-espanhola sem estar à espera da burocracia portuguesa».
Alisto-me já na Liga dos Amigos dos Cidadãos de Olivença, proposta pelo Aviz, com o objectivo de impedir um retorno de Olivença ao domínio português.
CC
Parece que «a CIA reconhece o diferendo entre Portugal e Espanha» sobre Olivença (mas qual diferendo?) e que a presença desta agremiação na Festa do Avante foi «bem acolhida». Sim, e então?
O que terá feito a tranquila população extremenha para merecer tamanho ódio destes amigos da onça? Qual será a razão para que este grupo de desocupados (que não devem ter muito mais que fazer para se entreterem com estas miudezas e que provavelmente vivem confortavelmente longe do território em causa) queira tanto mal àquela pobre gente? Terão consciência da crueldade do propósito da sua luta?
Então querem que a população de Olivença seja portuguesa? Alentejana? Integrante do Estado Português? Governada pelo Durão Barroso? E que troquem o Rey pelo Jorge Sampaio? E que passem a ter um campeonato de futebol de terceira categoria? E uma economia totalmente avassalada a Castela? Num país sem pescas, agricultura ou indústria? Isso é coisa que se deseje a algum europeu?
Bem diz o F. J. Viegas que, em comparação com os vizinhos deste lado da fronteira, eles são felizardos: «têm melhor assistência médica do que nós, o sistema de ensino é melhor, estão mais próximos de Cáceres (que tem uma plaza mayor bonita, melhores cervejarias e restaurantes do que se supõe, livrarias, uma universidade muito aceitável, campus universitário decente e um grau de desenvolvimento que nunca pôs em causa a pacatez da cidade) e de Madrid, e dispuseram-se a consertar a ponte luso-espanhola sem estar à espera da burocracia portuguesa».
Alisto-me já na Liga dos Amigos dos Cidadãos de Olivença, proposta pelo Aviz, com o objectivo de impedir um retorno de Olivença ao domínio português.
CC
quinta-feira, setembro 11, 2003
O abuso da indemnização
A Igreja Católica, nos Estados Unidos, chegou a acordo com as vítimas de abusos sexuais levados a cabo por padres daquela confissão religiosa durante largos anos. Abusos esses com conhecimento, ao que sabe, da hierarquia, que abafou sempre que possível esses acontecimentos.
O acordo, ao que foi divulgado, implica o desembolso de qualquer coisa como €85 milhões, recebendo cada um dos abusados entre €80.000 e €300.000.
Devo confessar que tudo isto me deixou espantado, estarrecido e revoltado.
Espantado, porque questões deste tipo se resolvem com dinheiro. Estarrecido porque questões deste tipo se resolvem com dinheiro. Revoltado porque questões deste tipo se resolvem com dinheiro.
Vejamos.
Eu tenho para mim que quando falamos de casos de abuso sexual estamos a falar de questões que afectam o foro íntimo e psicológico do indivíduo. Que o afectam, provavelmente, durante toda a vida e que, em algumas situações, o impedem de levar uma vida normal. Nestas situações, um aspecto fundamental para ajudar a ultrapassar as situações que possam eventualmente surgir é o julgamento e a condenação do abusador.
Quando o dinheiro vem resolver o problema pergunto-me se estamos perante um caso de abuso ou de prostituição. Quando o dinheiro, aparentemente, faz desaparecer o crime e a vítima deixa de se preocupar com o castigo do agressor, porque este pagou, então com direito continuaremos a falar em vítima? Numa situação destas, como é que se pode permitir que haja acordo entre as partes e se pode aceitar que os criminosos deixem de ser levados a julgamento e, determinando-se a sua responsabilidade, deixem de ser condenados e de pagar pelos crimes cometidos?
Será que o processo 'Casa Pia' terminará, também, com um acordo monetário?
AR
O acordo, ao que foi divulgado, implica o desembolso de qualquer coisa como €85 milhões, recebendo cada um dos abusados entre €80.000 e €300.000.
Devo confessar que tudo isto me deixou espantado, estarrecido e revoltado.
Espantado, porque questões deste tipo se resolvem com dinheiro. Estarrecido porque questões deste tipo se resolvem com dinheiro. Revoltado porque questões deste tipo se resolvem com dinheiro.
Vejamos.
Eu tenho para mim que quando falamos de casos de abuso sexual estamos a falar de questões que afectam o foro íntimo e psicológico do indivíduo. Que o afectam, provavelmente, durante toda a vida e que, em algumas situações, o impedem de levar uma vida normal. Nestas situações, um aspecto fundamental para ajudar a ultrapassar as situações que possam eventualmente surgir é o julgamento e a condenação do abusador.
Quando o dinheiro vem resolver o problema pergunto-me se estamos perante um caso de abuso ou de prostituição. Quando o dinheiro, aparentemente, faz desaparecer o crime e a vítima deixa de se preocupar com o castigo do agressor, porque este pagou, então com direito continuaremos a falar em vítima? Numa situação destas, como é que se pode permitir que haja acordo entre as partes e se pode aceitar que os criminosos deixem de ser levados a julgamento e, determinando-se a sua responsabilidade, deixem de ser condenados e de pagar pelos crimes cometidos?
Será que o processo 'Casa Pia' terminará, também, com um acordo monetário?
AR
quarta-feira, setembro 10, 2003
Canto Último
Chega-me o cantar doce do mar.
O meu rosto, a brisa salgada
Acaricia, jovem, ousada
Como amante que me seduz, vulgar.
As sereias cantam-me a mim.
A espuma branca é o meu retrato.
Vejo-me nela, velho, tonto, chato,
De tanto viver só, cansado, assim.
A vida corre por meus olhos.
Não a quero ver. Fujo dela.
Corro, grito, tropeço na água,
Caio, de cara, nos escolhos
Desamparado, exausto. Ouço-a,
Voz do fim. Acaba aqui. Não há mágoa.
AR
O meu rosto, a brisa salgada
Acaricia, jovem, ousada
Como amante que me seduz, vulgar.
As sereias cantam-me a mim.
A espuma branca é o meu retrato.
Vejo-me nela, velho, tonto, chato,
De tanto viver só, cansado, assim.
A vida corre por meus olhos.
Não a quero ver. Fujo dela.
Corro, grito, tropeço na água,
Caio, de cara, nos escolhos
Desamparado, exausto. Ouço-a,
Voz do fim. Acaba aqui. Não há mágoa.
AR
segunda-feira, setembro 08, 2003
Na volta do Mar
Vieste na volta, na volta do mar
Que no verde da onda se volta
E a luz do Sol, bela, te solta
Na volta da onda, na volta do mar.
Na onda que volta e revolta
Na dura volta do mar,
Vejo-te agora, bela e triste
Olhando o verde voltear.
Onda que voltas e vais
Sem destino. Sem norte,
Apenas líquida, clara e forte
Olha para ela, aqui e só.
Beija-a e sorri-lhe, mas de tal sorte
Que não, nunca mais, não deixes que parta.
AR
Que no verde da onda se volta
E a luz do Sol, bela, te solta
Na volta da onda, na volta do mar.
Na onda que volta e revolta
Na dura volta do mar,
Vejo-te agora, bela e triste
Olhando o verde voltear.
Onda que voltas e vais
Sem destino. Sem norte,
Apenas líquida, clara e forte
Olha para ela, aqui e só.
Beija-a e sorri-lhe, mas de tal sorte
Que não, nunca mais, não deixes que parta.
AR
Velha Europa, Velhas Ambições
No Contra-a-Corrente vem um artigo interessantíssimo, publicado no Sábado passado, sobre a Guerra do Iraque e a posição da 'Velha Europa' e dos Estados Unidos. Não partilho de todo da posição lá expressa e não gostaria de deixar passar esta ocasião para deixar o registo de outra opinião.
A questão iraquiana apresenta-se, cada vez mais, como uma 'case study' a acompanhar com atenção. De facto, ela demonstra que os processos de procura da hegemonia mundial estão fadados, invariavelmente, ao fracasso. Senão vejamos.
A Guerra do Iraque é, acima de tudo, um passo num complicado processo de procura da hegemonia global através do controlo dos pontos estratégicos mais importantes, sejam estes geograficamente estratégicos ou economicamente estratégicos. Como se conclui sem grande dificuldade, o Iraque é importante porque detém, sozinho, cerca de 10% das reservas mundiais de petróleo. Se os juntarmos aos 10% do Kuwait ─ aliado grato dos Estados Unidos ─ e aos 20% da Arábia Saudita ─ aliado menos colaborante do que há alguns anos atrás ─ estamos a falar, só ali, de cerca de 40% das reservas mundiais de petróleo.
Daqui resulta que o combate ao terrorismo é um argumento que não procede, como não procede o argumento das armas de destruição maciça. De facto, terrorismo no Iraque existe agora e apenas agora o país está aberto à livre circulação de todo e qualquer caçador de ocidentais. E quanto às armas de destruição maciça estão, como sabemos, escondidas no deserto. Tão bem escondidas que, aparentemente, nem os próprios dirigentes iraquianos detidos pelos Estados Unidos sabem onde elas estão.
Na senda dessa política de hegemonia global, os Estados Unidos decidiram invadir o Iraque. Guerra curta e fácil mas, como se adivinhava, paz difícil. Há bem pouco tempo, os dirigentes norte-americanos e britânicos diziam a quem os queria ouvir que a ONU, no Iraque, só em missão humanitária. Agora, que infelizmente já morreram mais soldados americanos e britânicos do que no período de guerra, a posição de Washington mudou, e deseja-se já uma força multinacional sob os auspícios da ONU ─ e sob comando americano, evidentemente ─ para que os custos da paz não recaiam sobre os fautores da guerra.
Achei a seu tempo que bem faziam a França e a Alemanha em não participarem no aventureirismo do pior e mais ignorante presidente americano de que me lembro (para o registo, o primeiro de que me lembro foi Carter). Faz bem a 'Velha Europa', sem dúvida cínica mas seguramente sábia, em não querer suportar os custos, em recursos financeiros e humanos, de uma situação que não procurou e cujos dividendos obviamente não colheria.
AR
A questão iraquiana apresenta-se, cada vez mais, como uma 'case study' a acompanhar com atenção. De facto, ela demonstra que os processos de procura da hegemonia mundial estão fadados, invariavelmente, ao fracasso. Senão vejamos.
A Guerra do Iraque é, acima de tudo, um passo num complicado processo de procura da hegemonia global através do controlo dos pontos estratégicos mais importantes, sejam estes geograficamente estratégicos ou economicamente estratégicos. Como se conclui sem grande dificuldade, o Iraque é importante porque detém, sozinho, cerca de 10% das reservas mundiais de petróleo. Se os juntarmos aos 10% do Kuwait ─ aliado grato dos Estados Unidos ─ e aos 20% da Arábia Saudita ─ aliado menos colaborante do que há alguns anos atrás ─ estamos a falar, só ali, de cerca de 40% das reservas mundiais de petróleo.
Daqui resulta que o combate ao terrorismo é um argumento que não procede, como não procede o argumento das armas de destruição maciça. De facto, terrorismo no Iraque existe agora e apenas agora o país está aberto à livre circulação de todo e qualquer caçador de ocidentais. E quanto às armas de destruição maciça estão, como sabemos, escondidas no deserto. Tão bem escondidas que, aparentemente, nem os próprios dirigentes iraquianos detidos pelos Estados Unidos sabem onde elas estão.
Na senda dessa política de hegemonia global, os Estados Unidos decidiram invadir o Iraque. Guerra curta e fácil mas, como se adivinhava, paz difícil. Há bem pouco tempo, os dirigentes norte-americanos e britânicos diziam a quem os queria ouvir que a ONU, no Iraque, só em missão humanitária. Agora, que infelizmente já morreram mais soldados americanos e britânicos do que no período de guerra, a posição de Washington mudou, e deseja-se já uma força multinacional sob os auspícios da ONU ─ e sob comando americano, evidentemente ─ para que os custos da paz não recaiam sobre os fautores da guerra.
Achei a seu tempo que bem faziam a França e a Alemanha em não participarem no aventureirismo do pior e mais ignorante presidente americano de que me lembro (para o registo, o primeiro de que me lembro foi Carter). Faz bem a 'Velha Europa', sem dúvida cínica mas seguramente sábia, em não querer suportar os custos, em recursos financeiros e humanos, de uma situação que não procurou e cujos dividendos obviamente não colheria.
AR
domingo, setembro 07, 2003
selvajaria em Borba (cont.)
Com clara inspiração no nosso post de 12 de Agosto, intitulado "selvajaria", o jornal Público da passada quinta-feira faz referência ao atentado ocorrido em Borba, por parte dos irresponsáveis que estão à frente daquela Autarquia. Não nos cita, nem a notícia - incluída no suplemento Local Lisboa -, se encontra on-line, mas ficamos a saber que foi na sequência da nossa denúncia que o assunto foi debatido na reunião de Câmara.
Recorde-se que a Câmara Municipal de Borba resolveu, nos princípios de Agosto, destruir todos os ninhos da maior colónia de andorinhas que, há muitos anos, estavam alojados no edifício dos Paços do Concelho. Violou, assim, legislação nacional, comunitária e a Convenção de Berna (Convenção Relativa à Conservação da Vida Selvagem e dos Habitats Naturais da Europa). Ora, as andorinhas são uma espécie protegida por lei e, por essa razão, o Decreto-Lei nº 75/91, de 14 de Fevereiro (que transpôs as Directivas nº 79/409/CEE de 8 de Abril e nº 86/122/CEE, de 8 de Abril), proíbe expressamente, na alínea d) do artigo 5º, o acto de «destruir, danificar, colher ou deter os ninhos e ovos» das «aves selvagens que vivem em estado bravio em território nacional». No entanto, tudo isto foi desprezado pelos autarcas daquela vila alentejana.
Podemos ainda adiantar que o assunto se encontra entregue ao Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente da GNR, que prepara a eventual participação deste crime ambiental ao Ministério Público.
Sem surpresa, Angêlo de $á, o presidente da Câmara Municipal de Borba, que não prima pela coragem nem pela frontalidade, «não se mostrou disponível para prestar declarações».
CC
Recorde-se que a Câmara Municipal de Borba resolveu, nos princípios de Agosto, destruir todos os ninhos da maior colónia de andorinhas que, há muitos anos, estavam alojados no edifício dos Paços do Concelho. Violou, assim, legislação nacional, comunitária e a Convenção de Berna (Convenção Relativa à Conservação da Vida Selvagem e dos Habitats Naturais da Europa). Ora, as andorinhas são uma espécie protegida por lei e, por essa razão, o Decreto-Lei nº 75/91, de 14 de Fevereiro (que transpôs as Directivas nº 79/409/CEE de 8 de Abril e nº 86/122/CEE, de 8 de Abril), proíbe expressamente, na alínea d) do artigo 5º, o acto de «destruir, danificar, colher ou deter os ninhos e ovos» das «aves selvagens que vivem em estado bravio em território nacional». No entanto, tudo isto foi desprezado pelos autarcas daquela vila alentejana.
Podemos ainda adiantar que o assunto se encontra entregue ao Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente da GNR, que prepara a eventual participação deste crime ambiental ao Ministério Público.
Sem surpresa, Angêlo de $á, o presidente da Câmara Municipal de Borba, que não prima pela coragem nem pela frontalidade, «não se mostrou disponível para prestar declarações».
CC
já chegámos à Madeira
Aqui, em outro lugar, A Quinta Coluna é notícia. Ontem, o maior diário regional do país fez referência à polémica tida com Miguel Vale de Almeida, nos idos dias 8, 9 e 10 de Agosto, no nosso blog sobre a liberdade de expressão da Igreja Católica, com publicação de excertos da argumentação de cada um dos lados.
Viva a blogosfera.
CC
Viva a blogosfera.
CC
quarta-feira, setembro 03, 2003
Democracia, municipalismo e outros desejos
Isto da Democracia é uma coisa complicada. Antes de mais, é necessário saber partilhar. Partilhar o poder, as responsabilidades, os aplausos quando as coisas correm bem, os apupos quando as coisas correm mal. Enfim, partilhar o bom e o mau. Em seguida, é necessário saber respeitar os outros. As opiniões deles, que não coincidem necessariamente com as nossas, as acções deles, que não têm que nos agradar.
Vem esta conversa toda a propósito da discussão de um tema que se arrasta de há algum tempo a esta parta e que ganhou novo folego, a dar crédito à imprensa, pelo que aparentemente se terá passado recentemente em Lisboa. E essa conversa prende-se com a eleição dos executivos camarários.
Como se sabe, em Portugal os executivos camarários são eleitos e não, ao contrário do Governo, nomeados. O que significa que todos os elementos têm a mesma legitimidade democrática, ou seja, do cabeça de lista atá ao último da mesma a legitimidade é igual. É certo que o primeiro da lista vencedora é, automaticamente, o Presidente da Câmara, mas isso apenas o transforma num primus inter pares, não lhe dando mais legitimidade por isso. E daqui resulta que o poder não pode, ou não deve, ser exercido de forma pessoal e centralizada mas sim de forma colegial.
Alguns autarcas têm pugnado por uma 'presidencialização' do cargo de Presidente da Câmara. È um pedido legítimo, como tantos outros que se poderiam fazer. Mas, perdoar-me-ão a petulância, me parece deslocado da nossa realidade e tradição e, principalmente, falho de oportunidade. Eu explico.
A tradição democrática portuguesa, que podemos fazer remontar à I República ou, mesmo, ao rotativismo oitocentista, é parlamentar. Parlamentar ao nível do governo central e, pelo menos após o 25 de Abril, também ao nível autárquico. E se bem que a tradição não seja intocável ― evidentemente ― também não me parece que o sistema tenha funcionado mal até agora. Não julgo, portanto, que existam motivos práticos e de funcionamento do sistema que justifiquem a sua mudança. Para além disso, a alteração na forma de funcionamento do executivo ― por exemplo, passando o Presidente da Câmara a escolher os seus vereadores ― implicaria alterações ao nível da definição da sua legitimidade passando este, ainda a título de exemplo, a ter que responder perante a Assembleia Municipal, assim como o Governo responde perante o Parlamento. Mas também isto forçaria a alterações à composição da Assembleia Municipal, que funciona hoje como uma espécie de Câmara Corporativa, incluindo não apenas os deputados municipais eleitos pelas listas concorrentes mas também os presidentes das Juntas de Freguesia.
Mas, francamente, toda esta questão me parece falha de oportunidade. Não existirão, neste momento, questões mais importantes a tratar e problemas mais importantes a resolver no país do que a questão da satisfação da vontade de alguns autarcas em exercerem o poder de forma mais ou menos absoluta e solitária?
AR
Vem esta conversa toda a propósito da discussão de um tema que se arrasta de há algum tempo a esta parta e que ganhou novo folego, a dar crédito à imprensa, pelo que aparentemente se terá passado recentemente em Lisboa. E essa conversa prende-se com a eleição dos executivos camarários.
Como se sabe, em Portugal os executivos camarários são eleitos e não, ao contrário do Governo, nomeados. O que significa que todos os elementos têm a mesma legitimidade democrática, ou seja, do cabeça de lista atá ao último da mesma a legitimidade é igual. É certo que o primeiro da lista vencedora é, automaticamente, o Presidente da Câmara, mas isso apenas o transforma num primus inter pares, não lhe dando mais legitimidade por isso. E daqui resulta que o poder não pode, ou não deve, ser exercido de forma pessoal e centralizada mas sim de forma colegial.
Alguns autarcas têm pugnado por uma 'presidencialização' do cargo de Presidente da Câmara. È um pedido legítimo, como tantos outros que se poderiam fazer. Mas, perdoar-me-ão a petulância, me parece deslocado da nossa realidade e tradição e, principalmente, falho de oportunidade. Eu explico.
A tradição democrática portuguesa, que podemos fazer remontar à I República ou, mesmo, ao rotativismo oitocentista, é parlamentar. Parlamentar ao nível do governo central e, pelo menos após o 25 de Abril, também ao nível autárquico. E se bem que a tradição não seja intocável ― evidentemente ― também não me parece que o sistema tenha funcionado mal até agora. Não julgo, portanto, que existam motivos práticos e de funcionamento do sistema que justifiquem a sua mudança. Para além disso, a alteração na forma de funcionamento do executivo ― por exemplo, passando o Presidente da Câmara a escolher os seus vereadores ― implicaria alterações ao nível da definição da sua legitimidade passando este, ainda a título de exemplo, a ter que responder perante a Assembleia Municipal, assim como o Governo responde perante o Parlamento. Mas também isto forçaria a alterações à composição da Assembleia Municipal, que funciona hoje como uma espécie de Câmara Corporativa, incluindo não apenas os deputados municipais eleitos pelas listas concorrentes mas também os presidentes das Juntas de Freguesia.
Mas, francamente, toda esta questão me parece falha de oportunidade. Não existirão, neste momento, questões mais importantes a tratar e problemas mais importantes a resolver no país do que a questão da satisfação da vontade de alguns autarcas em exercerem o poder de forma mais ou menos absoluta e solitária?
AR
Demagogia à solta
Pedro Namora na SIC Notícias: «O povo tem o juiz Rui Teixeira no coração.» Quando eles falam no povo... E depois aproveita para dizer que está ali como "vítima", e não como advogado, pelo que se pode esquecer do que dispõe o Estatuto da Ordem e tecer inqualificáveis considerações sobre o trabalho dos seus colegas de profissão. Os miúdos da Casa Pia não mereciam isto.
LR
LR
terça-feira, setembro 02, 2003
Aviso à navegação
Como alguns terão notado,A Quinta Coluna esteve alguns dias sem actualização. Tal deveu-se a um estranho problema com o servidor onde este blog está alojado, que não permitia a publicação dos posts entretanto inseridos. Depois de algumas voltas (e de bastantes horas perdidas) conseguimos reactivar a página mas perdemos todas as definições anteriores, pelo que temos novamente de voltar a recolocar os links e a configuração anterior do blog.
Embora sejamos alheios a tudo isto, pelo facto pedimos as nossas mais sentidas desculpas.
A Quinta Coluna
Embora sejamos alheios a tudo isto, pelo facto pedimos as nossas mais sentidas desculpas.
A Quinta Coluna